terça-feira, outubro 24, 2006

Sensibilidade e a escrita

Muitas vezes, escrever é tão difícil quanto um parto a fórceps. Senta-se em frente ao computador de olho na tela branca, esperando a inspiração aparecer, sempre cogitando escrever sobre a falta de inspiração, maneira fácil de enrolar o leitor, como parece que estou fazendo agora. Parece, mas não estou. Por mais que vocês concluam que eu estou fazendo, vocês estão enganados. (Viu como é fácil? Enchi um parágrafo inteiro).

Mas eu queria falar de sensibilidade, de estar aberto ao mundo ao redor, captar as histórias que estão por aí, etéreas, esperando para serem contadas. O mesmo fenômeno ocorre com a música. Penso que nas vezes em que não surge assunto é porque não estamos sensíveis ao que nos cerca, ao mundo. Por outro lado, é porque estamos conectados com a “Grande História do Mundo”, da qual todas pequenas (ou grandes) histórias são parte, que algumas vezes a história “se atira” na nossa frente.

Como no caso do homem com a tatuagem entre parênteses. Estava saindo de uma lancheria (restaurante, se preferirem) quando passou por mim uma pessoa que tinha ideogramas chineses tatuados no braço direito. Entre parênteses! Aquilo me intrigou profundamente. O que significava aquilo? Uma seita, um culto, uma mensagem ou uma indecisão? Algo como “O Senhor é meu pastor. Ou não.” Talvez significasse “Eu amo Rosa, mas sem exageros”. Ou “Este lado para cima”. “Produto japonês, mas fabricado em Cacequi”. Quem pode saber...

Os parênteses são um recurso da gramática que eu admiro com sinceridade, porque eles são a mensagem subliminar, são o pensamento oculto, muitas vezes a ironia. O poder de usar os parênteses não devia ser outorgado a qualquer um. Aliás, acho que só deveriam ter o direito de usá-los pessoas treinadas para tal tarefa, cujas qualificações teriam sido testadas e certificadas previamente. Todo texto com parênteses bem utilizados poderia vir com um selo de autenticidade e certificação de origem.

Para aqueles que os usassem de maneira leviana seriam aplicadas multas. Casos reincidentes seriam punidos com afastamento do convívio social, pelos menos em bibliotecas. Na verdade, acho que deveriam ser punidos também os assassinos de vírgulas, dos negligentes com acentos e outros criminosos da Língua Portuguesa.

(texto antigo, mais ou menos reciclado)

Até.

Um comentário:

Allan Robert P. J. disse...

Escrever bem. O sonho e medo de todo mundo que deve escrever. Por profissão ou compulsão. A sensibilidade só é cúmplice da técnica, do suor. Mas só a técnica, o suor, também não bastam. É preciso estar aberto e caitar o novo. Ou como disse Eistein (?) "A mente é como pára-quedas: só funciona quando se abre."