segunda-feira, janeiro 15, 2007

A Sopa 06/26

Eu sou uma farsa, só fachada.

Descobri essa característica minha, assim, por acaso. O que demonstra minha inocência no que se refere a esse assunto, inocência que é, sob certo prisma, admissão de uma ingenuidade que eu não poderia ter. Sei lá, não é bom. O que quero dizer com isso?

Que essa aparência de modernidade, de estar em dia com as últimas novidades tecnológicas, é apenas um manto para encobrir o que realmente sou: um conservador, daqueles de usar pijamas com botões e chinelos e pantufas. Sou um velho, no fim das contas.

Como descobri isso?

Ao contrário do que a literatura pede, em termos de dramaticidade, não foi uma revelação bombástica, um momento transcendental, quase religioso. Não foi assim. Foi um processo lento, gradual, até a constatação final, uma demonstração de maturidade.

Começou com o telefone celular.

Para mim, celular, como o nome diz, deveria ser apenas isso, telefone. Nada mais. Essa coisa de celular com máquina fotográfica digital, MP3 player, máquina de xerox e cafeteira, sempre me pareceu exagero. Quanto mais simples, melhor, era o que eu pensava. O mesmo para máquina fotográfica: comprei uma faz som de máquina fotográfica ao bater fotos, como se tivesse filme para ser revelado. Como tem que ser. Como não poderia mudar.

Ao constatar isso, então, me vi diante da inevitável verdade.

Eu era um velho.

Isso foi no final do ano que terminou há quinze dias atrás. Quase como uma admissão da inevitabilidade do início do fim. Eu estava acabado. Já era.

Mas como sabemos que – com exceção da morte – nada é irreversível, tomei uma atitude. Decidi que não ia me entregar assim, sem lutar. Não foi sem um enorme esforço, mas estou começando a superar esse meu conservadorismo atávico.

Já estou louco pelo iPhone...

Até.

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