A Viagem (10)
Aosta, Valle D’Aosta, Itália.
Após atravessar os Alpes pela passagem de Gran San Bernardo, chegamos já noite em Aosta e meio sem querer encontramos o confortável hotel do cavalo branco (Hotel du Cheval Blanc). Fizemos o checkin, cada casal foi para o seu quarto, e combinamos de nos encontrar em quarenta minutos para sairmos para jantar.
Na hora combinada, saímos de carro para procurar um restaurante. Como lembrança da única vez que havíamos estado – a Jacque e eu - lá, cinco anos e meio antes, sabíamos que no centro antigo, ao menos na rua principal, que começa na Piazza Arco D’Augusto e vai até a Porta Pretória. Com essa idéia em mente, fomos procurar um restaurante fora do centro antigo.
Fracasso.
Com o Paulo dirigindo, então, entramos de carro no centro antigo em busca de um restaurante aberto. Como deve ser de conhecimento de quem vai circular de carro pela Europa, e pela Itália em particular, as ruas podem ser tão estreitas que mal passe um carro comum, imaginem uma van para nove pessoas (que era o tamanho do nosso “carrinho”). Todos sabíamos disso, mas mesmo assim fomos. Confesso que, lembrança de experiências anteriores, fiquei muito tenso com a situação. Mesmo. Sério, de verdade. Mas não houve problema.
Achamos, então, em uma rua “meio escondida”, uma pizzaria onde entramos. Nosso medo é que ficasse tarde e não encontrássemos nada aberto. Bem simpática, conseguimos uma mesa e pedimos pizza, uma pizza para cada um, como de costume na Itália, e tomamos chope. Novamente, a hora da janta é para lembrar os acontecimentos do dia e rir. Mas o melhor ainda estava por vir.
Após comermos, enquanto conversávamos, veio o garçom para saber se queríamos sobremesa. Não estava prestando atenção ao fato, mas, de repente, do nada, a Karina disse para ele que éramos brasileiros. Ele sorriu meio amarelo e perguntou da sobremesa novamente. Eu, que não entendera nada do que estava ocorrendo, fiquei pensando por que exatamente ela resolvera dizer isso a ele, assim, sem mais nem menos.
Percebi, então, que ela baixou a cabeça e começou a rir da situação. Foi o garçom sair e ela nos contou que quando ele disse se queríamos um “dulce”, ela “entendeu” que ele estava perguntando se falávamos “deutsche”, alemão, e por isso disse que éramos brasileiros. Foi o que bastou para todos rirmos e passarmos alguns dias lembrando da história: volta e meia, alguém (no maior parte das vezes, eu) perguntava “Karina que dia é hoje?” (ou qualquer pergunta nada a ver) e respondia “Brasil!”. Situação parecida com a que o Pedro passou em Montreal, no Canadá, quando numa loja perguntaram para ele “What time is it?” e ele respondeu “Pedro”...
Após a janta e as risadas, fomos caminhar pela noite de Aosta. Com o centro antigo já meio vazio, paramos em uma sorveteria para um sorvete antes de voltar ao hotel. Eu, que metido e com o meu italiano fajuto era que ia à frente “conversar” com os locais, perguntei algo para o dono, que olhou para a única funcionário e disse que ela deveria nos atender. Foi quando ela nos contou que era brasileira, de São Paulo, e casada com o dono.
Estava há três meses em Aosta com ele. Haviam se conhecido em Porto Seguro, onde passavam férias, e decidiram casar. Trabalhavam na sorveteria da qual ele era o dono e tinham o seguinte esquema de trabalho: a sorveteria ficava aberta ininterruptamente durante sete meses do ano, e fechada nos outros cinco, quando viajavam de férias. Sete meses, de domingo a domingo, do meio-dia às onze da noite, e depois férias.
Foi uma conversa interessante, e nos deram uma dica de lugar que valia à pena visitar: Cervinia, estação de esqui no Monte Cervino, ou Matterhorn, montanha que separa a Itália da Suíça.
Foi pra onde fomos no dia seguinte.
Até.
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