Vou parecer antipático hoje.
Há muito anos amigos, existe entre nós, Márcio, Radica e eu, assim como acontece com qualquer grupo de amigos de muito tempo, algumas expressões, piadas e brincadeiras que são características nossas. Não exclusivas nem únicas, apenas típicas do nosso convívio. Normalmente são bem infantis, pois é justamente com os amigos que podemos ser muito infantis.
Como lá se vão vinte anos que convivemos, é natural que tenhamos muitas dessas expressões e brincadeiras e piadas. Algumas se tornaram obsoletas e perderam a graça, outras continuam vivas e fortes. Uma delas tem relação com título deste texto, e é usada como forma de chantagem emocional ou apenas para incomodarmos um ao outro. Por exemplo, é esta pergunta, “Será que és amigo o suficiente?”, que usamos como forma de chantagem para convencer uns aos outros a entrar em teóricas “roubadas” que inventamos seja lá por que razão, como quando “chantageei" o Márcio para que a banda tocasse no mesmo dia que eu chegaria de Toronto direto para minha festa de aniversário em 2005, sem ensaios, apenas com a passagem de som. Foi essa mesma frase que o Márcio usou para referir-se ao Radica (que mora hoje em dia em São Paulo) e a mim (quando fui para Toronto), que não ficamos em Porto Alegre, onde mora. “Não fomos amigos o suficiente”.
Pois bem, de um forma geral, acho que não sou amigo o suficiente.
Por quê?
Porque eu não gosto e não respondo àqueles e-mails que mandam com um arquivo do PowerPoint com uma apresentação que pode ter música (e em geral tem) fotos de paisagens e uma mensagem que varia do ‘tenha um bom dia’ ao ‘já abraçou sua família hoje?’, passando por frases retiradas de livrinho de auto-ajuda atribuídas ao Dalai Lama. E que invariavelmente terminam com a mensagem “mande essa mensagem a todos os seus amigos, se você recebeu é porque alguém acha você especial”.
Pois bem, eu não me sinto especial por receber uma mensagem que alguém mandou para todo o seu catálogo de endereços, por melhor que tenha sido sua intenção. Nem o meu dia se ilumina quando recebo um e-mail com fotos de criança e flores.
Aliás, na maioria da vezes, eu nem abro os anexos, deleto-os direto. Se alguém espera alguma resposta minha, ou que reencaminhe esse tipo de e-mail, pode desistir, dificilmente vou fazer isso. Não digo que nunca vá fazer, até pode acontecer um dia, mas é muito difícil. Por quê?
Simplesmente porque sou extremamente pessoal. Ou seja, quando eu quero dizer o que sinto ou desejo ou penso de ou para alguém, eu faço isso ao vivo, cara a cara. Claro que às vezes, como agora, em que a geografia não favorece e, estando em hemisfério diferente, acabo utilizando o e-mail (pessoal, para quem recebe) ou até o telefone.
Se, ao contrário de uma mensagem impessoal que mais cem pessoas vão receber também, mandasse apenas um e-mail dizendo “Marcelo, tudo bem? Como estão as coisas? Por aqui…”, talvez aí realmente faria eu me sentir especial. E acho que não sou o único.
Até.
(Publicado originalmente em 29/03/2005)
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