domingo, novembro 08, 2009

A Sopa 09/13

A vida às vezes nos dá a chance de sermos apenas observadores do mundo, espectadores do dia-a-dia, e dos pequenos fatos da rotina. O que acontece é que quase nunca podemos parar e simplesmente observar, atarefados que estamos com o sobreviver. Mas quando conseguimos, o resultado é – no mínimo – interessante.

Lembro de quando morava em Toronto. A minha vida no Canadá tinha um ritmo diferente, menos corrido e mais contemplativo. O andar de metrô e o caminhar pela cidade conferiam ao tempo uma velocidade menor, ou, ao menos, um ritmo mais suave. Além disso, sempre soube que a trilha sonora tinha papel importante nesse fenômeno.

Explico.

Como estava vivendo sozinho no Canadá, quando não estava no trabalho, em casa na internet, ou com os amigos de lá, tinha a constante companhia do iPod enquanto andava de metrô, ou circulava pela cidade por minha conta. A trilha sonora eram as músicas que tocavam o iPod, e elas auxiliavam nesse ritmo mais tranquilo que a vida tinha por lá.

De volta ao Brasil, à luta pela sobrevivência, a tentativa de conquistar espaço para trabalhar, por um “lugar ao sol” fez com o que o tempo passava a andar mais rápido. Os momentos de contemplação tornaram-se escassos, para não dizer inexistentes, e a vida seguiu. E aqui não há nenhuma queixa, nem sombra disso, devo deixar claro. Nunca estive tão satisfeito com a vida como agora. Mas é também verdade que o ritmo corrido subtraiu-me momentos de olhar o mundo como se estivesse de fora.

Isso até algumas semanas atrás.

Por motivos profissionais, passei a trabalhar também fora de Porto Alegre, distante 150 km, ao menos uma vez por semana. E – para não ser tão cansativo – tenho feito esse trajeto de ônibus, o que tem me proporcionado voltar a ser espectador do mundo. Como quando parou numa cidade onde se vê estrelas. Outro dia, testemunhei uma despedida.

Quando embarquei no ônibus, acabei conseguindo um lugar junto à janela (não há lugares marcados por ser a parada na cidade de onde saio para voltar para casa apenas uma escala de uma viagem maior) e pude ver embarcando um casal que estava abraçado até o momento em que subiram no ônibus. Não havia chamado a minha atenção até o momento em que o ônibus fez menção de sair e o rapaz que estava com a namorada desceu correndo e ficou olhando de fora o ônibus que começava a deixar a rodoviária.

Por ser do mesmo lado em que eu estava, observei toda a cena, o olhar entre triste e apaixonado dele olhando para o veículo que começava a andar, o acanhado aceno de até breve, não de adeus, o olhar perdido enquanto o ônibus se afastava. Coincidência ou não, estava ouvindo o meu iPod, colocado em uso novamente para fazer a trilha sonora dessas duas horas e pouco de trajeto, em que – nessa noite, ao menos – as nuvens baixas e os relâmpagos ao longe anunciavam a chuva que logo chegou.

Lembrei de uma despedida numa estação de trem e de uma música que dizia que “... Un anno non e' un secolo – tornero...”. Mas isso é outra história para outra Sopa...

Até.

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