O Ponto.
Diante de todas as questões existenciais, das muitas encruzilhadas morais com as quais nos defrontamos, daquelas que inquietam a humanidade desde o princípio dos tempos, de todas, a que elegi como a que mais necessita minha atenção e para a qual vou dedicar os próximos anos da minha vida em pesquisas e reflexões, é a mais intrigante delas.
O que é o ponto?
Sim, porque se você nunca se perguntou isso, caro leitor, você tem passado pela vida em branco. Você não pode saber quem você é ou de onde você veio se nunca se perguntou o que é o ponto. E caso tenha se perguntado, o que eu respeitosamente duvido, não chegou à resposta. Até sente que sabe o que é o ponto, mas não tem como defini-lo.
Porque mal passado, ou bem passado, todos sabemos o que é e como é. Mas o ponto, que alguns chamam também médio, apesar de parecer simplesmente estar entre o mal e o bem passado, não é só isso. O ponto é um conceito pessoal, único. O que é o ponto para mim pode não ser para você.
Até porque não é simples questão de gosto pessoal. A definição de como a carne deve vir assada (cozida) é também uma definição de caráter. É mais fácil permanecer no simplismo preto/branco do bem ou mal passado. Não há filosofia ou virtude nos extremos. O mal passado é uma opção primitiva, selvagem. Talvez fosse mais apropriado comer a carne mal passada com as mãos, parti-la com os dentes e mastigar com a boca aberta; sentados no chão, certamente.
Já o bem passado, por outro lado, simboliza exatamente o oposto, e não como virtude: o excesso de civilização, o distanciamento homem da natureza, um medo irracional de doenças e germes. Ou não. Sei lá.
Bem ou mal passado. Simplório, superficial. O mundo não é assim. É muito mais complexo, e profundo e belo, como encontrar o ponto, aquele momento mágico, a carne em sua forma mais perfeita.
E quem disse que um churrasco não tem poesia?
Até.
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