segunda-feira, novembro 02, 2009

A Sopa 09/12

Quando percebeu, o ônibus havia parado numa cidade onde ainda se vê estrelas. E, por um instante, perdeu-se em lembranças do tempo em que ainda via estrelas. Deixou para lá preocupações comezinhas, como contas a pagar ou o saldo no banco, e prestou atenção na cidade que via da janela do ônibus que o levava para casa depois do longo dia de trabalho.

Pois a cidade onde ainda se vê estrelas, que não é única – ao contrário, é semelhante a muitas outras perdidas por aí – não passava muito de uma rua que fica sob um viaduto da estrada que ainda não foi duplicada. À passagem do ônibus em direção à rodoviária – que não passa de uma casa comum um cartaz onde se lê, justamente, ‘Rodoviária’ – o que chama a atenção, além das casas já fechadas com luz fluorescente a iluminar seu entorno, é a noite. Após deixar descer os passageiros destinados à pequena cidade onde se vê estrelas, o ônibus avança poucos metros e faz o retorno numa entrada de garagem para voltar à estrada e a seu rumo.

O final do dia foi de céu claro, sem nuvens, que foi seguido por uma noite de lua tímida, sem muito brilho. Aproveitando-se da pouca luminosidade do satélite, estão estrelas, infinito número delas, milhares de anos-luz daqui, nos mostrando um passado há muito passado. Sim, olhar estrelas é olhar o passado, pensa ele antes de cair no sono.

Enquanto dorme, sonha e cantarola uma antiga música que sempre o acompanha em viagens de ônibus:

Bem no fim do dia
O mundo se escondeu
Atrás dessa neblina
Não vejo nada agora
São quatro horas, meu amor
A lua apareceu por um instante
Sumiu atrás dos montes, meia-noite
A estrada se acelera sob o ônibus
E estamos sós num sonho que eu sonhei
Estamos sós num sonho
É só um sonho
Mas gela minha cara na janela
Vidrando os olhos no vazio
Enquanto os outros tolos,
Mortos bolos brancos fofos sobre os bancos
Roncam
São quatro horas, meu amor

Bem no fim do dia
Quem iria acreditar
Te vi por um instante ali ao lado
Linda névoa viva, eu vi passar
Apenas mais um sonho de verão
Não fosse o céu manchado de batom
Que não me faz dormir
Não me deixa acordar
Mas gela minha cara....


Até.

Nenhum comentário: