(Ainda em litígio com a Secretaria de Saúde de Porto Alegre e com minha situação indefinida, tudo é mais tranqüilo, e a falta de tempo para escrever uma Sopa nova é devido ao final de semana intenso que passei com a Jacque e a Marina. Por isso, uma Sopa e cinco anos atrás, quando ainda morava em Toronto. Se tudo correr bem, em pouco tempo volto a escrever com calma).
Vocês não fazem idéia do que este tempo aqui no Canadá está representando e vai significar para a minha vida profissional e pessoal no futuro. Nem eu.
Melhor mudar de assunto, então.
O exílio (e falo do meu exílio canadense, que não o é no sentido mais comum da palavra) é composto ou formado por várias partes, ou etapas. Elas vêm em seqüência e se misturam, o início de uma não implicando necessariamente no final de outra. A melhor forma de ver – e a minha opinião é que conta, afinal é a minha vida e meu exílio – é como se fossem graus crescentes de complexidade.
A primeira fase, o início, foi a chegada aqui. O fato de ter vindo sozinho, deixando a vida que eu vivia para trás, fez com que fosse a fase mais difícil, ou mais sofrida. A culpa de ter vindo (não ter ficado ao lado daqueles que amava e amo) associada ao chegar a um lugar desconhecido, sem referências, sem contatos, foi como tirar o chão sob os meus pés. A sensação principal era a de ser um fantasma. As pessoas passavam por mim e não me viam, ninguém me reconhecia e eu não reconhecia ninguém. O momento desestabilizador. É como se te arrancassem do teu mundo e colocassem em outro, sem nada. Fica-se como um barco à deriva, perdido, flutuando no ar. É o momento de desistir: a tentação de fugir, voltar ao porto seguro é grande. É a primeira prova de resistência.
Respira fundo uma, duas, três vezes. Para evitar o desespero, medidas práticas. Onde morar, burocracias mil, comprar coisas para o apartamento vazio. Isso enquanto não há uma rotina estabelecida, um roteiro a cumprir diariamente. Começar a criar as primeiras referências na cidade, no país.
A primeira fase é, em suma, “desintoxicação”. Aprender a viver sozinho, a conviver com e superar os fantasmas que todos temos. Viver sozinho (totalmente, sem conhecer ninguém, sem as referências locais próximas) não é simples, o início realmente é difícil. Mas é necessário, precisamos “ir ao fundo” para começar do zero. Temos que aprender por conta própria que somos capazes. Que somos fortes.
Até.
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