domingo, setembro 11, 2011

A Sopa 11/02

Felizes Estranhos Parte 2.

Há cerca de vinte e três anos atrás, e a recorrência dessa referência – a passagem dessas duas décadas e pouco – não é gratuita, como será esclarecido adiante, tive acesso e puder ler um texto chamado ‘Felizes Estranhos’, escrito por um grande amigo e contando a história de um grupo do qual eu fazia parte naquela época, em que tínhamos em torno de dezesseis anos. Como muitas vezes acontece, as histórias e experiências desse período da vida acabam ficando marcadas para sempre na memória dos envolvidos, de certa forma moldando quem nos tornamos no futuro.

As história em questão, chamada ‘Felizes Estranhos’, e aí poderíamos colocar como trilha sonora ao fundo a música ‘The Weight’ (The Band, da trilha de Easy Rider, mas que entra aqui por ter feito parte da trilha de ‘Big Chill’, ou ‘O Reencontro’, que é sobre – como o título diz – um reencontro de amigos após muito anos, por ocasião do funeral de um deles, que se suicidara), fala de como (o grupo de que fiz parte) se conheceu, narra histórias do grupo, e dá uma versão dos fatos que levaram ao seu fim, coincidentemente quando terminou o tempo de escola e cada um seguiu o seu caminho. Aquele texto se perdeu no correr dos anos, talvez em alguma mudança, quem sabe numa distração, não importa. Importa que tanto o nome quanto seu significado permaneceram no inconsciente, e vieram à tona na última semana. Quando pensei em escrever sobre isso, um reencontro, a escolha do título foi mais que óbvia.

Era hora da segunda parte.

Contextualizando.

Há alguns meses, motivado pelo reencontro – via Facebook – de alguns ex-colegas (chamemos assim, por enquanto) do meu tempo de Escola Técnica de Comércio, onde fiz o ensino secundário técnico em operação de computadores, disponibilizei duas fotos que eu tinha daquele tempo que eu havia digitalizado. Trocamos mensagens e fizemos algumas promessas de reencontro, que provavelmente ficariam no campo das intenções (circunstâncias da vida) caso não entrassem na história outros dois colegas – Ricardo Wanke de Melo e Marcus Cerutti – que em pouco mais de duas semanas conseguiram localizar praticamente todos os formandos da Turma Operador de Computador Diurno de 1988 e, mais que isso, organizaram uma reunião do grupo – na casa do casal Luis Fernando Garcia e Letícia Silva Garcia – na última quarta-feira, sete de setembro. Reencontraria colegas que não via desde a noite de 22 de dezembro de 1988, data de nossa formatura.

Não preciso dizer que foi um turbilhão de sensações/emoções.

E ainda nem falo do encontro em si.

Só o fato de trocarmos mensagens no grupo criado virtualmente já me fez (e só posso falar por mim, e reconheço esse defeito, de poder, ou conseguir, falar apenas de mim) voltar no tempo. Lembrar de muitas histórias, não lembrar muitas outras (e me assustar com a quantidade de coisas que se perderam na minha memória, a ponto de brincar que achava que havia me enganado de grupo e de reencontro...) me fez refletir sobre o que aconteceu comigo nesses anos todos que passaram. Revisitar, refazer, mesmo que na memória, caminhos trilhados.

O primeiro grande pensamento é – imposição óbvia – sobre a passagem do tempo, suas repercussões, seu poder de colocar as coisas em perspectiva, de tornar menores fatos e eventos que à época pareciam imensos e intransponíveis. Os anos passaram e nos tornamos mais tolerantes, menos sérios.

A adolescência é um período em que os eventos são graves, de grandes proporções. A necessidade de afirmação, de se impor como indivíduos e como parte de grupos, nos faz muitas vezes sermos sectários e não abertos ao contraditório. Como se apenas nossa visão de mundo, o nosso grupo, fossem certos. Branco ou preto, sem os vários tons de cinza que depois aprendemos que existem. Todos precisamos de um tempo para colocar o passado em perspectiva, só que uns precisam de mais tempo que os outros. Alguns, e é uma pena isso, nunca superam essa fase.

Além da expectativa pelo reencontro, havia um medo.

Medo do passado, de perceber que o que eu lembrava daquela época estava errado, de que as coisas não tivessem sido exatamente como eu lembrava (e nossa memória pode muitas vezes ser traiçoeira, para nos proteger). Medo de ter sido esquecido ou, pior, de nem ter sido notado. Dentro do processo de volta no tempo que foi o pré-encontro, inseguranças típicas de adolescente.

Ao encontro, então.

Acho que fomos os últimos a chegar (o Márcio estava de carona comigo) e, antes de subir à cobertura onde todos estavam, senti um frio na barriga: como seria, como seria?

Foi, numa palavra, leve.

A reafirmação de que sim, houve um passado comum, existiram diferenças que olhadas daqui de longe não tinham a menor importância – como já se sabia de antemão – e que – acima de tudo – tínhamos uma ligação entre nós. Constatamos que o que vivemos nos liga e sempre nos ligará, não importa quanto tempo passe, dez, vinte ou quarenta anos. Que sempre seremos os adolescentes que fomos, e que isso não se perde.

Passados mais de vinte anos, no fundo ainda éramos os mesmos, mas certamente diferentes. Conhecidos e ligados, mas ainda assim estranhos. Felizes estranhos. Parte dois.

E a segunda parte recém começa.

O que vai ser? Só o tempo dirá.

O tempo, sempre ele.

Até.

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