Eu sou o cara que vai morrer.
De um tempo para cá, e não consigo precisar
exatamente quando, surgiu em mim a idéia fixa de que – como dito na afirmação
anterior – sou o cara que vai morrer. Eu sou assim, cultivo esse meu lado
paranóico com certo carinho, e - de tempos em tempos - descubro, ou invento,
uma idéia a qual me fixo durante um período. Como a idéia da “Inevitável Grande
Tragédia”, que nesse momento não vem ao caso. Mas eu falava que sou o candidato
a morrer.
Explico, explico.
Funciona mais ou menos assim, de maneira
simplificada: sou sedentário, tenho sobrepeso, estou na meia-idade, trabalhando
enlouquecidamente e estressado. Logo, sou o candidato perfeito para um infarto
do miocárdio, verdade pura e cristalina, lógica. Quase, praticamente,
inevitável. Poderia dizer que estou numa via de mão única e sem retorno para a
doença.
Poderia, mas não vou dizer.
E não vou fazê-lo porque as coisas não são
exatamente assim. Sim, é verdade que sou sedentário, com sobrepeso, meia-idade,
etc., mas ainda tenho (ao menos a ilusão do) controle sobre minha vida, e posso
mudar aquilo que deve ser mudado, que não está bom. A maior conquista dos
últimos anos foi esta: controle sobre o que é realmente importante, aquilo que
depende da minha vontade/esforço. Aquilo que não controlo, que realmente não
tem como controlar, me faz tentar cada vez me preocupar menos, me estressar
menos. Difícil, nem sempre consigo, mas vale a tentativa.
O que posso mudar, ajustar, estou fazendo aos
poucos, como se aparando arestas que precisam ser aparadas. Sintonia fina.
Deixando para trás alguns pesos que carrego/carregava sem necessidade. Cortando
amarras que me prendiam e me seguravam.
Tudo tem sido cansativo, confesso. A rotina, os
projetos, as obrigações profissionais, os desafios que vem por aí. O ano se
encaminha para o seu último trimestre e remo já com alguma dificuldade. Os
próximos dois meses e meio passarão voando e serão intensos. Depois, vou parar
– de férias – e descansar mesmo. Quando voltar ao trabalho, em janeiro, já
terei eliminado alguns dos fatores de risco que hoje convivem comigo. Dois mil
e doze será especial, estou certo.
E já penso como comemorar os meus quarenta anos.
Até.
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