Menton, Côte d'Azur, France
Outubro/2007
Crônicas e depoimentos sobre a vida em geral. Antes o exílio; depois, a espera. Agora, o encantamento. A vida, afinal de contas, não é muito mais do que estórias para contar.
sábado, fevereiro 29, 2020
domingo, fevereiro 23, 2020
A Sopa
Ano 19, Número 15
Uma confissão.
Por mais que pareçam, os textos aqui publicados não são confessionais, ou seja, a minha vida não é um livro aberto, assim, à disposição, de quem quiser ler. Podemos até considerá-la um livro, que até está aberto, mas não permito acesso a várias das páginas.
Hoje não.
Hoje me sinto na obrigação de ser completamente sincero com todos os leitores, talvez na única vez desde que preparo essa sopa semanal, porque está difícil de suportar sozinho a minha dor, e – mesmo que metaforicamente – sinto necessidade de gritá-la ao mundo, como se em um deseperado pedido de socorro.
Estou sozinho.
Desde dezembro, que trilho meus caminhos pelo mundo sem a minha companheira de vários (muitos) anos, que me abandonou. É a dura realidade. Fui abandonado e, sozinho, tento me reconstruir mais uma vez. Sim, reconstruir, porque a vida é um eterno processo de construção/reconstrução, inevitável processo que move o mundo e muda as pessoas. Mas tenho culpa, eu sei.
Primeiro porque vinha pensando que estava na hora de dar uma mexida na minha vida, e um dos pontos era deixá-la por uma mais nova (jovem, se quiserem) e mais fininha, mais ajeitadinha. Não que não tivéssemos uma relação boa, uma grande parceria. Mas vocês sabem como nós, homens, somos: sempre queremos uma mais novinha, mais jeitosinha. Além disso, da ânsia pelo novo, tinha também a vontade de variar, de experimentar novas possibilidades.
Só que ela intuiu que eu estava com essas dúvidas sobre nosso relacionamento, e não quis – orgulhosa – esperar que eu decidisse trocá-la: me abandonou. Mas não foi simples, discretamente. Foi com espetáculo, com drama, para marcar bem a situação e quem sabe me traumatizar: ela se matou.
Triste, arrependido, decidi que devia seguir com a vida, mas antes precisava fazer luto, purgar os meus pecados antes de iniciar uma nova relação (ou ao menos voltar à ativa, circular em meio às muitas opções que andam à minha volta). E era isso que vinha fazendo, de certa forma até bem, com o respeito devido a quem já se foi, em silêncio – muitas vezes – lembrando de nossos bons momentos juntos.
Até que fui para a Califórnia.
San Diego, Oceano Pacífico, pôr-do-sol no mar, temperatura agradável. Não agüentei. Como sinto sua falta. Sofri muito durante os dias em que estive lá, lembrando as vezes em que viajamos juntos pelo mundo afora. Não foi fácil, admito, mas acho que em breve vou poder iniciar uma nova vida com outra. Ainda não, mas em breve.
Que saudades da minha câmera digital!
Por mais que pareçam, os textos aqui publicados não são confessionais, ou seja, a minha vida não é um livro aberto, assim, à disposição, de quem quiser ler. Podemos até considerá-la um livro, que até está aberto, mas não permito acesso a várias das páginas.
Hoje não.
Hoje me sinto na obrigação de ser completamente sincero com todos os leitores, talvez na única vez desde que preparo essa sopa semanal, porque está difícil de suportar sozinho a minha dor, e – mesmo que metaforicamente – sinto necessidade de gritá-la ao mundo, como se em um deseperado pedido de socorro.
Estou sozinho.
Desde dezembro, que trilho meus caminhos pelo mundo sem a minha companheira de vários (muitos) anos, que me abandonou. É a dura realidade. Fui abandonado e, sozinho, tento me reconstruir mais uma vez. Sim, reconstruir, porque a vida é um eterno processo de construção/reconstrução, inevitável processo que move o mundo e muda as pessoas. Mas tenho culpa, eu sei.
Primeiro porque vinha pensando que estava na hora de dar uma mexida na minha vida, e um dos pontos era deixá-la por uma mais nova (jovem, se quiserem) e mais fininha, mais ajeitadinha. Não que não tivéssemos uma relação boa, uma grande parceria. Mas vocês sabem como nós, homens, somos: sempre queremos uma mais novinha, mais jeitosinha. Além disso, da ânsia pelo novo, tinha também a vontade de variar, de experimentar novas possibilidades.
Só que ela intuiu que eu estava com essas dúvidas sobre nosso relacionamento, e não quis – orgulhosa – esperar que eu decidisse trocá-la: me abandonou. Mas não foi simples, discretamente. Foi com espetáculo, com drama, para marcar bem a situação e quem sabe me traumatizar: ela se matou.
Triste, arrependido, decidi que devia seguir com a vida, mas antes precisava fazer luto, purgar os meus pecados antes de iniciar uma nova relação (ou ao menos voltar à ativa, circular em meio às muitas opções que andam à minha volta). E era isso que vinha fazendo, de certa forma até bem, com o respeito devido a quem já se foi, em silêncio – muitas vezes – lembrando de nossos bons momentos juntos.
Até que fui para a Califórnia.
San Diego, Oceano Pacífico, pôr-do-sol no mar, temperatura agradável. Não agüentei. Como sinto sua falta. Sofri muito durante os dias em que estive lá, lembrando as vezes em que viajamos juntos pelo mundo afora. Não foi fácil, admito, mas acho que em breve vou poder iniciar uma nova vida com outra. Ainda não, mas em breve.
Que saudades da minha câmera digital!
(uma Sopa antiga, porque é carnaval)
Até.
sábado, fevereiro 22, 2020
domingo, fevereiro 16, 2020
A Sopa
(Ano 19, Número 14)
O primeiro milagre.
Talvez esse não seja o melhor momento para falar disso, mas esse final de semana testemunhei um momento histórico, o primeiro feito daquele que um dia será reverenciado por todos, que será motivo de orações, bem além do que já é, pois em seu nicho, digamos assim, ele realmente é.
Começo falando do meu sogro, entretanto.
Do alto dos seus oitenta e um anos, está realmente bem. Algumas limitações físicas decorrentes da idade, alguma dificuldade (e dor) para caminhadas mais longas, mantém-se tranquilo. De uns tempos para cá, contudo, tem se queixado de um dor no ombro sempre ao acordar, o que causa uma maior limitação pela dor durante as manhãs.
Corta para o final de semana que ora termina.
Para passar os últimos dias de férias na praia, até porque eu teria uma corrida no sábado à noite, decidimos alugar, via Airbnb, um apartamento em um condomínio fechado no litoral norte do RS. Apartamento de três quartos térreo, com jardim à beira de um canal, deck com churrasqueira. Decoração de primeira, eletrodomésticos top de linha, conforto mesmo. Um quarto de casal (em que ficamos a Jacque e eu, apesar da insistência para que meus sogros ficassem nele) e dois quartos de solteiro com bi-camas. Um deles, em que meu sogro dormiu, decorado com motivos de futebol, mais especificamente do Inter, e um grande pôster do D’Alessandro, camisa 10 e um dos maiores jogadores da história do time. Assim como o banheiro, temático, com o a letra do hino do Inter no box do chuveiro.
Ele, gremista, não se importou.
Após a primeira noite, comentou que havia acordado sem a dor no ombro que o incomodava há meses. Não demos atenção, afinal poderia ser coincidência.
Foi um final de semana de descanso, agradável. Fiz churrasco nas duas primeiras noites e só não fiz na terceira porque tinha a Summer Night Run 2020, motivo de ter ido para o litoral. Aliás, meu joelho que doía ininterruptamente nas duas últimas semanas melhorou muito após a corrida.
Hoje, quando voltávamos para Porto Alegre, meu sogro comentou novamente que não havia tido mais a dor do ombro. Queria, inclusive, saber qual era o travesseiro que havia utilizado. Foi quando caiu a ficha para mim. Que travesseiro, que nada.
Foi o primeiro milagre do São D’Alessandro.
Amém.
Até.
sábado, fevereiro 15, 2020
Sábado (e uma lembrança)
Há um ano, encerrava meu ciclo trabalhando na GSK.
Desde então, tenho mais qualidade de vida, outros desafios e algumas ansiedades diferentes.
Valeu muito a experiência, e o que sinto falta é a convivência com os queridos amigos feitos lá.
É da vida, e seguimos em frente.
Até.
domingo, fevereiro 09, 2020
A Sopa *
(Ano 19, Número 13)
* Uma Sopa Retrô, de quando morei em Toronto, porque estamos de férias...
Algumas vezes na vida, é melhor não saber.
Isso mesmo. Não pagar para ver, não experimentar, não correr riscos. Tudo para não se machucar, não se magoar, não se frustar. Sei que isso vai de encontro a tudo que os autores de livros de auto-ajuda disseram e escreveram desde o início dos tempos, mas quem escreve isso é alguém vivido, com muitas cicatrizes adquiridas pelo tempo e pelas pedras do caminho
Às vezes o melhor é ser prudente e se omitir.
Como no caso do Endless Shrimp.
Há uma promoção em vigor na cadeia de restaurantes Red Lobster chamada justamente camarão sem fim. Por preço fixo, come-se camarão à vontade. A Camilla e o Henrique foram, assim como a Monique e o Rafael. Eu, por outro lado, optei por não ir. Não podia correr o risco de não ser tudo o que eu esperava. Estou em momento delicado da minha vida para correr o risco de me decepcionar dessa forma. Sim, porque dificilmente seria como eu acho que deveria ser um endless shrimp.
Eu sou um selvagem, que fique claro. Um troglodita, um ogro. Esse rostinho bonito que vocês conhecem, essa coisa de escritor, um ser civilizado, um gentleman, que aparentemente sou, é apenas uma fachada para quem eu na verdade sou: um frequentador assíduo espetos corridos e galeterias. Ou de rodízios de pizza. Café colonial em Gramado/RS. Há quantos anos procuro, em vão, parceiros para uma visita a um café colonial em Gramado?
Porque, acima de tudo, a quantidade é fundamental.
Mais, nem precisa comer muito, o que importa é a possibilidade e a disponibilidade da fartura, do exagero, do passar mal após a refeição. Despir-se de todas as convenções sociais e liberar o ser primitivo que hábita em todos nós, e “se atirar” na comida, até em respeito à fome ancestral, atávica. Comemos não só por nós, mas sim por todos aqueles que passaram fome, que morreram para que a humanidade chegasse até aqui, bem gorda e bem forte, muito mais gorda que forte, concordo…
Abri mão do Endless Shrimp porque não seria assim, selvagem. Desisti com bravura, determinação, despreendimento, e com os olhos e a boca cheios d’água…
Até.
Isso mesmo. Não pagar para ver, não experimentar, não correr riscos. Tudo para não se machucar, não se magoar, não se frustar. Sei que isso vai de encontro a tudo que os autores de livros de auto-ajuda disseram e escreveram desde o início dos tempos, mas quem escreve isso é alguém vivido, com muitas cicatrizes adquiridas pelo tempo e pelas pedras do caminho
Às vezes o melhor é ser prudente e se omitir.
Como no caso do Endless Shrimp.
Há uma promoção em vigor na cadeia de restaurantes Red Lobster chamada justamente camarão sem fim. Por preço fixo, come-se camarão à vontade. A Camilla e o Henrique foram, assim como a Monique e o Rafael. Eu, por outro lado, optei por não ir. Não podia correr o risco de não ser tudo o que eu esperava. Estou em momento delicado da minha vida para correr o risco de me decepcionar dessa forma. Sim, porque dificilmente seria como eu acho que deveria ser um endless shrimp.
Eu sou um selvagem, que fique claro. Um troglodita, um ogro. Esse rostinho bonito que vocês conhecem, essa coisa de escritor, um ser civilizado, um gentleman, que aparentemente sou, é apenas uma fachada para quem eu na verdade sou: um frequentador assíduo espetos corridos e galeterias. Ou de rodízios de pizza. Café colonial em Gramado/RS. Há quantos anos procuro, em vão, parceiros para uma visita a um café colonial em Gramado?
Porque, acima de tudo, a quantidade é fundamental.
Mais, nem precisa comer muito, o que importa é a possibilidade e a disponibilidade da fartura, do exagero, do passar mal após a refeição. Despir-se de todas as convenções sociais e liberar o ser primitivo que hábita em todos nós, e “se atirar” na comida, até em respeito à fome ancestral, atávica. Comemos não só por nós, mas sim por todos aqueles que passaram fome, que morreram para que a humanidade chegasse até aqui, bem gorda e bem forte, muito mais gorda que forte, concordo…
Abri mão do Endless Shrimp porque não seria assim, selvagem. Desisti com bravura, determinação, despreendimento, e com os olhos e a boca cheios d’água…
Até.
sábado, fevereiro 08, 2020
domingo, fevereiro 02, 2020
A Sopa
(Ano 19, Número 12)
Apropriação cultural.
É isso que diriam se eu resolvesse sair por aí de dreadlocks no cabelo, ou fazendo uso de algum item que estivesse associado a outras culturas diferentes da minha. Seria criticado por uns, enquanto outros não entenderiam de onde tirei cabelo para fazer isso, o que realmente seria um grande mistério (é só um exemplo, só um exemplo)...
Assunto complicado esse, em tempos de politicamente correto.
Confesso que me aproprio, sim. E faço uso daquilo que me apropriei da forma que eu bem entendo, sem nenhuma culpa. Já explico.
Mas, antes, (mais) uma declaração de princípios.
Sou muito fã do músico e escritor Chico Buarque.
Acho ele um gênio. Apesar de não ser um grande cantor, sou completamente apaixonado por sua obra musical. Suas letras são fantásticas, desde a simplicidade de ‘A Banda’, as saudades dos carnavais que não vivi de “Noite dos Mascarados’, a maravilhosa “Quem te viu, Quem te Vê’ (“... se você sentir saudades, por favor não dê na vista, bate palma com vontade, faz de conta que é turista...”), passando pelas políticas como ‘Roda Viva’, ‘Cálice’, entre outras.
É um gigante da música brasileira.
Mas quando olhamos para os posicionamentos políticos dele...
Ele se posiciona politicamente com o que há de pior na história política do Brasil. Suas ideias são – evidentemente que na minha opinião – completamente equivocadas, para dizer o mínimo. É fácil ser socialista em Paris...
O que potencialmente criou um dilema: posso ser fã da música de um cara que defende ideias e pessoas que estão completamente em desacordo com o que penso? Lembrou o caso de trinta anos atrás, quando um conhecido disse que não gostava da música do Cazuza porque ele era gay. Na época, olhei com estranheza e pensei que era uma grande bobagem. A resposta não mudou, apesar de não ser uma questão de preconceito o dilema atual: é uma questão de conceito mesmo. Percebi que sim, eu poderia gostar da música e discordar da visão de mundo do autor.
E me apropriar e ressignificar o que ele escreveu.
A obra de um artista, após ganhar o mundo, deixa de ser dele no sentido que é única para cada um que a lê/ouve/declama/absorve. É a beleza da arte: ela pode ser universal, mas é também uma experiência individual. E pode ter um significado diferente para cada um.
É isso o que quero dizer quando confessei me apropriar de coisas. Posso discordar frontalmente das opiniões (nesse caso) políticas do autor, e isso não é exclusivo do Chico Buarque, e ser fã da música e da poesia desse mesmo autor. E não importa a motivação da criação da obra de arte, eu vou criar para ela a história que eu quiser.
Por muito tempo cantei ‘Apesar de Você’ pensando que os anos do PT no governo (“Hoje você é quem manda, falou tá falado...”) um dia iriam acabar (“... apesar de você, amanhã há de ser um novo dia...”). Mesmo sabendo que a música foi feita em outro contexto e que agora ele a usaria de maneira oposta da minha.
Como eu disse, é a beleza da arte.
Até.
sábado, fevereiro 01, 2020
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