(Crônicas de uma Pandemia – Trezentos e Cinquenta e Um Dias)
Fisicamente, estou bem.
Muito bem, aliás, mas não vem ao caso nesse momento. Digo que estou bem fisicamente para servir de contraste ao meu estado, digamos assim, anímico. Estou mentalmente exausto. Estava, pelo menos.
Apesar de ter feito um curto período de férias entre o final de janeiro e o início de fevereiro, semana passada – em concordância com a situação no Rio Grande do Sul – atingi um estado próximo ao que chamam de burnout. Mentalmente cansado, realmente tenso.
E não era pelo volume de trabalho. Mesmo com todos os horários do consultório lotados, atendendo pacientes a mais, encaixes, presenciais ou virtuais, orientando pacientes e respondendo dúvidas a qualquer momento do dia ou da noite, por telefone ou WhatsApp, fazendo receitas online, dias úteis e finais de semana, mesmo com tudo isso, eu estava tranquilo. Como falei/escrevi outro dia, estava quieto no meu canto trabalhando, dando a minha pequena contribuição em meio à pandemia. E definitivamente não estava contando vantagem com relação a isso.
Mas comecei a ficar progressivamente ansioso. Tenso. Uma nuvem negra pairando sobre o mundo, sobre mim em especial. Uma angústia vaga, um mal estar com tudo (ainda antes de o Inter ser roubado pelo VAR na última rodada do campeonato brasileiro), até que identifiquei a fonte.
Não era, como seria de se esperar, a carga de trabalho.
Era o noticiário em geral, mas as redes sociais em especial. Twitter, Facebook. Portais de notícias. Tudo isso, importante fonte de informação, era também a causa da minha angústia. As redes sociais, das quais sou fã há muito tempo, estavam causando muito mais mal que bem. Catastrofistas, negacionistas, anti-vacinas, governistas e opositores, todos gritando ao mundo suas verdades, estavam me fazendo mal.
Decidi tomar uma atitude.
Resolvi me isolar disso tudo.
Desde terça-feira da semana passada não acesso redes sociais, com exceção do Instagram (onde registro minhas pedaladas e a vida é cor de rosa), e não li, ouvi ou assisti notícias. Também ignorei grupos de WhatsApp e mensagens que não fossem de pacientes, familiares ou amigos.
Por coincidência, estava programado um final de semana com a família na Serra. Lá, em virtude da bandeira preta, tudo estava fechado e providencialmente fiquei (ficamos) em casa o tempo todo. Apenas caminhadas ao ar livre na área do condomínio, leitura (livro mesmo, físico), comidas e dormir. Se alguém ligasse a TV em alguma emissora que apresentasse notícias, eu saia de perto para não ver/ouvir.
Fuga da realidade?
Sim e não.
Sim, porque deliberadamente evitei acompanhar o momento tenso que vivemos no estado e no país durante os últimos dias. Até porque eu, mais do eu ninguém, sei o que está acontecendo. Não preciso de mais más notícias e prognósticos ruins do que já sou submetido no dia-a-dia. Por outro lado, não foi uma fuga completa da realidade porque segui atendendo e orientando os pacientes, e em nenhum momento relaxei nas medidas de segurança.
Tenho convicção de que todos precisamos de um alívio na pressão mental a que estamos sendo submetidos no último ano, e que é muito mais intensa nos últimos dias.
Até.
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