domingo, outubro 03, 2021

A Sopa

Domingo, 6h55.

 

Abro os olhos e escuto um gato miar atrás de uma porta ao final do corredor, exatamente para onde haviam sido expulsos os gatos algum tempo antes por estarem fazendo barulho perto de onde dormíamos. Confiro a hora. Antes de qualquer outro pensamento, escuto um trovão seguido pelo barulho da chuva que começa a cair e bater nos vidros das janelas.

 

Não vou pedalar, é meu próximo pensamento.

 

O que tornará meu início de manhã de domingo diferente, pois há dois anos e meio que minhas manhãs de sábados e domingos – quando não chove, claro – são dedicadas, em seu período inicial, ou seja, até cerca de dez horas, a praticar atividade física, a pedalar. Começou como meus únicos momentos de prática de exercício na semana para se tornarem o fechamento da semana, após a rotina diária na academia, de segunda a sexta-feira.

 

Dizia eu, então, que a chuva atrapalhou meus planos.

 

Como há muito não fazia, tomei café lendo o jornal de ontem com as notícias de anteontem, com mais tempo que o habitual, e fiz chimarrão antes de me sentar em frente ao computador para escrever essa Sopa semanal. Também como há muito não fazia (escrever no domingo de manhã).

 

Rotinas que mudaram e continuam mudando ao longo do tempo, assim como pessoas que vem e vão, entram e saem de nossas vidas, por diferentes razões. Não podemos ficar presos ao que passou, mensagem importante que tento não esquecer, mas nem sempre é fácil para mim, confesso. Tanto para o lado bom como para o lado ruim.

 

Não deveríamos querer ficar vivendo de ou recriando situações e relações que já não existem, de novo, para o bem e para o mal. Um momento de felicidade que passou será substituído (talvez esse não seja o melhor termo) por outro que virá, e a experiência ruim passou, aprendemos com ela e seguimos em frente (provavelmente cometendo novos erros). Ficar remoendo experiências ruins em nossa mente não ajuda em absolutamente nada (fácil falar, eu que o diga). Mas a vida segue seu curso implacável, independente de nossas vontades. A onda vem, queiramos ou não, então é melhor estar preparado.

 

Aceitar que as coisas mudam com serenidade é uma arte a ser aprendida, com maior ou menor dor. E volto ao velho papo de que existem situações que dependem de nós, essas são as que merecem toda nossa dedicação, e as que não dependem de nós, que não adianta toda nossa preocupação e angústia, vão acontecer independente de nossa vontade. Saber diferenciar umas das outras vale ouro, ou podemos dizer que é uma benção.

 

É a paz que procuramos.

 

Por enquanto, fico aqui com meu chimarrão de domingo de manhã enquanto observo a chuva que não me deixou pedalar.

 

Até.

 

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