domingo, setembro 25, 2005

A Sopa 05/10

Hoje passei por um amigo na rua. Não me reconheceu.

Deve ser pela barba. Ou os óculos escuros. Talvez o chapéu. Ou a barba, os óculos e o chapéu, juntos. Acho que o fato de eu andar olhando para baixo e me esgueirando entre as sombras também tem a ver com isso. Tudo, na verdade, são sinais do que está acontecendo.

Eu estou me escondendo.

Terça-feira eu fui dormir um “cidadão respeitado que ganhava quatro mil cruzeiros” por mês e amanheci quarta-feira um pária, um escroque, parte do submundo (underground, se preferirem). Noite violenta, vocês devem estar imaginando. Que nada, digo eu, não houve nada de diferente, tudo continua igual no mundo, exceto por mim. Eu sou um fora da lei.

Certo, certo, não é bem assim. Eu não sou, assim, um criminoso. Apenas alguém cujo status legal em solo canadense está como pendente. Não fede nem cheira. Não tenho o meu work permit (e o Social Insurance Number, licença médica, posição na universidade, salário, cartão de crédito, etc) porque o meu venceu e – apesar de ter enviado os papéis para a imigração dentro dos prazos legais – eles ainda nem começaram a processá-los.

Se eu, num delírio kafkaniano, tivesse acordado uma barata na manhã de quarta, pelo menos eu saberia o que fazer: fugir de sapatos e chinelos enquanto aguardaria em segurança a hecatombe nuclear que vai acabar com os humanos, esses inconvenientes. Mas não, acordei exatamente como eu havia ido dormir, física e psicologicamente falando, exceto pelo fato de ser um biltre, um renegado da sociedade, um outsider.

E não posso fazer nada, porque está tudo nas mãos da imigração, provavelmente em cima de uma mesa repleta de outros processos iguais aos meus esperando um funcionário ter a boa vontade de olhá-los e passá-los para a seção seguinte, onde vão parar em cima de uma mesa aguardando por um novo funcionário do setor notar que há um erro que o seu colega cometou e que atrasa mais ainda o andamento de tudo. Esperar, tudo que me resta.

O que muda na minha vida? Exceto os disfarces que tenho que usar para burlar a imigração – ah, me vestir de índio não foi uma boa idéia – muito pouco. Talvez hoje, no almoço dos blogueiros lá no Rio 40 Graus, eu seja posto para fora do restaurante por não ser uma pessoa confiável, não sei. Não dá para confiar em nós, ilegais…

Por outro lado, o pior que pode acontecer – com exceção da horda de blogueiros furiosos que podem querer quebrar minhas pernas – é eu ser deportado. Humm… passagem de graça para o Brasil… bom…

Nada de ruim pode acontecer, afinal de contas…

3 comentários:

Anônimo disse...

Marcelo, gostei. A partir de hoje ando pela rua a procura de alguem como tu..... e como sou uma pessoa de bom coracao, posso te oferecer um cafe e um donut do Coffe Time (onde hang out os ileais e marginalizados pela sociedade canadense), pois logo o frio chega..... abracos...Adriana

Anônimo disse...

Puxa, então é por isso que não te vejo mais pelas ruas, digo, vejo e não reconheço. bjs,

Anônimo disse...

Rsrsrsrsrsrsrs

Va de retro, Ilegal! ;)

Pena eu ter perdido o almoco, mas enquanto voce saboreava sua picanha com arroz e feijao, eu discutia Financial Statements com outros 10 nerds, que como eu, apareceram para o tutorial virtual!