domingo, junho 11, 2006

A Sopa 05/47

Há uns dias atrás fui jantar com alguns brasileiros que estavam de passagem por Toronto para um curso. Alguns conhecidos entre eles, todos cirurgiões torácicos. O grupo que foi jantar era composto na maioria por gaúchos, não só de Porto Alegre, mas também de Caxias do Sul, Passo Fundo e Cruz Alta. Havia também gente da Bahia. Fomos num restaurante grego, na Danforth, obviamente a região grega de Toronto.

Durante a janta, conversa vai, conversa vem, muitas histórias médicas, alguns “causos” de viagem, acabou-se em política. Eu temia que acontecesse isso. Porque todos sabem, política e religião (e provavelmente futebol) não se deve discutir. E o assunto, não podia deixar de chegar nas vindouras eleições presidenciais brasileiras.

Comentavam-se as últimas pesquisas e tal, e um dos presentes falou que o atual presidente não se reelegeria, porque “nós, que o elegemos, não vamos votar nele”. Alguns disseram que não haviam votado nele e tal, e eu disse que ele estava enganado, ele muito provavelmente seria reeleito e que não havíamos sido “nós” (seja lá em quem ele pensava quando dizia nós) quem havia elegido o atual presidente.

Certo, vocês podem dizer que eu estava querendo comprar briga, mas não, essa não era a intenção. De qualquer forma, ele respondeu num tom alterado, a voz um pouco mais elevada, “não tens como saber, até porque estás fora do Brasil há muito tempo, não sabe o que se passa lá”. Momento tenso. Rapidamente, pensei: “Só tenho duas opções razoáveis nesse momento: ou me levanto e encho esse cara de porrada para aprender a nunca mais falar comigo nesse tom, ou digo a verdade a ele”. Foi o que fiz.

Pausadamente expliquei a ele que, no fundo, eu sabia mais da conjuntura política brasileira do que ele, por várias razões. Entre elas o fato de estar olhando de fora, de ter uma visão de perspectiva da situação. E por ler ao menos dois jornais brasileiros por dia via internet, além das notícias locais daqui e, mais, da visão que as pessoas têm do Brasil aqui de longe. Eu não estava me posicionando politicamente, levantando uma bandeira. Era uma análise. Ele estava muito envolvido com o calor da discussão para ter uma opinião mais ou menos imparcial.

Perguntou em quem eu ia votar. Não importava, respondi eu, o que estava em jogo não era em quem eu ia votar ou não, mas quem eu achava que ia ganhar. Não um desejo, mas uma opinião. Ele não conseguia diferenciar as coisas, concluí.

Ele até tentou continuar argumentando, mas minha atenção já estava toda voltada para Stella Artois, a belga.

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Ao contrário de outros brasileiros (alguns, imagino que não a maioria) residentes no exterior, eu não só assinei a Globo Internacional como gosto de assistir. Pronto, falei.

O interessante – mas de modo algum surpreendente – é que quando no Brasil eu quase nunca assistia a emissora do falecido Roberto Marinho. Digo que não é surpreendente porque é natural que, por morar longe do país, se sinta a necessidade de manter contato com as origens, até para não perder referências. A internet indubitavelmente ajudou muito nesse sentido e, desde que cheguei aqui, naqueles primeiros meses em que ainda não havia comprado televisão, ouvia rádio pela internet. Rádio de Porto Alegre, claro, para me sentir mais perto de casa. Assim, quando em fevereiro último a Globo passou a ser transmitida aqui em Toronto, eu passei a assisti-la.

Até para comprovar que a programação é bem ruim. A maior parte dos programas não se consegue assistir. Mas assisto o Jornal Nacional sempre que dá. E, mais raramente, o Altas Horas, programa do Serginho Groisman. Estavam tocando ontem no programa o Nando Reis e o Rappa.

Muito bom, muito bom.

Até

2 comentários:

Mauricio Almeida disse...

Ahhh Marcelo, eu sabia que algum dia você iria assumir. Isso mesmo, agora encha o peito e grite para Toronto inteira ouvir que você também assisti Ana Maria Braga. Vai te fazer bem. :)

Anônimo disse...

Que caa incoveniente, e vc respondeu a altura.
Eu não assino a Globo e não pretendo assinar. Mas sinto falta do Jornal Nacional, os noticiários daqui não são tão bons. bjs,