Último domingo antes das férias.
Serão duas semanas, alguns podem argumentar que é apenas um feriadão prolongado, mas são férias, afirmo com convicção. Sem preocupação com horários, com tarefas a realizar. Sem reuniões, exceto aquelas em volta de uma mesa de jantar, tomando o vinho da casa (ou não), sem pressa para terminar.
Sem televisão, também. Um que outro noticiário ao chegar no quarto no fim do dia, no máximo. A Internet será restrita, por isso essa Sopa também entra em férias ou, melhor, será publicada em intervalos que não posso precisar, como um diário de bordo que tranqüilizará aquele que vem saber de notícias minhas (nossas) por aqui.
Apesar da minha atual preferência pelos dias mais quentes, não será uma praia o nosso destino. Aliás, também será, ou serão, algumas praias, mas como será outono, não espero (e não pretendo) poder tomar banhos de mar. Conhecerei lugares novos e revisitarei outros já conhecidos. Caminharei por avenidas e bulevares, pararei para um café no final de tarde onde discutiremos o sentido da vida.
Ou não, não importa.
Flanarei, flanaremos.
#
Dois mil e sete, lamento dizer, já acabou.
Ao menos para mim.
Já não penso mais, não faço planos, para o ano em curso. Os meus objetivos estão em 2008. Penso grande, projeto longe. Como me disse uma vez um mestre: “Se pensares grande, podes até terminar pequeno. Se pensares pequeno, certamente terminarás pequeno”.
Até.
Crônicas e depoimentos sobre a vida em geral. Antes o exílio; depois, a espera. Agora, o encantamento. A vida, afinal de contas, não é muito mais do que estórias para contar.
domingo, setembro 30, 2007
sábado, setembro 29, 2007
quinta-feira, setembro 27, 2007
quarta-feira, setembro 26, 2007
terça-feira, setembro 25, 2007
Concursos fotográficos e má-fé
Por Gilberto Tadday
Gostaria de saber o que passa na mente das pessoas que escrevem as regras dos concursos fotográficos. Será que elas pensam que nós, fotógrafos, só sabemos lidar com imagens e não lemos as palavras escritas por eles? Ou será que eles simplesmente nos consideram um grupo de idiotas com uma câmera pendurada no pescoço?
Ontem recebi um email indignado - com toda a razão - do fotógrafo gaúcho Eduardo Tavares. A mensagem trata de um concurso fotográfico organizado por um restaurante de Porto Alegre e mostra a má fé dos organizadores. As regras do tal concurso estabelecem que TODAS as imagens inscritas na competição passam a ser propriedade do restaurante, que pode, inclusive, repassar o direito de uso para terceiros sem nenhuma remuneração ao autor (leia-se você, caro leitor) das imagens. Dá para acreditar? Vale lembrar que normalmente as competições fotográficas exigem que o particpante ceda os direitos de uso da imagem caso ela seja vencedora e somente para uso em divulgação e promoção do concurso. Ou seja, só as imagens que ganharam e não todas as inscritas. E com uso limitado.
O restaurante em questão serve comida portuguesa e, coincidentemente, o tema do concurso é a colonização portuguesa no Rio Grande do Sul. Vamos deixar de lado por um instante a questão do apropriamento das imagens inscritas e vamos ver quais os prêmios que os vencedores irão receber. O primeiro lugar receberá duas passagens aéreas de ida e de volta para o trecho Porto Alegre Lisboa. O segundo lugar irá ganhar uma câmera digital Sony H9 (já está começando a soar castigo ao invés de prêmio, mas não vamos entrar nesta questão agora). E o terceiro felizardo receberá dois cheques-presente de 500 reais válidos onde? Exato, no próprio restaurante. Hum, interessante…
Ok, agora podemos analisar friamente o que isso significa. Traduzindo as letras miúdas das regras, fica claro que o organizador está investindo um valor relativamente baixo nesta promoção em troca de um vasto banco de imagens sobre assustos diretamente relacionados ao negócio dele (restaurante português) e que ele poderá utulizar indefinidamente e da forma que bem entender. Resumindo, numca mais eles precisarão contratar um profissional para fazer fotos para anúncios, cardápio, decoração do restaurante, divulgação, etc. Mesmo se considerarmos que nem todas as fotos terão a qualidade necessária para serem utilizadas posteriormente, ainda assim eles terão fotos suficientes para utilizar durante um bom tempo. E o custo? Você já deve ter somado os valores dos prêmios. A matemática é relativamente simples para concluirmos que é uma barganha (para os organizadores, obviamente).
O pior de tudo é que este não é um episódio isolado de uma empresa pequena do sul do Brasil agindo de má fé. Me lembrou de um caso parecido. Em maio deste ano, a Microsoft lançou um concurso aqui nos EUA chamado “Microsoft Future Pro Photographer Contest”, voltado ao estudantes de fotografia. O primeiro lugar levava 20 mil dólares em cash e mais equipamentos. No entanto, as regras também determinavam que todas as imagens inscritas passariam a ser propriedade deles. O que aconteceu? Os fotógrafos se revoltaram e ameaçar boicotar o concurso. Além disso, a web foi inundada de reclamações contra a Microsoft. Isso fez com que a empresa rapidinho reecrevesse as regras e as letras miúdas. Damage control, como dizem por aqui. Eles passaram a exigir os direitos de uso para divulgação somente dos vencedores, o que é comum. Só assim o concurso foi adiante. A imagem da Microsoft entre os fotógrafos saiu arranhada, mas menos do que se eles não tivessem voltado atrás nas regras.
Não sei se os verdadeiros culpados são empresários que bancam esses concuros ou seus advogados, que escrevem as regras e acham que estão fazendo seu trabalho tirando o máximo de lucro de um mínimo de investimento. Fica claro, pelos termos do concurso, que eles conhecem bem as leis de direito autoral e como contorná-las. Mas eles não parecem muito bons em marketing e não calcularam o prejuízo que vão ter com publicidade negativa gerada pelos fotógrafos.
Sei que é um concurso local e, provavelmente, somente fotógrafos do sul do país iriam participar. Mas acho que é uma questão de princípios. Se ninguém reclamar, vai começar a virar a norma. E daqui a pouco todos os concursos terão este tipo de regras, seja em Porto Alegre, Rio, São Paulo, ou qualquer outro lugar. Não podemos permitir que isso aconteça. Já existe gente demais no mercado querendo se apropriar dos direitos autorais dos fotógrafos em troca de remunerações ridículas.
O email que recebi do Dudu Tavares foi enviado com cópia para outros profissionais do mercado. Alguns já começaram a se manifestar e a sugerir ações em protesto contra o restaurante. Envio de emails para o estabelecimento, ligações telefônicas, não frequentar mais o estabelecimento, avisar os amigos e familiares para não ir mais lá. O que você sugere e o que você pensa sobre o assunto? O restaurante chama-se Calamares. E o site deles, com o contato e as regras do tal concurso, está aqui.
(Gilberto Tadday é fotógrafo e mora em New York)
Gostaria de saber o que passa na mente das pessoas que escrevem as regras dos concursos fotográficos. Será que elas pensam que nós, fotógrafos, só sabemos lidar com imagens e não lemos as palavras escritas por eles? Ou será que eles simplesmente nos consideram um grupo de idiotas com uma câmera pendurada no pescoço?
Ontem recebi um email indignado - com toda a razão - do fotógrafo gaúcho Eduardo Tavares. A mensagem trata de um concurso fotográfico organizado por um restaurante de Porto Alegre e mostra a má fé dos organizadores. As regras do tal concurso estabelecem que TODAS as imagens inscritas na competição passam a ser propriedade do restaurante, que pode, inclusive, repassar o direito de uso para terceiros sem nenhuma remuneração ao autor (leia-se você, caro leitor) das imagens. Dá para acreditar? Vale lembrar que normalmente as competições fotográficas exigem que o particpante ceda os direitos de uso da imagem caso ela seja vencedora e somente para uso em divulgação e promoção do concurso. Ou seja, só as imagens que ganharam e não todas as inscritas. E com uso limitado.
O restaurante em questão serve comida portuguesa e, coincidentemente, o tema do concurso é a colonização portuguesa no Rio Grande do Sul. Vamos deixar de lado por um instante a questão do apropriamento das imagens inscritas e vamos ver quais os prêmios que os vencedores irão receber. O primeiro lugar receberá duas passagens aéreas de ida e de volta para o trecho Porto Alegre Lisboa. O segundo lugar irá ganhar uma câmera digital Sony H9 (já está começando a soar castigo ao invés de prêmio, mas não vamos entrar nesta questão agora). E o terceiro felizardo receberá dois cheques-presente de 500 reais válidos onde? Exato, no próprio restaurante. Hum, interessante…
Ok, agora podemos analisar friamente o que isso significa. Traduzindo as letras miúdas das regras, fica claro que o organizador está investindo um valor relativamente baixo nesta promoção em troca de um vasto banco de imagens sobre assustos diretamente relacionados ao negócio dele (restaurante português) e que ele poderá utulizar indefinidamente e da forma que bem entender. Resumindo, numca mais eles precisarão contratar um profissional para fazer fotos para anúncios, cardápio, decoração do restaurante, divulgação, etc. Mesmo se considerarmos que nem todas as fotos terão a qualidade necessária para serem utilizadas posteriormente, ainda assim eles terão fotos suficientes para utilizar durante um bom tempo. E o custo? Você já deve ter somado os valores dos prêmios. A matemática é relativamente simples para concluirmos que é uma barganha (para os organizadores, obviamente).
O pior de tudo é que este não é um episódio isolado de uma empresa pequena do sul do Brasil agindo de má fé. Me lembrou de um caso parecido. Em maio deste ano, a Microsoft lançou um concurso aqui nos EUA chamado “Microsoft Future Pro Photographer Contest”, voltado ao estudantes de fotografia. O primeiro lugar levava 20 mil dólares em cash e mais equipamentos. No entanto, as regras também determinavam que todas as imagens inscritas passariam a ser propriedade deles. O que aconteceu? Os fotógrafos se revoltaram e ameaçar boicotar o concurso. Além disso, a web foi inundada de reclamações contra a Microsoft. Isso fez com que a empresa rapidinho reecrevesse as regras e as letras miúdas. Damage control, como dizem por aqui. Eles passaram a exigir os direitos de uso para divulgação somente dos vencedores, o que é comum. Só assim o concurso foi adiante. A imagem da Microsoft entre os fotógrafos saiu arranhada, mas menos do que se eles não tivessem voltado atrás nas regras.
Não sei se os verdadeiros culpados são empresários que bancam esses concuros ou seus advogados, que escrevem as regras e acham que estão fazendo seu trabalho tirando o máximo de lucro de um mínimo de investimento. Fica claro, pelos termos do concurso, que eles conhecem bem as leis de direito autoral e como contorná-las. Mas eles não parecem muito bons em marketing e não calcularam o prejuízo que vão ter com publicidade negativa gerada pelos fotógrafos.
Sei que é um concurso local e, provavelmente, somente fotógrafos do sul do país iriam participar. Mas acho que é uma questão de princípios. Se ninguém reclamar, vai começar a virar a norma. E daqui a pouco todos os concursos terão este tipo de regras, seja em Porto Alegre, Rio, São Paulo, ou qualquer outro lugar. Não podemos permitir que isso aconteça. Já existe gente demais no mercado querendo se apropriar dos direitos autorais dos fotógrafos em troca de remunerações ridículas.
O email que recebi do Dudu Tavares foi enviado com cópia para outros profissionais do mercado. Alguns já começaram a se manifestar e a sugerir ações em protesto contra o restaurante. Envio de emails para o estabelecimento, ligações telefônicas, não frequentar mais o estabelecimento, avisar os amigos e familiares para não ir mais lá. O que você sugere e o que você pensa sobre o assunto? O restaurante chama-se Calamares. E o site deles, com o contato e as regras do tal concurso, está aqui.
(Gilberto Tadday é fotógrafo e mora em New York)
segunda-feira, setembro 24, 2007
domingo, setembro 23, 2007
A Sopa 07/10
Primavera, novamente.
Sinal de que o ano se encaminha para seu final aqui no hemisfério sul. As flores voltam a florescer e nos preparamos para o verão, que se anuncia logo ali, após a série de feriados que começou com o sete de setembro. Já disse isso, mas repito: gosto muito mais do verão hoje em dia do que gostava antes de morar no Canadá. Por outro lado, gosto também do inverno, apesar de ter passado desde maio até o início desse mês me queixando do frio do sul, mas muito mais da falta de estrutura do que do inverno em si. Se tolerei menos o frio que no passado? Certamente que sim, fazer o quê?
Há um ano atrás, estávamos em Buenos Aires, onde passamos a semana de férias que tivemos, a Jacque e eu, no último ano. Pelo inverno rigoroso, trabalhei muito, pneumologista que sou. Se em casa me queixava das mãos frias, no consultório esfregava as mãos, satisfeito com o movimento… Mas mereço, merecemos, férias.
Que virão por aí, em quinze e por quinze dias de outono.
De Combi, por caminhos novos e por outros nem tão novos assim.
Com amigos, o melhor de tudo.
#
Defino um grupo de viagem como uma reunião de pessoas maior que um casal, ou seja, considero três pessoas viajando juntas como um grupo. Premissa estabelecida, ponto.
Vou (vamos) viajar, está óbvio no que tenho dado a entender. E vamos num grupo que é pequeno o suficiente para caber num carro, mas grande o suficiente para que não seja em qualquer carro. Por isso a Combi, com cê, que não é uma Kombi como a maioria dos leitores imagina ao ouvir o nome do carro.
Não vai ser portanto, uma Espace, Renault, como imaginamos a princípio, e de onde, lá em 1999, tiramos o nome do nosso grupo de viagem, os Perdidos na Espace, abreviadamente, apenas ‘Perdidos’. Apesar de naquela vez termos viajado em seis adultos, uma criança e nossas respectivas malas, com tamanhos adequados ao volume do porta-malas do carro que havíamos “comprado” (leasing Renault Eurodrive), dessa vez o mesmo carro (ou sequer a categoria de carros desse tamanho) não teria espaço suficiente. Até nos convencermos disso, contudo, houve um longo caminho percorrido, entre discussões, conselhos de agentes de viagens, telefonemas e e-mails para locadoras de carro no nosso destino.
Ruim, complicado?
Que nada. Divertidíssimo.
Por que já estamos viajando. Sempre disse (e tenho cada vez mais certeza) que as três fases de uma viagem são de igual importância. O antes (a preparação) o durante (a viagem em si) e o depois (a volta e as lembranças, fotos, histórias).
Por isso vale a pena.
Porque isso não tem preço.
Até.
Sinal de que o ano se encaminha para seu final aqui no hemisfério sul. As flores voltam a florescer e nos preparamos para o verão, que se anuncia logo ali, após a série de feriados que começou com o sete de setembro. Já disse isso, mas repito: gosto muito mais do verão hoje em dia do que gostava antes de morar no Canadá. Por outro lado, gosto também do inverno, apesar de ter passado desde maio até o início desse mês me queixando do frio do sul, mas muito mais da falta de estrutura do que do inverno em si. Se tolerei menos o frio que no passado? Certamente que sim, fazer o quê?
Há um ano atrás, estávamos em Buenos Aires, onde passamos a semana de férias que tivemos, a Jacque e eu, no último ano. Pelo inverno rigoroso, trabalhei muito, pneumologista que sou. Se em casa me queixava das mãos frias, no consultório esfregava as mãos, satisfeito com o movimento… Mas mereço, merecemos, férias.
Que virão por aí, em quinze e por quinze dias de outono.
De Combi, por caminhos novos e por outros nem tão novos assim.
Com amigos, o melhor de tudo.
#
Defino um grupo de viagem como uma reunião de pessoas maior que um casal, ou seja, considero três pessoas viajando juntas como um grupo. Premissa estabelecida, ponto.
Vou (vamos) viajar, está óbvio no que tenho dado a entender. E vamos num grupo que é pequeno o suficiente para caber num carro, mas grande o suficiente para que não seja em qualquer carro. Por isso a Combi, com cê, que não é uma Kombi como a maioria dos leitores imagina ao ouvir o nome do carro.
Não vai ser portanto, uma Espace, Renault, como imaginamos a princípio, e de onde, lá em 1999, tiramos o nome do nosso grupo de viagem, os Perdidos na Espace, abreviadamente, apenas ‘Perdidos’. Apesar de naquela vez termos viajado em seis adultos, uma criança e nossas respectivas malas, com tamanhos adequados ao volume do porta-malas do carro que havíamos “comprado” (leasing Renault Eurodrive), dessa vez o mesmo carro (ou sequer a categoria de carros desse tamanho) não teria espaço suficiente. Até nos convencermos disso, contudo, houve um longo caminho percorrido, entre discussões, conselhos de agentes de viagens, telefonemas e e-mails para locadoras de carro no nosso destino.
Ruim, complicado?
Que nada. Divertidíssimo.
Por que já estamos viajando. Sempre disse (e tenho cada vez mais certeza) que as três fases de uma viagem são de igual importância. O antes (a preparação) o durante (a viagem em si) e o depois (a volta e as lembranças, fotos, histórias).
Por isso vale a pena.
Porque isso não tem preço.
Até.
sábado, setembro 22, 2007
Sábado
terça-feira, setembro 18, 2007
Eu anunciei
domingo, setembro 16, 2007
A Sopa 07/09
Perdido no Dilúvio, uma história fictícia.
Admito que o pessoal estava exagerando. O comentário geral por todos os lados era de que não se respeitava mais ninguém, e de que “isso não vai acabar bem”. Mas a maioria nem dava bola para aqueles que, tementes, avisavam que “um dia desses Deus se cansa de tanta maldade junta e nos pune”.
Eu, no meu canto, procurava evitar incomodações. Não me indispunha com os “caras maus” nem deixava de ouvir os alertas dos mais velhos. Ficava em cima do muro, se preferirem assim. Mas não me sentia à vontade em meio aquela bandalheira que havia se tornado nosso povoado, mais um entre muitos onde a corrupção, a violência e as más condutas eram agora a regra. Não podia dar em coisa boa mesmo.
De vez em quando, sem ser notado, saía do centro e me afastava do movimento, indo ver o trabalho do velho Noé, que estava construindo uma grande embarcação. Ele não tinha muita experiência no assunto, indústria naval, mas trabalhava com uma convicção de veterano. E pressa. Dava a impressão de que ele corria contra o tempo. Vez e outra, seus filhos o auxiliavam, mas quase sempre trabalhava sozinho, de sol a sol, sem esmorecer e com uma energia impressionante, visto sua idade.
Naquela época, tinha – com certeza – quinhentos anos de idade. Não surpreende, conhecendo-se sua família. Noé, filho de Lameque, era neto de Matusalém, o homem que mais viveu, contavam os livros de história. Eu, com os meus trinta e dois, já ficaria feliz se vivesse, digamos, uns setenta anos, desde que tivesse saúde. Se conseguisse ainda me tornar carpinteiro e construir um barco do tamanho desse que Noé estava construindo, ficaria mais que satisfeito. Porque vocês sabem, Noé era lavrador, e essa mudança de ofício na idade dele era surpreendente. Por outro lado, se eu vivesse tanto, também era capaz de mudar de profissão. Imagina fazer a mesma coisa por quase meio milênio! Tinha mais é que mudar mesmo, ninguém teria coragem de chamá-lo de inconstante, afinal de contas.
Conforme passavam os dias, o barco ia tomando forma, e se revelava uma grande arca. Não tinha mastro, e me perguntava como ele ia resolver o problema da propulsão da embarcação. Será que usaria remos? Não dava a impressão, e mesmo que - para movimentar tamanha arca – seria preciso de muita gente. Ele devia ter alguma carta na manga, algo que eu ainda não conhecia. Teria que esperar um pouco mais para descobrir. Eu? Entendia um pouco do assunto, sim, mas conhecia o Noé só de vista, assim de nos encontrarmos no mercado e nos saudarmos de longe, nada mais, e não me sentia muito à vontade para perguntar.
O verão terminara, o outono já estava encontrando suas temperaturas típicas, noites e manhãs mais frias e temperaturas agradáveis durante a maior parte do dia. A arca estava quase pronta, e os boatos eram de que Noé sabia mais do que a maioria de nós, comuns mortais. Boatos sobre a razão da construção da arca era o que mais tinha. Falavam de tudo. Até que Noé ia fundar uma igreja, algo como “Igreja da Arca da Salvação”. Eu não acreditava, afinal de contas ele era conhecido pela sua retidão de caráter e senso de justiça.
Mais ou menos na mesma época em que a arca ficou pronta, todas as previsões eram de que estava por chegar uma frente de baixa pressão com uma linha de instabilidade significativa. Ia chover por vários dias. Na taverna que eu freqüentava, ouvi alguns fazendo graça e lembrando que não se podia confiar nas previsões do tempo. Eu tinha aprendido com o tempo não se brincava, e achei que era melhor dar uma conferida com mais atenção no que estava por vir. Saí para a rua, olhei o céu. Algumas nuvens negras no horizonte, soprando um vento quente que vinha do sul. O sol havia nascido bem vermelho naquele dia, lembrei de quando fui logo cedo pegar água no poço e o sol recém despontava no horizonte, indicando chuva.
Dali, decidi ir direto ver como estavam as coisas com o Noé. No caminho, começou a chover, primeiro uma chuva fina que logo aumentou em intensidade – até granizo caiu nesta hora. Chegando próximo à casa dele, notei um estranho movimento,. Ao perceber o que estava acontecendo, não pude acreditar. Em meio à chuva, que começava a formar poças nas ruas, estava lá – pronta – a arca, e nela embarcavam… animais?!. Um casal de cada espécie, parecia. Também em frente à ponte de embarque, estavam Noé, sua esposa, seus filhos e noras, controlando a entrada, verificando item por item tudo o que devia ser embarcado. Pareciam se preparar para uma longa viagem. Como assim? O que eles sabiam que eu não sabia?
A chuva não parava nem diminuía em intensidade, e agora já estava em minhas canelas. Quando todos os animais já haviam sido embarcados, a chuva acumulada já quase fazia a arca flutuar, e estava na altura da minha cintura. Já tinha me dado conta que a coisa estava ficando complicada para mim, e talvez para todos que não estivessem em lugares altos ou dentro de um barco. “Noé já sabia que isso ia acontecer!”, não pude deixar de pensar, ao ver a grande arca – com seus familiares e um grande zoológico dentro – começar a ter sua ponte de embarque içada pelos filhos de Noé.
Foi neste instante que – com dificulades pelo volume de água – avancei e me fiz ser visto. Notei que Noé cochichou por alguns instantes com sua esposa e logo depois mandou desceram a ponte de embarque e disse:
- Sobe, enquanto há tempo…
- Para onde estais indo? - perguntei, já subindo.
- Para onde, só Deus sabe, pois foi determinação dele que viéssemos. Mas podes estar certo de que – fora da arca – as coisas vão ficar bem molhadas…
Embarquei junto com a família de Noé e com um casal de animais de cada espécie para uma viagem para a qual não tinha me preparado (Vamos parar em praias? Será que cruzeiro não é muito entediante?) e sem ter idéia onde estava indo nem quanto tempo ela duraria. Ao menos estava seco e protegido.
Uma coisa era certa, contudo: teria muitas histórias para contar.
(uma história antiga num final de semana de trabalho...)
Até.
Admito que o pessoal estava exagerando. O comentário geral por todos os lados era de que não se respeitava mais ninguém, e de que “isso não vai acabar bem”. Mas a maioria nem dava bola para aqueles que, tementes, avisavam que “um dia desses Deus se cansa de tanta maldade junta e nos pune”.
Eu, no meu canto, procurava evitar incomodações. Não me indispunha com os “caras maus” nem deixava de ouvir os alertas dos mais velhos. Ficava em cima do muro, se preferirem assim. Mas não me sentia à vontade em meio aquela bandalheira que havia se tornado nosso povoado, mais um entre muitos onde a corrupção, a violência e as más condutas eram agora a regra. Não podia dar em coisa boa mesmo.
De vez em quando, sem ser notado, saía do centro e me afastava do movimento, indo ver o trabalho do velho Noé, que estava construindo uma grande embarcação. Ele não tinha muita experiência no assunto, indústria naval, mas trabalhava com uma convicção de veterano. E pressa. Dava a impressão de que ele corria contra o tempo. Vez e outra, seus filhos o auxiliavam, mas quase sempre trabalhava sozinho, de sol a sol, sem esmorecer e com uma energia impressionante, visto sua idade.
Naquela época, tinha – com certeza – quinhentos anos de idade. Não surpreende, conhecendo-se sua família. Noé, filho de Lameque, era neto de Matusalém, o homem que mais viveu, contavam os livros de história. Eu, com os meus trinta e dois, já ficaria feliz se vivesse, digamos, uns setenta anos, desde que tivesse saúde. Se conseguisse ainda me tornar carpinteiro e construir um barco do tamanho desse que Noé estava construindo, ficaria mais que satisfeito. Porque vocês sabem, Noé era lavrador, e essa mudança de ofício na idade dele era surpreendente. Por outro lado, se eu vivesse tanto, também era capaz de mudar de profissão. Imagina fazer a mesma coisa por quase meio milênio! Tinha mais é que mudar mesmo, ninguém teria coragem de chamá-lo de inconstante, afinal de contas.
Conforme passavam os dias, o barco ia tomando forma, e se revelava uma grande arca. Não tinha mastro, e me perguntava como ele ia resolver o problema da propulsão da embarcação. Será que usaria remos? Não dava a impressão, e mesmo que - para movimentar tamanha arca – seria preciso de muita gente. Ele devia ter alguma carta na manga, algo que eu ainda não conhecia. Teria que esperar um pouco mais para descobrir. Eu? Entendia um pouco do assunto, sim, mas conhecia o Noé só de vista, assim de nos encontrarmos no mercado e nos saudarmos de longe, nada mais, e não me sentia muito à vontade para perguntar.
O verão terminara, o outono já estava encontrando suas temperaturas típicas, noites e manhãs mais frias e temperaturas agradáveis durante a maior parte do dia. A arca estava quase pronta, e os boatos eram de que Noé sabia mais do que a maioria de nós, comuns mortais. Boatos sobre a razão da construção da arca era o que mais tinha. Falavam de tudo. Até que Noé ia fundar uma igreja, algo como “Igreja da Arca da Salvação”. Eu não acreditava, afinal de contas ele era conhecido pela sua retidão de caráter e senso de justiça.
Mais ou menos na mesma época em que a arca ficou pronta, todas as previsões eram de que estava por chegar uma frente de baixa pressão com uma linha de instabilidade significativa. Ia chover por vários dias. Na taverna que eu freqüentava, ouvi alguns fazendo graça e lembrando que não se podia confiar nas previsões do tempo. Eu tinha aprendido com o tempo não se brincava, e achei que era melhor dar uma conferida com mais atenção no que estava por vir. Saí para a rua, olhei o céu. Algumas nuvens negras no horizonte, soprando um vento quente que vinha do sul. O sol havia nascido bem vermelho naquele dia, lembrei de quando fui logo cedo pegar água no poço e o sol recém despontava no horizonte, indicando chuva.
Dali, decidi ir direto ver como estavam as coisas com o Noé. No caminho, começou a chover, primeiro uma chuva fina que logo aumentou em intensidade – até granizo caiu nesta hora. Chegando próximo à casa dele, notei um estranho movimento,. Ao perceber o que estava acontecendo, não pude acreditar. Em meio à chuva, que começava a formar poças nas ruas, estava lá – pronta – a arca, e nela embarcavam… animais?!. Um casal de cada espécie, parecia. Também em frente à ponte de embarque, estavam Noé, sua esposa, seus filhos e noras, controlando a entrada, verificando item por item tudo o que devia ser embarcado. Pareciam se preparar para uma longa viagem. Como assim? O que eles sabiam que eu não sabia?
A chuva não parava nem diminuía em intensidade, e agora já estava em minhas canelas. Quando todos os animais já haviam sido embarcados, a chuva acumulada já quase fazia a arca flutuar, e estava na altura da minha cintura. Já tinha me dado conta que a coisa estava ficando complicada para mim, e talvez para todos que não estivessem em lugares altos ou dentro de um barco. “Noé já sabia que isso ia acontecer!”, não pude deixar de pensar, ao ver a grande arca – com seus familiares e um grande zoológico dentro – começar a ter sua ponte de embarque içada pelos filhos de Noé.
Foi neste instante que – com dificulades pelo volume de água – avancei e me fiz ser visto. Notei que Noé cochichou por alguns instantes com sua esposa e logo depois mandou desceram a ponte de embarque e disse:
- Sobe, enquanto há tempo…
- Para onde estais indo? - perguntei, já subindo.
- Para onde, só Deus sabe, pois foi determinação dele que viéssemos. Mas podes estar certo de que – fora da arca – as coisas vão ficar bem molhadas…
Embarquei junto com a família de Noé e com um casal de animais de cada espécie para uma viagem para a qual não tinha me preparado (Vamos parar em praias? Será que cruzeiro não é muito entediante?) e sem ter idéia onde estava indo nem quanto tempo ela duraria. Ao menos estava seco e protegido.
Uma coisa era certa, contudo: teria muitas histórias para contar.
(uma história antiga num final de semana de trabalho...)
Até.
sábado, setembro 15, 2007
quinta-feira, setembro 13, 2007
Rio Grande do Sul
Saga Farrapa marcou o Rio Grande
As comemorações da Revolução Farroupilha - o mais longo e um dos mais significativos movimentos de revoltas civis brasileiros, envolvendo em suas lutas os mais diversos segmentos sociais - relembra a Guerra dos Farrapos contra o Império, de 1835 a 1845. O Marco Inicial ocorreu no amanhecer de 20 de setembro de 1835. Naquele dia, liderando homens armados, Gomes Jardim e Onofre Pires entraram em Porto Alegre pela Ponte da Azenha.
A data e o fato ficaram registrados na história dos sul-ro-grandenses como o início da Revolução Farroupilha. Nesse movimento revolucionário, que teve duração de cerca de dez anos e mostrava como pano de fundo os ideais liberais, federalistas e republicanos, foi proclamada a República Rio-Grandense, instalando-se na cidade de Piratini a sua capital.
Acontecendo-se a Revolução Farroupilha, desde o século XVII o Rio Grande do Sul já sediava as disputas entre portugueses e espanhóis. Para as lideranças locais, o término dessas disputas mereciam, do governo central, o incentivo ao crescimento econômico do Sul, como ressarcimemto às gerações de famílias que lutaram e defenderam o país. Além de isso não ocorrer, o governo central passou a cobrar pesadas taxas sobre os produtos do RS. Charque, couros e erva-mate, por exemplo,passaram a ter cobrança de altos impostos. O charque gaúcho passou a ter elevadas, enquanto o governo dava incentivos para a importação do Uruguai e Argentina.
Já o sal, insumo básico para a preparação do charque, passou a ter taxa de importação considerada abusiva, agravando o quadro. Esses fatores, somados, geram a revolta da elite sul-riograndense, culminando em 20 de setembro de 1835, com Porto Alegre sendo invadida pelos rebeldes enquanto o presidente da província, Fernando Braga, fugia do Rio Grande.
As comemorações do Movimento Farroupilha, que até 1994 restringiam-se ao ponto facultativo nas repartições públicas estaduais e ao feriado municipal em algumas cidades do Interior, ganharam mais um incentivo a partir do ano 1995. Definida pela Constituição Estadual com a data magna do Estado, o dia 20 de setembro passou a ser feriado. O decreto estadual 36.180/95, amparado na lei federal 9.093/95, de autoria do deputado federal Jarbas Lima (PPB/RS), especifica que "a data magna fixada em lei pelos estados federados é feriado civil".
Fonte: aqui.
Até.
quarta-feira, setembro 12, 2007
terça-feira, setembro 11, 2007
September 11th, 2001
Li lá no Rafael Reinehr e gostei da idéia.
Enquanto um ataque terrorista (foi esse o termo que a mídia impôs) acontecia em 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, o que você estava fazendo?
Trabalhando numa cidade do interior do Rio Grande do Sul.
Como era rotina nas terças e quinta-feiras, saí cedo de casa para ir à Butiá, a 80km de Porto Alegre, onde eu era o pneumologista que atendia na Secretaria de Saúde local. Atendi os pacientes normalmente e, por volta das 11:00 AM peguei o carro para voltar. Ao ligar o rádio, a notícia: os Estados Unidos estão sob ataque (expressão utilizada pelo locutor, enquanto ainda não sabiam exatamente o que ocorria).
A manhã não tinha começado bem, e mesmo antes da notícia ouvida no rádio, já me sentia sob ataque terrorista: enquanto atendia os pacientes, recebera uma ligação da secretária do meu consultório dizendo que estava se demitindo e que ia embora naquele momento. Detalhe: ela era irmã de uma das minha sócias no consultório...
E louca, mas isso é outra história.
Tentando resolver o problema por telefone, saí de Butiá para o que seria um dia bem complicado (a agora ex-secretária havia desparecido com a agenda de consultas de todos os médicos, até ocorrência policial fiz).
Quando ouvi a notícia de NY, logo lembrei do meu irmão, que morava lá, e que viu e fotografou o episódio todo. Quando descobrimos que ele estava bem, ficamos mais tranqüilos.
Chocados, sem entender bem as coisas, mas felizes por saber que aquilo tudo ainda não havia respingado em nós.
Até.
Enquanto um ataque terrorista (foi esse o termo que a mídia impôs) acontecia em 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, o que você estava fazendo?
Trabalhando numa cidade do interior do Rio Grande do Sul.
Como era rotina nas terças e quinta-feiras, saí cedo de casa para ir à Butiá, a 80km de Porto Alegre, onde eu era o pneumologista que atendia na Secretaria de Saúde local. Atendi os pacientes normalmente e, por volta das 11:00 AM peguei o carro para voltar. Ao ligar o rádio, a notícia: os Estados Unidos estão sob ataque (expressão utilizada pelo locutor, enquanto ainda não sabiam exatamente o que ocorria).
A manhã não tinha começado bem, e mesmo antes da notícia ouvida no rádio, já me sentia sob ataque terrorista: enquanto atendia os pacientes, recebera uma ligação da secretária do meu consultório dizendo que estava se demitindo e que ia embora naquele momento. Detalhe: ela era irmã de uma das minha sócias no consultório...
E louca, mas isso é outra história.
Tentando resolver o problema por telefone, saí de Butiá para o que seria um dia bem complicado (a agora ex-secretária havia desparecido com a agenda de consultas de todos os médicos, até ocorrência policial fiz).
Quando ouvi a notícia de NY, logo lembrei do meu irmão, que morava lá, e que viu e fotografou o episódio todo. Quando descobrimos que ele estava bem, ficamos mais tranqüilos.
Chocados, sem entender bem as coisas, mas felizes por saber que aquilo tudo ainda não havia respingado em nós.
Até.
segunda-feira, setembro 10, 2007
domingo, setembro 09, 2007
A Sopa 07/08
Um texto antigo, para um final de feriadão.
A Reunião
A Sopa no Exílio prova mais uma vez ser um blog de jornalismo investigativo e apresenta para vocês uma reportagem inédita no jornalismo mundial. Nós infiltramos um dos nossos colaboradores numa reunião de um grupo secreto (vai ficar óbvio por quê): os SA.
Sedentários Anônimos.
Eles são tão anônimos que sua existência – antes uma história, uma lenda urbana – só foi descoberta por uma denúncia nem tão anônima feita por um gordinho comendo um pacote grande de pipoca em um cinema local. Após a denúncia, enviamos um dos nossos colaboradores para uma das reuniões semanais, no salão paroquial de uma igreja qualquer numa cidade qualquer entre Halifax e Vancouver.
Aqui vai um relato, já devidamente traduzido do inglês.
”Quarta-feira, 08 de junho de 2005.
Estaciono meu carro bem em frente à igreja (para não dar na vista) em caminho pouco até uma porta lateral da Igreja. Bato três vezes na porta, e abre-se apenas uma pequena fresta e uma pessoa aparece e pergunta apenas o que quero. Digo que vim para o encontro e a pessoa pergunta “E então?”. Sei que é a deixa para eu dizer a senha. Não vacilo (Atenção, isso é um tradução livre, não literal) e digo a senha: “iiiçaaa, saúde é o que interessa!”.
Nisso sou praticamente jogado para dentro da grande sala com cadeiras formando um círculo. Cerca de vinte pessoas estão sentadas aguardando o início. A pessoa que estava na porta desculpa-se, dizendo que precauções são necessárias, por questão de segurança. Pergunto por quê?
- Não sabe? Por causa da máfia.
- Máfia? Como assim?
- Sim, máfia. Dos cardiologistas.
- Cardiologistas?!
- Evidentemente. Nunca parou pra pensar? São eles que nos querem obesos, com colesterol alto, hipertensos, infartando. Pior que eles, só a máfia dos cirurgiões plásticos. Os cirurgiões plásticos têm os melhores meios de influenciar as pessoas a engordarem, ficarem disformes, e então vender suas lipoaspirações. Eles controlam até os meios de comunicação. A divisão de chocolates e sorvetes da Nestle é dirigida por um cirurgião plástico. Aposto que você não sabia. Fuja dos cirurgiões plásticos!
Começa a reunião. Todos já se conhecem, eu sou o novo. Vou ter que me apresentar e contar meu caso.
- Meu nome é (nome mantido em segredo para a segurança do repórter) e eu sou um sedentário (todos se ajeitam na cadeira, alguns olham para o chão, constrangidos). Estou aqui porque quero deixar essa vida de perdição, de finais de semana no sofá vendo televisão e comendo quilos de carboidratos (todos concordam com movimentos afirmativos da cabeça).
Continuo:
- Hoje é o terceiro dia seguido que faço atividade física.
(seguem-se aplausos entusiasmados, gritos de apoio, todos levantam e me abraçam)
O coordenador aperta minha mão e diz:
- Parabéns, continue assim. Viva um dia após o outro. Só assim conseguirá manter-se ativo e, quem sabe, até melhorar o shape…
(não precisava ouvir isso, mas tudo bem…)
A reunião durou mais uma hora, mais ou menos, e, na hora de ir embora, um dos integrantes sugeriu que fôssemos fazer um lanche antes de ir para casa. “McDonald’s, que tal?”.
Os dois integrantes mais “fortes” pularam sobre ele e o imobilizaram, enquanto ele gritava “Número dois com fritas grandes e coca-cola extra-large! Sundae de sobremesa!”. Levaram-o para uma sala do fundo, enquanto os outros encaminhavam-se para saída. Quando olhei para o coordenador com cara de espanto, e só disse “Cardiologista”.
Era um espião.
Até.
A Reunião
A Sopa no Exílio prova mais uma vez ser um blog de jornalismo investigativo e apresenta para vocês uma reportagem inédita no jornalismo mundial. Nós infiltramos um dos nossos colaboradores numa reunião de um grupo secreto (vai ficar óbvio por quê): os SA.
Sedentários Anônimos.
Eles são tão anônimos que sua existência – antes uma história, uma lenda urbana – só foi descoberta por uma denúncia nem tão anônima feita por um gordinho comendo um pacote grande de pipoca em um cinema local. Após a denúncia, enviamos um dos nossos colaboradores para uma das reuniões semanais, no salão paroquial de uma igreja qualquer numa cidade qualquer entre Halifax e Vancouver.
Aqui vai um relato, já devidamente traduzido do inglês.
”Quarta-feira, 08 de junho de 2005.
Estaciono meu carro bem em frente à igreja (para não dar na vista) em caminho pouco até uma porta lateral da Igreja. Bato três vezes na porta, e abre-se apenas uma pequena fresta e uma pessoa aparece e pergunta apenas o que quero. Digo que vim para o encontro e a pessoa pergunta “E então?”. Sei que é a deixa para eu dizer a senha. Não vacilo (Atenção, isso é um tradução livre, não literal) e digo a senha: “iiiçaaa, saúde é o que interessa!”.
Nisso sou praticamente jogado para dentro da grande sala com cadeiras formando um círculo. Cerca de vinte pessoas estão sentadas aguardando o início. A pessoa que estava na porta desculpa-se, dizendo que precauções são necessárias, por questão de segurança. Pergunto por quê?
- Não sabe? Por causa da máfia.
- Máfia? Como assim?
- Sim, máfia. Dos cardiologistas.
- Cardiologistas?!
- Evidentemente. Nunca parou pra pensar? São eles que nos querem obesos, com colesterol alto, hipertensos, infartando. Pior que eles, só a máfia dos cirurgiões plásticos. Os cirurgiões plásticos têm os melhores meios de influenciar as pessoas a engordarem, ficarem disformes, e então vender suas lipoaspirações. Eles controlam até os meios de comunicação. A divisão de chocolates e sorvetes da Nestle é dirigida por um cirurgião plástico. Aposto que você não sabia. Fuja dos cirurgiões plásticos!
Começa a reunião. Todos já se conhecem, eu sou o novo. Vou ter que me apresentar e contar meu caso.
- Meu nome é (nome mantido em segredo para a segurança do repórter) e eu sou um sedentário (todos se ajeitam na cadeira, alguns olham para o chão, constrangidos). Estou aqui porque quero deixar essa vida de perdição, de finais de semana no sofá vendo televisão e comendo quilos de carboidratos (todos concordam com movimentos afirmativos da cabeça).
Continuo:
- Hoje é o terceiro dia seguido que faço atividade física.
(seguem-se aplausos entusiasmados, gritos de apoio, todos levantam e me abraçam)
O coordenador aperta minha mão e diz:
- Parabéns, continue assim. Viva um dia após o outro. Só assim conseguirá manter-se ativo e, quem sabe, até melhorar o shape…
(não precisava ouvir isso, mas tudo bem…)
A reunião durou mais uma hora, mais ou menos, e, na hora de ir embora, um dos integrantes sugeriu que fôssemos fazer um lanche antes de ir para casa. “McDonald’s, que tal?”.
Os dois integrantes mais “fortes” pularam sobre ele e o imobilizaram, enquanto ele gritava “Número dois com fritas grandes e coca-cola extra-large! Sundae de sobremesa!”. Levaram-o para uma sala do fundo, enquanto os outros encaminhavam-se para saída. Quando olhei para o coordenador com cara de espanto, e só disse “Cardiologista”.
Era um espião.
Até.
sábado, setembro 08, 2007
sexta-feira, setembro 07, 2007
Sete de Setembro
Independência, tudo bem.
O quero saber é: quando vamos crescer?
Crescer como nação, como povo. Deixar de se sentir inferior apenas por ser brasileiro e deixar de botar a culpa dos nossos problemas nos outros.
Quem sabe aí, o Brasil possa ser um país muito melhor para se viver, para todos os brasileiros.
Com a palavra, Cazuza.
Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer
Não me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta estacionando os carros
Não me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito é uma navalha
Brasil
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer
Não me sortearam
A garota do Fantástico
Não me subornaram
Será que é o meu fim?
Ver TV a cores
Na taba de um índio
Programada pra só dizer "sim, sim"
Brasil
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
Grande pátria desimportante
Em nenhum instante
Eu vou te trair
(Não vou te trair)
Publicado originalmente em 07/09/2005
Até.
O quero saber é: quando vamos crescer?
Crescer como nação, como povo. Deixar de se sentir inferior apenas por ser brasileiro e deixar de botar a culpa dos nossos problemas nos outros.
Quem sabe aí, o Brasil possa ser um país muito melhor para se viver, para todos os brasileiros.
Com a palavra, Cazuza.
Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer
Não me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta estacionando os carros
Não me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito é uma navalha
Brasil
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer
Não me sortearam
A garota do Fantástico
Não me subornaram
Será que é o meu fim?
Ver TV a cores
Na taba de um índio
Programada pra só dizer "sim, sim"
Brasil
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
Grande pátria desimportante
Em nenhum instante
Eu vou te trair
(Não vou te trair)
Publicado originalmente em 07/09/2005
Até.
quarta-feira, setembro 05, 2007
Senado Federal & Renan Calheiros
Comissão de Ética e de Constituição e Justiça já foram.
Falta o plenário, onde o voto é secreto.
Aí é que vamos ver se o Congresso Nacional é ou não um caso perdido.
Aguardemos.
Até.
Falta o plenário, onde o voto é secreto.
Aí é que vamos ver se o Congresso Nacional é ou não um caso perdido.
Aguardemos.
Até.
terça-feira, setembro 04, 2007
Eutanásia (Túnel do Tempo)
Um texto de dois anos atrás, para pensar.
Religião é um assunto de foro íntimo de cada um.
Por isso respeito todas as diferentes religiões e credos. Cada um acredita naquilo que mais lhe conforta, que mais traz paz interior. Não acho que uma seja melhor que a outra e que nenhum deus tenha preferência sobre qualquer outro. Aliás, é querer obrigar os outros a seguir as mesmas crenças o que torna a religião motivo de tanta intolerância e sangue derramado.
Apesar de respeitar todos os credos, como falei, para algumas coisas eu não tenho paciência nenhuma. Mais, não só não tenho paciência como – confesso – fico intolerante.
Acho religião importante, sim, mas num nível pessoal. É, religião é um assunto pessoal, individual. Mesmo que milhares de pessoas sejam da mesma religião, compartilhem experiências, frequentem igrejas, ou templos, juntas, ainda assim é assunto que diz respeito a cada um. Por isso que religião não pode jamais se misturar com o estado. Porque não dá certo, simples. Há um movimento nos Estados Unidos tentando isso, inserir religião nas coisas do estado, e isso é um erro gigantesco. Mas, deixa para lá, não é disso que quero falar.
Como acredito que religião serve, além de meio de se alcançar conforto e paz espiritual, também, de certa forma, como guia de condutas morais, também não aceito que se “intrometa” em um outro assunto que não diz respeito a ela: a vida, no sentido biológico, das pessoas. E vocês estão começando a entender onde quero chegar.
Como no caso não tão recente assim (mas ainda desse ano) da americana Terri Schiavo, que vivia em estado vegetativo irrecuperável há anos e que o marido queria a suspensão do suporte de vida, e choveram protestos de grupos dito em favor da vida protestando contra. Falei sobre isso na época, acho que tinha de suspender sim, se fosse comigo eu gostaria que fizessem o mesmo.
Agora, no Brasil, caso não exatamente igual está acontecendo, e vem aí mais uma batalha judicial (certamente não tão longa quanto à americana) envolvendo o assunto, que chamam de eutanásia: em São Paulo, um pai vai recorrer à justiça para suspenderem o suporte de vida ao seu filho, João, de 4 anos, vítima de uma síndrome degenerativa incurável. Reproduzo abaixo, trecho da notícia que saiu no Terra:
"Segundo o jornal Comércio da Franca, que revelou o caso à imprensa, ele é alimentado por meio de uma sonda ligada diretamente a seu estômago e respira com ajuda de aparelhos. João ainda registra atividades cerebrais, mas não pode mais enxergar, não fala e não tem mais os movimentos do pescoço, braços e pernas".
Precisa dizer mais alguma coisa? Só para reforçar, então: é alimentado por meio de uma sonda ligada diretamente a seu estômago e respira com ajuda de aparelhos… ainda registra atividades cerebrais, mas não pode mais enxergar, não fala e não tem mais os movimentos do pescoço, braços e pernas.
Bom, a mãe é contra. O que ela diz?
"Esse garoto é a minha vida. (...) Eu tenho fé, acredito na força de Deus e sei que Ele vai salvar meu filho".
Pois é. Complicada a situação, admito. Ambos, o pai e a mãe, amam o seu filho, sem dúvida, mas não posso deixar de me posicionar do lado do pai. A pobre criança está sendo mantida viva com ajuda de aparelhos, não tem vida de relação. Em termos práticos, está morta. A mãe não aceita, é compreensível e é parte do luto a negação. Amar, contudo, às vezes é deixar a vida seguir seu curso.
O que não consigo aceitar bem é que o caso virou uma polêmica, e aqueles “a favor da vida em qualquer situação” (SIC) se utilizem do nome do seu deus para condenarem o pai dessa pobre criança que também a ama e só quer que ela não sofra. Dizem que só deus pode tirar a vida de alguém. Seguindo este raciocínio, só deus poderia manter a vida, e suporte artificial de vida deveria ser “pecado”. Não faz sentido?
(publicado em 04/09/2005)
Até.
Religião é um assunto de foro íntimo de cada um.
Por isso respeito todas as diferentes religiões e credos. Cada um acredita naquilo que mais lhe conforta, que mais traz paz interior. Não acho que uma seja melhor que a outra e que nenhum deus tenha preferência sobre qualquer outro. Aliás, é querer obrigar os outros a seguir as mesmas crenças o que torna a religião motivo de tanta intolerância e sangue derramado.
Apesar de respeitar todos os credos, como falei, para algumas coisas eu não tenho paciência nenhuma. Mais, não só não tenho paciência como – confesso – fico intolerante.
Acho religião importante, sim, mas num nível pessoal. É, religião é um assunto pessoal, individual. Mesmo que milhares de pessoas sejam da mesma religião, compartilhem experiências, frequentem igrejas, ou templos, juntas, ainda assim é assunto que diz respeito a cada um. Por isso que religião não pode jamais se misturar com o estado. Porque não dá certo, simples. Há um movimento nos Estados Unidos tentando isso, inserir religião nas coisas do estado, e isso é um erro gigantesco. Mas, deixa para lá, não é disso que quero falar.
Como acredito que religião serve, além de meio de se alcançar conforto e paz espiritual, também, de certa forma, como guia de condutas morais, também não aceito que se “intrometa” em um outro assunto que não diz respeito a ela: a vida, no sentido biológico, das pessoas. E vocês estão começando a entender onde quero chegar.
Como no caso não tão recente assim (mas ainda desse ano) da americana Terri Schiavo, que vivia em estado vegetativo irrecuperável há anos e que o marido queria a suspensão do suporte de vida, e choveram protestos de grupos dito em favor da vida protestando contra. Falei sobre isso na época, acho que tinha de suspender sim, se fosse comigo eu gostaria que fizessem o mesmo.
Agora, no Brasil, caso não exatamente igual está acontecendo, e vem aí mais uma batalha judicial (certamente não tão longa quanto à americana) envolvendo o assunto, que chamam de eutanásia: em São Paulo, um pai vai recorrer à justiça para suspenderem o suporte de vida ao seu filho, João, de 4 anos, vítima de uma síndrome degenerativa incurável. Reproduzo abaixo, trecho da notícia que saiu no Terra:
"Segundo o jornal Comércio da Franca, que revelou o caso à imprensa, ele é alimentado por meio de uma sonda ligada diretamente a seu estômago e respira com ajuda de aparelhos. João ainda registra atividades cerebrais, mas não pode mais enxergar, não fala e não tem mais os movimentos do pescoço, braços e pernas".
Precisa dizer mais alguma coisa? Só para reforçar, então: é alimentado por meio de uma sonda ligada diretamente a seu estômago e respira com ajuda de aparelhos… ainda registra atividades cerebrais, mas não pode mais enxergar, não fala e não tem mais os movimentos do pescoço, braços e pernas.
Bom, a mãe é contra. O que ela diz?
"Esse garoto é a minha vida. (...) Eu tenho fé, acredito na força de Deus e sei que Ele vai salvar meu filho".
Pois é. Complicada a situação, admito. Ambos, o pai e a mãe, amam o seu filho, sem dúvida, mas não posso deixar de me posicionar do lado do pai. A pobre criança está sendo mantida viva com ajuda de aparelhos, não tem vida de relação. Em termos práticos, está morta. A mãe não aceita, é compreensível e é parte do luto a negação. Amar, contudo, às vezes é deixar a vida seguir seu curso.
O que não consigo aceitar bem é que o caso virou uma polêmica, e aqueles “a favor da vida em qualquer situação” (SIC) se utilizem do nome do seu deus para condenarem o pai dessa pobre criança que também a ama e só quer que ela não sofra. Dizem que só deus pode tirar a vida de alguém. Seguindo este raciocínio, só deus poderia manter a vida, e suporte artificial de vida deveria ser “pecado”. Não faz sentido?
(publicado em 04/09/2005)
Até.
segunda-feira, setembro 03, 2007
domingo, setembro 02, 2007
A Sopa 07/07
Setembro.
Há muitos anos, lembro bem, escrevi um texto em que afirmava que agosto – o mês que recém deixamos para trás em 2007 – era um mês que estava sobrando. E tinha uma explicação lógica para fundamentar meu argumento: após os meses de junho e julho, auge inverno, quando já não aguentávamos mais o frio, ainda “éramos obrigados” a passar pelos trinta e um dias de agosto até alcançarmos setembro, mês do início da primavera, com suas muitas possibilidades.
Setembro, então, é o equivalente do sul ao março do hemisfério norte, sendo – portanto – o agosto equivalente ao fevereiro de lá. Winter blues é o termo usado para a depressão que ocorre justamente em fevereiro, quando, após dezembro e janeiro de frio, ainda temos que atravessar fevereiro para chegar em março e o início da primavera. Mesmo as noites não sendo mais tão longas quanto dezembro e janeiro, é a extensão do inverno – muito mais que o frio em si – o que deprime e desanima. Por isso o fevereiro do norte é um mês “dispensável”.
O inverno aqui não é tão rigoroso quanto lá, pode ser o argumento contrário à minha tese, e eu não discordo dele. Mas, guardadas as devidas proporções, é a mesma coisa. Ainda mais quando normalmente não temos calefação nas casas aqui no sul, e muitas vezes as temperaturas dentro de casa são próximas as de fora. Durante o inverno desse ano, que chega aos seus estertores, me queixei muitas vezes de que passei mais frio aqui do que nos invernos de Toronto. Não deixa de ser verdade, principalmente porque esse foi um inverno como há muito não acontecia por essas bandas.
Mas é setembro, e a primavera vem por aí, com suas temperaturas agradáveis e a vida nova. Certamente, Here Comes the Sun:
Little darlin' it's been a long cold lonely winter
Little darlin' it feels like years since it's been here
Here comes the sun, here comes the sun
And I say it's all right
Little darlin' the smiles returning to their faces
Little darlin' it seems like years since it's been here
Here comes the sun, here comes the sun
And I say it's all right
Sun, sun, sun, here it comes
Sun, sun, sun, here it comes
Sun, sun, sun, here it comes
Sun, sun, sun, here it comes
Sun, sun, sun, here it comes
Little darlin' I feel the ice is slowly meltin'
Little darlin' it seems like years since it's been clear
Here come the sun, here comes the sun
And I say it's all right
Here come the sun, here comes the sun
It's all right, it's all right
Até.
Há muitos anos, lembro bem, escrevi um texto em que afirmava que agosto – o mês que recém deixamos para trás em 2007 – era um mês que estava sobrando. E tinha uma explicação lógica para fundamentar meu argumento: após os meses de junho e julho, auge inverno, quando já não aguentávamos mais o frio, ainda “éramos obrigados” a passar pelos trinta e um dias de agosto até alcançarmos setembro, mês do início da primavera, com suas muitas possibilidades.
Setembro, então, é o equivalente do sul ao março do hemisfério norte, sendo – portanto – o agosto equivalente ao fevereiro de lá. Winter blues é o termo usado para a depressão que ocorre justamente em fevereiro, quando, após dezembro e janeiro de frio, ainda temos que atravessar fevereiro para chegar em março e o início da primavera. Mesmo as noites não sendo mais tão longas quanto dezembro e janeiro, é a extensão do inverno – muito mais que o frio em si – o que deprime e desanima. Por isso o fevereiro do norte é um mês “dispensável”.
O inverno aqui não é tão rigoroso quanto lá, pode ser o argumento contrário à minha tese, e eu não discordo dele. Mas, guardadas as devidas proporções, é a mesma coisa. Ainda mais quando normalmente não temos calefação nas casas aqui no sul, e muitas vezes as temperaturas dentro de casa são próximas as de fora. Durante o inverno desse ano, que chega aos seus estertores, me queixei muitas vezes de que passei mais frio aqui do que nos invernos de Toronto. Não deixa de ser verdade, principalmente porque esse foi um inverno como há muito não acontecia por essas bandas.
Mas é setembro, e a primavera vem por aí, com suas temperaturas agradáveis e a vida nova. Certamente, Here Comes the Sun:
Little darlin' it's been a long cold lonely winter
Little darlin' it feels like years since it's been here
Here comes the sun, here comes the sun
And I say it's all right
Little darlin' the smiles returning to their faces
Little darlin' it seems like years since it's been here
Here comes the sun, here comes the sun
And I say it's all right
Sun, sun, sun, here it comes
Sun, sun, sun, here it comes
Sun, sun, sun, here it comes
Sun, sun, sun, here it comes
Sun, sun, sun, here it comes
Little darlin' I feel the ice is slowly meltin'
Little darlin' it seems like years since it's been clear
Here come the sun, here comes the sun
And I say it's all right
Here come the sun, here comes the sun
It's all right, it's all right
Até.
sábado, setembro 01, 2007
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