domingo, agosto 09, 2009

A Sopa 09/02

Dia dos pais.

Todos dizem que – ao contrário da mãe, que desde que sabe que está grávida sente-se mãe – o pai só será pai após o nascimento, após ver e sentir o filho que recém nasce. Eu pensava isso, mas me descobri pai bem antes da Marina nascer. E lembro bem o momento em que me senti pai pela primeira vez.

Foi logo antes de eu viajar para Toronto, em maio do ano passado. Não lembro bem a razão, provavelmente indo para o Centro de Porto Alegre, mas andava de ônibus, e estava ouvindo o meu iPod, quando começou a tocar a versão do havaiano Israel Kamakawiwo'ole para Somewhere Over the Rainbow (apenas ele cantando e tocando ukelele). Nessa versão da música, ele faz um mix com What a Wonderful World, do Louis Armstrong. Ali naquele momento, quando ele cantava “I hear babies cry/I watch them grow/They’ll learn much more/than I’ll never know” percebi que eu já era pai.

Eu tinha medo.

O medo, nesse caso específico, era de que alguma coisa acontecesse comigo na viagem e a Marina nunca conhecesse o pai dela. Mas percebi aí que – como se tivéssemos roubado o fogo dos deuses tal como Prometeu e acorrentados ao Monte Cáucaso para que diariamente Éton, o abutre, comesse nosso fígado – estamos condenados a vivermos sob o manto eterno do medo.

Medo de não estar presente, de não conseguir protegê-los, de protegê-los demais, de não sermos dignos de sua admiração, de desapontá-los, de não darmos limites, de reprimi-los em excesso, de não estimularmos seu desenvolvimento, de que sofram, de que fiquem doentes, de que andem em más companhias, e mil outros medos que nem nos passam pela cabeça, mas que – de repente – aparecem.

Não queremos que passem pelas mesmas dificuldades que passamos, que não cometam os mesmos erros que cometemos, que nos ouçam sempre. Mas se não fizerem por eles, como descobrirão? Temos que ensiná-los a andar por si, e mesmo que queiramos que não saiam de perto de nossos olhos, eles têm que descobrir o mundo por conta própria. Como aceitar isso assim, sem angústia?

Ser pai é ter medo, descobri.

Mas não há experiência melhor no mundo.

Feliz Dia dos Pais.

Até.

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