(Crônicas de uma Pandemia – Septuagésimo Dia)
Situações extremas requerem medidas extremas.
Antes, porém, deixa eu falar de onde eu moro. Antigos leitores desse blog talvez lembrem de, há muito tempo, eu ter falado de onde eu moro há quase vinte e cinco anos.
Moro na transição entre os bairros Independência e Moinhos de Vento, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, num prédio de apartamentos construído nos anos oitenta. Naquela época, ao contrário de hoje em dia, não era fundamental que os apartamentos viessem com churrasqueiras.
Vivo, então, há quase um quarto de século, num apartamento que não tem churrasqueira. Logo eu, fã incondicional de churrascos, principalmente com amigos, acabei por morar num local em que não tem como fazer churrasco.
Karma, deve ser. Vai saber.
E as sacadas, vocês podem se perguntar.
Pois é, não tem sacadas.
Mais essa...
O prédio tem sacadas, para ser honesto, mas até o sexto andar. Moro no sétimo. Acima, a cobertura. Vivo no único andar em que não é possível usar uma churrasqueira na sacada.
Já lutei contra isso. Há quase seis anos, quando reformamos o apartamento pela última vez, levei à reunião de condomínio o pedido para que eu pudesse colocar uma churrasqueira no apartamento. Teria que ser autorizada, para isso, que subisse uma chaminé pela lateral do prédio até acima da cobertura. Meu pedido foi negado. Continuei sem churrasqueira em casa.
Já argumentaram comigo que – caso tivesse a maldita churrasqueira em casa – eu nunca, ou quase nunca, faria churrascos. Injusta inverdade. Mesmo que nunca fizesse, porém, valeria à pena porque o que eu queria de verdade era ter a possibilidade de fazer o churrasco quando quisesse. Não interessa se eu não fizesse. Interessa mesmo era eu poder fazer, caso quisesse. Entende?
Esse assunto ficou adormecido em uma gaveta do meu inconsciente por um longo tempo, uma lembrança remota, complexo reprimido, um trauma esquecido. Vivia bem com a situação e comigo mesmo.
Foi quando surgiu o coronavírus.
E o mundo caiu de joelhos perante a pandemia, com precauções extremas iniciais como o distanciamento/isolamento social horizontal – compreensíveis e até corretas frente ao desconhecido – e um medo crescente inflado por informações contraditórias, nesse momento chegando às raias da histeria coletiva. Mas não é esse o foco do quero dizer por aqui. Aqui não é lugar para isso. Hoje, pelo menos, não.
Falava de quando começou o distanciamento.
Comércio fechado, restaurantes idem, pessoas em casa. Distância física da família, dos amigos. Rotina alterada. Mesmo que – por ser médico pneumologista – não tenha parado de atender, os pacientes sumiram em meio ao medo de adoecer, mesmo tendo outras condições que precisavam/precisam de tratamento. Enfim, mesmo levando bem esse período, a falta do convívio social, dos churrascos, cobra um preço. Passados quase setenta dias, não aguentei e – confesso – cometi um desatino.
Comprei uma churrasqueira.
Daquelas que, em tese, não fazem fumaça, para serem utilizadas dentro de apartamentos. Pelo Mercado Livre. Para vir de São Paulo.
Ainda não chegou (atrasou, óbvio).
Estou curioso para ver como será.
Até.
Um comentário:
O que mais tenho sentido falta nessa quarentena é de usar a churrasqueira com a habitualidade que eu costumava, mas no meu caso aqui o que tá pegando mesmo é o preço de como as coisas subiram, na verdade em regra eu já rodo de carro aproximadamente 35 KM de carro para ir ao mercado mais próximo para comprar carne, (rs) e chegar lá e ver preços exorbitantes me deixam ainda mais tenso com a situação que essa Pandemia tem gerado e todos seus efeitos.
No demais, parabéns pelo seu blog. De Aconchegante leitura.
Att;
https://www.enfoqueextrajudicial.com.br/
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