domingo, junho 26, 2022

A Sopa

Sobre trabalho.

 

A ideia de ter emprego, estabilidade, trabalhar em horário comercial de segunda à sexta-feira e receber religiosamente no final do mês sempre me agradou muito. Por muito tempo, também a ideia de ser um burocrata foi tentadora. Como eu disse, a estabilidade e o horário comercial sempre pareceram tentações para mim.

 

Só que fiz medicina, o que – de certa maneira – não é compatível com essa prática. Mas até certo ponto, claro, tanto é que já fui funcionário concursado, com horário estabelecido, e dias facultativos. E era bom, confesso. Mas o momento em que virei funcionário público não foi o mais propício porque eu já tinha outras atividades paralelas, o que dificultavam o cumprimento da carga horário prevista, tanto é que – dois anos após assumir o cargo – pedi minha exoneração, dez anos atrás.

 

Na época em que fui médico da Prefeitura de Porto Alegre, além de funcionário público eu tinha o meu consultório, era professor em Santa Cruz do Sul e trabalhava no Pavilhão Pereira Filho, além de fazer parte da diretoria da SPTRS. Por melhor que fosse o trabalho e a ideia de estabilidade do cargo público, não era para mim.

 

Mais adiante, enquanto ainda era professor da UNISC (a 150km de Porto Alegre, e eu ia e voltava uma vez por semana), fui contratado como médico especialista por uma empresa farmacêutica multinacional, e tinha viagens praticamente semanais a trabalho, eventualmente até locais tão distantes como Belém do Pará, por exemplo. Era realmente bom, tive a oportunidade de trabalhar e conviver com ótimos colegas, tanto em nível nacional quanto internacional, e – tão bom quanto – o salário e os benefícios eram ótimos. Por um tempo, mantive o consultório, a Universidade, a indústria e a Sociedade de Pneumologia ao mesmo tempo.

 

Era cansativo, confesso.

 

Por questões burocráticas vistas durante uma auditoria da GSK (e aproveitando um momento propício para isso) acabei rescindindo meu contrato com a Universidade, o que me permitiu um pouco mais de tempo para me dedicar às outras atividades. Estamos nesse momento na metade de 2018. Ao final daquele mesmo ano, por questões diversas e que não vem ao caso, decidi que 2019 seria meu último ano como funcionário da indústria. Que até o final daquele ano eu me organizaria para sair e seguir como profissional liberal. Estava tranquilo e decidido.

 

Na metade de fevereiro de 2019, ao voltar de férias, minha saída da empresa foi antecipada por um corte de vagas, digamos assim. Éramos três médicos especialistas e deveriam ficar apenas dois naquele momento. Como eu era o mais novo dos três na empresa, e o que morava mais longe do Rio de Janeiro, minha vaga foi cortada e rescindiram meu contrato. O pacote de rescisão foi bom, e decidi que o ano de 2019 seria meio que sabático: ficaria apenas no consultório, atendendo pacientes, sem outras atividades. Período sabático esse que duraria até final de fevereiro de 2020, quando voltaria a pensar em outras atividades além do consultório.

 

E veio a pandemia.

 

Mesmo assim, em meio a pandemia, voltei a ser professor de medicina, agora na UNISINOS, em São Leopoldo/RS, região metropolitana de Porto Alegre. Foi bom, porque havia ficado com saudades de ser professor. Ao longo desse período, contudo, acabei vendo que as obrigações que tinha como funcionário já me incomodavam mais do que a segurança do salário certo no final do mês me dava. O fato de não ser completamente senhor do meu tempo (ou a incapacidade de ter essa ilusão, ao menos) começaram a quase me irritar.

 

Foi quando eu vi que estava chegando ao final de mais um ciclo.

 

Que eu deveria fazer uma nova correção de rumo.

 

Estava decidido a sair da Universidade, já contava os dias para isso.

 

Foi quando surgiu um novo projeto, um novo rumo. 

 

Ficou ainda mais fácil dar o passo em frente.


E foi o que fiz.

Até. 

sábado, junho 25, 2022

Sábado (e uma despedida)

Centro Médico Capilé, São Leopoldo/RS


       Ontem foi o meu último dia como professor do Curso de Medicina da UNISINOS, em São Leopoldo. Foram dois anos bem legais, apesar da pandemia que tornou muitas da atividades virtuais e, pior, impedido as confraternizações presenciais (tem colegas - agora ex - que nunca encontrei pessoalmente neste período).

          Meu agradecimento a todos.

          Parto agora para um novo projeto, um novo momento.

          Depois compartilho por aqui.

          Bom sábado a todos.

          Até.

domingo, junho 19, 2022

A Sopa

Tenho um primo que é dez anos mais velho que eu.

 

Está fazendo, portanto, sessenta anos em dois mil e vinte e dois. Sessenta. Anos. Meu primo. Que coisa, pensei quando me dei conta disso. É vida, foi o meu segundo pensamento.

 

Não somos próximos, e não há uma razão especial para isso, mas nas raras vezes em que nos encontramos é bem legal. Porém, esse lado da família nunca foi tão próximo assim, por razões que nem sei, e não importam. O que não diminui o afeto. Foram (fomos) natural e lentamente se afastando. Simples assim, acontece. 

 

Mas não era disso que eu queria falar.

 

O momento seguinte à percepção de que meu primo está completando sessenta anos foi de reflexão. Em dez anos, serei eu a completar sessenta anos (ele estará com setenta!). Dez anos, tanto tempo e ao mesmo tempo tão pouco. Onde eu estava e quem eu era há dez anos? Onde estarei e quem serei em dez anos? Aliás, eu estarei ou serei em dez anos?

 

Pensamentos reflexivos de um domingo de quase inverno e temperatura baixa, daquele já falado sol que ilumina, mas pouco aquece. E já estamos chegando ao meio do ano de dois mil e vinte e dois, e a sensação de que o tempo tem passado mais rápido continua, ainda mais por esses dias, em que estamos todos tentando recuperar os encontros e afetos que estiveram afastados durante a fase ruim da pandemia e antes das vacinas.

 

Um dia de cada vez, sem pensar muito no que virá, procurando viver o mais intensamente possível (e esse é um conceito individual) o momento presente, o agora, porque não sabemos como será lá na frente. Sei com quem quero estar, o que já é bem importante, e o resto da história vamos escrevendo à medida em que caminhamos. E temos uma longa jornada pela frente.

 

Tem sido assim.

 

E vai continuar.

 

Até. 

sábado, junho 18, 2022

Sábado (e os churrascos)

Quarta-feira passada, reunião d'A Confraria...    
 

                    Tenho um princípio de vida:

                  NUNCA digo não a um convite para um churrasco...

                  Bom sábado a todos.

                  Até   


domingo, junho 12, 2022

A Sopa

Ainda a música.

 

Impossível não falar de música mais uma vez nessa Sopa quente de um domingo frio, em que olho para fora e vejo o sol de domingo, que hoje ilumina mas não aquece como deveria, e lembro do meu primeiro inverno em Toronto, janeiro, manhã de domingo de sol claro, sem nuvens, assim como hoje, mas temperatura de menos vinte e um graus (-21ºC) com sensação térmica de –35ºC, e de como saí para caminhar no High Park, e também que desisti e voltei pouco depois para o apartamento 2105 da 35 High Park Ave, minha casa dos anos de exílio, porque não aguentei o frio nas mãos, com dedos que doíam, como se fossem cair. Nunca mais caí no truque do sol de inverno que – como eu disse – ilumina mas não aquece. Aqui no sul do mundo, de onde saí e para onde voltei, o frio não é tanto como lá e o sol é mais confiável. Ainda assim, gosto muito mais do verão hoje em dia do que antes de viver o inverno de lá... 

 

Mas o plano era falar de música, ainda sob o efeito da última noite do mês de maio, quando o frio do outono foi contraposto pelo calor da confraternização, do congraçamento, da reunião de pessoas em torno de um evento/ideia comum. A música como amálgama, mistura de elementos diferentes ou heterogêneos que formam um todode pessoas diversas com vidas diversas, proporcionando intersecções entre vidas paralelas. O poder da música continua me encantando.

 

Além de tudo, tocando/cantando Beatles.

 

Nada mais simbólico que celebrar algo ouvindo Beatles.

 

Quando me formei em medicina, no milênio passado, a música que escolhi como trilha quando chamassem meu nome e eu fosse receber o diploma foi Penny Lane, lugar que sempre imaginei de um jeito e que, óbvio, não era como eu havia imaginado quando passamos por ela, há dez anos, numa manhã plúmbea em Liverpool, assim como a versão que tocaram na formatura não foi a original, mas uma versão instrumental com piano, mas quem se importa, estávamos lá para celebrar de qualquer jeito. Mas também não era disso que queria falar.

 

Queria dizer que a música coloca o mundo no seu eixo.

 

Falo em sentido estritamente pessoal, claro. Assim é porque assim sinto. E o ano de 2022 tem sido pródigo nesse tipo de acontecimento. Não sei dizer se é porque fiz cinquenta anos e estou sentindo o mundo de modo diferente, por estar vendo significados no que vivo ou se por outra razão, mas tenho vivido momentos de perfeita sintonia com o universo, poderia dizer. De grande paz espiritual e sensação de bem-estar máximo.

 

Aconteceu nas férias de verão, com os Perdiditos no Uruguai, talvez por desligar e conseguir realmente relaxar após dois anos de pandemia, por reencontrar o sentimento de pertecimento, de família, mas voltei das férias leve e feliz, mesmo com uma hérnia de disco cervical que me torturou durante todo o período de férias e além. Seguiu no final de semana depois da volta, quando fomos ao litoral assistir à Marina se apresentar no show de temporada da School of Rock, e me emocionei a ponto de querer fazer parte daquilo (como já contei). Foi um momento de felicidade extrema, de leveza e paz (que foi quebrado pelo encontro com um dementador logo depois, mas é outra história).

 

A música voltou a ser parte importante da vida desde então.

 

As aulas, os ensaios, as práticas em casa. Voltei a respirar música. Canções viraram também tema de casa, ouvi-las virou estudo. Além de tudo, criou-se mais um ponto de conexão com a Marina, pai e filha, filha e pai, compartilhando um (grande) interesse comum, como é o ballet entre ela e a Jacque, fechando o nosso círculo familiar. 

 

E reforçando a convicção de que percepção é tudo, de que o mundo é a forma como o vemos e encaramos, tudo pareceu se encaixar e fluir de uma forma  natural, e as mudanças que estão ocorrendo e ainda vão ocorrer, até do ponto de vista profissional, se mostram – num modo estoico de ver o mundo -  como se estivessem destinadas a ocorrer desde sempre, porque assim era para acontecer. Tudo flui, na verdade.

 

O poder da música em mim continua a me encantar.

 

Até. 

sábado, junho 11, 2022

Sábado (e frio e música)


                Uma noite fria (ontem) de música.

                E de meio que comemoração antecipada de Dia dos Namorados...

                Bom sábado a todos.

                Até. 


domingo, junho 05, 2022

A Sopa

Música.

 

Pretendia começar essa Sopa de domingo afirmando que tenho uma relação especial com a música. Desisti. Soaria pretensioso demais, afinal todos – ou quase todos – nós temos uma relação que consideramos especial com música. Nossos gostos pessoais são sempre os melhores, os mais apurados, com toda certeza e mesmo que outros discordem disso. 

 

De qualquer forma, a música tem sua importância em minha vida, desde que posso lembrar. Talvez a memória mais distante que eu tenha de música, depois de algumas músicas infantis, é de na minha casa de infância ouvir junto a meus pais os discos de vinil deles, no toca-discos, Chico Buarque. A Banda, Roda Viva, A Rita, O que Será, Mulheres de Atenas, entre muitas outras. Fui, de certa forma, forjado em MPB.

 

O primeiro disco de vinil de comprei, contudo, foi do Queen, ‘The Game’.

 

E a partir daí fui conhecendo e formando ao longo dos anos meu gosto musical.

 

De gostar de música para querer ser músico (ou tocar algum instrumento e cantar) foi uma evolução natural, mas que esbarrou na falta de uma voz com alguma afinação natural, ou o chamado ‘dom’ para música, e na falta de dedicação e disciplina para aprender a tocar um instrumento. Brincava de tocar violão, fiz algumas aulas de guitarra. Tinha uma noção de música, notas e acordes, e ainda brincava um pouco (quase nada mesmo) no piano. E só. 

 

Quando a Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo cresceu, de alguma forma foi natural criarmos a Banda da Sopa (de Ervilhas do Marcelo) no início dos anos 2000. Éramos o Márcio (guitarra solo), o Magno (vocal e baixo) e eu (violão e segunda voz), além de integrantes eventuais (Silvester na bateria e Dani no baixo em algumas edições). Era – no meu caso, no meu caso – mais “atitude” do que talento e/ou dedicação. Fizemos alguns shows (em Sopas e até em bares) e foi isso, uma experiência divertida.

 

Eu podia dizer que já havia feito parte de uma banda. Estava feliz.

 

Façamos um corte no tempo de quase vinte anos. Terminei meu doutorado, morei dois anos no Canadá fazendo pós-doutorado, fui professor universitário, deixei de ser, trabalhei na indústria farmacêutica, voltei a ser professor (e novamente vou deixar de ser em breve, mas isso é assunto para outra Sopa), a Marina nasceu, e vivemos uma pandemia.

 

Ainda no início de 2020, em março, a Marina disse que queria fazer aulas de canto, e até fez uma aula experimental na semana que antecedeu o fechamento de tudo pelo coronavírus. Mas a pandemia colocou em compasso de espera o projeto dela de cantar. Confesso que fui inicialmente reticente, afinal pensava na minha ausência de afinação/voz para cantar.

 

Só que eu estava errado.

 

Ainda durante a pandemia, em setembro do ano passado, ela descobriu por conta própria a School of Rock, franquia internacional de escolas de música cuja sede em Porto Alegre fica a pouco mais de cem metros da nossa casa. Ela fez uma aula experimental e iniciou as aulas individuais de vocal e com banda (parte do método de ensino). Além das aulas e dos ensaios com a banda, as apresentações (shows) são parte do processo. A primeira apresentação, com repertório que incluía Deep Purple, Oasis, Red Hot Chilli Peppers, entre outros, foi em dezembro, na escola mesmo, e foi bem legal. Vimos que estava valendo a pena. 

 

O segundo show, por outro lado, foi ao ar livre, no verão, no litoral gaúcho, e foi mais legal ainda, porque a evolução da banda (todos com a mesma idade) era evidente, estavam muito melhores (não que a primeira apresentação não tenha sido boa, pelo contrário). O clima do show, a parceria entre a gurizada, a competência de todos, o ambiente “familiar” da escola, tudo isso me fez “enlouquecer”.

 

Queria fazer parte disso.

 

Após conversar com a Marina (pedir autorização a ela), decidi voltar a tocar, voltar para a música. O ‘pedir autorização dela’ foi para ver se ela não se sentiria incomodada, invadida, pelo pai estar entrando na mesma escola que ela fazia aulas, que potencialmente seria ‘o lance dela’. Ela disse que não via problemas, então me matriculei no início de março passado, já com o próximo projeto iniciando: Beatles.

 

Além de fazer aulas de guitarra semanais, de uma hora, mas que sempre duram mais porque nos empolgamos conversando, temos duas horas de ensaio como banda. No início, por óbvio, me sentia o elo mais fraco, por estar voltando a tocar após quase vinte anos, mas tem sido bem divertido e noto claramente evolução, o que me deixa bem feliz.

 

Assim chegamos na última terça-feira, trinta e um de maio. 

 

Foi o dia do show de encerramento do projeto Beatles da School of Rock, e o local em que tocamos foi Sargent Peppers Pub, em Porto Alegre, local – como o nome diz – totalmente dedicado e que homenageia os Beatles. Não tinha local melhor para fazer isso (excetuando-se, claro, o Cavern Club em Liverpool...). Foi uma noite memorável e simbólica, afinal foi nesse mesmo pub, que na época ficava em outro local, que a Jacque e eu saímos pela primeira vez juntos. Vinte e sete anos depois, fomos ali para eu tocar e ver nossa filha se apresentando também...

 

A casa estava lotada, o clima era de celebração, as apresentações estavam ótimas (a Marina arrasou) e tive ainda a honra tocar – além do Adriano, baterista, e do João, vocalista e violão, ambos ótimos - com o Thiago – diretor da escola, baixista e vocalista -  e com o mestre Tchê Gomes, meu professor de guitarra, lendário músico do rock gaúcho, e cara de uma energia e alto astral infinitos, que estimula e conduz as bandas da escola.

 

No ano dos meus cinquenta anos, mais um momento para não esquecer.

 

Até. 

sábado, junho 04, 2022

Sábado (e ainda sobre a última terça-feira)

 Nós três, antes do show
 

Momentos memoráveis. Uma noite de música e sobre estar juntos como família.

School of Rock Benjamin, valeu!

Bom sábado a todos.

Até.