domingo, outubro 02, 2022

A Sopa

 Estive ausente por uns dias desse espaço que me é caro. As razões não importam, nem vou inventar desculpas. Ao menos dessa vez, não.

 

Tenho vivido.

 

Corrido sempre vai ser, como tem sido, a vida como uma sucessão de acontecimentos que vão ocorrendo de maneira frenética enquanto – algumas vezes atônitos – observamos o fluxo da vida passar por nós e nos levar. Somos, sim, muitas vezes arrastados pela onda quando deveríamos na verdade estar surfando.

 

Há muito tempo, num passado realmente já distante, senti-me em um momento de quase lucidez absoluta, em um momento “matrix”, de conseguir enxergar a realidade por trás das aparências, de entender o mundo. Passou, como tudo passa, ou não me preocupei em tentar entender o mundo, e decidido apenas a viver. 

 

Sei lá.

 

À época, eu era alguém cheio de ideias/projetos que eram paralelos a ser médico, enquanto – confesso – minha “carreira” médica meio que “patinava” entre plantões e poucos pacientes no consultório. Quase como planos de fuga, esses projetos, essas ideias alternativas, serviam como válvula de escape para uma realidade que não era exatamente como eu queria, podemos dizer. Se, por um lado, tinha esse poder “terapêutico” de me alienar de uma realidade que era naquele momento, e por razões que não importam, não como eu gostaria, por outro acabavam me impedindo, em tese, de me dedicar, focar, inteiramente à carreira médica.

 

E então houve o momento da virada.

 

Isso aconteceu há mais de vinte anos, ainda antes de completar trinta anos de idade. Foi quando eu decidi que era hora de parar de “palhaçada” e realmente me dedicar ao meu trabalho, à profissão que eu havia escolhido. Por um tempo, eu deveria me “atirar de cabeça” na medicina, talvez como nunca antes, e esperar pelo resultado do esforço. Se não houvesse frutos, bom, partiria para os planos B, C ou qualquer outra letra que surgisse. 

 

E assim foi.   

 

E, no final das contas, deu certo.

 

Fiz o Doutorado, o Pós-doutorado no Canadá, retornei. Profissionalmente, as coisas andaram bem, procurando sempre progredir tentando me comparar apenas comigo, ser melhor do que eu era e não me comparar com ninguém mais, afinal cada um tem sua trajetória singular, única. O que – confesso – nem sempre é fácil.

 

Muitas voltas deu o mundo desde então, inúmeras mudanças ocorreram, pessoas chegaram e pessoas se foram, literal e figuradamente, mudamos, mudei. Cheguei aos cinquenta anos (assunto recorrente por aqui, pelo simbolismo da data e suas reflexões) e – realmente de repente – senti a necessidade / inspiração de repensar o mundo, e de desengavetar antigas ideias e projetos e revisitá-los, dessa vez não como forma de fuga da realidade, mas como complemento, ou adição ao que já faço.

 

O que está sendo muito legal.

 

Até.

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