Talvez por ter morrido há quase quinze anos – praticamente uma geração completa – e nunca ter assumido uma posição meio messiânica, como o fez o Renato Russo (isso não é uma crítica, apenas uma constatação), as pessoas mais novas não tinham tido – até agora – um contato maior com a música e a poesia do Cazuza. O filme que, conta um período da sua história, vem para resgatar isso.
Lá vou eu de novo fazer crítica de cinema sem ter visto o filme. Claro que pretendo ver, é quase uma obrigação moral para quem é fã há já quase vinte anos, como eu, primeiro do Barão Vermelho e depois dele em carreira solo. Mas mesmo sem ainda ter visto o filme, já é possível refletir um pouco sobre ele.
Tenho lido, principalmente em fóruns de discussão de fãs do Cazuza, que o filme é superficial, que deixa de fora fatos importantes da vida dele (como sua bissexualidade) e que, por isso, é um filme menor. Novamente, essa é uma discussão estéril. Reafirmo: o filme é baseado na vida dele a partir do livro de memórias da Lúcia Araújo, sua mãe. É arte, e arte deve ser livre, não pode ser tutelada por nenhum tipo de censura ou direcionamento ideológico ou moral. Arte é arte em si mesma.
Se no roteiro do filme são omitidos alguns fatos porque talvez fossem chocar o chamado “público médio”, tudo bem. Principalmente se isso fizer as bilheteria aumentar, o que quer dizer que um maior número de pessoas vai ver o filme e vai conhecer (ou re-conhecer) a fantástica obra deste incrível poeta que foi o Cazuza. Eu imagino o público de vinte e poucos anos ou menos, que tinha menos de dez anos de idade quando ele morreu, que está sendo apresentado a um dos ícones da música dos anos oitenta, cuja obra – sem sombra de dúvida – ficará gravada na nossa memória. E só por isso, já vale o filme.
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O Cazuza foi um poeta visceral, ácido às vezes, lírico e doce em outras. Tem uma música dele que nos últimos dias tem estado recorrente em minha trilha sonora (aquelas músicas que ficamos cantarolando o tempo todo). Chama-se Cúmplice:
Hoje eu acordei querendo encrenca
Escrevi teu nome no ar
Bati três vezes na madeira
Senti você me chamar
Na verdade uma carta em braile
Me deu uma certeza cega
Você estava de volta ao bairro
Em alguma esquina a minha espera
Meu amor, meu cúmplice
Eu sempre vou te achar
Nos avisos da lua
Do outro lado da rua
Rodei todas as lanchonetes
Tive idéias perversas
Relembrei tantos golpes espertos
Você cada vez mais perto
Meu amor, meu cúmplice
Meu par na contramão
Você não mudou em nada (nada, nada, nada)
Eu também não, que bom!
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