Novamente é chegado o Natal, a data que se convencionou ser a do nascimento de Jesus Cristo, o principal personagem da mais bela história já escrita pelo homem. Diz-se que é momento de fraternidade, de solidariedade, de paz entre os homens. A minha pergunta é: por que só no Natal? Se esta (“Paz entre os homens”) é a mensagem de Deus, Javé, Alah, o Pai, ou qualquer que seja o nome dado pelas pessoas a esta entidade superior que, de certa forma rege, fiscaliza ou controla nossas vidas, por que há tanta intolerância? Acho que porque a religião é feita por homens. Mas hoje não é dia deste tipo de indagações.
Também não é o momento para voltar às questões levantadas quando afirmei que Deus (a entidade superior...) rege e/ou controla as nossas vidas. Não, não vou entrar em questões filosóficas relacionadas ao livre-arbítrio, à liberdade do homem, etc. Isso fica para uma quarta-feira filosófica. Hoje é feriado e momento de reflexão. Por isso vou contar como foi o meu primeiro Natal. O primeiro que passei no frio, na neve.
Acordei cedo naquele vinte e quatro de dezembro, e abri a cortina para ver a rua. Branco, tudo branco. O céu, azul celeste, indicava que não haveria precipitação de neve, mas seu contraste com o branco que cobria as ruas e os campos dava a impressão de estarmos num dos contos dos irmãos Grimm. Avistava também casas com os telhados cobertos de branco e das chaminés saindo a fumaça de – quem sabe – fogões à lenha ou lareiras.
Coloquei as calças por sobre os cuecões, a camisa de lã por sobre uma camiseta, e por cima de tudo o meu casaco pronto para suportar temperaturas glaciais (-60°C, segundo quem tinha me vendido ainda em Porto Alegre) e desci para o café. Antes de entrar na sala do café, fui até a rua para olhar os carros, todos cobertos por uma camada de gelo. Ao entrar para o café, encontrei o Annes, filho do dono do hotel e o único que falava inglês, que me disse que a temperatura estava por volta de –18°C.
Após o café, o Magno, a Jacque e eu (parceiros de viagem) rumamos para Anterselva (Antholzertal) para nossa primeira e única aula de esqui da vida, até hoje. O Magno, que torce o pé até caminhando no plano, não quis. A Jacque e eu tivemos uma hora de aula de esqui fondo (o que não desce montanhas, só anda no plano) e depois ficamos andando por nossa conta. Falando em conta, se contarmos bem, caí mais ou menos uma quinze vezes durante a aula (e não estávamos descendo!). Foi legal.
Durante a tarde, após o almoço, passeamos pela região – norte da Itália, quase na Áustria – próxima à Brunico. Às dezoito horas, começou a ceia de Natal. No início, teve um coquetel acompanhado por músicos vestidos com trajes tiroleses. Sob o comando da dona do hotel (Andréas Hofer, em Oberassen, norte da Itália) cantamos juntos “Noite Feliz” (claro que quem cantou foi quem conhecia a letra em alemão), todos de mãos dadas. Foi uma longa ceia, com vários pratos, vinho. No final, todos os locais foram assistir à missa do galo. Nós, após ligar para o Brasil, fomos dormir. Na manhã de Natal, quando deixaríamos Oberassen para seguir em frente em nossa viagem, fomos brindados pelo belo e perigoso – para quem dirige - espetáculo da neve caindo.
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