Estava pensando nesse livros de auto-ajuda que falam sobre relacionamentos.
São todos uma farsa.
Certo, eu sei que vocês já sabiam disso, esses livros de auto-ajuda são quase todos caça-níqueis, cuja principal ajuda que proporcionam é ao bolso do autor. Sei de tudo isso, sim, mas a minha argumentação é bem mais específica hoje, bem mais direta.
Que as pessoas queiram pagar para ouvir o óbvio, tudo bem, cada um faz o que bem quiser com o seu próprio dinheiro. Mas acreditar que exista alguém que seja “especialista em relacionamentos” é o mesmo que acreditar, deixa eu ver, em duendes. Ou fadas. Fantasia, nada mais.
Ninguém é especialista em relacionamentos. Quem diz que é está mentindo. Ou realmente acredita que se possa ser especialista nisso, o que – a crença - é muito pior. Dar conselhos sobre isso, então, é um crime.
O que é diferente de, por exemplo, estar com problemas e ir conversar com um amigo, que te conhece há muitos anos, muitas vezes vê características (qualidades e defeitos) que nem sabia que tinhas, conhece tua história pessoal. Esse sim tem condições de opinar sobre o assunto, não um colunista de jornal para quem mandas uma carta e assina com um pseudônimo ridículo, e nem vai ser num livro que vai encontrar a solução.
E mesmo aquilo que um amigo que te conhece há anos te diz pode estar errado. Lembro de uma vez, há muitos anos mesmo, que eu e um grande amigos sentamos para conversar sobre a vida. Aquela época eu tinha saído de um relacionamento e estava sozinho. Depois de horas conversando, “chegamos” juntos à conclusão de que eu ainda gostava dela, e que deveria tentar de novo… Não deu certo, óbvio, até porque não tinha nada a ver…
Insisto, então, no ponto principal: ninguém – NINGUÉM – é especialista em relacionamentos. Em geral, a experiência que temos é uma série de relacionamentos fracassados até que um dia “nos encontramos” na vida. Foi a experiência que nos auxiliou? Foram os erros do passado que foram corrigidos, e dessa última vez fizemos certo?
Naaah…
Funcionou, simplesmente. Não quer dizer que daria certo com outra pessoa ou em outra época. Não existe uma receita de como fazer para dar certo. Cada situação é única e irrepetível. O que funciona/funcionou para mim não vai necessariamente funcionar para outra pessoa, ou mesmo talvez não funcionasse comigo em outro momento.
Somos – ou deveríamos ser – especialistas nas nossas vidas.
Até.
Crônicas e depoimentos sobre a vida em geral. Antes o exílio; depois, a espera. Agora, o encantamento. A vida, afinal de contas, não é muito mais do que estórias para contar.
quarta-feira, novembro 30, 2005
terça-feira, novembro 29, 2005
Momento auto-arqueológico
Escrito perdido vindo direto do longínquo ano de 1998…
De volta ao planeta dos macacos, parei para pensar e resolvi voltar a acompanhar a música. Cansado, mas, mesmo assim, feliz. Entre lembrar e esquecer, preferi deixar ao tempo a decisão. Se foi conveniente, não sei, mas sempre vai existir a possibilidade de subverter a ordem das coisas, afinal quem foi rei sempre será majestade.
A pergunta que fica é: até quando vai haver vontade e – mais importante – força para interromper o curso natural dos fatos e continuar equilibrando-se entre os dois lados da moeda. Por quanto tempo ainda vai ser possível nadar contra a corrente só para se exercitar?
O que vai acontecer, então?
O que significa?
Não tenho a menor idéia…
Até.
De volta ao planeta dos macacos, parei para pensar e resolvi voltar a acompanhar a música. Cansado, mas, mesmo assim, feliz. Entre lembrar e esquecer, preferi deixar ao tempo a decisão. Se foi conveniente, não sei, mas sempre vai existir a possibilidade de subverter a ordem das coisas, afinal quem foi rei sempre será majestade.
A pergunta que fica é: até quando vai haver vontade e – mais importante – força para interromper o curso natural dos fatos e continuar equilibrando-se entre os dois lados da moeda. Por quanto tempo ainda vai ser possível nadar contra a corrente só para se exercitar?
O que vai acontecer, então?
O que significa?
Não tenho a menor idéia…
Até.
segunda-feira, novembro 28, 2005
Apito final
A paixão é um sentimento menor.
Se houvesse uma escala com que fosse possível mensurar o grau de significância dos sentimentos humanos, a paixão certamente não estaria entre os de maior grandeza. Ou nobreza. Isso porque claramente não é um sentimento nobre. Ao contrário.
A paixão é dos sentimentos mais básicos que podemos ter. Eu ia usar um exemplo da matemática para explicar meu ponto de vista, mas não dá, a matemática – mesmo as operações básicas, como a soma ou a subtração – é muito mais complexa. Mas de maneira nenhuma estou falando mal dela. O que quero é colocá-la no seu lugar, não deixar que se meta à besta.
Isso porque se, por um lado, é ela que nos dá forças para ir em frente muitas vezes, em outras dá cor à vida, nos anima, nos motiva, por outro lado ela tem o seu lado negativo, perigoso, pernicioso. A paixão é algo visceral. Vísceras, tripas, intestino. Por paixão se vai ao fundo do poço, à sarjeta, é a porta que nos leva ao submundo dos sentimentos humanos. Nos consome, nos queima. É irracional, não pensa. Crime passional, quer melhor exemplo.
Muitas relações começam por paixão, e só vão durar se houver a transformação dessa em um sentimento maior, mais nobre. Se não houver essa “evolução”, não há como durar. Porque a paixão é um sentimento infantil. Tem de crescer, se não morre.
Pensei nisso ouvindo no rádio o jogo Náutico e Grêmio, no sábado que passou. Principalmente na hora do pênalti e das expulsões dos jogadores do Grêmio. Durante toda a confusão, e depois dela, fiquei pensando em tudo isso, se o Náutico fizesse o gol, o que aconteceria, e se errasse? No que eu deveria torcer para que acontecesse? O Grêmio perder e continuar na segunda divisão, ou o Grêmio se classificar?
Quando da cobrança do pênalti, eu já sabia a resposta: não fazia diferença, não tinha nada a ver comigo. Era capaz até de eu querer que o Grêmio se classificasse para deixar meus amigos gremistas felizes. Porque não me interessava mesmo.
Ali eu vi que tinha crescido.
Parabéns, Grêmio.
#
Existe uma forma de as pessoas se referirem às torcidas de futebol, dizendo que essa ou aquela é mais apaixonada que a outra.
Grande merda.
Quem é que quer uma torcida apaixonada? Enganam-se se pensam que isso é bom. Não é. A torcida apaixonada ela vaia o time quando não está satisfeita com algo, ela agride os jogadores, invade o campo, briga, quebra. Os tribunais interditam os estádios de torcida apaixonadas.
O exemplo de torcedores que amam seus times são as argentinas, que cantam o tempo todo, independente do resultado. Você pode argumentar que eles também brigam e quebram. Concordo, mas mantenho meu ponto…
#
A linha que separa o épico do ridículo é muito tênue, não? Por exemplo: se o Náutico tivesse feito o gol de pênalti e o Grêmio tivesse perdido o jogo e permanecido na segunda divisão, provavelmente os jogadores expulsos – por agredirem o árbitro que, sim, tinha errado ao dar o pênalti mas tinha errado antes ao não dar um outro – seriam chamados de irresponsáveis e talvez nem voltassem à Porto Alegre.
Como o Náutico foi incompentente (e o goleiro do Grêmio competente), viraram heróis? Claro que não. O Náutico se apequenou, com certeza, e o Grêmio se impôs, certamente. Méritos gremistas, mas me pergunto se podemos chamar de épico. Talvez sim, mas ainda não tenho certeza…
#
Enquanto isso, em Porto Alegre, no domingo, o Inter mostrou ao Brasil mais uma vez que não vai entregar assim tão fácil o campeonato. Aliás, caso os dois times que lideram o campeonato ganhem no próximo domingo, independente do saldo de gols, o campeonato terá sido decidido no tapetão. Atentem para o condicional: se eles ganharem. Se o Inter perder e o Corinthians ganhar, bom, aí eles serão os legítimos campeões. Mas se o Inter vencer o seu jogo, independente do jogo de Goiás, ele só não será o campeão pelo tapetão.
Isso porque se não tivessem anulados aqueles jogos por conta de uma de todas as formas questionável decisão do STJD, o Inter estaria na frente do atual líder. O atual líder é líder porque pôde jogar de novo dois jogos que perdera, e que o Ministério Público até hoje não comprovou manipulação de resultados. No campo, até aqui (e isso pode mudar domingo) o Inter é o melhor time e a melhor campanha.
Só não será campeão se ganhar domingo porque o tapetão (e outros interesses que nem imagino quais sejam) não deixou.
#
Sobre o pênalti do Gamarra no Edinho ontem, no Beira-Rio, só não vê pênalti quem não quer…
Até.
Se houvesse uma escala com que fosse possível mensurar o grau de significância dos sentimentos humanos, a paixão certamente não estaria entre os de maior grandeza. Ou nobreza. Isso porque claramente não é um sentimento nobre. Ao contrário.
A paixão é dos sentimentos mais básicos que podemos ter. Eu ia usar um exemplo da matemática para explicar meu ponto de vista, mas não dá, a matemática – mesmo as operações básicas, como a soma ou a subtração – é muito mais complexa. Mas de maneira nenhuma estou falando mal dela. O que quero é colocá-la no seu lugar, não deixar que se meta à besta.
Isso porque se, por um lado, é ela que nos dá forças para ir em frente muitas vezes, em outras dá cor à vida, nos anima, nos motiva, por outro lado ela tem o seu lado negativo, perigoso, pernicioso. A paixão é algo visceral. Vísceras, tripas, intestino. Por paixão se vai ao fundo do poço, à sarjeta, é a porta que nos leva ao submundo dos sentimentos humanos. Nos consome, nos queima. É irracional, não pensa. Crime passional, quer melhor exemplo.
Muitas relações começam por paixão, e só vão durar se houver a transformação dessa em um sentimento maior, mais nobre. Se não houver essa “evolução”, não há como durar. Porque a paixão é um sentimento infantil. Tem de crescer, se não morre.
Pensei nisso ouvindo no rádio o jogo Náutico e Grêmio, no sábado que passou. Principalmente na hora do pênalti e das expulsões dos jogadores do Grêmio. Durante toda a confusão, e depois dela, fiquei pensando em tudo isso, se o Náutico fizesse o gol, o que aconteceria, e se errasse? No que eu deveria torcer para que acontecesse? O Grêmio perder e continuar na segunda divisão, ou o Grêmio se classificar?
Quando da cobrança do pênalti, eu já sabia a resposta: não fazia diferença, não tinha nada a ver comigo. Era capaz até de eu querer que o Grêmio se classificasse para deixar meus amigos gremistas felizes. Porque não me interessava mesmo.
Ali eu vi que tinha crescido.
Parabéns, Grêmio.
#
Existe uma forma de as pessoas se referirem às torcidas de futebol, dizendo que essa ou aquela é mais apaixonada que a outra.
Grande merda.
Quem é que quer uma torcida apaixonada? Enganam-se se pensam que isso é bom. Não é. A torcida apaixonada ela vaia o time quando não está satisfeita com algo, ela agride os jogadores, invade o campo, briga, quebra. Os tribunais interditam os estádios de torcida apaixonadas.
O exemplo de torcedores que amam seus times são as argentinas, que cantam o tempo todo, independente do resultado. Você pode argumentar que eles também brigam e quebram. Concordo, mas mantenho meu ponto…
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A linha que separa o épico do ridículo é muito tênue, não? Por exemplo: se o Náutico tivesse feito o gol de pênalti e o Grêmio tivesse perdido o jogo e permanecido na segunda divisão, provavelmente os jogadores expulsos – por agredirem o árbitro que, sim, tinha errado ao dar o pênalti mas tinha errado antes ao não dar um outro – seriam chamados de irresponsáveis e talvez nem voltassem à Porto Alegre.
Como o Náutico foi incompentente (e o goleiro do Grêmio competente), viraram heróis? Claro que não. O Náutico se apequenou, com certeza, e o Grêmio se impôs, certamente. Méritos gremistas, mas me pergunto se podemos chamar de épico. Talvez sim, mas ainda não tenho certeza…
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Enquanto isso, em Porto Alegre, no domingo, o Inter mostrou ao Brasil mais uma vez que não vai entregar assim tão fácil o campeonato. Aliás, caso os dois times que lideram o campeonato ganhem no próximo domingo, independente do saldo de gols, o campeonato terá sido decidido no tapetão. Atentem para o condicional: se eles ganharem. Se o Inter perder e o Corinthians ganhar, bom, aí eles serão os legítimos campeões. Mas se o Inter vencer o seu jogo, independente do jogo de Goiás, ele só não será o campeão pelo tapetão.
Isso porque se não tivessem anulados aqueles jogos por conta de uma de todas as formas questionável decisão do STJD, o Inter estaria na frente do atual líder. O atual líder é líder porque pôde jogar de novo dois jogos que perdera, e que o Ministério Público até hoje não comprovou manipulação de resultados. No campo, até aqui (e isso pode mudar domingo) o Inter é o melhor time e a melhor campanha.
Só não será campeão se ganhar domingo porque o tapetão (e outros interesses que nem imagino quais sejam) não deixou.
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Sobre o pênalti do Gamarra no Edinho ontem, no Beira-Rio, só não vê pênalti quem não quer…
Até.
domingo, novembro 27, 2005
A Sopa 05/19
Por esses dias, o tempo passa devagar.
Não, não tem relação com o inverno que se aproxima e nem vou me queixar do frio. Para ser sincero, eu GOSTO do frio, e gosto do inverno, apesar do que eu possa ter dado a entender recentemente.
Inverno é, para mim, tempo de introspecção, de silêncios. De milongas e de chimarrão. E isso me agrada. É a fase em que penso mais na vida e suas escolhas e caminhos e possibilidades. Faço planos, estabeleço metas. E como, muito. Eu sei, o ato de comer e suas variáções (massas, risotos, churrascos, pizza, etc) não tem nada a ver com o que estou falando/escrevendo, mas eu tinha que citá-lo. Pode ser que eu esteja com fome. É, estou com fome. Espera um pouquinho que vou até ali fazer um pequeno lanche…
(…)
Pronto, adiante.
Eu falava que o tempo tem passado lentamente nos últimos dias, que parecem meses. E não sou só eu que notei. Descobri isso através de um pequeno estudo científico: para ver se o que eu pensava não era um momento “mimimi” meu, busquei uma segunda pessoa na exata mesma situação que eu. Casado, de Porto Alegre, morando sozinho aqui em Toronto, e indo em dezembro para casa. Não, não fui perguntar para o espelho.
Almoçamos no sábado, o Marcelo e eu (bem claro, isso não é um momento esquizofrênico, realmente aconteceu). Conversávamos sobre assuntos variados, até que ele disse – espontaneamente – que estava “louco” para ir para casa. Pronto. Confirmei minha teoria.
Eu sei porque o tempo está passando lentamente.
É porque faltam menos de três semanas para eu ir para casa para as festas de final de ano. Agora que falta bem pouco, a ansiedade aumenta e o tempo parece passar mais devagar. Simples, óbvio. Lembro o ano passado, quando iria para o Brasil para defender minha tese, e seria a primeira vez que voltaria para casa (e reencontraria a Jacque) desde que tinha vindo para cá. Estava tão ansioso que tive insônia em algumas noites. Ficava antecipando o quanto seria legal estar em casa de novo. Nem me preocupava com a defesa da tese (ou era negação, tanto faz).
Passou-se um ano, muita coisa aconteceu, e continuo com a mesma (maior, na verdade) vontade de ir para casa. Isso é bom, muito bom.
Até.
Não, não tem relação com o inverno que se aproxima e nem vou me queixar do frio. Para ser sincero, eu GOSTO do frio, e gosto do inverno, apesar do que eu possa ter dado a entender recentemente.
Inverno é, para mim, tempo de introspecção, de silêncios. De milongas e de chimarrão. E isso me agrada. É a fase em que penso mais na vida e suas escolhas e caminhos e possibilidades. Faço planos, estabeleço metas. E como, muito. Eu sei, o ato de comer e suas variáções (massas, risotos, churrascos, pizza, etc) não tem nada a ver com o que estou falando/escrevendo, mas eu tinha que citá-lo. Pode ser que eu esteja com fome. É, estou com fome. Espera um pouquinho que vou até ali fazer um pequeno lanche…
(…)
Pronto, adiante.
Eu falava que o tempo tem passado lentamente nos últimos dias, que parecem meses. E não sou só eu que notei. Descobri isso através de um pequeno estudo científico: para ver se o que eu pensava não era um momento “mimimi” meu, busquei uma segunda pessoa na exata mesma situação que eu. Casado, de Porto Alegre, morando sozinho aqui em Toronto, e indo em dezembro para casa. Não, não fui perguntar para o espelho.
Almoçamos no sábado, o Marcelo e eu (bem claro, isso não é um momento esquizofrênico, realmente aconteceu). Conversávamos sobre assuntos variados, até que ele disse – espontaneamente – que estava “louco” para ir para casa. Pronto. Confirmei minha teoria.
Eu sei porque o tempo está passando lentamente.
É porque faltam menos de três semanas para eu ir para casa para as festas de final de ano. Agora que falta bem pouco, a ansiedade aumenta e o tempo parece passar mais devagar. Simples, óbvio. Lembro o ano passado, quando iria para o Brasil para defender minha tese, e seria a primeira vez que voltaria para casa (e reencontraria a Jacque) desde que tinha vindo para cá. Estava tão ansioso que tive insônia em algumas noites. Ficava antecipando o quanto seria legal estar em casa de novo. Nem me preocupava com a defesa da tese (ou era negação, tanto faz).
Passou-se um ano, muita coisa aconteceu, e continuo com a mesma (maior, na verdade) vontade de ir para casa. Isso é bom, muito bom.
Até.
sábado, novembro 26, 2005
A arte de ser feliz
Houve um tempo em que minha janela se abria
sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,
e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Às vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
(Cecília Meirelles)
sexta-feira, novembro 25, 2005
Violência e Outras Considerações
Vinte e cinco de novembro.
Hoje é o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, e me comprometi a falar sobre o assunto como parte de uma blogagem coletiva. Mas, antes, alguns pensamentos paralelos.
A internet, ao contrário do que anunciavam apocalipticamente alguns alarmistas, não vai acabar com as relações interpessoais. Pelo contrário, pelo contrário. Tenho vivenciado isso e testemunhado de longe esse mesmo fenômeno ocorrendo em lugares distantes de onde estou no momento.
Um primeiro exemplo é pessoal, de como usei a internet (e o blog, em especial) para me manter em contato com o meu mundo que ficou em Porto Alegre quando vim para cá (família, amigos) assim como serviu de “cartão de visitas” para me apresentar aos amigos que conheci aqui. Foi a forma de, por um lado, informar aqueles que ficaram de como eu estava aqui e, por outro, me fazer conhecer por aqueles que moravam aqui. Esse espírito de comunidade virtual foi o que levou a nos conhecermos pessoalmente.
Com relação a esse mesmo fenômeno, só que acontecendo à distância, acompanho com certa ansiedade (por não poder estar participando, com a sensação de “como deve ser legal estar junto a eles”) os encontros e integração que ocorrem entre, por exemplo, o Biajoni, o Marmota, o Inagaki, o Milton, a Olivia, o Afonso. Sem falar no Flávio, no Allan, a Nora, a Bíbi, o Idelber, e claro que deixei de citar um monte de gente que leio sempre e recomendo a leitura.
É dessa coisa de blogagem coletiva é interessante também por isso: além de assuntos relevantes, a sensação de fazer parte de um grupo.
A violência contra a mulher
Na minha concepção, não há diferença entre quem bate em/na mulher e um pedófilo: são parte da mesma escória. Se eu não fosse civilizado, diria que nesses casos, tem que ser olho por olho, dente por dente.
Ops, eu não sou civilizado.
De qualquer maneira, um fenômeno que ocorre é que a certeza impunidade estimula o crime. Se a punição fosse severa o suficiente, haveria menos casos. Sem falar nos casos que não são denunciados. Para esses, a saída é uma só: vítimas, gritem! E temos que ter, como sociedade, formas de proteger e dar suporte a elas.
Até.
Hoje é o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, e me comprometi a falar sobre o assunto como parte de uma blogagem coletiva. Mas, antes, alguns pensamentos paralelos.
A internet, ao contrário do que anunciavam apocalipticamente alguns alarmistas, não vai acabar com as relações interpessoais. Pelo contrário, pelo contrário. Tenho vivenciado isso e testemunhado de longe esse mesmo fenômeno ocorrendo em lugares distantes de onde estou no momento.
Um primeiro exemplo é pessoal, de como usei a internet (e o blog, em especial) para me manter em contato com o meu mundo que ficou em Porto Alegre quando vim para cá (família, amigos) assim como serviu de “cartão de visitas” para me apresentar aos amigos que conheci aqui. Foi a forma de, por um lado, informar aqueles que ficaram de como eu estava aqui e, por outro, me fazer conhecer por aqueles que moravam aqui. Esse espírito de comunidade virtual foi o que levou a nos conhecermos pessoalmente.
Com relação a esse mesmo fenômeno, só que acontecendo à distância, acompanho com certa ansiedade (por não poder estar participando, com a sensação de “como deve ser legal estar junto a eles”) os encontros e integração que ocorrem entre, por exemplo, o Biajoni, o Marmota, o Inagaki, o Milton, a Olivia, o Afonso. Sem falar no Flávio, no Allan, a Nora, a Bíbi, o Idelber, e claro que deixei de citar um monte de gente que leio sempre e recomendo a leitura.
É dessa coisa de blogagem coletiva é interessante também por isso: além de assuntos relevantes, a sensação de fazer parte de um grupo.
A violência contra a mulher
Na minha concepção, não há diferença entre quem bate em/na mulher e um pedófilo: são parte da mesma escória. Se eu não fosse civilizado, diria que nesses casos, tem que ser olho por olho, dente por dente.
Ops, eu não sou civilizado.
De qualquer maneira, um fenômeno que ocorre é que a certeza impunidade estimula o crime. Se a punição fosse severa o suficiente, haveria menos casos. Sem falar nos casos que não são denunciados. Para esses, a saída é uma só: vítimas, gritem! E temos que ter, como sociedade, formas de proteger e dar suporte a elas.
Até.
quinta-feira, novembro 24, 2005
Esses dias
(Esse é um texto de ficção. Quaisquer pessoas ou idéias aqui apresentadas não tem conexão com a realidade, nem expressam as idéias do autor)
Estava eu lendo um dos meu blogs de leitura diária, e travou-se uma bem humorada discussão sobre o suicídio, como fazer de forma indolor, etc. Nem era discussão, para falar a verdade, era mais um acesso de humor negro. Houve vários comentários a respeito, claro. Alguns comentavam sobre a “morbidez” do assunto, outros sugeriam métodos alternativos, alguns só riam entendendo o humor da história.
Eu resolvi comentar também.
Primeiro, disse que essa coisa de suicídio indolor não tem nada a ver. Qual é a graça? Suicídio que se preze deve ter sangue, muito sangue. Vísceras expostas e dedicatória escrita com o sangue na parede. Tem que ter drama.
Porque o suicídio é uma tomada de posição perante à vida, apesar de ser uma posição estúpida, na minha opinião. A estupidez definitiva, sem volta. Mas, como eu disse, é a minha opinião. Tem gente que pensa diferente, que acha que é saída, fuga, despreendimento. Que é um caminho. Eu não acho.
Então, se querer fazer, acha que não há outra opção, não há saída, faz direito. Essa coisa de indolor é pra covarde: como escrevi no comentário no blog, se é pra fazer tem que ser com pompa e circunstância, como manda o figurino.
O que a medicina pensa disso, dos suicidas?
Bom, basicamente tem duas correntes.
110 e 220.
Louco se trata no choque.
Até.
Estava eu lendo um dos meu blogs de leitura diária, e travou-se uma bem humorada discussão sobre o suicídio, como fazer de forma indolor, etc. Nem era discussão, para falar a verdade, era mais um acesso de humor negro. Houve vários comentários a respeito, claro. Alguns comentavam sobre a “morbidez” do assunto, outros sugeriam métodos alternativos, alguns só riam entendendo o humor da história.
Eu resolvi comentar também.
Primeiro, disse que essa coisa de suicídio indolor não tem nada a ver. Qual é a graça? Suicídio que se preze deve ter sangue, muito sangue. Vísceras expostas e dedicatória escrita com o sangue na parede. Tem que ter drama.
Porque o suicídio é uma tomada de posição perante à vida, apesar de ser uma posição estúpida, na minha opinião. A estupidez definitiva, sem volta. Mas, como eu disse, é a minha opinião. Tem gente que pensa diferente, que acha que é saída, fuga, despreendimento. Que é um caminho. Eu não acho.
Então, se querer fazer, acha que não há outra opção, não há saída, faz direito. Essa coisa de indolor é pra covarde: como escrevi no comentário no blog, se é pra fazer tem que ser com pompa e circunstância, como manda o figurino.
O que a medicina pensa disso, dos suicidas?
Bom, basicamente tem duas correntes.
110 e 220.
Louco se trata no choque.
Até.
quarta-feira, novembro 23, 2005
Assuntos canadenses
Meteorologia, óbvio.
Depois de uns dias deprimido com o começo do frio (e outras coisitas, mas já está tudo bem), estou adaptado à idéia do inverno que vem por aí. Percebi isso hoje de manhã, quando tinha de estar às 7h30 no laboratório para ver um paciente, e saí de casa mais cedo que o normal. Temperatura: -9ºC, mas um belo dia de sol que recém começava.
Caminhando o trecho final até o meu destino – depois do metrô e do bonde – e sentindo o ar frio da manhã no rosto, percebi que tudo bem, é só o inverno e, depois dele, vêm as duas primaveras. Mas pode ser que o meu bom humor seja por causa da toca que protegia minhas orelhas… É, não sei se comentei isso, mas ontem elas quase caíram. Quase, neste caso, é nada, até porque elas não caíram mais ou menos, elas simplesmente não caíram. De qualquer forma, podiam ter caído ontem com o vento que cortava.
Estava prevista a primeira “tempestade” de neve da estação para esta noite, mas não sei não, parece que não vai nevar mais que 5 centímetros. E, depois do final de semana, esquenta: segunda-feira vai fazer sufocantes dezgraus positivos. É… não é fácil.
Enquanto isso, Porto Alegre derrete sob senegalescos 40ºC. Em novembro!
Tempo louco, esse.
Tô precisando ir para lá para trazer equilíbrio ao universo…
Até.
Depois de uns dias deprimido com o começo do frio (e outras coisitas, mas já está tudo bem), estou adaptado à idéia do inverno que vem por aí. Percebi isso hoje de manhã, quando tinha de estar às 7h30 no laboratório para ver um paciente, e saí de casa mais cedo que o normal. Temperatura: -9ºC, mas um belo dia de sol que recém começava.
Caminhando o trecho final até o meu destino – depois do metrô e do bonde – e sentindo o ar frio da manhã no rosto, percebi que tudo bem, é só o inverno e, depois dele, vêm as duas primaveras. Mas pode ser que o meu bom humor seja por causa da toca que protegia minhas orelhas… É, não sei se comentei isso, mas ontem elas quase caíram. Quase, neste caso, é nada, até porque elas não caíram mais ou menos, elas simplesmente não caíram. De qualquer forma, podiam ter caído ontem com o vento que cortava.
Estava prevista a primeira “tempestade” de neve da estação para esta noite, mas não sei não, parece que não vai nevar mais que 5 centímetros. E, depois do final de semana, esquenta: segunda-feira vai fazer sufocantes dezgraus positivos. É… não é fácil.
Enquanto isso, Porto Alegre derrete sob senegalescos 40ºC. Em novembro!
Tempo louco, esse.
Tô precisando ir para lá para trazer equilíbrio ao universo…
Até.
terça-feira, novembro 22, 2005
Saudosismo
Cá entre nós, os anos 80 foram uma merda. Quer dizer, não foram grande coisa.
Mas é claro que eu tenho boa lembranças e até saudades daquela década, sendo mais um simpático - apesar de sérias restrições - a essa onda revival que parece ter tomado conta de todos. Isso acontece por uma razão bem simples: foi a época do final da minha infância e adolescência. Os anos 80 terminaram comigo entrando na faculdade. Então é claro que eu tenho saudades daquela época, mas não pelo que houve naqueles anos. Não pela modismos da época, mas pelo que ela representou na minha história pessoal.
Pensei nisso quando, ao passear sem compromisso por comunidades do Orkut, entrei justamente numa dos Anos 80 e, lá, um tópico que estava gerando muitos comentários e depoimentos era a pergunta “Qual foi a personalidade dos anos 80 que mais o decepcionou?”. Li todos os depoimentos e fiquei pensando.
A maior parte do que as pessoas diziam/escreviam relacionava-se a ídolos infantis daquela época: Simoni (do Balão Mágico), Xuxa, Muçum, Didi, Bozo, Sérgio Malandro, Menudos, Dominó, entre outros. Todos diziam-se decepcionados com os ídolos que tinham “manchado” suas biografias. Pois é…
Na verdade, todos se queixavam não de seus “ídolos” e suas condutas posteriores. Nem são assim fãs dos anos 80. O que eles lamentam é a perda da “inocência”. Lamentam o mundo real.
Cresceram e não se conformam com isso. Por outro lado, pode ser que, sinceramente, que amem os anos 80, e todas suas modas.
Não sei o que é mais assustador.
Até.
Mas é claro que eu tenho boa lembranças e até saudades daquela década, sendo mais um simpático - apesar de sérias restrições - a essa onda revival que parece ter tomado conta de todos. Isso acontece por uma razão bem simples: foi a época do final da minha infância e adolescência. Os anos 80 terminaram comigo entrando na faculdade. Então é claro que eu tenho saudades daquela época, mas não pelo que houve naqueles anos. Não pela modismos da época, mas pelo que ela representou na minha história pessoal.
Pensei nisso quando, ao passear sem compromisso por comunidades do Orkut, entrei justamente numa dos Anos 80 e, lá, um tópico que estava gerando muitos comentários e depoimentos era a pergunta “Qual foi a personalidade dos anos 80 que mais o decepcionou?”. Li todos os depoimentos e fiquei pensando.
A maior parte do que as pessoas diziam/escreviam relacionava-se a ídolos infantis daquela época: Simoni (do Balão Mágico), Xuxa, Muçum, Didi, Bozo, Sérgio Malandro, Menudos, Dominó, entre outros. Todos diziam-se decepcionados com os ídolos que tinham “manchado” suas biografias. Pois é…
Na verdade, todos se queixavam não de seus “ídolos” e suas condutas posteriores. Nem são assim fãs dos anos 80. O que eles lamentam é a perda da “inocência”. Lamentam o mundo real.
Cresceram e não se conformam com isso. Por outro lado, pode ser que, sinceramente, que amem os anos 80, e todas suas modas.
Não sei o que é mais assustador.
Até.
segunda-feira, novembro 21, 2005
Segunda-feira
Não vou falar de futebol.
É possível que, hoje, após tudo o que vi, ouvi e li sobre os acontecimentos esportivos do final de semana, eu realmente devesse falar de futebol. Mas não vou.
Não vale à pena.
#
Parece que foi ontem que escrevi aqui que a minha retrospectiva pessoal de 2004 ia demorar um pouco a sair porque eu precisava pensar melhor sobre tudo o que tinha acontecido no ano que passou. Tanto demorou que acabou nem saindo, não tinha sentido nenhum, em julho, eu publicar um texto falando de um ano que estava há seis meses de distância no retrovisor. Não bastasse isso, 2005 vinha sendo um ano intenso em termos de reflexão, de pensamentos a digerir.
Digerir, sim, porque não gosto de passar pela coisas (pela vida) com pressa. A comparação é com quem almoça no metrô, a caminho de algum lugar. Eu não, eu gosto de sentar e almoçar com calma, mastigar, sentir o sabor, a textura, do alimento preparado. Sim, tenho os meus dias fast food, e não são poucos, mas sei que esses não são os ideiais.
Pois é, apesar de tudo, 2005 está acabando, e já é hora de começar a olhar para trás, retrospectivamente, e analisar o que foi o ano que termina em quarenta dias. E pensar em 2006, claro.
Dois mil e seis vai ser mais um ano intenso, estou certo disso. Aliás, são os anos que são ou sou eu quem os faz intensos? De qualquer forma, mudanças se avizinham, projetos terminarão e outros terão início. Pensando bem, todos os ano são assim, por que o espanto/expectativa?
Porque 2006 vai ser um ano de duas primaveras, e isso só pode ser bom.
Até.
É possível que, hoje, após tudo o que vi, ouvi e li sobre os acontecimentos esportivos do final de semana, eu realmente devesse falar de futebol. Mas não vou.
Não vale à pena.
#
Parece que foi ontem que escrevi aqui que a minha retrospectiva pessoal de 2004 ia demorar um pouco a sair porque eu precisava pensar melhor sobre tudo o que tinha acontecido no ano que passou. Tanto demorou que acabou nem saindo, não tinha sentido nenhum, em julho, eu publicar um texto falando de um ano que estava há seis meses de distância no retrovisor. Não bastasse isso, 2005 vinha sendo um ano intenso em termos de reflexão, de pensamentos a digerir.
Digerir, sim, porque não gosto de passar pela coisas (pela vida) com pressa. A comparação é com quem almoça no metrô, a caminho de algum lugar. Eu não, eu gosto de sentar e almoçar com calma, mastigar, sentir o sabor, a textura, do alimento preparado. Sim, tenho os meus dias fast food, e não são poucos, mas sei que esses não são os ideiais.
Pois é, apesar de tudo, 2005 está acabando, e já é hora de começar a olhar para trás, retrospectivamente, e analisar o que foi o ano que termina em quarenta dias. E pensar em 2006, claro.
Dois mil e seis vai ser mais um ano intenso, estou certo disso. Aliás, são os anos que são ou sou eu quem os faz intensos? De qualquer forma, mudanças se avizinham, projetos terminarão e outros terão início. Pensando bem, todos os ano são assim, por que o espanto/expectativa?
Porque 2006 vai ser um ano de duas primaveras, e isso só pode ser bom.
Até.
domingo, novembro 20, 2005
A Sopa 05/18
Pensamentos de fast food.
Apesar do que possa inicialmente parecer, não são – neste caso em especial – pensamentos rápidos, calóricos e pouco nutritivos. Chamei-os assim simplesmente porque estava eu, ontem, a almoçar no McDonalds (sim, eu gosto de McDonalds e como lá de vez em quando, por quê, vai encarar?) e, olhando para a rua, observando o movimento dos carros e das pessoas que circulavam, já agasalhadas pelo frio que nem era tanto, por uma série de pensamentos paralelos, cheguei à questão que pautou o resto do meu dia.
Qual é a medida que usamos para pesar nossas vidas?
Pois é, difícil, assim de improviso, eu sei.
Lembrei, então, de uma história mais ou menos antiga. Estávamos, uma vez, jantando e conversando amenidades, mas não só isso. Acontece, de vez em quando: a partir de conversas amenas, leves, sem pretensões, chegamos a questões graves, profundas, importantes. Dessa vez, num restaurante indiano, em Porto Alegre, a pergunta foi “Estás satisfeito com a vida?”. A minha resposta foi direta e simples: sim. Mas causou espanto.
Causou espanto porque naquele momento, profissionalmente, eu estava num período em que – como diria um amigo – eu estava “skateando na merda”. Parênteses. Quer definição mais perfeita que essa? Pensa bem, imagine a cena. Como progredir numa situação dessas? Vai ser muito lentamente, com dificuldades, com certeza. Fecha parênteses. Pois bem, naquela época eu fazia plantões em lugares muito ruins, sem condições mínmas de trabalho, o consultório não ia lá muito bem (de manhã na ia ninguém e à tarde o movimento caía um pouquinho). Como eu poderia estar satisfeito com a vida, afinal de contas? Porque estar satisfeito significava que eu não me sentia estimulado a progredir, a crescer. Certo?
Errado.
Simplesmente porque não era essa a forma pela qual eu media o meu sucesso na vida. E o estar satisfeito – para mim, que fique claro – não significava não querer evoluir, avançar. Significava que eu estava feliz comigo, com a vida, e estar de bem com o mundo me proporcionava projetos e aspirações. Mas isso era com relação à minha profissão. E, para mim, isso nunca foi o mais importante da vida. Com certeza, é uma parte significativa, mas não a mais importante. Nunca foi, ao menos sempre tive isso bem claro.
E não importa (pelo menos não mais) que medida os outros usam para pesar suas vidas, ou até mesmo para pesar a minha. Eu sei o que tenho que fazer.
Até.
UPDATE:
Tive o prazer e o desprazer de assistir pela tevê aqui em Toronto ao jogo Corinthians X Inter. Prazer porque tive certeza que o Inter é o melhor time do Brasil, e desprazer porque assisti, ao vivo, ao Inter ser ROUBADO, ao não ser dado um penâlti claro a favor do Inter. Não bastasse isso, o juiz ainda expulsou o jogador que sofreu o pênalti!
Era mais fácil já ter dado a taça para a MSI, que a comprou.
Falei.
Apesar do que possa inicialmente parecer, não são – neste caso em especial – pensamentos rápidos, calóricos e pouco nutritivos. Chamei-os assim simplesmente porque estava eu, ontem, a almoçar no McDonalds (sim, eu gosto de McDonalds e como lá de vez em quando, por quê, vai encarar?) e, olhando para a rua, observando o movimento dos carros e das pessoas que circulavam, já agasalhadas pelo frio que nem era tanto, por uma série de pensamentos paralelos, cheguei à questão que pautou o resto do meu dia.
Qual é a medida que usamos para pesar nossas vidas?
Pois é, difícil, assim de improviso, eu sei.
Lembrei, então, de uma história mais ou menos antiga. Estávamos, uma vez, jantando e conversando amenidades, mas não só isso. Acontece, de vez em quando: a partir de conversas amenas, leves, sem pretensões, chegamos a questões graves, profundas, importantes. Dessa vez, num restaurante indiano, em Porto Alegre, a pergunta foi “Estás satisfeito com a vida?”. A minha resposta foi direta e simples: sim. Mas causou espanto.
Causou espanto porque naquele momento, profissionalmente, eu estava num período em que – como diria um amigo – eu estava “skateando na merda”. Parênteses. Quer definição mais perfeita que essa? Pensa bem, imagine a cena. Como progredir numa situação dessas? Vai ser muito lentamente, com dificuldades, com certeza. Fecha parênteses. Pois bem, naquela época eu fazia plantões em lugares muito ruins, sem condições mínmas de trabalho, o consultório não ia lá muito bem (de manhã na ia ninguém e à tarde o movimento caía um pouquinho). Como eu poderia estar satisfeito com a vida, afinal de contas? Porque estar satisfeito significava que eu não me sentia estimulado a progredir, a crescer. Certo?
Errado.
Simplesmente porque não era essa a forma pela qual eu media o meu sucesso na vida. E o estar satisfeito – para mim, que fique claro – não significava não querer evoluir, avançar. Significava que eu estava feliz comigo, com a vida, e estar de bem com o mundo me proporcionava projetos e aspirações. Mas isso era com relação à minha profissão. E, para mim, isso nunca foi o mais importante da vida. Com certeza, é uma parte significativa, mas não a mais importante. Nunca foi, ao menos sempre tive isso bem claro.
E não importa (pelo menos não mais) que medida os outros usam para pesar suas vidas, ou até mesmo para pesar a minha. Eu sei o que tenho que fazer.
Até.
UPDATE:
Tive o prazer e o desprazer de assistir pela tevê aqui em Toronto ao jogo Corinthians X Inter. Prazer porque tive certeza que o Inter é o melhor time do Brasil, e desprazer porque assisti, ao vivo, ao Inter ser ROUBADO, ao não ser dado um penâlti claro a favor do Inter. Não bastasse isso, o juiz ainda expulsou o jogador que sofreu o pênalti!
Era mais fácil já ter dado a taça para a MSI, que a comprou.
Falei.
sábado, novembro 19, 2005
A Espantosa Realidade das Cousas
(Palermo, Sicília)
A espantosa realidade das cousas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada cousa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.
Basta existir para se ser completo.
Tenho escrito bastantes poemas.
Hei de escrever muitos mais. naturalmente.
Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isto.
Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada.
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.
Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.
Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem estorvo,
Nem idéia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.
Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer cousa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.
(Fernando Pessoa)
Bom sábado a todos.
sexta-feira, novembro 18, 2005
A Primeira
Quando saí do hospital, estava nevando.
Ainda timidamente, sim, mas definitivamente neve. Não vai durar muito, nem vai ser muita. Mas é o aviso claro e límpido: o inverno está ali, pertinho, não adianta tentar negar.
Vim direto para casa pensando na vida, na passagem do tempo, que foi rápido o verão e o inverno vai se arrastar por aquilo que vai parecer uma eternidade. Paciência, é a vida.
Tinha até pensado em pegar a máquina fotográfica e tirar fotos da primeira neve aqui no High Park. Mas, ao chegar em casa, protegido pelo aquecimento, só de meias, as botas junto à porta, desisti. Fui até a janela e, usando o zoom, tirei algumas fotos daqui de cima. Depois, fiquei olhando pela janela o cair da noite, em silêncio, o chimarrão, eu e a música que vem do Pampa.
Milonga de Sete Cidades (a Estética do Frio)
(Vitor Ramil)
Fiz a milonga em sete cidades
Rigor, Profundidade, Clareza
Em Concisão, Pureza, Leveza
E Melancolia
Milonga é feita solta no tempo
Jamais milonga solta no espaço
Sete cidades frias são sua morada
Em Clareza
O pampa infinito e exato me fez andar
Em Rigor eu me entreguei
Aos caminhos mais sutis
Em Profundidade
A minha alma eu encontrei
E me vi em mim
Fiz a milonga em sete cidades
Rigor, Profundidade, Clareza
Em Concisão, Pureza, Leveza
E Melancolia
A voz de um milongueiro não morre
Não vai embora em nuvem que passa
Sete cidades frias são sua morada
Concisão tem pátios pequenos
Onde o universo eu vi
Em Pureza fui sonhar
Em Leveza o céu se abriu
Em Melancolia
A minha alma me sorriu
E eu me vi feliz
Até.
Ainda timidamente, sim, mas definitivamente neve. Não vai durar muito, nem vai ser muita. Mas é o aviso claro e límpido: o inverno está ali, pertinho, não adianta tentar negar.
Vim direto para casa pensando na vida, na passagem do tempo, que foi rápido o verão e o inverno vai se arrastar por aquilo que vai parecer uma eternidade. Paciência, é a vida.
Tinha até pensado em pegar a máquina fotográfica e tirar fotos da primeira neve aqui no High Park. Mas, ao chegar em casa, protegido pelo aquecimento, só de meias, as botas junto à porta, desisti. Fui até a janela e, usando o zoom, tirei algumas fotos daqui de cima. Depois, fiquei olhando pela janela o cair da noite, em silêncio, o chimarrão, eu e a música que vem do Pampa.
Milonga de Sete Cidades (a Estética do Frio)
(Vitor Ramil)
Fiz a milonga em sete cidades
Rigor, Profundidade, Clareza
Em Concisão, Pureza, Leveza
E Melancolia
Milonga é feita solta no tempo
Jamais milonga solta no espaço
Sete cidades frias são sua morada
Em Clareza
O pampa infinito e exato me fez andar
Em Rigor eu me entreguei
Aos caminhos mais sutis
Em Profundidade
A minha alma eu encontrei
E me vi em mim
Fiz a milonga em sete cidades
Rigor, Profundidade, Clareza
Em Concisão, Pureza, Leveza
E Melancolia
A voz de um milongueiro não morre
Não vai embora em nuvem que passa
Sete cidades frias são sua morada
Concisão tem pátios pequenos
Onde o universo eu vi
Em Pureza fui sonhar
Em Leveza o céu se abriu
Em Melancolia
A minha alma me sorriu
E eu me vi feliz
Até.
quinta-feira, novembro 17, 2005
De cara
Eu sempre enxerguei muito bem. Tinha o que – humildemente – eu chamava de ‘olhos de lince’. Quando eu atingi vinte e quatro anos, muito mais por genética do que por idade, descobri por acaso que tinha perdido uma parte desta visão. Míope, pensarão vocês, com razão. No momento em que coloquei os óculos, voltei a ver o mundo com todos os seus detalhes e cores. Não tirei mais os óculos. Não admito não ver o mundo como ele é.
Esta é a mesma relação que sempre tive com as drogas ilícitas. Partindo do princípio que todas elas embotam a percepção que se tem do mundo ao redor, não posso usá-las. Com o álcool é mais ou menos assim, também. Nunca bebi a ponto de esquecer ou não saber o que estava fazendo. Mesmo quando, após uns uísques a mais, anunciei a todos que eu ia me casar com a Jacque, eu sabia o que estava fazendo, porque já estávamos iniciando a reforma do nosso apartamento e já procurávamos um local para a festa.
Voltando à percepção do mundo e às drogas, não posso aceitar o uso de qualquer substância para “viajar”. A grande viagem é viver de cara, ser ‘louco de cara’. Os melhores carnavais que passei foram quando eu não podia consumir álcool por razões médicas e me divertia fazendo e dizendo o que eu quisesse, totalmente lúcido. Viver, por si só, é uma grande loucura, se tivermos a “mente aberta, a espinha ereta, e o coração tranqüilo”.
E, para não terminar mais um texto sem um chavão, Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.
Até.
Esta é a mesma relação que sempre tive com as drogas ilícitas. Partindo do princípio que todas elas embotam a percepção que se tem do mundo ao redor, não posso usá-las. Com o álcool é mais ou menos assim, também. Nunca bebi a ponto de esquecer ou não saber o que estava fazendo. Mesmo quando, após uns uísques a mais, anunciei a todos que eu ia me casar com a Jacque, eu sabia o que estava fazendo, porque já estávamos iniciando a reforma do nosso apartamento e já procurávamos um local para a festa.
Voltando à percepção do mundo e às drogas, não posso aceitar o uso de qualquer substância para “viajar”. A grande viagem é viver de cara, ser ‘louco de cara’. Os melhores carnavais que passei foram quando eu não podia consumir álcool por razões médicas e me divertia fazendo e dizendo o que eu quisesse, totalmente lúcido. Viver, por si só, é uma grande loucura, se tivermos a “mente aberta, a espinha ereta, e o coração tranqüilo”.
E, para não terminar mais um texto sem um chavão, Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.
Até.
quarta-feira, novembro 16, 2005
Inconveniência útil
Eu nunca gostei de guarda-chuvas.
Nada assim muito extremo, contudo, a ponto de dizer que “eu odeio”. Até porque odiar algo ou alguém é um traço… assim… vamos dizer… meio afrescalhado. Mas tudo bem, tem gente que odeia coisas ou pessoas, cada um, cada um. Eu não. Sou tranquilo, na boa, na paz. Apenas nunca gostei de guarda-chuvas, fazer o quê?
Não que eu ache eles inúteis ou algo do gênero. Eventualmente eles até cumprem sua função, que é evitar que molhemos o cabelo acabemos com o penteado arruinado. Pronto. “Penteado arruinado” é uma afirmação típica de um dono de peixe… bom deixa pra lá, o assunto hoje é outro.
O fato é que em Porto Alegre, desde que tive o meu primeiro carro, o saudoso passatão que a Jacque teve que empurrar algumas vezes, parei de usar guarda-chuva porque não havia mais a necessidade. O pior que podia acontecer era eu me molhar um pouco na corrida entre o carro e a proteção do local para onde eu estava indo. Nada muito grave, então.
Morando em Toronto, entretanto, as coisas mudaram.
Como não tenho carro – e nem carteira de motorista canadense e mesmo que tivesse não usaria o carro para ir trabalhar - uso o transporte público, metrô e bonde. Com isso, agora estou beum mais suscetível às intempéries. E voltei a usar guarda-chuva. E tenho gostado da experiência, por incrível que pareça.
Essa semana, principalmente ontem, choveu bastante aqui. Não só isso: choveu e ventou. E ventou muito. Foi quando relembrei de um dos esportes intrínsecos aos guarda-chuvas: driblar o vento para não tê-lo arrancado das mãos e destruído. Muito legal mesmo. E úmido. Frio. E escurecendo cedo. E vem mais frio por aí…
Verão, cadê você??
Um mês, um mês.
Até.
Nada assim muito extremo, contudo, a ponto de dizer que “eu odeio”. Até porque odiar algo ou alguém é um traço… assim… vamos dizer… meio afrescalhado. Mas tudo bem, tem gente que odeia coisas ou pessoas, cada um, cada um. Eu não. Sou tranquilo, na boa, na paz. Apenas nunca gostei de guarda-chuvas, fazer o quê?
Não que eu ache eles inúteis ou algo do gênero. Eventualmente eles até cumprem sua função, que é evitar que molhemos o cabelo acabemos com o penteado arruinado. Pronto. “Penteado arruinado” é uma afirmação típica de um dono de peixe… bom deixa pra lá, o assunto hoje é outro.
O fato é que em Porto Alegre, desde que tive o meu primeiro carro, o saudoso passatão que a Jacque teve que empurrar algumas vezes, parei de usar guarda-chuva porque não havia mais a necessidade. O pior que podia acontecer era eu me molhar um pouco na corrida entre o carro e a proteção do local para onde eu estava indo. Nada muito grave, então.
Morando em Toronto, entretanto, as coisas mudaram.
Como não tenho carro – e nem carteira de motorista canadense e mesmo que tivesse não usaria o carro para ir trabalhar - uso o transporte público, metrô e bonde. Com isso, agora estou beum mais suscetível às intempéries. E voltei a usar guarda-chuva. E tenho gostado da experiência, por incrível que pareça.
Essa semana, principalmente ontem, choveu bastante aqui. Não só isso: choveu e ventou. E ventou muito. Foi quando relembrei de um dos esportes intrínsecos aos guarda-chuvas: driblar o vento para não tê-lo arrancado das mãos e destruído. Muito legal mesmo. E úmido. Frio. E escurecendo cedo. E vem mais frio por aí…
Verão, cadê você??
Um mês, um mês.
Até.
terça-feira, novembro 15, 2005
Um livro
Semana passada eu comprei um livro que eu queria ler já há um tempinho: Freakonomics, da dupla Steven D Levitt e Stephen J Dubner, o primeiro economista e o segundo jornalista. Esse livro já está há trinta semanas na lista de mais vendidos New York Times.
O interessante é que hoje, depois de muito tempo, entrei no site da revista Veja e percebi que esse mesmo livro e seu autor são a capa a edição dessa semana. Li a reportagem e a entrevista com o economista, que é PhD em economia pelo MIT e professor da Universidade de Chicago. É muito interessante, muito. Recomendo a leitura, com certeza.
Lá pelas tantas, durante a entrevista, perguntam a ele qual o conselho que daria aos governantes de metrópoles cercadas por favelas dominadas pelo tráfico de drogas. A resposta, direta e objetiva: punir severamente os usuários. Perfeito, perfeito. É o que sempre pensei sobre o assunto.
É uma questão simples. Se punir severamente o uso, a demanda vai diminuir, e diminuirá a violência entre os traficantes porque não vai valer a pena brigar pelo direito de vendê-las. Por outro lado, se não se tem problema com o uso, a saída é legalizá-lo. Mas entre as duas opções, ele afirma preferir a primeira, de punir o usuário.
Simples, não?
Eu acho.
Até.
O interessante é que hoje, depois de muito tempo, entrei no site da revista Veja e percebi que esse mesmo livro e seu autor são a capa a edição dessa semana. Li a reportagem e a entrevista com o economista, que é PhD em economia pelo MIT e professor da Universidade de Chicago. É muito interessante, muito. Recomendo a leitura, com certeza.
Lá pelas tantas, durante a entrevista, perguntam a ele qual o conselho que daria aos governantes de metrópoles cercadas por favelas dominadas pelo tráfico de drogas. A resposta, direta e objetiva: punir severamente os usuários. Perfeito, perfeito. É o que sempre pensei sobre o assunto.
É uma questão simples. Se punir severamente o uso, a demanda vai diminuir, e diminuirá a violência entre os traficantes porque não vai valer a pena brigar pelo direito de vendê-las. Por outro lado, se não se tem problema com o uso, a saída é legalizá-lo. Mas entre as duas opções, ele afirma preferir a primeira, de punir o usuário.
Simples, não?
Eu acho.
Até.
segunda-feira, novembro 14, 2005
Outro mundo
Esse não é um texto de auto-ajuda.
De qualquer forma, uma verdade é incontestável: algumas vezes na vida, nos deparamos com momentos que alteram o curso do mundo como vivemos, alteram a forma de nos relacionarmos com o universo. Nem sempre percebemos isso na hora, enquanto o evento ainda está em curso.
Ou seja, na maior parte das vezes, é analisando nossas próprias vidas retrospectivamente que conseguimos determinar, apontar esses acontecimentos. E o que resta é sempre a dúvida: se tivéssemos percebido a tempo, teríamos feito algo diferente? Não que eu queira ficar arbitrariamente determinando como o mundo funciona, mas humildemente afirmo que esse é uma das maiores angústias do ser humano.
Por outro lado, naquelas poucas vezes em que percebemos estar vivendo um momento desses, certamente utilizamos a situação para nos tornarmos pessoas melhores. Ao menos é o que devemos tentar.
Essa pequena introdução apenas para dizer que hoje vivi um desses momentos em que percebemos que uma pequena ação nossa fez o mundo como conhecíamos mudar. Desde que passei a mandar minhas camisas sociais para uma lavanderia (onde as lavam e passam) minha vida se tornou MUITO mais fácil.
Tudo ganhou nova cor, a vida ficou mais leve…
Até.
De qualquer forma, uma verdade é incontestável: algumas vezes na vida, nos deparamos com momentos que alteram o curso do mundo como vivemos, alteram a forma de nos relacionarmos com o universo. Nem sempre percebemos isso na hora, enquanto o evento ainda está em curso.
Ou seja, na maior parte das vezes, é analisando nossas próprias vidas retrospectivamente que conseguimos determinar, apontar esses acontecimentos. E o que resta é sempre a dúvida: se tivéssemos percebido a tempo, teríamos feito algo diferente? Não que eu queira ficar arbitrariamente determinando como o mundo funciona, mas humildemente afirmo que esse é uma das maiores angústias do ser humano.
Por outro lado, naquelas poucas vezes em que percebemos estar vivendo um momento desses, certamente utilizamos a situação para nos tornarmos pessoas melhores. Ao menos é o que devemos tentar.
Essa pequena introdução apenas para dizer que hoje vivi um desses momentos em que percebemos que uma pequena ação nossa fez o mundo como conhecíamos mudar. Desde que passei a mandar minhas camisas sociais para uma lavanderia (onde as lavam e passam) minha vida se tornou MUITO mais fácil.
Tudo ganhou nova cor, a vida ficou mais leve…
Até.
domingo, novembro 13, 2005
A Sopa 05/17
O dia em que encontrei a Julia Roberts.
Eu sabia que mais cedo ou mais tarde isso ia acontecer. Vocês sabem, um homem não pode fugir do seu destino. O que está escrito, está escrito. E esse encontro estava escrito no livro do meu destino há muito tempo.
Tanto eu sabia que, desde muitos anos, sempre que iniciava um relacionamento, eu avisava de antemão que – quando chegasse a hora e ela viesse me buscar – não adiantaria gritos, choros ou brigas. Não era justo? Bom, a vida não é justa mesmo. Pelo menos eu estava sendo honesto. Era como uma sentença de morte, inevitável.
Uma vez, já casado, decidi fugir disto que já parecia uma maldição. Recebi um convite para passar um tempo morando em Los Angeles, fazendo algumas pesquisas. Inicialmente, aceitei, mas logo percebi que estaria perigosamente próximo da Hollywood, o que seria facilitar as coisas. Declinei do convite com uma mentira: “Eu não falaaaar seu língua”, disse. Claro que ninguém entendeu isso no aeroporto. Apelei. “The voices keep telling me to kill the president!”. Funcionou. Não fui morar em Los Angeles e, além disso, fiquei escondido por algum tempo. Em Guantánamo.
Vou contar a vocês, não é brincadeira aquilo lá. Já naquela época, eles usavam a tortura de forma indiscriminada. Não só isso, tortura importada do Brasil. Lembrou de um DJ (naquela época chamávamos de dee-jay…) que passou vinte e quatro horas ininterruptas tocando pagode. Foi desumano. E a Convenção de Genebra, me perguntava durante aquela interminável sessão de horrores. Só de lembrar daquilo, ainda tenho náuseas.
De qualquer forma, voltei para casa. Passaram-se os anos. Tudo ia bem. Família, amigos, trabalho, tudo. Fui, então, convidado para vir para o Canadá passar dois anos fazendo pesquisa na University of Toronto. Aceitei na hora, afinal Toronto e Los Angeles são bem distantes uma da outra. O que eu não sabia naquele momento é que Toronto é um grande centro para a indústria cinematográfica, e muitos filmes são feitos aqui.
Quando me dei conta do risco que estava correndo, já era tarde.
Estava eu numa livraria, na seção de biografias, procurando – num momento narciso-psicótico – a minha própria biografia quando alguém põe a mão no meu ombro. Viro para trás e é ela. Julia Roberts, com aquele sorriso que toma conta de todo o ambiente. Por um instante – por uma fração de segundo em que o mundo, o universo parou – nos olhamos, como se nos conhecêssemos desde sempre. Nesse momento, minha vida passou em frente aos meus olhos com num videoclipe, revi pessoas e momentos passados, reavaliei decisões, refiz caminhos.
- Vamos?, ela perguntou.
- Não posso, lamento.
- Mas não é uma opção que tens.
- Desculpa, mas preciso ir embora.
- Mas…
- Vou acordar.
Tocou o despertador.
Até.
Eu sabia que mais cedo ou mais tarde isso ia acontecer. Vocês sabem, um homem não pode fugir do seu destino. O que está escrito, está escrito. E esse encontro estava escrito no livro do meu destino há muito tempo.
Tanto eu sabia que, desde muitos anos, sempre que iniciava um relacionamento, eu avisava de antemão que – quando chegasse a hora e ela viesse me buscar – não adiantaria gritos, choros ou brigas. Não era justo? Bom, a vida não é justa mesmo. Pelo menos eu estava sendo honesto. Era como uma sentença de morte, inevitável.
Uma vez, já casado, decidi fugir disto que já parecia uma maldição. Recebi um convite para passar um tempo morando em Los Angeles, fazendo algumas pesquisas. Inicialmente, aceitei, mas logo percebi que estaria perigosamente próximo da Hollywood, o que seria facilitar as coisas. Declinei do convite com uma mentira: “Eu não falaaaar seu língua”, disse. Claro que ninguém entendeu isso no aeroporto. Apelei. “The voices keep telling me to kill the president!”. Funcionou. Não fui morar em Los Angeles e, além disso, fiquei escondido por algum tempo. Em Guantánamo.
Vou contar a vocês, não é brincadeira aquilo lá. Já naquela época, eles usavam a tortura de forma indiscriminada. Não só isso, tortura importada do Brasil. Lembrou de um DJ (naquela época chamávamos de dee-jay…) que passou vinte e quatro horas ininterruptas tocando pagode. Foi desumano. E a Convenção de Genebra, me perguntava durante aquela interminável sessão de horrores. Só de lembrar daquilo, ainda tenho náuseas.
De qualquer forma, voltei para casa. Passaram-se os anos. Tudo ia bem. Família, amigos, trabalho, tudo. Fui, então, convidado para vir para o Canadá passar dois anos fazendo pesquisa na University of Toronto. Aceitei na hora, afinal Toronto e Los Angeles são bem distantes uma da outra. O que eu não sabia naquele momento é que Toronto é um grande centro para a indústria cinematográfica, e muitos filmes são feitos aqui.
Quando me dei conta do risco que estava correndo, já era tarde.
Estava eu numa livraria, na seção de biografias, procurando – num momento narciso-psicótico – a minha própria biografia quando alguém põe a mão no meu ombro. Viro para trás e é ela. Julia Roberts, com aquele sorriso que toma conta de todo o ambiente. Por um instante – por uma fração de segundo em que o mundo, o universo parou – nos olhamos, como se nos conhecêssemos desde sempre. Nesse momento, minha vida passou em frente aos meus olhos com num videoclipe, revi pessoas e momentos passados, reavaliei decisões, refiz caminhos.
- Vamos?, ela perguntou.
- Não posso, lamento.
- Mas não é uma opção que tens.
- Desculpa, mas preciso ir embora.
- Mas…
- Vou acordar.
Tocou o despertador.
Até.
sábado, novembro 12, 2005
Angústia
Esse blog não é nenhum fenômeno de audiência.
Existem outros que têm um freqüência diária de visitas MUITO maior que esse aqui, o que é perfeitamente explicável, afinal não tenho um blog de utilidade pública, não é seu objetivo ajudar as pessoas que querem vir para o Canadá, por exemplo, ou prestar esclarecimentos médicos ou ser útil.
É isso, esse blog não tem – em princípio - nenhuma utilidade específica. Foi projetado, há quase ano e meio, para ser um canal de comunicação entre os meus amigos no Brasil e eu, no Canadá, enquanto eu estivesse morando aqui (na época não sabia se seriam um, dois ou três anos). E, claro, praticar a escrita, algo que tanto me agrada (e que continuo insistindo em fazer).
O interessante é que, para o seu objetivo inicial, ele pouco serviu, afinal são poucos os meus amigos de Porto Alegre que o lêem, com exceção da família. Por outro lado, ele serviu como forma de conhecer muita gente aqui no Canadá (não só Toronto) e além do Atlântico. Alguns eu tive o prazer de conhecer pessoalmente, e até temos uma turma por aqui. Outros, mesmo não conhecendo pessoalmente, são pessoas que eu sinceramente gostaria de sentar para conversar, tomar uma cerveja, ou mesmo vinho, e falar sobre a vida.
Sem dúvidas, a internet – além de servir para me manter próximo das minhas referências, das minhas raízes, serviu também para ampliar o meu mundo ou, melhor, construir pontes que normalmente não seriam construídas. Mas apesar disso, sigo com uma dúvida.
Diariamente, o blog já apresentou uma média de mais 100 acessos diários, o que não é muito, eu sei, mas não é esse o caso. Digamos, assim, conservadoramente, que esses 100 acessos tenham sido feitos por 50 pessoas, certo? E dessas 50, 25 chegaram a ele por acaso e não quiseram ler. Sobram 25 leitores, vinte e quatro se contarmos o autor como um deles. Como explicar que tenham apenas – em média – três ou quatro comentários?
Quem é você, leitor, que vem a essa humilde casa? Identifique-se, apresente-se. Ficaria muito feliz em saber quem é você.
#
Com ajuda da Aninha, estou disponibilizando o vídeo da banda ‘I Love Lucy’ (a Banda da Sopa menos eu e com o Leonardo, grande músico e cunhado do Magno), em show no aniversário da querida amiga e afilhada Lúcia.
Vejam o vídeo: Banda 'I Love Lucy' - Fábrica
Existem outros que têm um freqüência diária de visitas MUITO maior que esse aqui, o que é perfeitamente explicável, afinal não tenho um blog de utilidade pública, não é seu objetivo ajudar as pessoas que querem vir para o Canadá, por exemplo, ou prestar esclarecimentos médicos ou ser útil.
É isso, esse blog não tem – em princípio - nenhuma utilidade específica. Foi projetado, há quase ano e meio, para ser um canal de comunicação entre os meus amigos no Brasil e eu, no Canadá, enquanto eu estivesse morando aqui (na época não sabia se seriam um, dois ou três anos). E, claro, praticar a escrita, algo que tanto me agrada (e que continuo insistindo em fazer).
O interessante é que, para o seu objetivo inicial, ele pouco serviu, afinal são poucos os meus amigos de Porto Alegre que o lêem, com exceção da família. Por outro lado, ele serviu como forma de conhecer muita gente aqui no Canadá (não só Toronto) e além do Atlântico. Alguns eu tive o prazer de conhecer pessoalmente, e até temos uma turma por aqui. Outros, mesmo não conhecendo pessoalmente, são pessoas que eu sinceramente gostaria de sentar para conversar, tomar uma cerveja, ou mesmo vinho, e falar sobre a vida.
Sem dúvidas, a internet – além de servir para me manter próximo das minhas referências, das minhas raízes, serviu também para ampliar o meu mundo ou, melhor, construir pontes que normalmente não seriam construídas. Mas apesar disso, sigo com uma dúvida.
Diariamente, o blog já apresentou uma média de mais 100 acessos diários, o que não é muito, eu sei, mas não é esse o caso. Digamos, assim, conservadoramente, que esses 100 acessos tenham sido feitos por 50 pessoas, certo? E dessas 50, 25 chegaram a ele por acaso e não quiseram ler. Sobram 25 leitores, vinte e quatro se contarmos o autor como um deles. Como explicar que tenham apenas – em média – três ou quatro comentários?
Quem é você, leitor, que vem a essa humilde casa? Identifique-se, apresente-se. Ficaria muito feliz em saber quem é você.
#
Com ajuda da Aninha, estou disponibilizando o vídeo da banda ‘I Love Lucy’ (a Banda da Sopa menos eu e com o Leonardo, grande músico e cunhado do Magno), em show no aniversário da querida amiga e afilhada Lúcia.
Vejam o vídeo: Banda 'I Love Lucy' - Fábrica
sexta-feira, novembro 11, 2005
Um texto antigo reciclado
Pessoas são estranhas.
E estranha é a forma com que nos relacionamos entre nós. Nos mais diversos tipos de associações, desde comerciais até a mais sólida e profunda: a amizade. Os amigos (com a família incluída aí) são a coisa mais importante que há no mundo. E devemos fazer tudo para mantê-los. Por isso não entendo as pessoas que se afastam e somem de nossas vidas. Não falo de conhecidos, mas de amigos. Só que, pensando bem, amigos não se afastam nem vão embora, mesmo que morem longe. Amigos não estão, amigos são. Os outros, esses não contam.
Também sobre este assunto: amizade é uma coisa, parceria é outra. Explico: nem todo amigo é parceiro, mas todo parceiro é amigo. E não estou falando de sexo, mentes infectas. Falo deste plus da amizade que significa convivência freqüente, dia-a-dia. Ou seja, companheirismo. É possível que só vejas um amigo de vez quando (na Sopa de Ervilhas, por exemplo), mas o parceiro é o cara que vai ao jogo de futebol contigo, ou fazem um churrasco toda semana, ou tocam juntos, sei lá. É o amigo que participa da tua rotina. Não há diferença de importância entre os grupos, em princípio. Todos têm o seu lugar.
Disse tudo isto para homenagear dois grandes parceiros que vivem um grande momento: Alexandre Magno e o Márcio Neves, por coincidência (ou não) os outros dois dos integrantes da banda. Recebi por email um clip deles tocando no aniversário da Lúcia. Muito bom, muito bom. Pena que não sei colocar vídeos no blog...
Até.
E estranha é a forma com que nos relacionamos entre nós. Nos mais diversos tipos de associações, desde comerciais até a mais sólida e profunda: a amizade. Os amigos (com a família incluída aí) são a coisa mais importante que há no mundo. E devemos fazer tudo para mantê-los. Por isso não entendo as pessoas que se afastam e somem de nossas vidas. Não falo de conhecidos, mas de amigos. Só que, pensando bem, amigos não se afastam nem vão embora, mesmo que morem longe. Amigos não estão, amigos são. Os outros, esses não contam.
Também sobre este assunto: amizade é uma coisa, parceria é outra. Explico: nem todo amigo é parceiro, mas todo parceiro é amigo. E não estou falando de sexo, mentes infectas. Falo deste plus da amizade que significa convivência freqüente, dia-a-dia. Ou seja, companheirismo. É possível que só vejas um amigo de vez quando (na Sopa de Ervilhas, por exemplo), mas o parceiro é o cara que vai ao jogo de futebol contigo, ou fazem um churrasco toda semana, ou tocam juntos, sei lá. É o amigo que participa da tua rotina. Não há diferença de importância entre os grupos, em princípio. Todos têm o seu lugar.
Disse tudo isto para homenagear dois grandes parceiros que vivem um grande momento: Alexandre Magno e o Márcio Neves, por coincidência (ou não) os outros dois dos integrantes da banda. Recebi por email um clip deles tocando no aniversário da Lúcia. Muito bom, muito bom. Pena que não sei colocar vídeos no blog...
Até.
quinta-feira, novembro 10, 2005
Não dá para confiar
As palavras, não se pode confiar nelas.
Por mais que dominemos o vernáculo, sejamos íntimos de substantivos, verbos, preposições e até de orações subordinadas substantivas objetivas diretas, às vezes as palavras se rebelam e – mesmo que queiramos dizer determinada coisa – elas podem querer dizer outra. Aí não existe erudição que resolva.
É o mesmo caso de escritores que dizem que os personagens ganham vida própria e – a despeito na intenção inicial do autor – acabam se impondo na história.
Aconteceu comigo ontem.
A idéia inicial da crônica de ontem era escrever sobre os bondes aqui em Toronto, minha relação com eles, sua comodidade. Avançaria falando que a cidade era feita também (e quase principalmente) para pedestres e usuários do transporte público, bem diferente de algumas cidades norte-americanas e até brasileiras. Porto Alegre, por exemplo: a vida de quem precisa se deslocar para mais de um lugar durante o dia é bem complicada, bem ao contrário daqui.
Enfim, era sobre transporte público que eu queria falar, e não sobre minhas teorias sobre o mundo, sobre a vida. Mas fui traído pela fluidez das idéias que se atiraram e tomaram conta do texto.
Palavras, palavras.
Por isso eu sempre digo: mantenha suas palavras por perto e sob atenta vigília. Nem sempre vai se conseguir contê-las, mas temos que tentar...
#
O Frio está a caminho, não há mais volta.
Hoje amanheceu com uma temperatura de 1ºC, ventando muito, mas sol entre nuvens. A saída de casa, prudente, cautelosa, luvas, cachecol e casaco. Saindo do hospital, no meio da manhã, para uma caminhada até o laboratório a quatro quadras de distância, encontrei o sol que a cada dia parece mais fraco, débil, gelando minhas mãos nessa hora sem as luvas.
A caminho de casa, já escurecendo antes das 17h30, caía uma pequena garoa que pouco incomodava. A sensação térmica é de –1ºC. A previsão é que possa nevar um pouco agora à noite e amanhã de manhã.
Com o inverno, está chegando a hora do chimarrão e das milongas…
Até.
Por mais que dominemos o vernáculo, sejamos íntimos de substantivos, verbos, preposições e até de orações subordinadas substantivas objetivas diretas, às vezes as palavras se rebelam e – mesmo que queiramos dizer determinada coisa – elas podem querer dizer outra. Aí não existe erudição que resolva.
É o mesmo caso de escritores que dizem que os personagens ganham vida própria e – a despeito na intenção inicial do autor – acabam se impondo na história.
Aconteceu comigo ontem.
A idéia inicial da crônica de ontem era escrever sobre os bondes aqui em Toronto, minha relação com eles, sua comodidade. Avançaria falando que a cidade era feita também (e quase principalmente) para pedestres e usuários do transporte público, bem diferente de algumas cidades norte-americanas e até brasileiras. Porto Alegre, por exemplo: a vida de quem precisa se deslocar para mais de um lugar durante o dia é bem complicada, bem ao contrário daqui.
Enfim, era sobre transporte público que eu queria falar, e não sobre minhas teorias sobre o mundo, sobre a vida. Mas fui traído pela fluidez das idéias que se atiraram e tomaram conta do texto.
Palavras, palavras.
Por isso eu sempre digo: mantenha suas palavras por perto e sob atenta vigília. Nem sempre vai se conseguir contê-las, mas temos que tentar...
#
O Frio está a caminho, não há mais volta.
Hoje amanheceu com uma temperatura de 1ºC, ventando muito, mas sol entre nuvens. A saída de casa, prudente, cautelosa, luvas, cachecol e casaco. Saindo do hospital, no meio da manhã, para uma caminhada até o laboratório a quatro quadras de distância, encontrei o sol que a cada dia parece mais fraco, débil, gelando minhas mãos nessa hora sem as luvas.
A caminho de casa, já escurecendo antes das 17h30, caía uma pequena garoa que pouco incomodava. A sensação térmica é de –1ºC. A previsão é que possa nevar um pouco agora à noite e amanhã de manhã.
Com o inverno, está chegando a hora do chimarrão e das milongas…
Até.
quarta-feira, novembro 09, 2005
O bonde, como há um ano
Há mais ou menos um ano, aqui neste mesmo blog, escrevi contando que eu gostava de andar de bonde aqui em Toronto. Continuo gostando.
Depois daquela primeira crônica, terminou o outono, o inverno chegou e, apesar de longo, também se foi, a primavera veio tímida e tímida passou, e verão foi quente e de dias longos e céu azul como devem ser os verões, e avançamos novamente pelo outono em direção a mais um final de ano. A vida passa, inexorável, e vamos criando pontes, estreitando laços e fixando raízes, que ficarão aqui mesmo depois que eu me for, e aqui não falo de morte, mas sim de retornar para casa.
Ontem, voltando do hospital, vinha eu no bonde pensando na vida. Havia esquecido de levar a música nossa de cada dia, então estava absorto em pensamentos, quando peguei de dentro da minha pasta o meu caderno de anotações e, imediatamente formulei esquematicamente uma teoria sobre a vida. Mais uma, aliás, entre as várias que tenho formulado ao longo dos anos e, em especial, no último, em que venho morando sozinho, o que proporciona mais tempo para pensar, apesar de este ter diminuído desde que tenho televisão. O que não é ruim, contudo.
Provavelmente, não é uma teoria nova, inédita. Alguém já deve ter pensado nela, afinal as pessoas vêm pensando e formulando teorias já há alguns mil anos. Mas é minha, já que não copiei de ninguém, não? Sou um autodidata, sob certo prisma.
Pois bem, tive a idéia e esbocei um esquema enquanto andava de bonde. Poderíamos chamá-lo de ‘Bonde Filosófico’, então? Bobagem, bobagem…
Não, não vou falar o que é. É apenas uma idéia, por enquanto, e ainda preciso desenvolvê-la, mas ajuda a explicar algumas situações que todos vivemos. Quando tiver mais clara e simples (como devem ser as boas teorias), eu explico aqui.
Até.
Depois daquela primeira crônica, terminou o outono, o inverno chegou e, apesar de longo, também se foi, a primavera veio tímida e tímida passou, e verão foi quente e de dias longos e céu azul como devem ser os verões, e avançamos novamente pelo outono em direção a mais um final de ano. A vida passa, inexorável, e vamos criando pontes, estreitando laços e fixando raízes, que ficarão aqui mesmo depois que eu me for, e aqui não falo de morte, mas sim de retornar para casa.
Ontem, voltando do hospital, vinha eu no bonde pensando na vida. Havia esquecido de levar a música nossa de cada dia, então estava absorto em pensamentos, quando peguei de dentro da minha pasta o meu caderno de anotações e, imediatamente formulei esquematicamente uma teoria sobre a vida. Mais uma, aliás, entre as várias que tenho formulado ao longo dos anos e, em especial, no último, em que venho morando sozinho, o que proporciona mais tempo para pensar, apesar de este ter diminuído desde que tenho televisão. O que não é ruim, contudo.
Provavelmente, não é uma teoria nova, inédita. Alguém já deve ter pensado nela, afinal as pessoas vêm pensando e formulando teorias já há alguns mil anos. Mas é minha, já que não copiei de ninguém, não? Sou um autodidata, sob certo prisma.
Pois bem, tive a idéia e esbocei um esquema enquanto andava de bonde. Poderíamos chamá-lo de ‘Bonde Filosófico’, então? Bobagem, bobagem…
Não, não vou falar o que é. É apenas uma idéia, por enquanto, e ainda preciso desenvolvê-la, mas ajuda a explicar algumas situações que todos vivemos. Quando tiver mais clara e simples (como devem ser as boas teorias), eu explico aqui.
Até.
terça-feira, novembro 08, 2005
Pois é
A gente percebe que está ficando velho quando a geração seguinte começa a – sutilmente – te dar “dicas” de como funcionam as coisas mais óbvias.
Eu já cheguei nessa fase.
Domingo passado, falávamos, via Skype, com vídeo do Messenger, eu em Toronto e o pessoal – a Jacque, Paulo, Karina, Beta, Bibi e meus sogros – em Porto Alegre. Em meio à conversa, entre sincronizar as coisas, várias janelas abertas no browser, a Roberta me enviando mensagens e desenhos pelo Msn, eu disse a ela que não estava vendo tudo porque tinham várias janelas abertas (porque eu queria ficar vendo-os na webcam enquanto falávamos). Aí ela resolveu ajudar: “Minimiza, Dindo…”.
Ah tá, era só o que faltava. Olhei para ela e tive que perguntar se ela estava querendo ensinar o padre a rezar missa, um dito popular. Então lembrei de outro: chegou o tempo em que os postes estão urinando no cachorros. Que loucura…
Aí ontem, novamente no Skype com a Roberta, nove anos, e o Bibi, cinco, este último, do alto de sua experiência em informática, me diz “Dindo, abre o Msn para nos vermos na webcam”.
Eu não aguento…
#
Hoje encontrei o meu supervisor. Ele entrou na sala com a cara de decepcionado, e comentou: “Puxa vida, não podemos nem ir mais para Paris…”.
Sobre isso, na televisão ontem, no Stephen Colbert Report, foi dito que os Estados Unidos estão felizes com o que está acontecendo na França porque estão presenciando um país tomado pelo ódio e pela revolta, mas ninguém pode culpá-los por isso…
Até.
Eu já cheguei nessa fase.
Domingo passado, falávamos, via Skype, com vídeo do Messenger, eu em Toronto e o pessoal – a Jacque, Paulo, Karina, Beta, Bibi e meus sogros – em Porto Alegre. Em meio à conversa, entre sincronizar as coisas, várias janelas abertas no browser, a Roberta me enviando mensagens e desenhos pelo Msn, eu disse a ela que não estava vendo tudo porque tinham várias janelas abertas (porque eu queria ficar vendo-os na webcam enquanto falávamos). Aí ela resolveu ajudar: “Minimiza, Dindo…”.
Ah tá, era só o que faltava. Olhei para ela e tive que perguntar se ela estava querendo ensinar o padre a rezar missa, um dito popular. Então lembrei de outro: chegou o tempo em que os postes estão urinando no cachorros. Que loucura…
Aí ontem, novamente no Skype com a Roberta, nove anos, e o Bibi, cinco, este último, do alto de sua experiência em informática, me diz “Dindo, abre o Msn para nos vermos na webcam”.
Eu não aguento…
#
Hoje encontrei o meu supervisor. Ele entrou na sala com a cara de decepcionado, e comentou: “Puxa vida, não podemos nem ir mais para Paris…”.
Sobre isso, na televisão ontem, no Stephen Colbert Report, foi dito que os Estados Unidos estão felizes com o que está acontecendo na França porque estão presenciando um país tomado pelo ódio e pela revolta, mas ninguém pode culpá-los por isso…
Até.
segunda-feira, novembro 07, 2005
Mais sobre o exílio
Alguns assuntos me são recorrentes.
E eu gosto disso, mas isso pode ser tornar desagradável para os leitores. Azar, não posso fazer nada ou, melhor, posso, mas não nesse caso não vou. Já deixei de publicar texto seguindo conselho de amigos, e para não me incomodar, como no caso de texto em que eu começava afirmando que Hitler era tão humano quanto você, caro leitor, ou eu, e discutia sobre o assunto e sobre o holocausto.
Era um texto bem fundamentado e coerente, que falaria sobre o ser humano em geral e a violência, e que, se corretamente lido, não haveria uma voz de discordância sobre ele. Mas aí estava o problema: eu começaria o texto com uma provocação para prender a atenção, mas que resultaria em comentários raivosos indignados comigo, como na vez em que algumas pessoas pensaram que eu estava falando mal dos homossexuais.
O problema seria exatamente esse: cegas pela primeira afirmação que – repito – seria apenas para prender o leitor, não leriam o resto do texto, ou – se lessem – entenderiam algo totalmente diverso daquilo estaria efetivamente escrito. E eu seria taxado de nazista, sem dúvida. E jogariam pedras virtuais em mim por isso.
Mas isso não deve ser surpresa, alguém ler algo com raiva e deturpar o sentido daquilo que leu. Se calmas, tranquilas, boa parcela das pessoas que lêem não entendem o que leram, o que esperar de quando estão alteradas? Analfabeto funcional, é o nome que se dá a quem tem esse problema, e não são poucos. Por quê entre leitores de blogs isso não aconteceria? Acontece, sim, e muito.
Tergiversei, tergiversei, e não escrevi sobre nenhum dos meus assuntos recorrentes. Hoje seria alguma coisa sobre o exílio, mas não importa mais. Escrevi sobre outra coisa. Ou será que continuo me repetindo?
Sei lá.
Até.
E eu gosto disso, mas isso pode ser tornar desagradável para os leitores. Azar, não posso fazer nada ou, melhor, posso, mas não nesse caso não vou. Já deixei de publicar texto seguindo conselho de amigos, e para não me incomodar, como no caso de texto em que eu começava afirmando que Hitler era tão humano quanto você, caro leitor, ou eu, e discutia sobre o assunto e sobre o holocausto.
Era um texto bem fundamentado e coerente, que falaria sobre o ser humano em geral e a violência, e que, se corretamente lido, não haveria uma voz de discordância sobre ele. Mas aí estava o problema: eu começaria o texto com uma provocação para prender a atenção, mas que resultaria em comentários raivosos indignados comigo, como na vez em que algumas pessoas pensaram que eu estava falando mal dos homossexuais.
O problema seria exatamente esse: cegas pela primeira afirmação que – repito – seria apenas para prender o leitor, não leriam o resto do texto, ou – se lessem – entenderiam algo totalmente diverso daquilo estaria efetivamente escrito. E eu seria taxado de nazista, sem dúvida. E jogariam pedras virtuais em mim por isso.
Mas isso não deve ser surpresa, alguém ler algo com raiva e deturpar o sentido daquilo que leu. Se calmas, tranquilas, boa parcela das pessoas que lêem não entendem o que leram, o que esperar de quando estão alteradas? Analfabeto funcional, é o nome que se dá a quem tem esse problema, e não são poucos. Por quê entre leitores de blogs isso não aconteceria? Acontece, sim, e muito.
Tergiversei, tergiversei, e não escrevi sobre nenhum dos meus assuntos recorrentes. Hoje seria alguma coisa sobre o exílio, mas não importa mais. Escrevi sobre outra coisa. Ou será que continuo me repetindo?
Sei lá.
Até.
domingo, novembro 06, 2005
A Sopa 05/16
As melhores chicken wings de Toronto.
Já comi em dois lugares que eram “os melhores de Toronto” no quesito “chicken wings”, segundo opiniões honestas e sinceras de amigos. Em ambos, a mesma inquietação: não sei dizer se uma é melhor que a outra. Como com cerveja.
Existem pessoas que possuem teorias refinadas sobre qual é a melhor cerveja, qual não se deve tomar, qual é mais forte, mais leve, etc. Sou do tempo em que cerveja era clara ou escura, sendo que a última podia ser malzbier – mais “doce” – ou não. Essa coisa de mil e uma variedades diferentes, muitas opções e tal coisa, só dificulta a vida de quem tem que escolher. Eu, ao menos, não noto diferenças. Não é como o sagu, por exemplo, ou o apfelstrudel, ou mesmo a massa a carbonara, dos quais estou em busca do exemplar perfeito.
Cerveja tem que ser simples, fácil de escolher. Assim como quando numa encruzilhada em que não sei para que lado seguir sempre vou virar à esquerda, tenho que ter princípios definidos sobre cerveja. Aqui no Canadá, já defini: cerveja clara é Stella Artois, enquanto escura é Guiness, e ponto final. Mas eu falava de chicken wings.
Sem querer, um dia descobri aquelas que considerei as melhores de Toronto, e bem perto aqui de casa. O local se chama “Kiwi Kick - The Proud of Downunder”, ou pelo menos eu acho que se chama assim. O dono é um neozelandês muito louco, já falo dele. Deixa eu contar de como cheguei lá na sexta-feira, dia em que pretendia ficar em casa.
Estava pronto para começar a preparar a minha janta, ainda tomando chimarrão, quando me ligaram a Camilla e o Henrique, dizendo que estavam próximos e perguntando se eu não queria sair para dar uma volta. Disse que sim, só precisa falar com a Jacque antes, já que aguardava sua ligação. Combinamos que ele viriam aqui para casa e daí decidiríamos. Quando chegaram, eu estava falando com a Jacque no iChat. Tímidos, foram para a sacada esperar que eu terminasse de falar com ela. Ainda bem que não estava –15ºC…
Decidimos, então, ao invés de pedir uma pizza, ir até o dito pub/bar para jantar e bater papo. Chegando lá, pedimos as wings e batatas fritas. Para o Henrique e eu, Guiness. A Camilla, coca-cola. Enquanto espáravamos, percebemos que haveria música ao vivo. Confesso que fiquei temeroso. Nisso, o músico que iria se apresentrar parou junto a nossa mesa e perguntou, em português claro e sem sotaque: “Brasileiros?”. Sim, respondemos, e ele nos contou que havia morado no Brasil nos anos 70, por quatro anos. Ele? Húngaro.
Quando começou a tocar, a grata surpresa: tocava e cantava muito bem, e o repertório era MUITO bom, e bem adequado ao meu gosto, como se fosse eu quem tivesse escolhido as músicas. Tocou Beatles, Simon & Garfunkel, U2 e Eagles, entre muitos outros. O clima do bar era bem legal. O dono, que também estava comandando a cozinha, botava pilha no público, agitava. Tirava algumas meninas para dançar (e dançava do mesmo jeito, independente da música ou do ritmo), passava nas mesas, brindava com os clientes.
Enquanto ele tocou, o clima sempre se manteve muito bom, o pessoal cantando, como se todo mundo se conhecesse. Ele tocou inclusive “Gostava Tanto de Você” (quando o dono do bar convidou umas meninas que estavam lá para dançar, comigo, o que educadamente rejeitamos, eu a e menina…). Mas astral mesmo. Ficamos um tempão ouvindo a música, aproveitando a energia positiva que ajudamos a criar, aplaudindo e incentivando.
O tempo passou voando e, ao sair, o dono despediu-se de nós como se fôssemos velhos amigos.
Definitivamente vou voltar lá.
Até.
Já comi em dois lugares que eram “os melhores de Toronto” no quesito “chicken wings”, segundo opiniões honestas e sinceras de amigos. Em ambos, a mesma inquietação: não sei dizer se uma é melhor que a outra. Como com cerveja.
Existem pessoas que possuem teorias refinadas sobre qual é a melhor cerveja, qual não se deve tomar, qual é mais forte, mais leve, etc. Sou do tempo em que cerveja era clara ou escura, sendo que a última podia ser malzbier – mais “doce” – ou não. Essa coisa de mil e uma variedades diferentes, muitas opções e tal coisa, só dificulta a vida de quem tem que escolher. Eu, ao menos, não noto diferenças. Não é como o sagu, por exemplo, ou o apfelstrudel, ou mesmo a massa a carbonara, dos quais estou em busca do exemplar perfeito.
Cerveja tem que ser simples, fácil de escolher. Assim como quando numa encruzilhada em que não sei para que lado seguir sempre vou virar à esquerda, tenho que ter princípios definidos sobre cerveja. Aqui no Canadá, já defini: cerveja clara é Stella Artois, enquanto escura é Guiness, e ponto final. Mas eu falava de chicken wings.
Sem querer, um dia descobri aquelas que considerei as melhores de Toronto, e bem perto aqui de casa. O local se chama “Kiwi Kick - The Proud of Downunder”, ou pelo menos eu acho que se chama assim. O dono é um neozelandês muito louco, já falo dele. Deixa eu contar de como cheguei lá na sexta-feira, dia em que pretendia ficar em casa.
Estava pronto para começar a preparar a minha janta, ainda tomando chimarrão, quando me ligaram a Camilla e o Henrique, dizendo que estavam próximos e perguntando se eu não queria sair para dar uma volta. Disse que sim, só precisa falar com a Jacque antes, já que aguardava sua ligação. Combinamos que ele viriam aqui para casa e daí decidiríamos. Quando chegaram, eu estava falando com a Jacque no iChat. Tímidos, foram para a sacada esperar que eu terminasse de falar com ela. Ainda bem que não estava –15ºC…
Decidimos, então, ao invés de pedir uma pizza, ir até o dito pub/bar para jantar e bater papo. Chegando lá, pedimos as wings e batatas fritas. Para o Henrique e eu, Guiness. A Camilla, coca-cola. Enquanto espáravamos, percebemos que haveria música ao vivo. Confesso que fiquei temeroso. Nisso, o músico que iria se apresentrar parou junto a nossa mesa e perguntou, em português claro e sem sotaque: “Brasileiros?”. Sim, respondemos, e ele nos contou que havia morado no Brasil nos anos 70, por quatro anos. Ele? Húngaro.
Quando começou a tocar, a grata surpresa: tocava e cantava muito bem, e o repertório era MUITO bom, e bem adequado ao meu gosto, como se fosse eu quem tivesse escolhido as músicas. Tocou Beatles, Simon & Garfunkel, U2 e Eagles, entre muitos outros. O clima do bar era bem legal. O dono, que também estava comandando a cozinha, botava pilha no público, agitava. Tirava algumas meninas para dançar (e dançava do mesmo jeito, independente da música ou do ritmo), passava nas mesas, brindava com os clientes.
Enquanto ele tocou, o clima sempre se manteve muito bom, o pessoal cantando, como se todo mundo se conhecesse. Ele tocou inclusive “Gostava Tanto de Você” (quando o dono do bar convidou umas meninas que estavam lá para dançar, comigo, o que educadamente rejeitamos, eu a e menina…). Mas astral mesmo. Ficamos um tempão ouvindo a música, aproveitando a energia positiva que ajudamos a criar, aplaudindo e incentivando.
O tempo passou voando e, ao sair, o dono despediu-se de nós como se fôssemos velhos amigos.
Definitivamente vou voltar lá.
Até.
sábado, novembro 05, 2005
Eu
Sou um egocêntrico, narcisista e megalomaníco. Mas simpático.
Conhecedores dessas minhas características, vocês podem imaginar que eu gosto MUITO de falar de mim. Bom, eu tenho um blog só para isso, então nem precisava dizer o que estou dizendo. Mas a verdade é que eu gosto de contar histórias.
Talvez seja esta a razão fundamental de eu gostar de escrever: eu sou um contador de histórias. Até a minha definição de vida está relacionada a esse fato. Para mim, a vida não passa de histórias para contar. O que faço é estar sempre procurando-as, indo atrás delas.
Talvez eu tenha vindo para o Canadá por causa disso, eu estava pensando esses dias. Tudo o que me aconteceu e vai acontecer ainda nos dois anos da minha estada aqui, são histórias que vou contar depois. Em conversas ou através de textos, não importa. E sempre vou ter essa carta na manga: “Quando morei no Canadá...” e se quiser posso até inventar, apesar de não ser esse o meu estilo, o meu jeito de fazer.
Até porque tenho histórias boas para contar.
Então, quando vou contar histórias que vivi, nunca invento. Pode ser um viés de quando planejava ser jornalista, mas sempre procuro me restringir aos fatos e interpretações dos mesmos. O mais comum é eu me prender a alguns detalhes, para criar um certo drama. Mentir, jamais. A vida de verdade já tem acontecimentos absurdos o bastante, por que eu iria inventar?
Quando escrevo ficção, por outro lado, é evidente que vou inventar, até porque isso é pré-requisito para que possamos chamá-la assim. Confesso que tenho escrito pouca ficção nos últimos tempos, e que os temas deste blog têm girado em torno do meu umbigo.
Mas o que esperar de um simpático egocêntrico, narcisista e megalomaníaco?
Bom sábado a todos.
Conhecedores dessas minhas características, vocês podem imaginar que eu gosto MUITO de falar de mim. Bom, eu tenho um blog só para isso, então nem precisava dizer o que estou dizendo. Mas a verdade é que eu gosto de contar histórias.
Talvez seja esta a razão fundamental de eu gostar de escrever: eu sou um contador de histórias. Até a minha definição de vida está relacionada a esse fato. Para mim, a vida não passa de histórias para contar. O que faço é estar sempre procurando-as, indo atrás delas.
Talvez eu tenha vindo para o Canadá por causa disso, eu estava pensando esses dias. Tudo o que me aconteceu e vai acontecer ainda nos dois anos da minha estada aqui, são histórias que vou contar depois. Em conversas ou através de textos, não importa. E sempre vou ter essa carta na manga: “Quando morei no Canadá...” e se quiser posso até inventar, apesar de não ser esse o meu estilo, o meu jeito de fazer.
Até porque tenho histórias boas para contar.
Então, quando vou contar histórias que vivi, nunca invento. Pode ser um viés de quando planejava ser jornalista, mas sempre procuro me restringir aos fatos e interpretações dos mesmos. O mais comum é eu me prender a alguns detalhes, para criar um certo drama. Mentir, jamais. A vida de verdade já tem acontecimentos absurdos o bastante, por que eu iria inventar?
Quando escrevo ficção, por outro lado, é evidente que vou inventar, até porque isso é pré-requisito para que possamos chamá-la assim. Confesso que tenho escrito pouca ficção nos últimos tempos, e que os temas deste blog têm girado em torno do meu umbigo.
Mas o que esperar de um simpático egocêntrico, narcisista e megalomaníaco?
Bom sábado a todos.
sexta-feira, novembro 04, 2005
Em Toronto
De volta de um outubro de viagens, comemoro por ficar quieto em casa nessa noite de sexta-feira.
Viajar é sempre bom, sem dúvida, ainda mais bem acompanhado, como foi nas duas semanas que passei na Itália, de norte a sul, até a Sicília. Mas viajar não é só isso, chegar no destino e aproveitar: é muito mais.
Viajar é antecipar a viagem, estar no destino e, finalmente, voltar.
São três etapas indissociáveis e de igual importância, apesar de nem todos concordarem com isso. Sem uma dessas etapas, fica incompleta a experiência. Inevitável.
Antecipação e viagem em si, as duas primeiras partes do processo, são unanimidades, mas a terceira – a volta – é assunto controvertido. Muitos pensam que voltar, retomar a rotina, é a parte ruim da viagem, a parte dispensável. Estão enganados. Sem a volta, não seríamos viajantes, ou turistas, seríamos nômades.
Penso isso porque voltei para casa depois das minhas últimas viagens e agora fico por aqui por um mês e pouco até a próxima. Com relação à viagem para Montreal, voltei para casa, mas pensando na viagem à Itália, voltei mais ou menos.
Conversamos, a Jacque e eu, enquanto estávamos lá, que eu não teria a oportunidade de voltar para casa e encontrar a família para contar as histórias, as brincadeiras (“oguei”, “a água do doente”, “otchenta”, “vino tinto”, etc), montar o álbum, o mural de fotos. Então talvez essa viagem de agora só termine em dezembro, quando for à Porto Alegre depois de oito meses longe.
São as circunstâncias de ter duas casas. Uma aqui em Toronto, já moro há mais de um ano e a outra, de onde vim e para onde vou voltar em julho próximo, da qual, no fundo, nunca saí.
Até.
Viajar é sempre bom, sem dúvida, ainda mais bem acompanhado, como foi nas duas semanas que passei na Itália, de norte a sul, até a Sicília. Mas viajar não é só isso, chegar no destino e aproveitar: é muito mais.
Viajar é antecipar a viagem, estar no destino e, finalmente, voltar.
São três etapas indissociáveis e de igual importância, apesar de nem todos concordarem com isso. Sem uma dessas etapas, fica incompleta a experiência. Inevitável.
Antecipação e viagem em si, as duas primeiras partes do processo, são unanimidades, mas a terceira – a volta – é assunto controvertido. Muitos pensam que voltar, retomar a rotina, é a parte ruim da viagem, a parte dispensável. Estão enganados. Sem a volta, não seríamos viajantes, ou turistas, seríamos nômades.
Penso isso porque voltei para casa depois das minhas últimas viagens e agora fico por aqui por um mês e pouco até a próxima. Com relação à viagem para Montreal, voltei para casa, mas pensando na viagem à Itália, voltei mais ou menos.
Conversamos, a Jacque e eu, enquanto estávamos lá, que eu não teria a oportunidade de voltar para casa e encontrar a família para contar as histórias, as brincadeiras (“oguei”, “a água do doente”, “otchenta”, “vino tinto”, etc), montar o álbum, o mural de fotos. Então talvez essa viagem de agora só termine em dezembro, quando for à Porto Alegre depois de oito meses longe.
São as circunstâncias de ter duas casas. Uma aqui em Toronto, já moro há mais de um ano e a outra, de onde vim e para onde vou voltar em julho próximo, da qual, no fundo, nunca saí.
Até.
Em Montreal (4)
Já de volta, na verdade.
Mas para não dizer que não falei de folhas... sim, elas estão amarelas e caindo.
Um rápida retrospectiva fotográfica dos dias do congresso.
(No trem, eu e o André)
(No Centro de Convenções)
(Janta no restaurante italiano: eu, Jussara e Pio)
(O poster e eu)
(Na praça da Notre Dame)
(Pra não dizer que não mostrei folhas...)
Mas para não dizer que não falei de folhas... sim, elas estão amarelas e caindo.
Um rápida retrospectiva fotográfica dos dias do congresso.
(No trem, eu e o André)
(No Centro de Convenções)
(Janta no restaurante italiano: eu, Jussara e Pio)
(O poster e eu)
(Na praça da Notre Dame)
(Pra não dizer que não mostrei folhas...)
quinta-feira, novembro 03, 2005
Em Montreal (3)
Hoje não choveu.
Por outro lado, o congresso atingia o seu ápice. Além disso, era o dia em que eu apresentaria o meu poster. Logo, não poderia faltar. Em outras palavras, não visitei Montreal de novo.
Vamos ver amanhã, quinta-feira.
Apresentei o poster com minha tese de doutorado. Foi tudo bem. Bem melhor que o da semana passada, basicamente por duas razões: primeira, era a minha tese de doutorado, e ninguém sabia mais dela do que eu. E, segundo, não foi a primeira vez que apresentava. Apresentei para os dois “juízes” separadamente e para algumas outras pessoas que passavam. Foi legal.
Em determinado momento, chegou um senhor grisalho de jacqueta esportiva. Parou, olhou o poster, e comentou: “Mais um indíce, então?” (detalhes sobre a tese evidentemente suprimidos), e começamos a conversar, eu explicando detalhes do trabalho e respondendo dúvidas. Até que olhei para o crachá dele: Robert Crapo. Detalhe: parte dos artigos e textos que estudei e usei para desenvolver minha tese foram escritos por ele. O cara é referência no assunto, e foi lá discutir o meu trabalho comigo. Muito bom, muito bom.
O resto do dia, de assuntos interessantes, o que foi uma constante nestes dias. Valeu a viagem, mesmo que não tenha podido fazer turismo.
Amanhã, volta a Toronto.
Até.
Por outro lado, o congresso atingia o seu ápice. Além disso, era o dia em que eu apresentaria o meu poster. Logo, não poderia faltar. Em outras palavras, não visitei Montreal de novo.
Vamos ver amanhã, quinta-feira.
Apresentei o poster com minha tese de doutorado. Foi tudo bem. Bem melhor que o da semana passada, basicamente por duas razões: primeira, era a minha tese de doutorado, e ninguém sabia mais dela do que eu. E, segundo, não foi a primeira vez que apresentava. Apresentei para os dois “juízes” separadamente e para algumas outras pessoas que passavam. Foi legal.
Em determinado momento, chegou um senhor grisalho de jacqueta esportiva. Parou, olhou o poster, e comentou: “Mais um indíce, então?” (detalhes sobre a tese evidentemente suprimidos), e começamos a conversar, eu explicando detalhes do trabalho e respondendo dúvidas. Até que olhei para o crachá dele: Robert Crapo. Detalhe: parte dos artigos e textos que estudei e usei para desenvolver minha tese foram escritos por ele. O cara é referência no assunto, e foi lá discutir o meu trabalho comigo. Muito bom, muito bom.
O resto do dia, de assuntos interessantes, o que foi uma constante nestes dias. Valeu a viagem, mesmo que não tenha podido fazer turismo.
Amanhã, volta a Toronto.
Até.
terça-feira, novembro 01, 2005
Em Montreal (2)
Um esclarecimento.
Não, eu não vim para Montreal. Eu vim para um congresso em Montreal, o que é ligeiramente diferente. E mais, eu vim para um congresso clínico. Explico.
Estando fazendo pesquisa desde o ano passado, então voltar a ver clínica está sendo bem legal. De certa forma, é parte da minha preparação para voltar ao Brasil. Por isso, também, que estou sendo tão CDF aqui. Estou me preparando para voltar ao meu consultório.
Em resumo, é por isso que não vou se capaz de falar de Montreal.
Até porque não vou conhecer Montreal. No máximo, visitar alguns pontos turísticos. Isso se der.
Hoje, por exemplo, eu tentei.
Saí às duas da tarde do congresso para fazer turismo. Alguns raios de sol furavam as nuvens. Fui até o hotel, troquei de roupa, e fui para a rua. Andei 15 minutos. Começou a chover. Voltei ao hotel. Voltei ao centro de convenções. De volta ao congresso…
Mas tenho um impressão, sim.
Até aqui, Montreal foi a cidade do vento encanado.
O trajeto entre o hotel e o centro de convenções, na chuva, foi um exercício de habilidade. Tive que driblar as rajadas de vento que tentavam destruir o meu guarda-chuva.
Claro que Montreal é bem mais legal que isso.
Até.
PASSAGEM DO TEMPO: OITO.
Não, eu não vim para Montreal. Eu vim para um congresso em Montreal, o que é ligeiramente diferente. E mais, eu vim para um congresso clínico. Explico.
Estando fazendo pesquisa desde o ano passado, então voltar a ver clínica está sendo bem legal. De certa forma, é parte da minha preparação para voltar ao Brasil. Por isso, também, que estou sendo tão CDF aqui. Estou me preparando para voltar ao meu consultório.
Em resumo, é por isso que não vou se capaz de falar de Montreal.
Até porque não vou conhecer Montreal. No máximo, visitar alguns pontos turísticos. Isso se der.
Hoje, por exemplo, eu tentei.
Saí às duas da tarde do congresso para fazer turismo. Alguns raios de sol furavam as nuvens. Fui até o hotel, troquei de roupa, e fui para a rua. Andei 15 minutos. Começou a chover. Voltei ao hotel. Voltei ao centro de convenções. De volta ao congresso…
Mas tenho um impressão, sim.
Até aqui, Montreal foi a cidade do vento encanado.
O trajeto entre o hotel e o centro de convenções, na chuva, foi um exercício de habilidade. Tive que driblar as rajadas de vento que tentavam destruir o meu guarda-chuva.
Claro que Montreal é bem mais legal que isso.
Até.
PASSAGEM DO TEMPO: OITO.
Em Montreal
O concierge do hotel que eles estão hospedados respondeu, ao ser perguntado por uma indicação de restaurante italiano bom e não muito caro, que “não existem restaurantes bons e baratos”. Olhei para ele e agradeci. Palhaço, disse polidamente, e saí. Escolhemos um italiano, de aspecto simpático, na St Denis.
Ia continuar minha busca pelo spaguetti à carbonara perfeito, mas decidi adiar e comer algo diverso. Tomamos um tinto (comprado na loja da esquina) espanhol que podemos chamar de amplo (vinho que alia, na mais perfeita harmonia, sabor e bouquet, o que se traduz na degustação por sensações ricas e prolongadas), que me lembrou barris de carvalho, na primeira vez em que pude distinguir algo ao tomar um vinho. A conversa, leve, agradável.
Contei histórias, como gosto de fazer, longas e digeridas com calma. Falei da vida em Toronto, do trabalho, das saudades, do inverno. De como sou parte daqui e de como já preparo minha volta. Mas não só disso: perguntado, falei do passado, de quando vi (ou não) o outro lado, de como cheguei aqui.
Muitas histórias, que teriam durado a noite toda de conversa se não tivéssemos que voltar amanhã cedo para o congresso.
Antes de ir embora, o Pio, namorado da Jussara, minha mestre e guru, casal com o qual eu tinha jantado, me olhou e disse: és um sobrevivente.
Eu sou.
Até.
Ia continuar minha busca pelo spaguetti à carbonara perfeito, mas decidi adiar e comer algo diverso. Tomamos um tinto (comprado na loja da esquina) espanhol que podemos chamar de amplo (vinho que alia, na mais perfeita harmonia, sabor e bouquet, o que se traduz na degustação por sensações ricas e prolongadas), que me lembrou barris de carvalho, na primeira vez em que pude distinguir algo ao tomar um vinho. A conversa, leve, agradável.
Contei histórias, como gosto de fazer, longas e digeridas com calma. Falei da vida em Toronto, do trabalho, das saudades, do inverno. De como sou parte daqui e de como já preparo minha volta. Mas não só disso: perguntado, falei do passado, de quando vi (ou não) o outro lado, de como cheguei aqui.
Muitas histórias, que teriam durado a noite toda de conversa se não tivéssemos que voltar amanhã cedo para o congresso.
Antes de ir embora, o Pio, namorado da Jussara, minha mestre e guru, casal com o qual eu tinha jantado, me olhou e disse: és um sobrevivente.
Eu sou.
Até.
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