segunda-feira, novembro 28, 2005

Apito final

A paixão é um sentimento menor.

Se houvesse uma escala com que fosse possível mensurar o grau de significância dos sentimentos humanos, a paixão certamente não estaria entre os de maior grandeza. Ou nobreza. Isso porque claramente não é um sentimento nobre. Ao contrário.

A paixão é dos sentimentos mais básicos que podemos ter. Eu ia usar um exemplo da matemática para explicar meu ponto de vista, mas não dá, a matemática – mesmo as operações básicas, como a soma ou a subtração – é muito mais complexa. Mas de maneira nenhuma estou falando mal dela. O que quero é colocá-la no seu lugar, não deixar que se meta à besta.

Isso porque se, por um lado, é ela que nos dá forças para ir em frente muitas vezes, em outras dá cor à vida, nos anima, nos motiva, por outro lado ela tem o seu lado negativo, perigoso, pernicioso. A paixão é algo visceral. Vísceras, tripas, intestino. Por paixão se vai ao fundo do poço, à sarjeta, é a porta que nos leva ao submundo dos sentimentos humanos. Nos consome, nos queima. É irracional, não pensa. Crime passional, quer melhor exemplo.

Muitas relações começam por paixão, e só vão durar se houver a transformação dessa em um sentimento maior, mais nobre. Se não houver essa “evolução”, não há como durar. Porque a paixão é um sentimento infantil. Tem de crescer, se não morre.

Pensei nisso ouvindo no rádio o jogo Náutico e Grêmio, no sábado que passou. Principalmente na hora do pênalti e das expulsões dos jogadores do Grêmio. Durante toda a confusão, e depois dela, fiquei pensando em tudo isso, se o Náutico fizesse o gol, o que aconteceria, e se errasse? No que eu deveria torcer para que acontecesse? O Grêmio perder e continuar na segunda divisão, ou o Grêmio se classificar?

Quando da cobrança do pênalti, eu já sabia a resposta: não fazia diferença, não tinha nada a ver comigo. Era capaz até de eu querer que o Grêmio se classificasse para deixar meus amigos gremistas felizes. Porque não me interessava mesmo.

Ali eu vi que tinha crescido.

Parabéns, Grêmio.

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Existe uma forma de as pessoas se referirem às torcidas de futebol, dizendo que essa ou aquela é mais apaixonada que a outra.

Grande merda.

Quem é que quer uma torcida apaixonada? Enganam-se se pensam que isso é bom. Não é. A torcida apaixonada ela vaia o time quando não está satisfeita com algo, ela agride os jogadores, invade o campo, briga, quebra. Os tribunais interditam os estádios de torcida apaixonadas.

O exemplo de torcedores que amam seus times são as argentinas, que cantam o tempo todo, independente do resultado. Você pode argumentar que eles também brigam e quebram. Concordo, mas mantenho meu ponto…

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A linha que separa o épico do ridículo é muito tênue, não? Por exemplo: se o Náutico tivesse feito o gol de pênalti e o Grêmio tivesse perdido o jogo e permanecido na segunda divisão, provavelmente os jogadores expulsos – por agredirem o árbitro que, sim, tinha errado ao dar o pênalti mas tinha errado antes ao não dar um outro – seriam chamados de irresponsáveis e talvez nem voltassem à Porto Alegre.

Como o Náutico foi incompentente (e o goleiro do Grêmio competente), viraram heróis? Claro que não. O Náutico se apequenou, com certeza, e o Grêmio se impôs, certamente. Méritos gremistas, mas me pergunto se podemos chamar de épico. Talvez sim, mas ainda não tenho certeza…

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Enquanto isso, em Porto Alegre, no domingo, o Inter mostrou ao Brasil mais uma vez que não vai entregar assim tão fácil o campeonato. Aliás, caso os dois times que lideram o campeonato ganhem no próximo domingo, independente do saldo de gols, o campeonato terá sido decidido no tapetão. Atentem para o condicional: se eles ganharem. Se o Inter perder e o Corinthians ganhar, bom, aí eles serão os legítimos campeões. Mas se o Inter vencer o seu jogo, independente do jogo de Goiás, ele só não será o campeão pelo tapetão.

Isso porque se não tivessem anulados aqueles jogos por conta de uma de todas as formas questionável decisão do STJD, o Inter estaria na frente do atual líder. O atual líder é líder porque pôde jogar de novo dois jogos que perdera, e que o Ministério Público até hoje não comprovou manipulação de resultados. No campo, até aqui (e isso pode mudar domingo) o Inter é o melhor time e a melhor campanha.

Só não será campeão se ganhar domingo porque o tapetão (e outros interesses que nem imagino quais sejam) não deixou.

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Sobre o pênalti do Gamarra no Edinho ontem, no Beira-Rio, só não vê pênalti quem não quer…

Até.

2 comentários:

Anônimo disse...

Marcelo:

Quanto ao Grêmio, vi o jogo no sábado e realmente foi emocionante, apesar do time do Náutico ter dado uma bela amarelada. Faltou camisa, que é o que sobra ao Grêmio.
Quanto ao Inter, Corinthians, tapetão, etc, vou partir para a frase: futebol, política e religião não se discute, pois não sou isento para analisar e não quero perder o amigo virtual. Seja quem for o campeão, este campeonato será lembrado para sempre como o do juiz ladrão, que manchou o mesmo.

Abraços.

Edgard.

Anônimo disse...

Como eu nao poderia "care less" pra futebol, eu nao comento essa parte!

A paixao faz muito bem, e faz MUITO mal. Ah, eu sei disso bem.

Beijao Marcelo