domingo, junho 17, 2007

A Sopa 06/48

Uma história (quase) real (em um texto antigo).

Sábado, noite.

Pronto para sair para jantar com amigos, tranco a porta de casa e chamo o elevador. Após alguns instantes de espera, a porta do mesmo se abre e a luz do corredor ilumina o elevador escuro. Dentro dele, em meio à penumbra, uma loira alta, de possível origem européia (não escandinava, italiana provavelmente) diz que “não tem luz, mas funciona, pode vir”. Eu vou, claro.

Certo, admito que não é a sueca seminua da lenda (que segundo conta a mesma, moraria comigo, mas não passa disso mesmo, lenda), mas é uma loira e estamos num elevador que, quando fechar a porta, vai ficar sem luz. Tranqüilamente, isso pode virar uma crônica ou uma piada, penso. Ou uma história de terror…

Penso na piada. Entram mais dois “passageiros”, um cara e uma morena, cabelos longos e nariz aquilino (detalhe sem relevância para a piada). Os cinco no escuro, e alguém peida. Alto, fedorento. Não fui eu. Silêncio constrangido. O cara diz “como pode alguém peidar na frente da minha mulher?”. Penso, mas não digo, “Puxa, tem fila, então… como são organizados…”. Desisto da piada. Muito fraca.

História de terror, pois. Deve funcionar melhor. A porta do elevador fecha, o breu toma conta de tudo. Estamos só nós dois, e alguém peida. Não fui eu. Não, não, não está bom. De novo. O elevador fecha, há um silêncio constrangido, e de repente a loira grita. Um grito de pavor, de desespero. Sinto espirrar em mim líquido quente. Sangue. A porta do elevador abre, e não é o hall de entrada do prédio. Há uma floresta de árvores altas. Ao fundo, um dinossauro. Ouço atrás de mim o “swisssssswisssssswissswissssswisss” e sei o que isso significa: slitaks. Estamos no Elo Perdido.

De volta ao mundo real, entro no elevador, a porta fecha e ficamos na mais completa escuridão. Dois andares estão marcados: o 18º e o 1º, para onde vou. Paramos no 18º, e pergunto se não é o seu andar. Diz que não, que já estava assim quando ela entrou no elevador. OK, então. A porta fecha mais uma vez, nós dois no escuro, e a luz do botão do 18º acende novamente. A loira diz na mesmo hora: “Você viu isso? Acendeu sozinha!”. Eu tinha visto, sim. Ela: “Deve ter um fantasma aqui com a gente…”. Chegamos no térreo.

Quem precisa inventar histórias quando elas estão aí, em qualquer lugar, esperando para serem contadas?

Até.

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