terça-feira, julho 29, 2008

Caráter Anal

Algumas questões me deixam realmente intrigado.

De um certo tempo para cá, por estar trabalhando em um lugar em que os outros colegas médicos andam de gravata, decidi que começaria a usar o dito acessório quando fosse atender lá. Seguindo por essa linha de raciocínio, se trabalho nesse lugar de gravata, por que não atender assim vestido também no meu consultório? Pareceu lógico e assim o fiz. Dessa forma, comecei a ir trabalhar de gravata nas terças, quartas, quintas e sextas-feiras.

Fiz da segunda-feira o meu Casual Friday.

Mas isso não vem ao caso.

Em termos de vestuário, sempre esstive bem mais para o lado do informal do que do formal, confesso. Usei tênis no trabalho até o final do primeiro ano da residência médica. Sempre fui adepto do jeans e camiseta. Evidentemente que, com o passar do tempo, meu guarda-roupa foi "crescendo" comigo (e não falo aqui do tamanho das roupas...). Mas sempre não muito formal. Por isso o estranhamento causado naquelas pessoas que me viam e vêem diariamente.

O que quero falar, então, e retomo o meu espanto com determinadas situações, é a reação das pessoas ao verem uma pessoa que normalmente não usa terno e gravata usá-lo. E começamos a notar o caráter anal citado no título acima. Provavelmente os primeiros comentários que ouvi foram perguntas relacionadas a eu ir coletar exame de fezes ou consultar um proctologista. Bem depois, alguns relacionados ao fato de que vou ser pai e "ter que ser sério" (como se a roupa influenciasse nisso).

Mas as perguntas/comentários que ligam o uso de gravata a características anais demonstram, talvez, essa relação formal que as pessoas têm com o seu (delas, não o seu, caro leitor) cu. Um lance algo ritual, é por ali que normalmente eliminamos aquilo que não faz parte de nós, ou que foi rejeitado.

E é impressionante como esse assunto toma a vida das pessoas.

Muitas vezes a principal preocupação de pacientes internados pelas mais variadas causas é com o funcionamente do seu intestino. O resto parece não importar, desde que o instestino funcione.

Por outro lado, talvez a formalidade se justifique, não sei. Talvez as pessoas tivessem de anunciar na coluna social. "Depois de meses de dificuldades e uma colonoscopia, o casal Almeida Ferreira da Silva Cantareira abriu sua morada em Búzios para celebrar suas novas fezes pastosas". Ou, "a jovem atriz Rúbia Rúbia viajou essa semana para Nova York para estudar teatro e tentar criar um novo hábito intestinal - em sua saída falou para a reportagem que "Nada como viver em um lugar diferente, experimentar novas comidas, para cagar melhor".

Escatológico, eu sei.

Até.

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