domingo, julho 27, 2008

A Sopa 07/47

A Viagem (29)

A sexta-feira, dia 19 de outubro, dia de voltarmos ao Brasil, iniciou com sol entre nuvens e temperatura baixa. A primeira notícia que recebemos foi a de que a greve – ao contrário do previsto – continuava, porém parcial. O governo Sarkozy estava sendo desafiado pelo sindicato dos trabalhadores dos transportes. Para nós não faria diferença, afinal era nosso último dia e nossos planos incluíam alguns poucos passeios, algumas compras, presentes para as famílias e não muito mais.

Tomamos café da manhã no Louvre. Para ser honesto, o café não foi exatamente no Louvre, mas sim na galeria de lojas do museu. Logo após o café, fomos para o jardim das Tulleries e daí até a Place de la Concorde e Champs Elysées, para visitar algumas lojas para compras. De metrô – uma das poucas linhas que funcionavam – voltamos até próximo ao hotel para terminar de fazer as malas, tomar banho e fazer o checkout. Após o checkout, deixamos as malas no hotel e saímos para continuar o passeio. Nosso destino foi, finalmente, a Catedral de Notre Dame.

A mais famosa catedral de Paris, a gótica Notre Dame teve sua construção iniciada em 1163, exatamente no local onde antes houvera um templo romano de devoção a Jupiter e a primeira igreja cristã de Paris a Basílica de Saint-Etienne, do ano de 528. Um dos principais destinos turísticos e religiosos da cidade, a Notre Dame é um impressionante monumento, com seus vitrais e rosáceas. Dessa vez, não nos importando com o movimento de pessoas, pudemos visitá-la.

Após a visita, era hora do almoço. Fomos até a Île de Saint-Louis e acabamos almoçando em restaurantes diferentes, o Pedro e a Zeca em um e o resto em outro. Após o almoço nos reunimos e fomos dar uma volta de bateau, um passeio sonolento pelo momento pós-prandial. Foi quase uma volta completa: embarcamos na Rive Droit, na estação do Hotel de Ville e desembarcamos, depois de passar pela torre e voltar, na Rive Gauche, estação da Notre Dame. Na livrarias do Boulevard Saint-Michel e arredores, compramos os últimos presentes e souvenirs antes de voltar em direção ao hotel.

Com um tempo nos restando antes do horário marcado para o transfer para o aeroporto, paramos no Café Zimmer, na esquina da Place du Chatelet com a Avenue Victoria, a esquina do nosso hotel. Foi o momento da nossa última cerveja em solo francês. Já lembrando das boas histórias vividas na viagem, estávamos bem relaxados e tranqüilos. Até que chegou a hora do transfer.

Dezoito horas e trinta minutos, horário marcado, boa antecedência para chegar no aerporto. Todos a postos, esperando. Dezoito e quarenta e cinco, nada do transfer. Confiro no notebook: Paris está parada. Em virtude da greve, há engarrafamentos monstros na cidade. Pedimos para a dona do hotel ligar para o serviço de vans contratado, que diz que está a caminho, a uma distância nem tão grande, mas completamente parado. Todos se impacientam. Ainda estou tranqüilo, tudo vai dar certo, penso, sempre dá.

Dezenove horas, dezenove e trinta, dezenove e quarenta e cinco. Nada. E não há táxis, ônibus e muito menos o RER B para nos levar para o aeroporto. Após nova ligação, ele resolvem mandar outra van, que está mais próxima, mas ainda presa no engarrafamento. Vinte horas. Nada. Vinte horas e quinze. Eu começo a ficar impaciente e tenso também. Vinte horas e vinte e cinco minutos, alguém avisa que o carro está na esquina, temos que correr até lá.

Corremos, carregando as malas, até a van. Quando chegamos, aparece do nada um brasileiro que nos vira pela mala da Zeca, da Barbie, e nos ouvira falando português. Ia para o aeroporto também, e pediu carona na nossa van. Havia lugar, foi junto. Por ter nos visto através da mala rosa da Zeca, ele pagou a parte dela. Nosso vôo saía às 23 horas, e tínhamos que estar duas horas antes no aeroporto. Impossível, pensamos, mas estávamos enganados. Para sair de Paris o trânsito fluiu bem e chegamos exatamente duas horas antes do embarque, bem em tempo.

Aliviados, fomos para o checkin. Peguei os passaportes de todos e fui para o balcão. Entreguei-os à atendente, ele conferiu todos, e mesmo disse que não havia lugar para nós no vôo, estava cheio.

- Como assim? - perguntei.

- Overbooking – me explicou ela – vocês poderão ir no vôo de amanhã de manhã.

Ainda perguntei como era possível, afinal havíamos confirmado o vôo na quarta-feira anterior. Ela não soube responder. Falei que tínhamos que estar no Brasil no dia seguinte, mas ela respondeu que não poderia fazer nada. Pedi para falar com a pessoa responsável.

Enquanto isso, o pessoal estava inconformado com a situação, todos queriam voltar como previsto, afinal havia todo um planejamento para a volta. Eu, por outro lado, via a possibilidade de lucrar com a situação. O mínimo que teriam que nos dar era uma compensação em dinheiro, hotel e um upgrade para a classe executiva. Menos que isso não iria aceitar.

Chamada a responsável, ela me expôs o problema da lotação e que não tinha como fazer nada. Eu disse que tudo bem, mas que teriam que atender nossas exigências, e disse que queríamos compensação em dinheiro, hotel – ela concordou – e upgrade para executiva. Começou o impasse:

- Econômica.

- Executiva.

- Econômica.

- Executiva.

- Econômica.

- Executiva.

- Mas vocês compraram de econômica.

- Só que compramos o vôo de hoje…

Ela, então, pediu um tempo para tentar resolver a situação. Retornássemos às dez horas que nos daria uma solução para o caso. Enquanto isso, teríamos direito a um drink por conta da Air France. Só tínhamos que pegar o ticket no balcão do checkin, de onde havia saído para falar com ela. Fomos até lá.

Enquanto a funcionária imprimia os nossos tickets de refrigerante, que eram iguais a cartões de embarque, a responsável pelo setor nos chamou e disse que havia “resolvido o problema”: embarcaríamos no vôo original! A partir daí só tivemos tempo para fazer um lanche rápido e embarcamos. A aeronave estava realmente lotada, mas conseguimos viajar.

Chegamos em São Paulo no horário previsto, às quinze para sete da manhã. O vôo da conexão para Porto Alegre estava marcado para às 16h, então – assim que desembarcamos – fui atrás do pessoal de terra para tentar antecipar nosso vôo para antes. Havia, descobrimos, um vôo que saía às 8h10, com escala em Florianópolis. Corremos – nem tivemos tempo de visitar o freeshop e conseguimos embarcar nesse vôo, que acabou atrasando cerca de uma hora para sair (dava para ter feito as últimas compras…).

De qualquer maneira, chegamos em Porto Alegre no final da manhã, bem antes do programado. O Pedro e a Zeca foram para a casa deles surpreender a todos e nós, os outro quatro, fomos até a casa do Paulo de táxi, colocamos todas as nossas coisas no carro do Paulo e fomos encontrar num restaurante, de surpresa, a Roberta e o Gabriel, filhos do Paulo e da Karina, que almoçavam com os avós.

Esse é o final da viagem.

Mais uma vez, uma viagem em grupo – algo sempre arriscado – foi um sucesso. Não brigamos, não houve problemas de nenhuma ordem entre o grupo e, mais importante:

Estamos prontos para a próxima.

#

Com o final do relato da nossa viagem, termino também o sétimo ano de publicação dessa Sopa semanal. Inicio, semana que vem, o oitavo ano de publicação com uma das maiores mudanças que alguém pode passar na vida: o nascimento de um filho. Tudo muda, e pretendo – além de outras coisas – compartilhar essas mudanças, na medida do possível, com aqueles que me acompanham aqui.

Até.

Um comentário:

Anônimo disse...

Marcelo!
Brilhante os teus relatos da viagem. Foi possível reviver cada momento curtido junto e relembrar de alguns já esquecidos.
Quanto a esta nova fase de escritor sobre a experiência com a paternidade, considero que será recheada de emoções e sensações que só podem ser sentidas com a presença deste bebê que, com certeza, só vai aumentar o amor de vocês.
Forte abraço de quem também já está ansiosa para pegar a Marina no colo (se a mãe Jacque deixar, é claro).
Zeca