A Viagem (29)
O dia da greve, parte 2.
Continuando nosso périplo a pé por Paris, atividade sempre prazerosa mas dessa vez forçada devido à greve dos transportes públicos, cruzamos o Sena em direção à sua margem esquerda pela Pont de Saint-Michel, saindo bem em frente à Place Saint-Michel. Pelo Boulevard de mesmo nome, seguimos até a Rue des Écoles, onde fizemos uma rápida visita a um dos prédios da Sorbonne, além de passar no Au-Vieux-Campeur, incrível loja de artigos esportivos, mais especificamente de artigos, equipamentos e roupas para camping, alpinismo, escaladas, trekking e esportes aquáticos, além de esportes de inverno, como esqui e snowboard. Existem filiais em várias cidades francesas e, em Paris, quase todas ficam na rue des Écoles e ruas próximas.
Após essa visita – sem compras – pela loja do “velho campeur”, seguimos pela Rue Saint-Jacques até a Rue Soufflot, pequena rua de três ou quatro quadras que liga o Pantheon ao Jardim de Luxemburgo. Ali, em virtude do avançado da hora, começamos a nos preocupar com nosso almoço. De qualquer maneira, fomos até a entrada do Pantheon – fechada, pela greve – para algumas fotos.
Com sua fachada feita com base no seu “irmão mais velho” romano, o Pantheon foi construído para ser uma igreja em homenagem a St. Genevieve, padroeira de Paris. Sua construção ocorreu entre 1758 e 1789, estando pronto justamente no início da Revolução Francesa. Os revolucionários, então, resolveram mudar o objetivo do prédio, e de igreja passou a ser um monumento para abrigar os túmulos de grandes franceses. Voltaire, Rousseau e Zola, por exemplo, estão enterrados aqui, além de abrigar as cinzas de Marie Curie.
Seguindo pela rua em direção ao Jardim de Luxemburgo, parei numa casa de câmbio com valores interessantes e fiz a última troca de dinheiro. Alguns passos em frente, decidimos comprar comida para comer no parque, ou – melhor – no jardim, de Luxemburgo.
Maior parque de Paris, serve de jardins para o Palais de Luxembourg, sede do Senado francês. É como se fosse um refúgio de paz em meio à agitação da metrópole. Conseguimos um banco e cadeiras embaixo de uma árvores e, após o piquenique, ficamos um bom tempo tomando sol e descansando. Em meio ao nosso momento de meditação, toca o telefone celular do Pedro: era um colega, ligando de Porto Alegre. Ao perguntar se ele poderia falar àquela hora, e ouvir a resposta “Posso, mas estou em Paris”, o colega imediatamente desligou com um pedido de desculpas. Imaginamos que, a partir dali, a história de que não se pode ligar para o celular do Pedro porque ele pode estar em qualquer lugar, inclusive Paris, ia se tornar uma lenda…
Após esse tempo de descanso no Jardin de Luxembourg, seguimos andando pelo parque até uma das saídas no lado oposto ao que entráramos, na Rue Bonaparte, fomos em direção a Saint-Germain-des-Prés, passando primeiro na igreja de Saint-Sulpice, a segunda maior igreja de Paris, de 1646, construída sobre uma igreja anterior do século XIII. Em 1727, o padre Languet de Gercy, pároco da St-Sulpice, solicitou a construção de um gnomon, que é um primitivo relógio de sol, para auxiliá-lo na determinação dos equinócios e, dessa forma, da Páscoa. Foi justamente pelo relógio de sol que a igreja não foi destruída durante a Revolução Francesa.
Da Saint-Sulpice, seguimos para o Boulevard Saint-Germain, centro do 6º arrondissement e uma da principais ruas de Paris. Foi a parte mais importante da renovação da cidade promovida por Haussmann. Tanto o arrondissement, Saint-Germain-des-Prés, quanto o bulevar têm seu nome devido à Abadia de Saint-Germain, que data do século sexto. Além disso, Saint-Germain-des-Prés foi o centro do movimento existencialista, que teve por ícones Sartre e Simone de Beauvoir, e os famosos cafés Les Deux Magots e Café de Flore.
Fizemos esse trajeto percorrendo o Blv. St-Germain, até o seu final, junto à Pont de la Concorde, e adiante até a Pont Alexandre III, entrando, então, à esquerda em direção ao Les Invalides, antigo hospital e retiro de veteranos de guerra, sede de museus e local onde estão enterrados diversos heróis de guerra franceses, entre eles o túmulo de Napoleão. Bem cansados depois do longo dia de caminhada, que ainda não terminara, alguns de nós ficaram sentados descansando, enquanto eu tinha uma missão muito importante, pessoalmente falando: precisava de um banheiro com urgência…
Refeito, me juntei ao grupo, que estava com o moral baixo devido ao esforço físico a que fôramos submetidos até aquele momento. Conversamos, e foi possível dissuadir o grupo da idéia de desistir, então fomos adiante, em direção à Torre Eiffel. Tínhamos que chegar à torre e subir para apreciar a vista, de qualquer maneira.
O que fizemos?
Seguimos, claro, apesar das dores nos pés e pernas. Saindo dos Les Invalides, fomos pela Rue de Grenelle e até o Champ de Mars, cerca de quinze ou mais quadras. Quando chegamos lá, tão cansados estávamos que nem conseguimos reunir todos os integrantes para tirar uma foto do grupo junto (a Karina não foi convencida a desviar o caminho em cerca de cem metros para o local exato em que eu queria a foto…). Mesmo assim, percorremos o Champ de Mars, desde a École Militaire até embaixo da torre, para tentar subi-la. Vã esperança essa, a de subir.
Havia milhares de pessoas em longas filas para subir, certamente mais que o normal devido à cidade estar bem mais cheia que outras vezes que havia estado ali, principalmente pela época do ano e porque naqueles dias aconteceriam as finais da Copa do Mundo de Rugby. A disputa do terceiro lugar, entre França e Argentina, seria no dia seguinte, sexta-feira, ao mesmo tempo em que estaríamos embarcando de volta ao Brasil, e a final no sábado, entre Inglaterra e África do Sul. Havia, inclusive, toda uma decoração do entorno da torre motivada pelo rugby, além da iluminação noturna também ser temática.
Entramos na fila e, a medida que o tempo passava, nossa convicção em subir diminuía. O Pedro, que era o mais convicto, começou a também ter dúvidas, até que optamos por desistir e voltar ao hotel. Mas como, se havia a greve? Estávamos a quilômetros do hotel, e caminhar não era uma opção viável. A solução foi comprar um ticket de duas viagens num dos bateaus que fazem passeios turísticos pelo Sena. Com isso, voltamos sentados até próximo ao hotel, para onde fomos descansar e nos preparar para a janta de despedida, que foi num restaurante italiano de frente para o Sena, na Rive Gauche. Uma janta alegre, já lembrando os acontecimentos desde a saída de Porto Alegre. Havia sido uma grande viagem, todos concordamos.
Após a janta, último passeio noturno por Paris, o início da despedida dessa cidade maravilhosa. O dia seguinte seria para fazer os últimos passeios, as últimas compras antes de voltar. Seria um dia sem emoções, certo?
Errado.
Semana que vem, semana que vem.
Até.
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