Primeiro achei que estivesse ficando velho, e por isso não mais conseguia acompanhar e entender o que estava acontecendo no Brasil, no mundo. Por um tempo, estivesse muito próximo da resignação, afinal "o meu tempo tinha passado". Não conseguia entender o por quê da revolta, dos protestos, do povo nas ruas. Tudo isso pela passagem? Não poderia ser por só por vinte centavos.
Não era mesmo.
Os vinte centavos foram a gota d'água.
E por isso mesmo, assim como eu não entendia exatamente o motivo de tudo, percebi que não existe um motivo único, existem milhares de razões que foram se acumulando e cada um que está na rua tem os seus motivos, e provavelmente o único ponto de convergência entre todos é a insatisfação que chegou a um ponto intolerável. A panela de pressão não resistiu. Essa perplexidade minha e de muitos que tentam entender o fenômeno decorre da falta de distanciamento histórico, de olhar em perspectiva.
Até porque um movimento pura e simplesmente de insatisfação, sem um norte, sem um objetivo claro, pode se perder nessa falta de rumo. O resultado para uns (as passagens baixaram!) provavelmente não será o sucesso de muitos outros. É um risco, e a total novidade do movimento não permite que possamos prever onde isso terminará.
Sem falar que temos visto de tudo, e muitos que querem se apropriar do movimento. Desde o jovem militante do PT que organizou um jantar para arrecadar fundos para pagar as multas dos mensaleiros e quis ser interlocutor do protesto em Brasília e foi repudiado pelos outros manifestantes, que bradam contra a corrupção, até aqueles querem dizem que é contra o governo Dilma. Desde manisfestantes de esquerda que gritam contra a burguesia (sério, juro que ouvi algo nesse sentido!) até conservadores de direita saudosos dos governos militares.
O que parece, visto daqui da conforto da minha sala, nutrindo uma grande vontade de me juntar aos que marcham em paz, é que estão todos errados, e todos certos ao mesmo tempo. Gosto do espírito político mas não partidário do movimento, não tenho ideia do que será ali na frente, mas gosto - acima de tudo - da ideia de que o "gigante despertou".
Até.
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