domingo, junho 23, 2013

A Sopa 13/01

Crise de identidade.

E aqui reafirmo minha convicção: tempos estranhos esses, em que vivemos.

Imagino que no passado era muito mais fácil saber qual era o teu papel no mundo e, mais significativo, saber quem eras e em que lado da mesa estava, ou deveria estar. As noções de direita e esquerda eram bem claras, e tomar posição era muito mais simples. Todos sabiam os seus papéis. Tudo isso, contudo, ficou no século (milênio, na verdade) passado.

Hoje em dia, por mais que as pessoas insistam em tentar definir os outros em esquerda e direita, bem e mal, e o leitor tem total liberdade de associar bem e mal com a posição política que lhe convier, isso é uma perda de tempo, e uma atitude quase infantil. O mundo mudou muito, e nem tudo é branco ou preto, vermelho ou não. O maniqueísmo típico de outros tempos não cola mais, é ultrapassado como uma camiseta do Che Guevara.

Eu, por exemplo.

Não sei o quê sou em se tratando de ideologia. Poderia agora citar trecho de música para ilustrar meu argumento (“Meu partido/É um coração partido/E as ilusões/Estão todas perdidas/Os meus sonhos/Foram todos vendidos/Tão barato/Que eu nem acredito/Eu nem acredito/Que aquele garoto/Que ia mudar o mundo/Mudar o mundo/Frequenta agora/As festas do Grand Monde...") e mostrar que, ao menos para mim, o posicionamento político-ideológico ficou complicado. Se isso é bom ou ruim, não sei. Existem vários exemplos.

Se eu acho que o aborto é decisão única e exclusiva da mulher e, se ela acha que deve fazer, deve ter o direito de fazê-lo sem ser criminalizada por isso, sou de esquerda.

Se eu acho que o MST se tornou um movimento sem legitimidade, sou de direita.

Se eu sou a favor da vinda de médicos estrangeiros para trabalhar no Brasil, sou de esquerda, mas quando digo que devem, por lei, revalidar seus diplomas, sou de direita.

Se eu acho que os condenados à prisão pelo STF no caso do mensalão devem perder seus cargos eletivos, sou conservador de direita. Mas quando me mostro a favor de que todos tenham os mesmo direitos, independente de opção sexual, sou de esquerda.

Quando digo que acho que as cotas nas universidades públicas são necessárias, sou militante de esquerda, mas quando fico desconfortável com o me parece um processo de “venezuelização” (no mau sentido, mas nada contra a Venezuela, falo do chavismo) do Brasil, sou quase taxado de membro da Tradição, Família e Propriedade.

Quando digo que acho os Estados Unidos uma grande nação, mesmo com seus problemas, sou de direita. Quando digo que moraria lá tranquilamente, sou quase um radical de direita.

Se digo que sou a favor da Lei do Ato Médico, sou um mercenário corporativista. E quando digo que, sim, eu atendo pacientes do SUS sem receber um centavo em troca, não acreditam.

Quando defendo a liberdade de expressão, sou de esquerda, mas quando discordo daqueles que querem calar a Rede Globo / RBS, eu sou vendido ao sistema.

Quando eu acho que a hora de protestar contra a Copa no Brasil era há oito anos, e agora querer que dê errado (que não venham turistas para o Brasil) é um tiro no pé que só vai aumentar os prejuízos a todos, me chamam de ingênuo. 

E assim por diante.

Tempos complicados esses, não?

Aqueles que precisam rotular e classificar as pessoas o tempo todo para sentirem-se mais seguros devem se frustrar comigo (e com muitos de nós). Pois é.

A vida, e o mundo, são bem mais complicados do que as pessoas gostariam.

E assim vamos vivendo.

Até.

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A reativação desse blog nos últimos dias ocorreu, como todos notaram, em virtude dos acontecimentos que agitaram o Brasil e as redes sociais nas últimas semanas. Pretendo continuar ativo e frequente por aqui, mas começo a ficar desanimado em escrever sobre esses fatos e suas repercussões... vamos ver...


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