domingo, novembro 08, 2020

A Sopa

 (Crônicas de uma Pandemia – Duzentos e Trinta e Nove Dias)

 

Sou influenciável.

 

A história clássica que comprova isso é da minha relação com bancos. Anos atrás, já médico, e por isso mesmo, por ser médico, talvez pelo potencial financeiro que se via nesse fato, eu era alvo de alguns bancos, que me procuravam para ser seu cliente, a despeito do fato que, objetivamente, eu não era – em termos financeiros, claro – tudo aquilo que eles imaginavam. Aconteceu mais de uma vez.

 

Os bancos em questão me procuravam e ofereciam a possibilidade de abertura de conta corrente, isenta de tarifas de manutenção, com cheque especial e outros benefícios. Faziam a oferta, sedutora, e – claro – eu aceitava por influenciável, como falei. Bank of BostonCitibank foram dois bancos em que tive contas abertas nesse esquema.

 

Com relação ao primeiro, Bank of Boston, mantive a conta por alguns meses, com saldo zero, até perceber que não fazia sentido nenhum mantê-la (até porque trabalhava com outros bancos) e encerrá-la. Fui prejuízo para o banco, lamentavelmente. Quanto ao Citibank, foi um pouco diferente. Mantive a conta aberta por uns bons anos, com pouca movimentação. O principal uso era para renovar o visto americano, quando ainda durava cinco anos e o pagamento não era online. De qualquer forma, fui mantendo a conta até o que Itaú (de quem sou cliente há muito mais anos) incorporou-o e essa conta foi absorvida pela que já tinha. Resolvido. E faz um certo tempo que estou “imune” a isso.

 

Pois dizia eu que sou influenciável.

 

Sou mesmo.

 

Quero dizer que tenho poucas certezas pétreas, que nunca mudarão, e que tem a ver com quem sou, com o que podemos chamar de essência, ou princípios. Meus princípios não mudam.

 

O resto, contudo, pode mudar. Se apresentado a evidências que contradigam meus conhecimentos, que provem que estou errado, não tenho nenhum problema em mudar de ideia e/ou opinião. Só os idiotas não mudam de opinião quando frente a fatos/conhecimentos que invalidem ou mudem o que pensavam antes.

 

Por isso é bom sair da bolha vez que outra. 

 

Nem sempre é fácil ouvir pessoas com opiniões e visões de mundo diferentes das nossas, admitir que nem sempre sabemos tudo e que sempre podemos aprender com os outros. Só que dentro da bolha, dentro do ambiente seguro onde todos pensam como nós, nem sempre (quase nunca) temos essa oportunidade.

 

Não que vamos necessariamente mudar de opinião sempre. Sempre é bom respirar ar puro, contudo. E sair um pouco da bolha nos deixa respirar melhor.

 

Até.

 

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