domingo, maio 21, 2023

A Sopa

Existe uma expressão em inglês, “take for granted”, cuja significado é algo como tomar por certo, por garantido, sem questionar, mas que também significa não valorizar algo ou alguém por uma “super familiaridade”, ou seja, que parece sempre ter estado e que sempre estará ali. Como eu disse, algo que nos parece banal, normal, mas que - se ficarmos sem - nossa vida ficará, ao menos, mais complicada.

 

Pensei nisso enquanto subia no elevador desde a garagem até o sétimo andar do edifício onde vivo pela segunda (ainda haveria uma terceira logo após) vez na mesma manhã de domingo, após ir e voltar do supermercado e estar devolvendo o carrinho que usei para transportar as compras da garagem até o apartamento até o local onde fica guardado. Aliás, já aconteceu de, ao tentar entrar no elevador, me deparar com o mesmo carrinho deixado por um morador que – infringindo o contrato social, civilizatório – deixou-o ali para que alguém fizesse o que ele deveria ter feito, mas isso – definitivamente – vem ao caso.

 

Falava eu daquelas coisas que tomamos como certas, garantidas na vida, que parece que sempre estarão ali e não damos valor. Os “confortos” da vida moderna, como a eletricidade e tudo que depende dela para funcionar, desde a iluminação de nossas casas, elevadores, até as bombas que “puxam’’ as águas dos rios para as estações de tratamento e que serão depois “enviadas” até nossas casas. Sem ela, a eletricidade, a vida seria muito mais difícil. É também por isso que não entendo aqueles que dizem que o mundo está pior, que a vida era melhor no passado.

 

Não era.

 

A mundo, a vida, atualmente, são MUITO melhores do que foram no passado. Essa sensação, essa impressão de que as coisas estão piores é um erro a que somos condicionados tanto pelo mundo exterior (imprensa, por exemplo, que tem a tendência a noticiar o que é ruim) quanto por nós mesmos, a partir de idealizações do passado. É uma tendência muito comum essa, de desvalorizar o momento presente (take for granted) e supervalorizar o passado. Se pensarmos racionalmente, criticamente, essa impressão não se sustenta. 

 

Há menos violência, menos guerras. A expectativa de vida nunca foi tão alta, mesmo levando-se em conta um ligeira diminuição pela pandemia do coronavírus. Em geral, vivemos mais e melhor, mesmo com os problemas que ainda existem. E não é conversa de otimista ou “Poliana”. São informações baseadas em dados. Fatos.

 

Penso nisso tudo também com relação às pessoas, e volto a falar em to take for granted... Tento, em um esforço virtualmente diário, não deixar isso acontecer. Tanto no sentido de valorizar as pessoas com quem convivo, estar com elas, mas também não deixar de – o mais frequente que posso – conviver com aqueles que não fazem parte do meu dia a dia. Encontrar, estar junto, por mais difícil que seja, porque sei que elas não estarão aqui para sempre.

 

Até.

Nenhum comentário: