domingo, maio 07, 2023

A Sopa (Perdidos Mães e Filhos 35)

O dia em que perdi minha mãe no aeroporto.

 

Antes, uma correção.

 

Eu havia dito que a franquia do carro em caso de acidentes era de mil seiscentos e sessenta euros, mas me enganei. A franquia era de dois mil euros, “um pouco a mais” ...

 

De qualquer forma, eu estava em parte – em parte – tranquilo, pois, ao alugar o carro com o seguro e a dita franquia, eu havia também feito um seguro a mais, completo, sem franquia, com uma segunda seguradora, o que fui me dar conta mais tarde. Dessa forma, eu tinha cobertura total, não tinha dúvida, mas também sabia que teria que pagar a franquia e depois solicitar reembolso do valor pago. Tudo certo, em princípio, mas sempre existe aquele “pé atrás” e uma certa insegurança do tipo “será mesmo que vão pagar?”. Só saberia depois, quando solicitasse o reembolso.

 

Acordamos, tomamos café da manhã, fizemos o checkout do hotel e fomos até o estacionamento da locadora para entregar o carro. O funcionário que nos esperava recebe a chave e perguntou se havia corrido tudo bem. Eu disse que sim, exceto por um pequeno “problema”, e mostrei o “estrago”. Ao ver o estrago, começou a fazer o registro do incidente, chamou um colega para auxiliá-lo. Tirou fotos, eu descrevi o ocorrido, e – num tablet – registrou tudo e automaticamente registrou o valor a ser pago: mil seiscentos e sessenta euros... Pagos com o cartão de crédito, e teria que pedir reembolso posteriormente.

 

O estrago


Liberados dessa burocracia, fizemos o checkin para o longo voo diurno da LATAM de Milão para Guarulhos. No horário correto, partimos de volta ao Brasil.

 

Agora não haveria mais correria e nem estresse.

 

Ou haveria?

 

O voo transcorreu tranquilo. Ainda havia a obrigatoriedade do uso de máscaras durante todo o voo, o que era – por um lado – chato, mas que foi providencial para a Jacque, que foi num assento ao lado de um italiano que exalava um cheiro de cigarro quase insuportável. Muitos filmes vistos para passar o tempo depois, aterrissamos em Guarulhos. Foi quando começaram os momentos de emoção para fazer a conexão para Porto Alegre. O nosso voo era às 23h, o último do dia para Porto Alegre.

 

Começando a volta, em Milão


Desembarcamos, passamos pela imigração brasileira e fomos esperar nossa bagagem. Que demorou. MUITO. Esperávamos enquanto o tempo passava, e o tempo da conexão ficando cada vez menor. Após um tempo excessivamente longo, chegaram. Passamos pela alfândega sem sermos parados e fomos para a fila do checkin de conexão. E o tempo passando. Longa fila, atendimento demorado, pessoas furando a fila, discussões, vozes alteradas. E nós, quietos, aguardando.

 

Feito o checkin, tivemos que sair correndo do terminal 3 para o terminal 2, onde seria o embarque. Ao chegar na fila para a inspeção, nos separaram, e a Mãe foi para a fila de prioridades, a Marina e a Karina para uma e a Jaque e eu para uma terceira fila. Passamos e, a sair dessa área para irmos para o portão de embarque, não encontramos a Mãe. O nosso portão ficava num extremo do terminal, e concluímos que – pelo tempo escasso – ela já havia ido para o portão. Enquanto caminhávamos rápido, funcionários da LATAM nos apressavam. Chegando no portão, descobrimos que a minha Mãe nunca havia chegado até ali. Além de tudo, ela estava sem o celular funcionando (não havíamos recolocado o chip nele).

 

Eu havia perdido a minha Mãe no aeroporto de Guarulhos.

 

O que fazer?

 

Disse para que eles esperassem que eu iria buscá-la.

 

Saí praticamente correndo em direção de volta ao local da inspeção, procurando por ela e já imaginando que ela e eu iríamos perder o voo e acabar dormindo em São Paulo e só chegando em casa bem mais tarde no outro dia. Cheguei ao ponto de início e ela não estava lá. O que fazer, nesse momento?

 

Foi quando a vi, junto com outra pessoa, vindo da direção contrário de onde era o nosso portão. As duas, passageiras do mesmo voo, haviam sido informadas por engano de que o portão era no extremo oposto de portão correto, e foram até lá. Chegando lá, informadas do erro, estavam fazendo o caminho de volta. Nos reunimos, e fomos caminhando para o portão certo, mesmo com a histérica pressão de funcionários da LATAM para que corrêssemos (ainda havia tempo até a hora de sair o voo).

 

Embarcamos, e ainda esperamos um tempo até o voo realmente sair.

 

Voo, finalmente, tranquilo. 

 

Chegamos em Porto Alegre por volta de 0h40 da terça-feira de carnaval. Despedidas no aeroporto e fomos – em três carros diferentes para regiões diferentes da cidade – para casa. Dormimos por volta das duas horas da manhã, cansados e felizes.

 

Havia sido uma ótima e inesquecível viagem.

 

Até. 

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