Que nem criança com a boca aberta
O telefone chega sexta-feira
Aperto o passo por causa da garoa
Me empresta um par de meias
A gente chega na sessão das dez
Hoje eu acordo ao meio-dia
Amanhã é a sua vez
Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver
O mundo anda tão complicado
Que hoje eu quero fazer tudo por você
Temos que consertar o despertador
E separar todas as ferramentas
Que a mudança grande chegou
Com o fogão e a geladeira e a televisão
Não precisamos dormir no chão
Até que é bom, mas a cama chegou na terça
E na quinta chegou o som
Sempre faço mil coisas ao mesmo tempo
E até que é fácil acostumar-se com meu jeito
Agora que temos nossa casa
É a chave o que sempre esqueço
Vamos chamar nossos amigos
A gente faz uma feijoada
Esquece um pouco do trabalho
E fica de bate-papo
Temos a semana inteira pela frente
Você me conta como foi seu dia
E a gente diz um pro outro
Estou com sono, vamos dormir!
Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver
O mundo anda tão complicado
Que hoje eu quero fazer tudo por você
Quero ouvir uma canção de amor
Que fale da minha situação
De quem deixou a segurança de seu mundo
Por amor, por amor
‘O mundo anda tão complicado’ é o nome de uma música criada e gravada pela Legião Urbana no seu quinto disco, e cada vez mais esse título traz uma verdade irrefutável. Uma verdade não só brasileira, mas mundial: o mundo anda de verdade cada vez mais, digamos, difícil.
Quando do lançamento de ‘V’, cinco em números romanos sinalizando o quinto disco da banda, trabalho onde está a música referida, no distante ano de 1991, no milênio passado, a letra da música - que fala de um casal começando uma vida a dois juntos, montando a casa, se mudando, iniciando uma nova vida – era para mim, nos meus dezenove anos, praticamente uma aspiração. Era eu quem queria “deixar a segurança do meu mundo, por amor”.
E assim foi, alguns anos depois. Oi, Jacque.
Mas falava do mundo, e das complicações que vão além das questões pessoais de vida. Sim, é verdade que a vida é MUITO melhor hoje em dia do que era no passado, e os saudosistas, aqueles que glorificam o passado, vivem o fenômeno da idealização do que já foi. Inconscientemente (e como mecanismo de defesa) preferem lembrar do que era bom em detrimento das agruras de se viver antigamente. Por outro lado, há – sim - uma dificuldade crescente de se viver, mais especificamente de saber como viver, como se portar e como falar. A tirania do politicamente correto está esmagando o bem viver, e indo para um lado perigoso, de estímulo à intolerância, à polarização.
É evidente e óbvio que determinados comportamentos que eram aceitos no passado não podem mais ser rotulados como normais e nem adequados. Menos ainda como culturais. E devem ser combatidos, sempre. Como o machismo, o racismo ou qualquer outro tipo de discriminação com relação ao que as pessoas são, como ou com quem vivem. Aliás, as pessoas deveriam (devem) ter o direito de ser e viver da forma que quiserem.
Penso nisso todas as vezes em que vou ao supermercado e – ao comprar pão francês – perguntam se quero o pão “mais branquinho” ou “mais moreninho”...
Pão, eu quero um pão que esteja bom.
Só isso.
Até.
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