Dezembro.
Não desejamos mal a quase ninguém...
Eu tenho, por princípio fundamental, a tendência a acreditar nas pessoas. Todos são pessoas de boa fé até que se prove em contrário. Apesar dessa crença na humanidade, não sou bobo (ou tento não ser).
Essa semana foi momento de trocar os pneus do carro. Os quatro, de uma vez. Já estavam pedindo isso, afinal meu carro tem quase cinco anos e quase cinquenta e oito mil quilômetros. Ela havia chegado numa fase em que estava desgostoso com ele, que parecia apresentar sinais de que era hora de ser trocado, apesar de eu gostar muito de dirigi-lo e ter um tamanho adequado para minhas funções de motorista da família e da Marina e amigos. O teto solar vinha entrando água quando chovia muito, a bateria já não era mais a mesma, os pneus estavam dizendo para todo mundo que cabelos eram supervalorizados...
Era hora de tomar uma atitude.
Pesquisando, aprendi que o teto solar do carro tem um dreno que deve ser limpo. Feito. Parou de entrar água... A bateria me avisou em um dia à tarde que estava morrendo, a tempo de eu chegar em um estacionamento de um hospital onde trabalho e de lá pedir a tele-entrega de uma nova. Feito. Até o sistema de Start and Stop voltou a funcionar.
Faltavam os pneus.
Nesse meio tempo, caí de bicicleta, fraturei o braço direito, fui submetido à cirurgia para colocar placa e parafusos e fui adiando a troca. Não fomos com o meu carro para a fazenda no início de novembro (eu não podia dirigir na naqueles primeiros dias de pós-operatório), quando passei todo o feriado me sentindo um chapéu velho, inapetente, com diarreia, e muito frio, tanto é que passei quase o tempo todos “abraçado” no fogão à lenha...
Mas tudo melhorou e chegou a hora tomar uma atitude.
Quarta-feira que passou foi dia de resolver o problema. Assim que acordei fui fazer uma pesquisa de preços online nas principais lojas de pneus. Negociei via WhatsApp e decidi que o melhor preço/qualidade seria na Zé Pneus, que tem várias lojas em Porto Alegre. Escolhi a filial mais ou menos perto de casa. Tudo certo.
Fui até lá, já estavam me esperando.
Ao retirar o primeiro pneu, o funcionário me chamou, me mostrou o amortecedor e disse que estava vazando e deveria trocá-lo. Paciência, pensei. Quanto vai sair a brincadeira, pensei, já pesquisando no Mercado Livre. Ele me disse que não tinham à disposição, mas cotariam o preço e me dariam retorno. Tudo certo, mais uma vez. Trocaram os pneus e fui embora.
Em meio à tarde, recebi o orçamento: cinco mil e trezentos reais (!!!).
Respondi que estava meio caro, que iria fazer outros orçamentos e que entraria em contato. Respondeu que seria possível reduzir algumas coisas e que poderia sair por mil reais a menos... Respondi eu iria ver e daria retorno. Ato contínuo, mandei mensagem para a empresa onde fizera a troca das pastilhas de freio por um valor honesto solicitando orçamento. Disseram que me retornariam com o valor assim que possível, o que não aconteceu no mesmo dia. Enquanto isso, passei a ouvir ruídos enquanto eu dirigia, ruido que nunca ouvira...
Dia seguinte, quinta-feira de manhã.
Vou direto para o hospital, e faço a parada usual na Associação dos Médicos, para um café e encontrar colegas. Encontro os mesmos desse horário (somos pessoas de rotina). Em meio à conversa, conto a história dos amortecedores, e o Valentin, que foi meu professor, meu médico, também médico do meu pai, e que é amigo e meu paciente, me recomendou procurar o mecânico dele, ali perto do hospital, para uma avaliação. Para tirar a dúvida e dar um orçamento justo.
Antes do final da tarde, recebi o segundo orçamento que havia pedido: três mil e novecentos reais. Ainda caro, mas melhor. Terminei o consultório e fui até o mecânico que havia sido indicado.
Cheguei, me apresentei, disse quem havia me indicado e ele disse que estava me esperando (já havia sido avisado que eu iria). Expliquei a ele os fatos. Levantou o carro, olhou, olhou, circulou em volta do carro, baixou o carro, “sacudiu ele”. Disse que os amortecedores estavam bem, que não precisavam ser trocados. Estava tudo bem. Não iria me cobrar nada, evidentemente.
Saí feliz e aliviado, mas logo pensei: “filho da puta”!
O caro que trocou os pneus e disse que precisava a troca havia tentado me induzir a gastar cinco mil reais sem necessidade. Cinco mil reais! Se tivesse disponível na hora e me cobrasse uns dois mil, é provável que eu tivesse feito a troca. Gastaria dois mil sem necessidade, por ingenuidade, por acreditar na seriedade/honestidade das pessoas.
Qual a lição disso? Qual o aprendizado, qual a mensagem?
Nenhuma.
Vou continuar acreditando nas pessoas até que me provem o contrário, apesar de procurar entender / estudar as coisas. Outras opiniões, outros orçamentos, outros lugares.
É o meu jeito, paciência.
Até.
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