domingo, dezembro 24, 2023

A Sopa

Retrospectiva (2).

 

Sigo refletindo sobre 2023.

 

Falei de saúde, e de como – apesar de uns tombos, literais nesse caso, que a vida nos proporciona – sigo em frente altivo, confiante, resoluto. Vamos adiante, então.

 

Antes, contudo, voltemos no tempo.

 

 Durante muitos anos, e há muitos anos, houve um tempo em que minha atividade médica “engatinhava”, no sentido de que era um momento em que eu ainda não havia – modo de dizer – me encontrado como médico. Posso dizer que havia uma certa relutância em me assumir 100% médico, porque existia a crença de que isso seria limitador, de que não poderia ser nada mais do que médico. É possível que essa ideia – errada, hoje sei – tenha surgido da observação de colegas, que não sabiam falar de ou fazer outra coisa que não estivesse relacionada à medicina, e eu não queria ser daquela forma.

 

Era uma limitação minha, essa de não enxergar além, uma visão míope das coisas.

 

O que causou o que poderia ser chamado de atraso no desenvolvimento e/ou evolução da minha carreira médica, porque eu nunca me dedicava totalmente a ela para – em minha limitada visão naquele momento – não excluir outras possibilidades, o que gerava uma situação de inércia, pois não ia para nenhum lado, não avançava em nenhuma direção. Houve, contudo, um momento de virada: o ano em que completei trinta anos.

 

Decidi, conscientemente, que era hora de tomar uma atitude, tipo ou vai ou racha. Era hora de me dedicar totalmente à medicina para ter certeza de que era isso que eu deveria, ou gostaria de, ser. Foi o que fiz, e as coisas acabaram dando certo, posso dizer. Terminei o doutorado (que havia começado mesmo na fase da inércia) e emendei com o pós-doutorado no Canadá. Voltei do período em Toronto e havia um caminho (que eu havia) pavimentado em frente. Eu era, enfim, 100% médico. Porém, mantive a ideia de fazer algo além, um plano B ou uma rota de fuga. Vai que eu desistisse da carreira médica. Mas não só por isso. Eu queria mais, porque eu não era “apenas” médico. Eu era mais, queria fazer mais, queria expandir meu universo pessoal, olhar além.

 

Essa ideia, ou plano, fico latente durante um relativamente longo período, porque acabei assumindo compromissos profissionais que ocuparam meu tempo quase completamente, e foi bom, mas não tinha tempo nem para escrever, de tantas atividades em que estava envolvido. Eu era parte de uma engrenagem, e a roda não poderia parar. Segui correndo e assumindo mais e mais compromissos, e estava satisfeito com os resultados, tanto profissionais quanto financeiros, evidentemente. Trabalhei, inclusive, no mundo corporativo.

 

Chegou um momento em que vi que essa loucura tinha um prazo para acabar, e defini o meu momento de mudar, e ia começar a me preparar para isso quando – em uma reestruturação corporativa após uma auditoria externa – anteciparam o momento de eu sair do trabalho em uma multinacional, cerca de dez meses antes do que eu planejava. É da vida, e decidi nesse momento fazer um “ano sabático”, me dedicando apenas ao atendimento de pacientes, período esse que terminaria justamente quando começou a pandemia...  

 

Não vou falar da pandemia porque já se falou (já falei) demais dela.

 

Assim como já falei de como voltei (se é que já havia estado alguma vez) ao mundo da música. Primeiro como pai de aluna. Depois, como aluno. Finalmente, há alguns meses, como sócio da School of Rock aqui em Porto Alegre. Decidi depois de (muito) pensar, investir em um negócio fora da medicina, que segue minha principal atividade, pois foi ela que me proporcionou os meios para investir nesse, digamos, projeto paralelo.

 

Não mais como plano B ou rota de fuga, mas uma parte importante de quem sou e que reafirma a ideia de ampliar cada vez mais os meus horizontes, e ter a convicção de que as habilidades desenvolvidas como empreendedor, músico e escritor me tornam um médico melhor, uma pessoa melhor. 

 

E que venha 2024.

 

Até.  

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