quarta-feira, dezembro 06, 2023

A Sopa

Como está sendo o seu dia? E o mês, o ano?

 

Como avaliamos a vida, em geral? É apenas do ponto de vista pessoal, individualmente falando, o microcosmos em que vivemos como referência para sabermos se estamos – ao menos – no caminho certo, ou devemos levar em conta o todo, o mundo, o Universo? Devemos levar em conta a guerra da Ucrânia, a violência no Rio de Janeiro, os ataques terroristas contra Israel? O Universo em expansão, os buracos negros? Prejudica tua avaliação de quão bem está sua vida?

 

E no plano pessoal, falando das adversidades da vida, elas conseguem te abater?

 

Pensei isso esses dias enquanto lidava com as limitações temporárias decorrentes do meu acidente de bicicleta, a fratura do braço e o pós-operatório da cirurgia de colocação da placa fixada por parafusos. Percebi que andava desanimado, meio cabisbaixo, em contraposição ao meu estado de ânimo nos dias precedentes ao acidente. As circunstâncias haviam me colocado para baixo. Fatos que não estavam sob meu controle me chateavam, deprimiam. 

 

Tenho dito por aí que a vida de tempos em tempos tenta nos derrubar, e volta e meia até consegue... Cabe a nós mesmos levantar e continuar caminhando. De novo e sempre, por mais que caiamos.  Eu, por exemplo, caio.

 

Parênteses.

 

Estive pensando nisso, na teoria de que o nosso discurso molda a nossa realidade. Já há algum tempo eu tenho por hábito dizer para as pessoas que sou alguém que cai. Sim, porque tenho um passado de algumas quedas, principalmente em banheiras (e até para fora de algumas delas). Poderia dizer que crio a expectativa de que vou cair e, quando isso, evento na verdade raro, acontece, a minha queda torna-se evento confirmatório definidor de quem ou o quê sou. O que não é verdade.

 

Fecha parênteses.

 

Falava eu, então, da maneira pela qual avaliamos a vida em geral. Que perspectivas utilizamos, se olhamos para o nosso próprio umbigo ou devemos ser mais amplos, olhar para o mundo em geral. Confesso que não tenho uma resposta definitiva para isso, principalmente porque esse tema entra naquele tipo de situação termos controle versus não termos controle sobre o que acontece. A pergunta é: qual o sentido de avaliarmos nossa vida levando em conta o que nos acontece e que é fruto do acaso, se – por ser justamente isso, o acaso – não depende de nós mesmos. Será que não deveríamos avaliar o que nos acontece tendo por base o resultado de nossas ações, as consequências de nossas escolhas?

 

Mais uma vez, não sei.

 

Aqui do Sul do Mundo, onde vivo, procuro avaliar minha vida sob o ponto de vista estritamente pessoal, individual. Olhando para o meu umbigo, me olhando no espelho. Irresponsavelmente, talvez, procuro desconsiderar o mundo exterior nesses momentos de autoavaliação. Estar bem, satisfeito comigo mesmo, não depende do mundo exterior. E não depende, também, apenas do momento atual (que é importante, eu sei).

 

Quando, no final do dia, paro e penso nisso, em como vai a vida, procuro o olhar o todo, o meu todo, a minha história e minha trajetória, não apenas um recorte de momento. Porque o contexto e a trajetória, a jornada, são importantes, ao menos para mim. De onde vim, onde estou e para onde vou.

 

Só depois dessas reflexões é que posso olhar para fora, e ir atrás de mudar o que posso mudar, o que depende de mim, e procurar ter a serenidade de aceitar o que não depende de mim.

 

Até. 

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