Esta é uma crônica repetida. Não que eu já a tenha publicado anteriormente, mas é um assunto do qual muitos – melhor, quase todos – cronistas já trataram. Por isso não é original. É que é um assunto universal, e muitos outros já trataram dele com mais brilhantismo do que farei, mas não estou nem aí (esse é o momento em que faço expressão de desdém e boto a língua para o monitor). Espero que aquele papo de que a Microsoft monitora nossas vidas o tempo todo seja só paranóia. Vou falar de saudosismo e da passagem do tempo.
Há algum tempo, um grande amigo meu portador de uma mente brilhante, Otávio Costa dos Santos – o Radica - em meio a uma conversa nossa, disse que um sinal de que se está ficando velho é quando começamos a dizer ‘eu sou do tempo...’. E completou: “Eu sou do tempo do Eskibon de caixinha”. Eu também sou.
Pode parecer que não é importante se o Eskibon vem na caixinha ou naquele papel-plástico sei lá de que é feito, mas é. Há quanto tempo atrás vinha uma caixinha ao invés de um papel? A pergunta é ‘quem éramos nós quando o Eskibon vinha numa caixinha’? Quais eram os nossos sonhos, nossas aspirações mais profundas? Será que se perderam junto com a caixinha desse sorvete que pode ser considerado uns ícones de uma geração?
O Eskibon de caixinha é de um tempo bem posterior aquele em que se amarrava cachorro com lingüiça. Também é bem mais recente que o ‘tempo do Epa'. É de um tempo em que se algo era inaceitável, era ‘o fim da várzea’. Mas o fim da várzea era apenas o começo da picada, que – se chegássemos ao seu o fim – aí não restavam mais alternativas mesmo. Acho que era um tempo em que jogávamos bola na calçada sem medo de ter a mesma roubada ou ser seqüestrado. E brincávamos de esconder na rua de noite, e não nos escondíamos em casa após o toque de recolher informal, assustados.
Que saudades do Eskibon de caixinha.
Um comentário:
Sim, Marcelo. Você, com seus 33 anos mexeu com minhas lembranças.
Você é uma criança para o esquibom de caixinha.Quando cheguei No Rio de Janeiro em janeiro de 1954 conheci o "dito cujo", e o vi ficar "de maior". Quando ele trocou a caixinha por essa roupagem moderna eu fiquei vários dias aborrecido, mas aos poucos fui me acostumando. Hoje já aceito essa mudança passivamente e,não é sempre, quando vou saborear um sorvete só me lembro dele.
Saudações
Elifas Araujo
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