domingo, junho 28, 2009

A Sopa 08/47

Uma lembrança e um pensamento.

Há um tempo, não lembro bem quando, escrevi numa Sopa sobre a minha churrasqueira que não existe (assim como o bar da cerveja imaginária, mas isso é outra estória). Só para atualizar: como moro num apartamento relativamente antigo – do início dos anos 80 – apesar de ser um ótimo apartamento, daqueles para se morar a vida toda, ele não tem churrasqueira, o que é motivo de frustração de minha parte.

Não que eu seja um cara que faria churrasco todos os dias. Existem pessoas que me conhecem bem que dizem que – mesmo se eu tivesse uma churrasqueira em casa – eu não faria churrascos assim como posso induzir você, caro leitor, a imaginar. Mas não é esse o problema. Fazer ou não é uma questão secundária. O importante é poder fazer. É existir a possibilidade.

Sei que falo nisso com certa frequência, mas cada vez mais me convenço que a felicidade e a infelicidade das pessoas está relacionada a isso, a poder ou não, à capacidade de fazer ou não. O entendimento disso pode levar as pessoas à paz de espírito definitiva. Ou não, sei lá. De qualquer forma, o conceito da churrasqueira que não existe serve para as mais diversas situações.

Lembro que quando morava em Toronto, dos invernos canadenses. Muito frio, neve, e – vez que outra – nenhuma vontade de sair de casa. Alguns finais de semana em que conseguia ir ao supermercado na sexta-feira à tarde era passados inteiramente sem sair de dentro de casa, apenas olhando a paisagem branca da rua vista do vigésimo-primeiro andar, lendo, escrevendo e assistindo televisão. Achava o máximo, mas somente porque era minha escolha, eu podia ficar em casa se quisesse. Por outro lado, se eu fosse obrigado a ficar em casa provavelmente eu acharia uma situação de tédio extremo, porque eu não teria escolha, evidentemente. Mesmo que fosse por uma causa nobre, o que diminuiria um pouco a sensação, mas não muito.

Como o caso de uma querida amiga que está em repouso absoluto em casa devido a uma gravidez de gêmeos. A causa é a mais nobre possível, a motivação é total, mas mesmo assim imagino que ela esteja se sentindo presa, e entediada. Simplesmente porque não é por escolha (ficar em casa, não a gravidez), mas uma necessidade. Que sabemos ali na frente vai dar o melhor resultado do mundo, mas que não deve ser fácil mesmo. Fica aqui minha solidariedade.

Mas eu falava de ter possibilidades.

Sabemos que quanto mais envelhecemos, menores são as possibilidades que temos na vida. Em tese, claro. Pois o mundo está cheio delas, é só olhar direito, e elas não são incompatíveis com a vida que levamos, com o crescer, ter responsabilidade, etc e tal. O que muda é que não podemos querer ter as mesmas possibilidades que tínhamos aos doze ou dezoito anos com trinta e sete.

Primeira namorada é só uma vez, por exemplo.

Para pensar.

Até.

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