Um apelo às TVs: mostrem o Inter.
Falei do passado na última coluna e me dei mal. Disse que não houve incidentes na partida entre Corinthians e Fluminense em 1976, e que tudo se passou em santa paz. Fui corrigido pelo meu velho amigo, e grande diretor, Julio Xavier, citado na coluna e que, na ocasião foi ao Maracanã. Ao contrário do que afirmei, o carro do Julio foi emboscado na entrada do Rio, com gente pisoteando o capô, a lataria sendo afundada, vidros quebrados e sua camisa do Corinthians arrancada violentamente. Mulheres que estavam no carro também não foram poupadas. Ele me diz, por fim, que soube de facadas e tiros. É isso que dá mexer no passado. Never more.
Por isso quero hoje me dedicar ao presente, e começo com um apelo. Senhores responsáveis pela programação das TVs, pensem um pouco nos pobres telespectadores de S.Paulo. Parem de nos mostrar jogos como os desta semana. Ainda há nesta cidade pessoas que gostam de futebol. Por favor, transmitam os jogos do Internacional de Porto Alegre. Não só em TV fechada, mas aberta, para todo o país, talvez em rede nacional como os pronunciamentos do presidente.
Não adianta mostrar estádios lotados, com multidões esperando milagres de times medíocres. O Vasco deu pena. O time é horrível e, graças a Deus, entrou com um uniforme que nada lembrava o grande Vasco de outros tempos. O Corinthians, por sua vez, entrou de branco da cabeça aos pés, coisa que me lembrou o grande Santos, naturalmente, é claro até a bola começar a rolar. De Palmeiras e Nacional de Montevidéu nem é bom falar, tamanha a mediocridade.
Por que nos são os oferecidos esses jogos? Simples: nunca olhamos as coisas que estão perto. Só vemos o que está longe e daí a razão de assistirmos embevecidosa a Barcelona e Manchester. Nada contra, são grandes times. Mas bem aqui, a uma hora e meia de voo de S.Paulo e Rio, se jogam um futebol de extraordinária qualidade do qual vemos aqui em S.Paulo apenas os gols e alguns lances nos noticiários noturnos. É pouco. Eu quero, e acho que muitos comigo, ver mais, muito mais de Taison, Andrezinho, Alecsandro, D'Alessandro e do magnífico Nilmar, de quem até Dunga foi obrigado a reconhecer o talento. Quero ver o Inter de Tite, um treinador que fala às vezes de modo misterioso, mas que transmite honestidade respeito. Aliás, sua saída do Palmeiras foi exemplar. Preferiu deixar o clube a ser desrespeitado. É assim que procede um homem. Tite agora está colhendo o que merecia.
Enquanto os outros times apostam só no físico, na "determinação" e na monotonia da bola parada, o Inter aposta na bola no chão e no talento. No talento, na jogada individual, no drible em coisas que se julgavam perdidas para sempre.
É claro que para jogar assim é preciso ter talento. Mas descobri-lo e valorizá-lo não é a maior das virtudes, o maior dos méritos?
Os meninos do Internacional não surgem do nada. São descobertos, treinados e lançados por gente que tem a cabeça no lugar e sabe o que faz. Inclusive contratar, quando necessário. Não é um time imbatível, pode nem ser campeão, mas muitas vezes o campeão não é o melhor. É só campeão. Por isso renovo o apelo: quando quiserem mostrar futebol, aquele velho futebol, arte, que ninguém sabe exatamente o que é, mas reconhece quando vê, por favor, virem seus olhos e câmeras para o Beira-Rio.
(Ugo Giorgetti, cineasta, em sua coluna no Estado de S.Paulo)
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