segunda-feira, novembro 30, 2009

Entregar (estragar) o jogo

O Flamengo deve ser o campeão brasileiro de 2009.

Joga na última rodada com o Grêmio, o co-irmão do Internacional, cuja torcida gritou ao final do jogo de ontem "Entrega, entrega", pedindo para que o time azul protagonize um vexame histórico apenas para não dar ao Inter a chance de vencer.

Nem precisaria pedir para "entregarem o jogo", afinal de contas o Grêmio não ganhou nenhuma partida fora de casa em todo o campeonato (com exceção de uma vitória sobre o agora rebaixado Náutico). Não ia ser no Maracanã lotado, com o Flamengo precisando vencer para ser campeão, que iria conseguir o feito de ao menos empatar.

De qualquer forma, a declaração do Souza, meio-campista tricolor, que se admitiu a possibilidade de o time "facilitar o jogo" se a direção der a ordem, revela-se de uma estupidez e ausência de caráter grotescas, dignas de ser banido do esporte.

Mas isso aqui é Brasil, e não seria agora que uma declaração dessas causaria espanto ou reação de alguém.

Até.

domingo, novembro 29, 2009

A Sopa 09/16

O Ponto.

Diante de todas as questões existenciais, das muitas encruzilhadas morais com as quais nos defrontamos, daquelas que inquietam a humanidade desde o princípio dos tempos, de todas, a que elegi como a que mais necessita minha atenção e para a qual vou dedicar os próximos anos da minha vida em pesquisas e reflexões, é a mais intrigante delas.

O que é o ponto?

Sim, porque se você nunca se perguntou isso, caro leitor, você tem passado pela vida em branco. Você não pode saber quem você é ou de onde você veio se nunca se perguntou o que é o ponto. E caso tenha se perguntado, o que eu respeitosamente duvido, não chegou à resposta. Até sente que sabe o que é o ponto, mas não tem como defini-lo.

Porque mal passado, ou bem passado, todos sabemos o que é e como é. Mas o ponto, que alguns chamam também médio, apesar de parecer simplesmente estar entre o mal e o bem passado, não é só isso. O ponto é um conceito pessoal, único. O que é o ponto para mim pode não ser para você.

Até porque não é simples questão de gosto pessoal. A definição de como a carne deve vir assada (cozida) é também uma definição de caráter. É mais fácil permanecer no simplismo preto/branco do bem ou mal passado. Não há filosofia ou virtude nos extremos. O mal passado é uma opção primitiva, selvagem. Talvez fosse mais apropriado comer a carne mal passada com as mãos, parti-la com os dentes e mastigar com a boca aberta; sentados no chão, certamente.

Já o bem passado, por outro lado, simboliza exatamente o oposto, e não como virtude: o excesso de civilização, o distanciamento homem da natureza, um medo irracional de doenças e germes. Ou não. Sei lá.

Bem ou mal passado. Simplório, superficial. O mundo não é assim. É muito mais complexo, e profundo e belo, como encontrar o ponto, aquele momento mágico, a carne em sua forma mais perfeita.

E quem disse que um churrasco não tem poesia?

Até.

sábado, novembro 28, 2009

Sábado (e uma confissão)

Eu nem sabia se iria ler,

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Mas como recebi em casa a tradução para
português de Portugal, com o seguinte recado:

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Decidi que tinha que ler.

Assim que o fizer, comento por aqui.

Bom sábado a todos.

Até

segunda-feira, novembro 23, 2009

A Sopa 09/15

Semana passada, Porto Alegre – e praticamente todo o estado do Rio Grande do Sul – foi palco de uma tempestade sem precedentes. Foi na quinta-feira, por volta da uma da tarde, que “anoiteceu”, ventou muito e choveu mais ainda. Ou choveu muito e ventou muito mais mesmo. Cidades do litoral foram atingidas com violência. Uma situação muito séria.

Exatamente na hora em que começava a escurecer e ventar, eu estava em deslocamento do meu consultório para o Centro de Porto Alegre. Ao entrar numa rua bem arborizada, vi folhas voando e galhos caindo. Com o vento, o carro balançava como se faltasse pouco para ser arremessado pelos ares. Uma coisa impressionante.

Sempre penso, nessas situações, que a culpa é minha.

Devo estar fazendo alguma coisa que não estava prevista no meu “karma”, o que acaba provocando esse tipo de reação dos deuses, como um aviso do tipo “O que é isso, estás louco? Tu não poderias estar fazendo isso, não foi o que pensamos para o teu destino”. Sabe como é?

Mas logo me dou conta que não acredito nessas bobagens.

E sigo o meu caminho.

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E então, do nada, a Internet parou de funcionar, na sexta-feira à noite. Achei que era algo com o computador aqui em casa. Reinicializei-o. Nada. Reinicializei o modem, e nada. Liguei para a empresa de cabo. Por incrível que pareça, fui bem atendido, mas – evidentemente – o problema não foi resolvido. “Problemas na região, nossos técnicos estão trabalhando”.

Sábado, duas da tarde.

Recém chegado do trabalho (viagem, trabalho, viagem), ligou para a operadora novamente. Prometem o conserto para o domingo às 12h30. Tudo bem, outras coisas me preocupam. Uma gastroenterite, por exemplo, que se abateu sobre mim logo nas primeira horas do sábado, justamente quando estava a caminho do trabalho, que fica a 150 km de casa. Primeira parada: banheiro decente, intestino não. Oitenta quilômetros mais tarde, uma segunda parada: o banheiro cai para o mesmo nível do intestino.

Chego ao destino bem. Trabalho e pego a estrada de volta para casa. Exatamente na metade do caminho, nova parada e o banheiro melhora muito. Do intestino, não se pode dizer o mesmo.

Em casa, sem internet e com dor de barriga.

Perco o aniversário infantil da tarde. Durmo um pouco, e tenho que trabalhar: preparar a terça-feira, que é longa e também longe de casa. O intestino melhora.

Domingo, meio-dia e meio.

Ligo para a empresa do cabo, e menina olha e vê que está na hora de voltar a minha conexão. Pede para eu reinicializar o cable modem, o que faço. Pede para eu esperar um pouco, o sistema está lento. Não consigo segurar o comentário: “Se a tua internet está lenta, a coisa está mesmo feio”. Ela não ri da minha ironia, mas me informa que – segundo o sistema – a minha conexão vai voltar às 12h30 da segunda-feira, mais de 60 horas após. “Brasil, Brasil”, é a última coisa que penso antes de ir brincar com a Marina.

Existem coisas bem mais importantes nesse mundo que a Internet.

Até.

(PS - A conexão só voltou agora, 72 horas após...)

sábado, novembro 21, 2009

Sábado (sem internet)

Foto só quando a conexão for restabelecida.

(escrevo isso de um computador na casa da mamãe...)

Até.

quinta-feira, novembro 19, 2009

Na corrida

Entre uma aula e uma prova, pausa para encontrar O Fotógrafo, que está em Porto Alegre de hoje a domingo para visitar a Vovó Tânia que se recupera bem de uma apendicectomia.

Vou lá e já volto.

Aliás, 2009 já terminou: de agora ao final de dezembro e só correr entre uma confraternização e outra.

Até.

terça-feira, novembro 17, 2009

Perfeito

Uma teoria sobre barbas

By Paulo Polzonoff Jr

Barbas são como eletroímãs emocionais, captando tudo o que há de ruim e pesado no ambiente. O homem barbado, pois, carrega em sua face os males do mundo. E não importa se a barba é de dois dias ou dois anos: naqueles pelos está a sujeira dos seus interlocutores. Entre respingos microscópicos de saliva e catarro, entre a poeira e a poluição se escondem a inveja, a intolerância, a mentira e ódio.

Por isso os militares não usam barbas. No campo de batalha, o ressentimento do inimigo é pesado demais. Tão pesado que, se preso às barbas dos soldados, comprometeria o deslocamento das tropas.

Assim, todas as vezes que um homem faz a barba, deixa escorrer pelo ralo a maldade de que foi vítima ou que presenciou nos últimos dias. Ele se olha no espelho para consertar uma falha aqui ou ali e o que vê é mais do que um rosto liso: é um homem que sobreviveu a mais um dia de ataques velados. Uma vez livre, é hora de passar a loção após barba e, assim, desinfetar a si mesmo de quaisquer resquícios da inveja, mágoa ou ressentimento alheios.

No dia seguinte, porém, os pelos voltam a crescer. Minúsculos, começam a acumular a sujeira do mundo logo pela manhã. E lá vai o homem barbado passar o dia filtrando o mundo para, á noite, diante da lâmina de barbear, tirar do seu corpo aquilo que não lhe pertence. Lá vai ele purificar um pouquinho o mundo – seu e das pessoas à sua volta.

segunda-feira, novembro 16, 2009

Boletim Médico

Vovó Tânia está bem.

Sem o apêndice, de quem não sentirá saudades.

Alta provável na quarta-feira.

Até.

domingo, novembro 15, 2009

A Sopa 09/14

Durante a semana que passou, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) proibiu as câmaras de bronzeamento artificial com finalidades estéticas devido a estudos que comprovam um risco aumentado de câncer de pele em quem se utiliza desse método. Isso, evidentemente, causou revolta e indignação entre os donos de clínicas estéticas – que investiram altas quantias para adquirir essas máquinas – e também entre clientes. Uma delas chegou a perguntar: “Que mais falta? Vão dizer que o cigarro dá câncer? Álcool e direção não combinam? É o fim do mundo”. Dizem que as clientes temem ficar sem seu “bronzeado perfeito”.

Admito, fui irônico com o “bronzeado perfeito”.

Sempre achei, devo dizer, essa coisa de bronzeamento artificial uma frescura sem tamanho. Coisa de perua. Homem que é homem jamais faria isso. Sei, contudo, que essas afirmações estão carregadas de preconceito, no que me desculpo com aqueles que têm por hábito dourarem sua pele com os raios ultravioleta vindos de uma máquina. Não tenham um chilique nem sapateiem de raiva, é só preconceito meu, e não faço mal a ninguém. E quanto às mulheres que fazem (ou faziam) isso, apenas digo que ficam muito melhor quando a fonte dos raios UV é o sol, sem custos e com um resultado bem mais natural. Tudo vai ficar bem, desde que caprichem no protetor solar e nos horários adequados.

Dados da literatura médica indicam que a chance de melanoma aumenta em 75% (!) em quem se submete à prática do bronzeamento até os 35 anos de idade. Não existem benefícios que sejam maiores que os riscos envolvidos no procedimento. Como em medicina sempre trabalhamos com essa perspectiva, de que o potencial benefício (de uma cirurgia, por exemplo) de ser superior ao risco envolvido no tratamento. Simples assim.

Mas entendo a revolta de quem investiu em equipamentos de bronzeamento para suas clínicas estéticas e agora está diante de um grande prejuízo. Não minimiza o problema, mas devem saber que essa possibilidade já era discutida há alguns meses. Quem acabou de comprar deve estar duplamente “puto da cara”, então. Uma opção para essas clínicas que não poderão utilizar suas máquinas de bronzeamento – e aqui vou dar uma grande dica de negócio, e de graça – é um sistema mais antigo, que pode aproveitar o terraço da clínica, requer um pequeno investimento, e cujo risco de câncer, apesar de existir, não vai fazer a ANVISA proibi-lo. O único porém é que não pode ser utilizado em dias de chuva.

Podem chamá-lo de “Sistema BS”.

Banho de sol.

Até.

sábado, novembro 14, 2009

domingo, novembro 08, 2009

A Sopa 09/13

A vida às vezes nos dá a chance de sermos apenas observadores do mundo, espectadores do dia-a-dia, e dos pequenos fatos da rotina. O que acontece é que quase nunca podemos parar e simplesmente observar, atarefados que estamos com o sobreviver. Mas quando conseguimos, o resultado é – no mínimo – interessante.

Lembro de quando morava em Toronto. A minha vida no Canadá tinha um ritmo diferente, menos corrido e mais contemplativo. O andar de metrô e o caminhar pela cidade conferiam ao tempo uma velocidade menor, ou, ao menos, um ritmo mais suave. Além disso, sempre soube que a trilha sonora tinha papel importante nesse fenômeno.

Explico.

Como estava vivendo sozinho no Canadá, quando não estava no trabalho, em casa na internet, ou com os amigos de lá, tinha a constante companhia do iPod enquanto andava de metrô, ou circulava pela cidade por minha conta. A trilha sonora eram as músicas que tocavam o iPod, e elas auxiliavam nesse ritmo mais tranquilo que a vida tinha por lá.

De volta ao Brasil, à luta pela sobrevivência, a tentativa de conquistar espaço para trabalhar, por um “lugar ao sol” fez com o que o tempo passava a andar mais rápido. Os momentos de contemplação tornaram-se escassos, para não dizer inexistentes, e a vida seguiu. E aqui não há nenhuma queixa, nem sombra disso, devo deixar claro. Nunca estive tão satisfeito com a vida como agora. Mas é também verdade que o ritmo corrido subtraiu-me momentos de olhar o mundo como se estivesse de fora.

Isso até algumas semanas atrás.

Por motivos profissionais, passei a trabalhar também fora de Porto Alegre, distante 150 km, ao menos uma vez por semana. E – para não ser tão cansativo – tenho feito esse trajeto de ônibus, o que tem me proporcionado voltar a ser espectador do mundo. Como quando parou numa cidade onde se vê estrelas. Outro dia, testemunhei uma despedida.

Quando embarquei no ônibus, acabei conseguindo um lugar junto à janela (não há lugares marcados por ser a parada na cidade de onde saio para voltar para casa apenas uma escala de uma viagem maior) e pude ver embarcando um casal que estava abraçado até o momento em que subiram no ônibus. Não havia chamado a minha atenção até o momento em que o ônibus fez menção de sair e o rapaz que estava com a namorada desceu correndo e ficou olhando de fora o ônibus que começava a deixar a rodoviária.

Por ser do mesmo lado em que eu estava, observei toda a cena, o olhar entre triste e apaixonado dele olhando para o veículo que começava a andar, o acanhado aceno de até breve, não de adeus, o olhar perdido enquanto o ônibus se afastava. Coincidência ou não, estava ouvindo o meu iPod, colocado em uso novamente para fazer a trilha sonora dessas duas horas e pouco de trajeto, em que – nessa noite, ao menos – as nuvens baixas e os relâmpagos ao longe anunciavam a chuva que logo chegou.

Lembrei de uma despedida numa estação de trem e de uma música que dizia que “... Un anno non e' un secolo – tornero...”. Mas isso é outra história para outra Sopa...

Até.

sábado, novembro 07, 2009

segunda-feira, novembro 02, 2009

A Sopa 09/12

Quando percebeu, o ônibus havia parado numa cidade onde ainda se vê estrelas. E, por um instante, perdeu-se em lembranças do tempo em que ainda via estrelas. Deixou para lá preocupações comezinhas, como contas a pagar ou o saldo no banco, e prestou atenção na cidade que via da janela do ônibus que o levava para casa depois do longo dia de trabalho.

Pois a cidade onde ainda se vê estrelas, que não é única – ao contrário, é semelhante a muitas outras perdidas por aí – não passava muito de uma rua que fica sob um viaduto da estrada que ainda não foi duplicada. À passagem do ônibus em direção à rodoviária – que não passa de uma casa comum um cartaz onde se lê, justamente, ‘Rodoviária’ – o que chama a atenção, além das casas já fechadas com luz fluorescente a iluminar seu entorno, é a noite. Após deixar descer os passageiros destinados à pequena cidade onde se vê estrelas, o ônibus avança poucos metros e faz o retorno numa entrada de garagem para voltar à estrada e a seu rumo.

O final do dia foi de céu claro, sem nuvens, que foi seguido por uma noite de lua tímida, sem muito brilho. Aproveitando-se da pouca luminosidade do satélite, estão estrelas, infinito número delas, milhares de anos-luz daqui, nos mostrando um passado há muito passado. Sim, olhar estrelas é olhar o passado, pensa ele antes de cair no sono.

Enquanto dorme, sonha e cantarola uma antiga música que sempre o acompanha em viagens de ônibus:

Bem no fim do dia
O mundo se escondeu
Atrás dessa neblina
Não vejo nada agora
São quatro horas, meu amor
A lua apareceu por um instante
Sumiu atrás dos montes, meia-noite
A estrada se acelera sob o ônibus
E estamos sós num sonho que eu sonhei
Estamos sós num sonho
É só um sonho
Mas gela minha cara na janela
Vidrando os olhos no vazio
Enquanto os outros tolos,
Mortos bolos brancos fofos sobre os bancos
Roncam
São quatro horas, meu amor

Bem no fim do dia
Quem iria acreditar
Te vi por um instante ali ao lado
Linda névoa viva, eu vi passar
Apenas mais um sonho de verão
Não fosse o céu manchado de batom
Que não me faz dormir
Não me deixa acordar
Mas gela minha cara....


Até.