(Crônicas de uma Pandemia – Centésimo quinto Dia)
Penso, logo existo.
Às vezes, contudo, penso demais.
O que pode tornar a vida um inferno. Já reconheci esse traço de personalidade, e conscientemente venho trabalhando para melhorar, para mudar. O que – reconheçamos – não é das coisas mais fáceis da vida.
Mas falava sobre pensar.
É do pensar – quando não excessivo, ansioso, quando não numa espiral esquizofrênica (outro conceito próprio sobre o qual já escrevi e retorno outro dia) – que surgem as teorias mais variadas que crio e que me ajudam a entender a mim mesmo e ao mundo. Permitem-me explicar o funcionamento das coisas, o comportamento das pessoas. E vamos vivendo.
Como, por exemplo, a Teoria do Luta de Boxe. É o nome que criei para algo que (nem tão) recentemente descobri ser a Síndrome do Impostor, aquela sensação de que és uma fraude, de que não deverias estar onde estás profissionalmente, que a qualquer momento serás descoberto, desmascarado. Por mais que mereças, que tenhas capacidade, não consegues sentir-se merecedor. Da minha parte, esses sentimentos que surgiam de tempos em tempos eram descritos como a sensação de estar acuado no canto de um ringue de boxe, em posição de defesa, se esquivando. Só que não há ninguém mais no ringue.
Estás lutando contra você mesmo.
Você, seu próprio inimigo imaginário.
Outra das minhas teorias pessoais (reforço aqui: valem para mim, para a minha vida) é a Teoria das Portas Abertas.
A vida como uma caminhada ao longo de um grande corredor e, à medida que avançamos, por nossa formação (humana, profissional), atitudes, ações, modo de viver, tudo, enfim, determinadas portas vão se abrindo, e podemos entrar ou não. Algumas vezes, entretanto, e dependendo de planos que temos, devemos forçar uma porta para entrar. Essas portas são caminhos, oportunidades, que podem ser profissionais ou não. Novas portas surgem conforme caminhamos, mas nem todas se abrem.
Assim tenho levado a vida, andando e entrando em algumas portas que se abrem ao longo do tempo. Algumas vezes, mesmo quando estamos andando por um caminho bom, sem pensar em mudanças de rotas ou novas portas, uma parece se abrir.
Aí é parar, respirar fundo, e tirar um tempo para decidir se entramos ou não.
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Ia fazer um texto para marcar o centésimo dia da minha contagem da pandemia, mas faltou vontade e tempo em meio a reuniões virtuais e pacientes reais.
E assim vamos levando a vida, entre restrições e distanciamento.
Até.