segunda-feira, agosto 03, 2020

Crônicas de uma Pandemia – Cento e Quarenta e Um Dias


Agosto.

Durante muito tempo, associei – assim como a crença popular – o mês de agosto com um mês caracteristicamente não agradável. Pensava que o inverno (quero dizer o frio) já vinha desde meados de junho (em nossa memória, os invernos passados são sempre mais frios que os dos dias atuais), singrara julho e – quando já estávamos cansados disso tudo – ainda vinha agosto com seus trinta e um dias de frio e chuva, como uma provação antes do primaveril setembro. 

Pausa.

Já escrevi sobre isso, eu sei.

Azar.

Fim da pausa.

Com o tempo, associei o mês de agosto com um episódio que completa trinta anos semana que vem, que ocorreu quando eu estava no segundo ano da Faculdade de Medicina, e que mexeu com muita coisa em minha vida, como não poderia deixar de ser. E cujos efeitos, se não físicos, se estenderam por período maior do que eu gostaria.

Falo do acidente de carro em que estive envolvido como passageiro, e que resultou em trauma de crânio e estada em UTI em coma por treze dias até acordar e encontrar dois colegas de turma que estavam ali me visitando, além de uma turma grande que ficava na sala de espera da UTI, coisa inimaginável hoje, em tempos de coronavírus. Saiu tudo bem, no final das contas.

Mas fiquei com a ideia de que agosto era, como dizem, mês do “desgosto”. Impressão essa que mudou, aliás, tornou-se o oposto, com o passar do tempo, reforçada primeiro – cronologicamente – pelo fato de eu ter casado em um trinta e um de agosto e a minha filha ter nascido também em agosto, anos depois. Aliás, quando fui marcar a data do casamento na igreja, o padre ficou surpreso e comentou que “ninguém casa em agosto”.

Comentei que era dia trinta e um à noite, e que a festa se estenderia até bem depois da meia-noite, quando seria setembro, então não deveria ter problema.

Não teve, como posso comprovar há vinte e quatro anos.

Até.

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