Crônicas de uma Pandemia (Cento e Quarenta e Sete Dias)
Sobre o afeto.
Afeto requer proximidade. É tato, contato físico, sorriso, abraço. Mãos dadas. Afeto é estar junto. É vida.
Por isso que quando eu ouço os ditos especialistas falarem do que estão chamando de “novo normal”, da forma de como nos relacionaremos no pós-pandemia, fico incomodado. Parênteses. É impressionante como existem especialistas por aí por esses dias, boa parte deles falando muita coisa sem nenhuma base para isso, mas deixa para lá... Fecha parênteses.
O que quero dizer é que – na verdade – ninguém sabe realmente como será o pós-pandemia, especialmente como será a essa questão da relação entre as pessoas. Eu, aqui do meu canto, e por ser um otimista sempre, acho que não mudará muita coisa no sentido de como nos relacionaremos. Somos seres afetivos.
Antes de mais nada, somos seres sociais.
E esse é grande parte do problema do isolamento e distanciamento que estamos vivendo desde março aqui no Sul do Mundo, em especial (que é de onde eu falo). Famílias separadas, amigos que ficam distantes pela impossibilidade da proximidade física. Os meios virtuais são ótimos, mas não substituem o toque, o sorriso presencial, o mundo real.
Trabalhamos bem virtualmente, em regime de home office (quem pode, pelo tipo de trabalho). A vida organizada digitalmente funciona, todos aprendemos. Escritórios parecem que podem se tornar obsoletos, pode-se trabalhar em e para empresas de qualquer parte do mundo. Tudo muito bem.
Mas nada substitui o café do meio do dia, o encontro casual, a mesa de bar, o churrasco com os amigos. As confrarias, as turmas, as amizades. Nada substituiu os jantares de sábado ou os almoços de domingo em família.
Estamos cansados disso tudo, eu sei.
Além do medo do vírus (que é real, que requer cuidados), estamos lidando com o pânico instilado por grupos/pessoas com interesses diversos que querem nos manter aprisionados, e assustados, lidando com governantes que tomam decisões sem base no mundo real, e com toques de tirania. Mas não é de política que falo hoje, é de afeto, de carinho.
Por isso minha convicção de que quando tudo isso passar, e vai passar (a gripe espanhola, que era muito pior, num mundo que tinha muito menos recursos, passou), vamos voltar a estar juntos. Os abraços vão voltar, as parcerias, as confrarias retornarão.
Quero acreditar que não vai demorar muito.
Eu acredito, na verdade.
Até.
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