(Crônicas de uma Pandemia – Cento e Quarenta Dias)
Eu não sou jovem (5).
Estava em minha segunda experiência em Fortaleza. A primeira, onze anos antes, havia sido traumática por questões médicas: uma contratura muscular cervical violenta fora responsável por eu não conseguir aproveitar a cidade. Havia voltado de lá frustrado e com dor.
O tempo passou, e em 2017 voltei à cidade a trabalho, para participar de um outro congresso médico. Onze anos é um tempo longo, e muita coisa havia mudado em mim, e no mundo, nesse período. Foi uma estada curta, e a experiência de conviver com um colega professor inglês foi daqueles momentos chamados de priceless.
Chegava a hora de voltar para casa.
Após terminar o simpósio em que eu fora o moderador, saímos todos direto para o aeroporto, onde almoçamos. Era só embarcar para o voo que seria Fortaleza até Guarulhos e então para Porto Alegre. Chegaria em casa por volta da meia-noite. Até porque no sábado de manhã havia um evento na escola da minha filha, que eu não iria perder. Entrei na área de embarque, chegou a hora de embarcar (estava apenas com bagagem de mão), e nada.
Nada.
Nada.
O tempo passando, o tempo para a minha conexão cada vez mais curto, e a chance de chegar em casa cada vez mais distante. Fui falar com a funcionária da companhia aérea, que lamentou, mas – evidentemente – não poderia fazer nada. Poderia, contudo, já garantir que eu tivesse um lugar no primeiro voo do sábado de manhã para Porto Alegre. Questionei se, caso de milagre, chegasse em Guarulhos em tempo de pegar o voo para Porto Alegre, eu conseguiria embarcar. Me garantiu que – se eu chegasse em tempo – poderia embarcar.
Sei.
Até o que o voo partiu de Fortaleza, com uma mínima, quase inexistente chance de chegar em tempo da conexão. Foi um voo (para mim) tenso. Alternava o olhar do progresso do voo no monitor com a conferência do meu relógio. Nunca a Bahia foi tão grande. Não acabava nunca.
Ao nos aproximarmos de Guarulhos, a comissária de bordo me transferiu para um dos primeiros assentos para que eu pudesse ser o primeiro a desembarcar para correr, porque ainda havia esperança. Pousou. Taxiou. Chegou no portão. Desembarquei e corri. Quando cheguei no portão do voo para Porto Alegre, os últimos passageiros ainda embarcavam. Vitória!
Não me deixaram embarcar.
A funcionária de Fortaleza, que me garantira que – se eu chegasse e tempo poderia embarcar – havia me tirado desse voo e me colocado no voo da manhã seguinte. Não havia nada a ser feito. Outros passageiros na mesma situação (e até colegas minhas de empresa) tentaram argumentar, mas o funcionário da companhia aérea foi irredutível.
Voucher para um táxi de Guarulhos até o hotel quase ao lado de Congonhas, lanche rápido do hotel, poucas horas de sono porque no outro dia cedo embarcaria para Porto Alegre. Apesar de tudo, cheguei em tempo da apresentação da minha filha na escola.
Fortaleza, agora, só se for de férias.
Até.
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