Curso de Medicina, UNISC/Santa Cruz do Sul.
Crônicas e depoimentos sobre a vida em geral. Antes o exílio; depois, a espera. Agora, o encantamento. A vida, afinal de contas, não é muito mais do que estórias para contar.
sábado, abril 12, 2025
Sábado (e há 10 anos, eu era professor)
Curso de Medicina, UNISC/Santa Cruz do Sul.
sexta-feira, abril 11, 2025
O tempo está acabando
Estou nu, ou quase.
Hoje cedo, como os antigos astecas e maias faziam, antes de sair de casa e coloquei no bolso de trás da minha calça jeans a minha carteira, com documentos, cartões de crédito e dinheiro em espécie. Me senti voltando no tempo.
Isso porque eu vinha desde janeiro, há pouco mais de dois meses, fazendo uso apenas do meu celular para todas as funções de uma carteira no meu dia a dia. Não precisava de mais nada, andava mais leve, e satisfeito após me acostumar a estar “com pouco ou nenhum” peso nesse mesmo bolso traseiro. Cartões de crédito, contas de banco para pagar contas e fazer pix, documentos do carro e de identificação, tudo no meu iPhone.
Que ontem à noite parou de carregar.
Ao conectar no cabo de força, nada acontece, por mais que tente, que troque de posição ou troque mesmo o cabo. Nada funcionou. Tentei limpar o local da conexão e nada. Coloquei o telefone em modo avião, e estou poupando a bateria para quando realmente necessário. Ele se tornou uma ampulheta que lentamente se aproxima da morte...
Levei mais tempo que o normal para chegar no trabalho porque não havia o Waze para mostrar o caminho menos lento (se bem que, em Porto Alegre desses dias não tem mais caminho menos lento). Ouvi rádio no carro. Estou, de certa forma incomunicável.
Acontece.
Assim que der vou ver se conserto o telefone, e – última alternativa – trocar de telefone.
Paciência.
Até.
quinta-feira, abril 10, 2025
Uns dias mais, outros menos
Dos dilemas da vida.
Quero ser deixado em paz, mas não quero ser esquecido.
Simples assim, e paradoxal, como costumam ser as questões da vida. Vejo o meu caminho atual, e falo pensando como médico, em uma vontade de focar em poucas coisas que realmente importam e abstrair de outras que considero atualmente menos importantes.
Durante um longo período, acumulei funções e atividades, ‘abracei’ situações que eu considerava importantes para mim, para meu crescimento, para procurar ser relevante. Foi necessário (para mim, para mim) e importante.
Cobrou um preço, como sempre ocorre.
Houve um momento em que estava pesado demais (o mundo às minhas costas e eu próprio), e tinha que ocorrer uma inflexão, que ocorreu, necessária e transformadora. Como ainda vem ocorrendo, há mais de cinco anos. Muito mudou, muito mudei.
O processo de ajustes, de simplificação, continua em curso, e não há previsão de parar, o que é importante. Mas existe, como em tudo, um preço, um pedágio a ser pago. Usualmente, estou tranquilo com isso. Outras vezes, contudo, confesso que a trilha para a irrelevância (como costumo chamar) que percorro voluntariamente, gera resultados esperados, mas que me desagradam.
Paciência...
Até.
quarta-feira, abril 09, 2025
Cada um Sabe de Si
‘Não desejamos mal a quase ninguém’.
E consideramos justa toda a forma de amor... Sempre gostei desses versos, parte da letra de uma música do Lulu Santos, ‘Toda Forma de Amor’, porque eles são honestos, sinceros, diretos. Uma confissão de humanidade.
Queremos o bem de todos os que nos são caros, de todos por quem temos algum afeto, da mesma forma que não desejamos mal aos outros. Queremos que todos (ou quase, admito), independente de quem sejam, vivam suas vidas da forma que acharem melhor, com quem quer que seja. E que ninguém interfira nisso, que sejam respeitadas as individualidades.
Que cada um fique na sua.
Não é difícil, isso de cada um ser e viver sua vida do jeito que for, do jeito que quiser. Sem (tentar, querer) interferir na vida dos outros, sem tentar impor sua verdade aos outros. Não é difícil, mas ao mesmo tempo é extremamente raro que isso aconteça, que as pessoas consigam aceitar o diferente, o contraditório. Seja em modo de vida, religião, política ou outras dimensões da vida.
Conviver com o contraditório não é simples.
Porque ameaça, ou ao menos questiona, as nossas convicções, as nossas certezas. Estar aberto à possiblidade de estar errado, reconhecer dúvidas, querer ouvir para aprender e não apenas responder, reagir, isso tudo é um grande exercício de humildade, o que – em tempo de redes sociais e verdades absolutas gritadas em todos os lugares – é cada vez mais raro. Egos frágeis não toleram discordâncias.
Assim como egos frágeis se ofendem com pronomes, formas de linguagem e expressões idiomáticas, e tentam impor artificialmente suas agendas e seu vocabulário. É chato, isso.
E entendo que vou acabar sendo cancelado um dia desses.
Até.
terça-feira, abril 08, 2025
O Meu Tempo
Recebi, no sábado, entre as diversas felicitações pelo meu aniversário, um desejo de que eu tivesse mais tempo livre para mim. Agradeci, e fiquei pensativo.
O que significa ter tempo livre, afinal de contas?
Ao pensar em que alguém deveria ou poderia ou gostaria de ter tempo livre, está-se assumindo que a regra é o seu oposto. O tempo estaria “preso”, ou comprometido, com as obrigações, com os outros, com o mundo, indisponível para si mesmo. A pessoa em questão teria o seu tempo como refém de algo ou alguém, ou seria refém de algo ou alguém que dispusesse de seu tempo. Tempo livre seria uma concessão que nos proporcionariam.
O que é o mais comum por aí, sermos reféns de obrigações diárias relacionadas a trabalho, principalmente, e outras situações da rotina, e pouco ‘tempo livre’, ou disponível para que façamos dele o que bem entendermos, mesmo que seja não fazer nada, apenas ficar deitado olhando o teto enquanto as horas passam. Se for o desejo ficar assim, tudo certo.
Pensei em mim, então.
Não quero ter tempo livre, no sentido de me permitirem, de deixarem que eu disponha de alguma pequena parcela do meu tempo. Quero ser dono do meu tempo, ou seja, ter o poder – até onde possível e razoável – de decidir o que fazer com ele. Definir como vou dispor dele.
O que não quer dizer que eu não quero ter obrigações com o mundo, o que seria uma vontade estéril, sem sentido. Quero, isso sim, e cada vez mais, fazer da vida (do meu tempo, porque são grandezas inseparáveis) aquilo que imaginei, planejei. Nos últimos anos dei passos importantes nessa direção, renunciando a algumas coisas (e pessoas) que não faziam mais sentido, e iniciando outras que eram importantes e que haviam sido deixadas de lado por tempo demais. Cada vez mais, sou eu quem determina onde e como vou.
Com relação ao meu tempo, tenho criado espaços na rotina para atividades que, sim, são importantes e necessárias para mim.
Até.
segunda-feira, abril 07, 2025
Vintage
Aconteceu no ano passado, em 2024.
Comprei um disco de vinil da Graforréia Xilarmônica diretamente do amigo, e parceiro no podcast ‘Qual é o Tom’, Alexandre Birck, baterista da banda, mesmo que com ele fosse mais caro, segundo ele mesmo. Logo após, comprei a versão em vinil do ‘Ramilonga’ do Vitor Ramil. Comprei ambos os discos e guardei cuidadosamente.
Porque eu não tinha onde ouvi-los.
Há quase trinta anos eu não tinha em casa um aparelho toca-discos, e os meus discos de vinil, que – não sei por qual razão - haviam ficado na casa dos meus pais, eu descobrira que estão em Nova York, “guardados lá para mim”, segundo a versão do meu irmão... Bom, não importa, o fato é que eu não tinha como ouvir os discos de vinil adquiridos no ano passado.
Corta para sexta-feira passada, véspera do meu aniversário.
Voltávamos do trabalho, a Jacque e eu. Ao chegar na garagem no subsolo do prédio onde moramos, em frente ao elevador, ele diz que temos que parar no térreo porque precisa pegar o meu presente, que ela e a Marina me entregarão ‘adiantado’. Tudo bem, eu aceito sem problema...
Ao abrir a porta do elevador no andar térreo, ela – ao fazer menção de sair para buscar o presente – comenta que ‘ao ver o pacote’ eu descobriria o conteúdo do mesmo. Em uma fração de segundo, uma sucessão de pensamentos se encadeia: “o pacote revelará o conteúdo, não é uma bola, imagino, pode ser um disco de vinil, mas eu não tenho tocador de discos de vinil, espera aí...”. Olho para ela e, antes de ter tempo de ela sair do elevador, eu digo: “é um tocador de discos de vinil, não?”. Ela para, chocada: “Como sabias?”.
Eu não sabia.
Foi muito legal o presente.
E tão ou mais legal foi a reação da Marina, encantada com a ‘tecnologia’ do disco tocando, aquela coisa do braço, a agulha, virar o lado do disco. Mais ainda quando ela entendeu na prática o que significa quando se fala que determinadas músicas são ‘Lado B’...
O domingo foi de cozinhar ouvindo discos de vinil tocando no toca-discos, como os astecas e os maias faziam...
Baita final de semana.
Até.
domingo, abril 06, 2025
A Sopa
Tudo bem?
Em minhas leituras desses dias, nesse meu reencontro com os livros físicos, com a literatura e com a facilidade – que não substitui o prazer de andar por uma livraria – da compra de livros online, caiu em minhas mãos (comprei e recebi em casa) um livro chamado ‘Sentido da Vida’, do Contardo Calligaris. Ele foi um psicanalista e escritor italiano radicado no Brasil, Doutor em Psicologia Clínica na França, com diversos livros publicados, e que escrevia também uma coluna no caderno Ilustrada da Folha de São Paulo às quintas-feiras. Morreu em 2021, aos 72 anos.
O livro em questão é uma obra póstuma dele, publicada em 2023 e vencedora do Prêmio Jabuti de Literatura em 2024. São três textos breves sobre a obrigação da felicidade, o “morrer bem”, e o sentido da vida. É um livro curto, mas denso, que faz pensar. Li em praticamente uma tarde e noite, e resolvi reler na sequência para ter tempo de refletir sobre os escritos.
Claro que sempre que pensamos em Sentido da Vida, não temos como não pensar em Vitor Frankl e o seu livro de mesmo nome, que li ano passado enquanto preparava uma aula ainda inédita sobre DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) e o Sentido da Vida. Como podem ver, esse é um dos meus temas recorrentes de reflexão.
Voltando ao livro do Calligaris, um dos textos começa abordando uma questão do dia a dia, e que é quase motivo de piada (para mim) no consultório, que é a saudação corriqueira ‘Tudo bem?’. Sempre que chamo um paciente, ao cumprimentá-lo, o hábito, o normal, é fazer essa pergunta, “Tudo bem”, no que automaticamente continuo dizendo que não, não está tudo bem, pois se estivesse tudo bem ele não estaria em minha frente para uma consulta médica.
De um modo geral, saindo do consultório e indo em direção a outros relacionamentos e outras situações de vida, encontros diversos, em que é o normal nos perguntarmos mutuamente esse mesmo ‘tudo bem’. Como assim, tudo bem? Tudo mesmo? O mundo, a existência, a finitude do ser? Como saber se realmente está tudo bem? E, mais, é claro que é uma pergunta retórica, mais uma saudação do que um interesse pelo outro. E se não estiver tudo bem, vais querer saber o que não está?
Por isso, tenho – ao menos no consultório – saudado os pacientes como um simples ‘Como vai?’, ou ‘Como está se sentindo?’, o que restringe à pergunta ao que está mais próximo, mas perto do real, mais perto do que temos controle. Pensando bem, a resposta para quem pergunta se está tudo bem deveria ser ‘Tens tempo para ouvir?’.
Até.
sábado, abril 05, 2025
sexta-feira, abril 04, 2025
O que quero para mim?
Essa é a pergunta que serve de norte para todas as opções que faço em minha vida diária, é a base para as minhas ações. Tento, mas nem sempre consigo, me manter fiel às minhas metas de vida.
Que não são estáticas, pétreas. Ao contrário vão se transformando durante a caminhada, à medida que as situações vão se apresentando para mim. Tenho princípios claros, evidentemente, dos quais não posso e nem quero fugir, e por isso vou me adaptando ao que me acontece com base nesses mesmos princípios.
Sei o que quero fazer e onde quero chegar.
Nunca esquecendo que não sou sozinho no mundo, e sempre lembrando que existem pessoas que estão comigo no caminho e que ele, o caminho, e estar com elas, é tão ou mais importante que o destino, que o ponto de chegada.
Pensamentos de uma sexta-feira de sol e um pouco de frio.
Até.
quinta-feira, abril 03, 2025
Nublado, talvez chova
Desacelerar.
Um ano antes de iniciar a pandemia, entrei em período que chamei de ‘sabático’ porque, ao invés de múltiplas atividades diárias, me dediquei apenas ao consultório, aos meus pacientes. O final desse período coincidiu com o início da pandemia e toda aquela loucura que foi o mundo por aqueles dias, com distanciamentos, fechamentos, pacientes ‘desaparecendo’ do consultório no começo e depois superlotando consultórios, hospitais e tudo o que (ainda) lembramos bem. Durante a pandemia, além do consultório, acabei voltando ao mundo acadêmico, como professor novamente.
Foi legal.
Com o tempo, então, fui novamente e aos poucos assumindo mais e mais funções em termos profissionais, tanto falando em medicina (coordenador de um serviço de pneumologia e de um laboratório de função pulmonar) como empreendedor, agora sócio de uma escola de música. Voltei a escrever, publiquei um livro, fui cocriador e apresentador de um podcast. Voltei a ter uma rotina corrida, com diferentes atividades em diferentes lugares da cidade, muitas vezes no mesmo dia. Não sou mais funcionário, não tenho emprego.
E está bem legal. Porém...
Talvez esteja chegando a hora de reduzir um pouco o ritmo. Tirar um pouco o pé do acelerador. Simplificar. Retirar do meu ombro algumas tarefas que talvez não façam mais sentido, nas quais não estou conseguindo me dedicar como eu gostaria, e deixar para pessoas que estão atualmente em melhores condições de exercer essas funções do que eu, para que elas possam desenvolver seu potencial e eu possa me dedicar a projetos aos quais eu possa dar uma maior contribuição.
Pensando em voz alta em uma manhã plúmbea de outono...
Até.
quarta-feira, abril 02, 2025
Zamel
Uma história.
Há pouco mais de vinte anos, quando cheguei no Canadá para o meu pós-doutorado, em um sexta-feira de manhã, do aeroporto fui direto para o alojamento da University of Toronto, onde eu ficaria em minha primeira semana até encontrar um apartamento para alugar, e – após deixar minhas malas lá – fui direto para o Mount Sinai Hospital para encontrar o responsável pela minha ida: Dr. Noé Zamel.
Gaúcho de Rio Grande, após se formar em Medicina em Porto Alegre havia ido para os Estados Unidos ainda nos anos setenta e depois se radicado no Canadá, em Toronto, onde foi médico, pesquisador e algo como um Embaixador nosso por lá. Fomos inúmeros médicos gaúchos e de outros estados brasileiros que passamos algum tempo em Toronto por sua intermediação.
Logo na minha chegada, ao encontrá-lo pessoalmente pela primeira vez, me abraçou e disse que “finalmente” eu chegara. Foi reconfortante ser bem recebido, e ele sempre me tratou com afeto e consideração. Isso era agosto de 2004.
Em abril de 2005, fizemos uma festa de setenta anos para ele, nós que trabalhávamos no Respiratory Research Lab, do Toronto Western Hospital. Em algum momento ele sugeriu que eu ficasse mais do que os dois anos por lá, mas eu tinha que voltar para casa, para o meu mundo.
Muitas histórias dele, que faria hoje, dois de abril de dois mil e vinte e cinco, noventa anos. Ele faleceu em outubro de dois mil e vinte.
Foi um grande cara, e uma honra para mim ter podido conviver com ele.
Até.
terça-feira, abril 01, 2025
Abril
Sobrevivi a mais um mês de março.
Me obrigo a falar disso, mesmo sabendo que não existe nenhuma base científica ou racional para esse fato que não é um fato, mas um acaso, uma coincidência, não mais que isso. Falo da lenda (que eu mesmo criei) de que o mês de março é perigoso para minha saúde.
Sim, é acaso que por três anos seguidos eu passei por situações de saúde significativas, digamos assim, sempre nesse mês. De dois mil e vinte e um – quando tive uma queda à noite com trauma de crânio sem perda de consciência, mas que evoluiu com uma arritmia que me levou a fazer um estudo eletrofisiológico que foi normal e tudo ficou bem – passando por dois mil e vinte e dois – em que fiz uma hérnia de disco cervical constatada após ter passado quinze dias de férias dirigindo com dores violentíssimas, mas que foi de tratamento conservador – chegando a 2023 - hérnia de disco lombar com cirurgia de urgência por compressão nervosa. Sempre março, parecia maldição.
Até que quebrei o encanto.
E o braço junto, ao cair de bicicleta em outubro do mesmo ano. Nova cirurgia, colocação de placa no punho direito. Duas cirurgias traumatológicas/ortopédicas no mesmo ano. Sem intercorrências.
Apesar de não acreditar em bruxas, passei março do ano passado atento para ver se seria repetida a “maldição”. Não foi e, depois dos cinquenta anos de idade, eu não era (não sou) mais ‘um cara que cai’. Mudei o discurso, mudei a narrativa, mudei a realidade. Quase tão simples quanto parece ao falar.
O mesmo aconteceu em outras dimensões da vida. Me aprendi alguém disciplinado, que se dedica ao que se propõe, que ‘dá a cara à tapa’, que – agora e finalmente – não apenas sonha ou deseja ou planeja.
Sou (me tornei) alguém que faz.
Até.
segunda-feira, março 31, 2025
Está tudo bem
Está tudo bem comigo.
Não aconteceu nada. Por enquanto.
Isso porque, sim, sabemos que estamos eternamente caminhando sobre uma fina camada de gelo e que – a qualquer momento – um passo em falso pode quebrá-la e afundaremos em águas profundas e frias. Sabendo disso ou não, conscientemente ou não, vivemos andando em um corda bamba.
E estamos certos em viver como se isso não fosse uma realidade, ou possibilidade. Se tornássemos essa noção do risco de viver algo presente em nossas vidas, paralisaríamos. Ficaríamos quietos em nosso canto, em posição fetal, incapazes de sair da cama.
Talvez não aconteça nada, ou talvez já tenha acontecido, não importa. Independente de qualquer coisa, seguimos, projetamos, esperamos e fazemos acontecer. Não há alternativa. É o que a vida espera de nós: coragem, que não é a ausência de medo.
É seguir em frente apesar do medo.
Até.
domingo, março 30, 2025
A Sopa
Sigo em minha jornada.
A busca que tenho feito nos últimos tempos é pela simplicidade das coisas, a simplicidade da vida. Tento, mas nem sempre consigo, não complicar o que não precisa ser ou não é complicado. Não é uma tarefa fácil.
Ser alguém simples, no sentido em que penso e procuro me tornar, é ser uma pessoa fácil de conviver, para quem as coisas são claras, objetivas no sentido da não necessidade do uso de subterfúgios e jeitinhos nos relacionamentos diversos. Não criar dramas onde não há drama. Ser honesto com as pessoas sempre. Dizer não quando é preciso dizer não. Não tenho mais paciência com pessoas hipócritas, e não faço mais questão de esconder isso.
Sei que isso dá trabalho. Paciência.
Apesar de saber que é muito difícil, quero conviver apenas (ou principalmente) com pessoas que tenham a ver comigo. Que não haja necessidade de fazer força para agradar.
Que criemos boas histórias juntos.
Da mesma forma, continuo trabalhando mentalmente para não me preocupar com o que outros pensam (de mim). Porque eu sei que as pessoas não estão preocupadas com o que eu faço, corretamente preocupadas que estão com suas próprias vidas. Nesse quesito, tenho melhorado, me orgulho de dizer. Ainda posso melhorar, como sempre, mas já avancei.
Em frente, então.
Até.
sábado, março 29, 2025
Sábado (e como estávamos há 5 anos)
Final de março de 2020.
Bom sábado a todos.
sexta-feira, março 28, 2025
Escrever o Mundo
Eu não gostaria de ter uma coluna diária em jornal.
Mentira.
É óbvio que eu gostaria, mas não tenho certeza de que conseguiria – ao escrever diariamente em um jornal de grande circulação – evitar de falar sobre as tragédias do mundo. E eu não quero mesmo escrever sobre elas. Porque elas estão aí, estão todos os lugares, em letras garrafais (figuradamente falando ou não) e não temos como evitá-las.
Já somos expostos demais a notícias ruins.
Prefiro olhar para o meu umbigo (fazia tempo que não falava dele), no meu próprio mundo. Ou na forma que vejo o mundo com o viés de admiração e encantamento. Não quero saber de mortes e roubos e corrupção e muito menos de guerra. Porque tudo isso está aí o tempo todo, como falei.
Precisamos de espaços de paz em meio à loucura de todos os dias. Precisamos de arte para colorir nossos dias. Menos tensão e mais música.
Talvez eu me contaminasse e escrevesse sobre mortes de mulheres e crianças, talvez eu não conseguisse evitar. Mas eu tentaria, porque precisamos de assuntos leves para levarmos nossas vidas. Principalmente porque os assuntos pesados estão sempre atravancando nosso caminho.
E porque hoje é sexta-feira.
Até.
quinta-feira, março 27, 2025
Estar presente
Esses dias, bem há pouco tempo, recebi – em meio à correria de um dia de trabalho – um recado de um amigo, perguntando como estava minha agenda, se eu estava disponível. Devolvi a pergunta para esclarecer se precisava do médico ou do amigo.
Era do amigo.
Organizei minha agenda e evidentemente (para mim) que arranjei um tempo, e conseguimos conversar em um final de tarde, junto com um café. Não importa o assunto e muito menos quem era o amigo, mas o fato de ser eu o escolhido para ouvir (e até falar, por que não?) me deixou feliz. Porque é isso: estar disponível para um amigo, e saberem que estou disponível, é quem eu quero ser.
Quero ser (ou continuar sendo) aquela pessoa que os amigos sabem que podem contar com, seja para um churrasco ou seja abaixo de mau tempo. Que estou aí para o que der e vier, na distância de uma mensagem ou um telefone. Assim como tenho amigos que eu sei que posso chamar se e quando precisar, quero que os meus amigos tenham certeza de que eu vou fazer de tudo para estar lá quando precisarem.
Que estou aí, que sou parceiro.
Que caminhamos juntos.
Até.
quarta-feira, março 26, 2025
Porto Alegre
Eu gosto de Porto Alegre.
Pode-se argumentar que é porque eu nasci aqui (verdade), ou porque todas as minhas referências de vida estão aqui, ou próximo daqui, ali no litoral norte do Rio Grande do Sul, o que também é verdade. Não importam as razões, eu realmente gosto da cidade.
Problemas existem?
Claro que sim, muitos, de muitos anos de descaso e pouco interesse pelo cuidado com as nossas coisas, cuidado com o que é nosso. Falo, sim, em termos de governos municipais, mas também falo do descaso que as pessoas têm pelo bem público, pela res publica. Sempre me incomodou quem reclama dos governos e joga lixo na rua, ou comete pequenos atos infracionais, principalmente no trânsito, e vem reclamar de políticos e de corrupção. Quem sonega imposto e reclama das coisas.
Opinião pessoal, apenas.
Sobre Porto Alegre, então. Dizia eu que gosto da cidade, e é verdade, e a despeito das críticas (boa parte delas de cunho ideológico) com relação ao atual prefeito, acho que ele tem feito um bom trabalho. Há muito o que fazer e melhorar, sim, mas via a cidade melhorando muito até a enchente, e agora vejo – com todas as dificuldades – novamente se reerguendo.
Sempre achei que um prefeito, antes de tudo, deveria ser um zelador da cidade. Antes de um cargo ideológico, o prefeito tem que ser um funcionário da cidade, que está nas ruas. Não concordo com todas as opiniões do atual prefeito de Porto Alegre, mas acho que – reforço aqui minha opinião – está fazendo um bom trabalho, além de saber se comunicar. Ainda existem muitos desafios, mas acredito honesta (ingênuo, se quiser) e sinceramente que estamos no caminho.
Feliz Aniversário, Porto Alegre.
Até.
terça-feira, março 25, 2025
Evoluir
Sigo em minha jornada.
Diariamente, ao me deparar com algumas das situações potencialmente perturbadoras da rotina, tenho procurado mudar a forma com que vejo e lido com elas. Diferentes situações, diferentes abordagens.
Como com o trânsito, assunto recorrente.
Desde o ‘não é sobre mim’, mantra para quando as pessoas cometem infrações em minha frente e – já sei – não devo me manifestar (buzinando, por exemplo), até o ser (exageradamente) cortês nessa relação com outros motoristas, o que – admito – deveria ser regular.
Ainda tenho meus deslizes, contudo, e bem 'feios'.
Esses dias voltando para casa em uma movimentada avenida de Porto Alegre, bem em minha frente os carros faziam sistemicamente uma conversão à esquerda proibida, a despeito de uma placa sinalizando isso, uma segunda placa dizendo ‘respeite a sinalização’ e mais uma placa avisando mais uma vez a proibição. Por um “deslize” meu, comecei - estupidamente - a dar luz alta insistentemente para os carros da frente para sinalizar que estavam infringindo a lei de trânsito. Não deveria fazer, eu sei.
O carro logo a minha frente parou, mesmo com o sinal aberto para ele, metros antes de ele fazer a conversão proibida. Vi que baixou o vidro e falou alguma coisa. Eu estava com os vidros fechados e levando a Marina e uma amiga de carona. Pensei em baixar o vidro e blefar: “Anda, ou começo a atirar”, (com a minha arma imaginária), pensei em dizer.
Claro que não falei.
Calmo, mas atento, esperei ele sair com o carro, me xingando como se estivesse com razão, para seguir em frente. Só que ele não tinha razão, assim como eu também não tinha. Quem poderia levar um tiro era eu, e eu ainda tinha passageiras comigo. Ele estava errado, sim, mas eu não tinha nada a ver com isso.
Não era sobre mim, eu sabia, mas parecia ter esquecido.
Me penitenciei por isso.
Sigo trabalhando para melhorar.
E nem falei do fear of missing out...
Até.
segunda-feira, março 24, 2025
Finitude
Tenho pensado na finitude.
Pode ser a proximidade com o meu aniversário, ou motivado por eventos recentes em que conhecidos de mesma idade, ou até mais jovens que eu, morreram subitamente, mas a noção de que tudo terá um fim em algum momento e que – na maior parte das vezes - não conseguimos prever o quando, tem, sim, me deixado mais reflexivo. Não é um pensamento novo, esse da finitude e mortalidade, afinal passei por esse tipo de experiência (quase morrer) bem jovem, aos dezoitos anos.
O que sempre me faz pensar em como tenho vivido.
Se as escolhas que faço no meu dia a dia estão alinhadas com o que quero para minha vida, com os meus objetivos de longo prazo. Se tenho vivido o presente de verdade, sem estar preso ao passado ou a espera de um possível futuro. Se tenho feito esse balanço, entre o viver e o me cuidar, que não são opostos, aprendi há um tempo.
Se tenho dito para as pessoas importantes para mim que elas são importantes para mim. Se tenho estado presente enquanto estou com elas, não perdido olhando para o celular. Se tenho dado atenção às pessoas que merecem minha atenção, pois hoje em dia dar atenção é a maior prova de amor.
Se cuido de mim, de minha saúde e de meus pensamentos, porque cuidar de mim é também uma prova de amor às pessoas que são importantes para mim, assim como cuidar delas, estar disponível quando precisarem de mim. Se tenho sido tolerante com quem merece minha tolerância. Se tenho sido amigo, como deveria.
Como um veleiro no mar, de tempos em tempos ajusto às velas conforme as variações do vento, sempre com o pensamento em onde e com quem quero chegar.
Até.
domingo, março 23, 2025
A Sopa
Domingo de manhã.
Por volta de sete horas, abro os olhos. A claridade da rua invade o quarto vencendo o obstáculo propositalmente criado pela cortina. Olho o teto, e o peso do meu corpo parece infinitas vezes maior que do realmente é. Sinto dificuldade em me movimentar. Tudo está mais pesado.
As meninas dormem. Com esforço, alcanço o celular e, após olhar a hora, vejo o quanto dormi: mais de sete horas. Foi uma boa noite de sono, e o dia já pode começar. Desde que consiga me mexer, claro. Vai ser agora ou nunca. Conto cinco, quatro, três, dois, um e saio da cama. A sensação de que um caminhão passou por cima de mim durante a noite é forte.
Primeira vitória do dia.
Enquanto tomo um rápido café e como uma fruta e um pão integral, leio o jornal de ontem com notícias de anteontem. Vamos para o segundo desafio do dia: troco de roupa, preparo uma garrafa com água, reúno meu ‘equipamento’, e rumo à garagem de casa. Ao fechar a porta de casa atrás de mim, segunda vitória.
Desço até a garagem, pego a bicicleta, e subo a rampa do estacionamento para a rua já pedalando. Paro, ajeito o fone de ouvido e estabeleço a trilha sonora da manhã (Innervisions, do Steve Wonder), aciono o aplicativo de exercício do meu relógio, e saio pedalando pela André Puente, entro à direita na Ramiro Barcelos e à direita novamente na Av. Independência em direção centro. Pedalo de leve, sem forçar muito. Passo em frente ao local onde ficava o antigo Teatro da OSPA, onde caí há um ano e cinco meses, quando quebrei o braço, e sigo até a Garibaldi, onde rumo em direção à Av. Farrapos. Terceira vitória.
Dali, passo pela rodoviária, e sigo pela Av. Mauá até próximo ao Mercado Público, onde o trânsito está interrompido por uma corrida de rua. Desvio para o Centro, e de lá até a Usina do Gasômetro e a Orla, com grande movimento mesmo ainda antes das nove horas da manhã.
O objetivo do dia, vinte quilômetros, é alcançado setecentos metros antes de chegar em casa. Dever cumprido. Cansado, dolorido.
Quarta vitória.
E assim é que tem que ser.
De pequena vitória em pequena vitória, o objetivo de melhora do preparo físico e manutenção da saúde vão sendo alcançados, lentamente.
Até.
sábado, março 22, 2025
Sábado (e é Outono)
sexta-feira, março 21, 2025
Zoltar e os Pequenos Momentos da Vida
Confesso.
Como vocês notaram, esse é – antes de mais nada – um espaço de reflexão minha e um tipo de confessionário. Uso a sua atenção, prezado leitor, para muitas vezes lidar com minhas angústias e ansiedades. Me utilizo dos potenciais leitores para dividir algumas de minhas preocupações, mas também meus encantamentos com a vida, e com o mundo.
Então, como em um daqueles filmes em que – por mágica, após um pedido feito para Zoltar, mesma máquina de fliperama de ‘Quero Ser Grande’, com o Tom Hanks, e que encontrei (a máquina) há anos em uma galeria em Banff, no Canadá – uma criança aparece no corpo de um adulto, com todas as implicações disso, eu me vejo volta e meia surpreso com o mundo. Ontem aconteceu, por exemplo, em um supermercado.
Nada mais banal, corriqueiro e sem importância do que fazer compras no supermercado e eu lá, pai de família, mais de cinquenta anos de idade, parado, entre surpreso e feliz, pensando com meus botões, ‘veja só, que legal eu estar aqui’. Sou assim, também. Fico feliz com pequenas coisas.
Ou, quando estou paz comigo, ressignifico esses momentos de maneiras diferentes. Preciso de pouco para estar feliz, em paz.
Mas quero muito.
Até.
quinta-feira, março 20, 2025
Vinte de Março
Outono no Sul do mundo.
Começou, hoje mais cedo, o outono do hemisfério sul, e agora as temperaturas devem se tornar mais amenas com o passar dos dias, enquanto esses se tornam mais curtos e as noites mais longas. As cores do outono começam a aparecer.
Não é como no Canadá, claro, onde a mudança de estação do verão para o outono é marcada pelo espetáculo da mudança de cor e posterior quedas das folhas, antecipando o longo, cinza e frio inverno, do qual lembro muito bem, apesar de passados vinte anos desde que morei lá. Aqui essa transição é mais sutil boa parte das vezes, nem sempre tão marcada, mas ainda assim bela.
Os dias claros, a luz dourada do sol ameno, que ainda aquece enquanto ilumina, o verde que vai se transformando em outras cores indicando a lenta mudança para o inverno, estação do recolhimento, da introspecção e dos pensamentos profundos. Quanto mais marcada a transição das estações, maior a conscientização da (inevitável) passagem do tempo.
Há quase três anos, quando completei cinquenta anos, meu pai ainda estava por aqui, e a vida aparentemente não era muito diferente do que é hoje, mesmo que muito tenha mudado desde então. O que é uma história que todos vivemos, de uma maneira o outra. Nunca perco de vista a noção de que minha história é – no geral – igual a de muitos outros, apesar de ser única.
E procuro fazê-la valer à pena todos os dias.
Até.
quarta-feira, março 19, 2025
As Dores do (Meu) Mundo
Já tenho por verdade indiscutível que no dia em que eu acordar sem nenhuma dor será sinal de que morri. Ou de que (ainda) não trocamos o colchão que já deveria ter sido trocado... Simples assim.
Não exatamente, claro.
Não acordo SEMPRE com dores pelo corpo. Mas recentemente tenho sido alvo de dor lombar e no ombro esquerdo com mais frequência que gostaria. A gravidade tem sido mais intensa nas manhãs de dias úteis, e tem sido mais difícil iniciar o dia. Por outro lado, nas manhãs dos finais de semana, quando seria o momento de “recuperar” o déficit de sono (que, na verdade, não existe) eu acabo acordando cedo e com muita disposição.
Vai saber.
Sigo, então, com meu propósito de me manter fisicamente ativo, o que já faço com boa regularidade há quase seis anos consecutivos, entre musculação, bicicleta, caminhadas e corridas. Há cerca de um ano, contudo, não consigo mais acordar às seis da manhã para ir para academia, então tive que reorganizar meus horários para encaixar essa atividade na rotina.
Com ou sem dor, o importante é me manter ativo.
Disso eu não abro mão.
Até.
terça-feira, março 18, 2025
Tenho pressa?
O quanto corremos.
Lembro de um dia, há vinte anos, em que – saindo de uma livraria - parei para atravessar uma rua sem movimento, sem carros vindo, mas que o sinal para pedestres estava fechado (para mim, que era jovem) e aguardei para atravessar na faixa de segurança apenas quando o sinal permitisse. Calma e tranquilamente.
Foi quando percebi que o tempo andava mais devagar, e eu observava as pessoas que passavam, cada uma preocupada com sua vida, com seus problemas. Atravessar a rua no momento adequado, lentamente, observando também a paisagem à minha volta, eu como parte do todo, no (meu) ritmo do Universo.
Era 2005, e eu estava em Toronto.
Caminhava pela Bloor Street W, e saía de uma livraria que ficava em um antigo teatro e que hoje é uma farmácia, e eu estava morando lá durante o meu pós-doutorado. Morava não longe dali, bem próximo ao High Park. Aquela era uma região em que eu costumava caminhar quando o tempo estava agradável.
Estava lá apenas para estudar e trabalhar, não fazia plantões, e o horário de trabalho era civilizado. Tinha, então, tempo para – além de cumprir meus deveres profissionais - observar o tempo passar, olhar o mundo com calma. Auxiliava o fato de eu me deslocar de bonde, metrô e, muito, a pé.
Vinte anos depois, penso em qual velocidade vivo a vida atualmente, em meio às muitas atividades. Houve um momento, há alguns anos, em que trabalhava – remunerado ou em atividades associativas – em mais de cinco lugares diferentes, sem falar no período em que viajava semanalmente para dar aulas, na Universidade e para a indústria farmacêutica. Não via a semana passar, não via a vida passar, confesso.
Sigo com atividades múltiplas.
Diferente de quando corria sem pensar, em busca de um objetivo que não era muito claro, hoje corro com propósito. Sei o que estou fazendo, para onde quero ir, e – sim – tenho conseguido olhar e apreciar a paisagem, curtir o caminho.
Até.
segunda-feira, março 17, 2025
Vital
Ontem, domingo, fomos no Theatro São Pedro ao ‘Vital – O Musical dos Paralamas’ às 18h, mesmo tempo em que encerrava o GRENAL que sagrou o Inter como campeão gaúcho de 2025. Por um descuido meu, havíamos comprado os ingressos para o dia da final. Paciência.
Valeu à pena.
Apesar de eu não ser ‘louco por musicais’, como o são a Marina e a Jacque, eu também gosto, sim. Confesso que não sabia exatamente o que esperar de ‘Vital’, e foi uma ótima surpresa. Muito bom mesmo. Uma viagem no tempo, também.
A história bem contada, com as músicas encaixadas perfeitamente no roteiro, os momentos cômicos e os emocionantes, tudo estava perfeito. O ator que faz o Herbert Vianna impressiona pela semelhança e pelo tom de voz (ao fechar os olhos, não se tinha dúvida de que quem estava falando e cantando era o próprio.
O teatro lotado, o público cantando junto, só músicas conhecidas e boas. Uma catarse.
(e o Inter, lá fora do teatro, Campeão).
Que domingo, meus amigos!
Até.
domingo, março 16, 2025
A Sopa
O nosso amor a gente inventa.
Quando eu estava no Canadá, há vinte anos, entre os meus escritos e projetos de escrita estava uma série de crônicas falando sobre relacionamentos meus antigos e as músicas que eu associava a essas relações. Acabei nunca escrevendo, e o tempo passou.
Essa associação entre música e momentos marcantes, em maior ou menor grau, da vida, é um dos temas que me interessam muito. A memória afetiva, assim como acontece com comidas ou determinados perfumes que nos remetem a determinada época ou situação vivida. A sopa que minha Vó fazia, e que a minha mãe faz e que me ensinou, por exemplo.
Quando pensei em escrever as histórias de relacionamentos antigos, o plano inicial eram três crônicas, inicialmente. A primeira, em uma música, contaria – sem citar nomes – a história. A segunda, em duas canções. E a terceira, finalmente, em três. Não sei quantas seriam, mas a o encerramento seria sobre a Jacque, e ‘todas as canções’, ou a canção definitiva. Mas, como eu, disse, não foi adiante a ideia de escrever.
Então...
Uma das histórias seria toda ela com músicas do Cazuza. Começaria com ‘Faz Parte do Meu Show’, tocada em uma televisão em um bar no litoral norte do RS em uma noite de inverno, teria o seu primeiro final com ‘Obrigado (Por ter se mandado)’, e após um curto retorno teria seu final definitivo com ‘O Nosso Amor a Gente Inventa (Estória Romântica)’. Uma história em três atos, ocorrida há quase quarenta anos.
Sempre gostei muito dessa música, que diz que ‘o teu amor é uma mentira, que a minha vaidade quer’, e, também, ‘te ver não é mais tão bacana, quanto a semana passada’. Como o subtítulo diz, conta uma estória romântica. E o poder que ela tem de me transportar ao passado, olhar para trás e ver o caminho que percorri até aqui e a pessoa que me tornei, torna ela ainda mais especial. E, de tempos em tempos, passo alguns dias a ouvindo e/ou tocando.
Por isso foi mais um momento especial ter cantado ela junto com o Thiago, meu sócio na School of Rock, na última quinta-feira, quando fomos os responsáveis pelo ‘Ora Felice’, o happy hour do restaurante Peppo Cucina.
A vida vai bem, obrigado.
Até.