O quanto corremos.
Lembro de um dia, há vinte anos, em que – saindo de uma livraria - parei para atravessar uma rua sem movimento, sem carros vindo, mas que o sinal para pedestres estava fechado (para mim, que era jovem) e aguardei para atravessar na faixa de segurança apenas quando o sinal permitisse. Calma e tranquilamente.
Foi quando percebi que o tempo andava mais devagar, e eu observava as pessoas que passavam, cada uma preocupada com sua vida, com seus problemas. Atravessar a rua no momento adequado, lentamente, observando também a paisagem à minha volta, eu como parte do todo, no (meu) ritmo do Universo.
Era 2005, e eu estava em Toronto.
Caminhava pela Bloor Street W, e saía de uma livraria que ficava em um antigo teatro e que hoje é uma farmácia, e eu estava morando lá durante o meu pós-doutorado. Morava não longe dali, bem próximo ao High Park. Aquela era uma região em que eu costumava caminhar quando o tempo estava agradável.
Estava lá apenas para estudar e trabalhar, não fazia plantões, e o horário de trabalho era civilizado. Tinha, então, tempo para – além de cumprir meus deveres profissionais - observar o tempo passar, olhar o mundo com calma. Auxiliava o fato de eu me deslocar de bonde, metrô e, muito, a pé.
Vinte anos depois, penso em qual velocidade vivo a vida atualmente, em meio às muitas atividades. Houve um momento, há alguns anos, em que trabalhava – remunerado ou em atividades associativas – em mais de cinco lugares diferentes, sem falar no período em que viajava semanalmente para dar aulas, na Universidade e para a indústria farmacêutica. Não via a semana passar, não via a vida passar, confesso.
Sigo com atividades múltiplas.
Diferente de quando corria sem pensar, em busca de um objetivo que não era muito claro, hoje corro com propósito. Sei o que estou fazendo, para onde quero ir, e – sim – tenho conseguido olhar e apreciar a paisagem, curtir o caminho.
Até.
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