sexta-feira, fevereiro 28, 2025

Laialaiá

Ninho vazio.

 

Depois de completar a leitura de ‘Cidade em Chamas’, como suas mil e quarenta páginas (sim, estou me exibindo), ontem foi um dia, como dizem, off. Não comecei nenhum livro novo, fiquei de bobeira entra uma série um pouco de rede social. Foi estranho, depois de quase quatro meses em que emendei um livro no outro. 

 

Ontem, então, tirei uma folga.

 

E confesso que me senti perdido, como se faltasse algo...

 

Mas hoje começa o carnaval, e – à tarde – farei algo que não faço há anos, que é pegar a estrada para o litoral norte em plena sexta-feira início de feriadão. Vou para a praia e volto logo depois, porque vou apenas para levar a Marina e amigas até lá. Eles ficarão, eu volto...

 

Sábado, então, pegamos a estrada, a Jacque e eu, em vamos para uma gincana: após uma hora e meia de viagem, vamos até o posto de gasolina que é o último ponto em que há sinal de Internet, avisamos que passaremos a ‘voar às cegas’. Alguns quilômetros após, entramos na estrada de chão à direita. Passamos pela aldeia dos índios, à direita novamente quando chegarmos a uma propriedade de universidade, seguimos, cruzamos a porteira de uma madeireira, passamos pelo cemitério, e – quando a estrada virar apenas uma trilha entre a mata fechada, é só seguir os postes de luz (ou as aranhas, não lembro bem...).

 

Se demorarmos muito neste trajeto, o resgate está pronto para vir em nossa direção. Vai dar certo.

 

Isolados do mundo, onde a música ruim não vai nos alcançar.

 

Até.

  

quinta-feira, fevereiro 27, 2025

Livros

Completei.

 

Quando retomei, depois de muito tempo, o hábito da leitura – literatura, e livros físicos – procurei estabelecer uma rotina de um mínimo de páginas lidas por dia. Deveria conseguir incluir ler livros entre as atividades do meu dia, aquelas úteis e as que me faziam perder tempo, como o tempo de tela, de redes sociais, minha atual preocupação. Para isso, dois pré-requisitos precisavam ser preenchidos: tinha que ser algo interessante, para me manter estimulado a continuar, e não poderia interferir com nada que fosse realmente importante.

 

O começo, como já contei aqui, foi impulsionado pelo projeto de clube de leitura que estávamos para lançar lá na School of Rock Benjamin POA, e que foi adiado por questões alheias à nossa vontade, mas não abandonado.  Os primeiros livros que li nessa retomada foram relacionados ao clube, os que seriam os primeiros livros que seriam discutidos: ‘Só Garotos’, da Patti Smith, ‘Alta Fidelidade’, do Nick Hornby, e ‘A Sonata a Kreutzer’, do Tolstói. Todos relacionados, de alguma forma, com a música. Os três entre novembro e dezembro. Li ainda, bem nos últimos momentos de 2024, ‘A Coragem de Ser Você Mesmo’, da Brené Brown.  

 

Empolgado com o ritmo de leitura que eu conseguira estabelecer, comecei o ano com ‘Nexus’, do Yuval Harari, de quem já havia lido ‘Sapiens’, ‘Homo Deus’ e ‘21 Lições para o Século 21’. Depois dele, o desafio real desse começo de ano, e que terminei ontem.

 

Cidade em Chamas, de Garth Hallberg.

 

Um livraço, em todos os sentidos. São 1040 (!!) páginas de uma história que te prende desde o início. Se passa em Nova York nos anos setenta, em uma fase complicada para a cidade e período do punk. E consegue te fazer sentir o espírito da cidade na época, a densidade ou não das relações, a falta de esperança do período pós-hippie.


Assim como quando li o ‘Só Garotos’, da Patti Smith, que se passa em parte nesse período, foi como se eu estivesse reencontrando personagens e de volta a um lugar onde estivera antes, como se tivesse vivido naquele tempo e convivido com aquelas pessoas. Uma estranha (e boa) familiaridade, como se eu tivesse voltado para casa, para um mundo em que pertenci, mesmo que uma impossibilidade temporal e geográfica.

 

Sei lá.

 

Até. 

quarta-feira, fevereiro 26, 2025

O Conforto e a Bolha

Não fico confortável quando as pessoas criticam a ‘Zona de Conforto’. Fico incomodado, aliás, com todo tipo de afirmação referente a sair da zona de conforto para podermos evoluir, que ela significaria estagnação. 

 

O que é zona de conforto, afinal?

 

Zona de conforto seria um estado psicológico em que uma pessoa se sente segura, à vontade e em controle de seu ambiente. É um lugar onde não haveria medo, ansiedade ou risco. Por isso, poderia limitar o crescimento pessoal e profissional, impedir que pessoas explorem novas habilidades e oportunidades, que alcançassem seu pleno potencial. Mais, seriam sinais de que se está na zona de conforto a pessoa ser “insegura, estagnada, ser procrastinadora, não conversar com estranhos” (?). E, a partir desses conceitos, coachs dão diferentes dicas e orientações de como sair dessa zona de conforto e progredir, evoluir.

 

Bullshit.

 

Não poderiam estar mais errados.

 

Volto a dizer, a Zona de Conforto é uma coisa boa. Como o nome diz – e sei que já falei isso – é confortável. No inverno, é quentinha e, no verão, refrescante. Somos felizes na zona de conforto. Por que, então, querer sair dela por qualquer razão? Não faz sentido para mim.

 

Entendo, contudo, o risco de estagnação que o conceito tem embutido em si. Se está bom dormir, por que sair da cama? Como, então, lidar com esses conceitos aparentemente contraditórios? Evoluir sem sair da Zona de Conforto. É possível?

 

Sim.

 

Vejo a Zona de Conforto como uma bolha em que estamos e nos sentimos bem, estamos tranquilos. Nada a ver (será?) com o conceito de viver em uma bolha em que todos concordam contigo, em que o mundo valida suas opiniões. Eu vejo como uma bolha pensando em um espaço delimitado, com limites. E evoluímos, sim, evoluímos, expandindo os limites de nossa bolha. 

 

Essa bolha (a nossa zona de conforto) deve crescer, ampliar suas dimensões. Sim, significa correr riscos e alguma ansiedade, mas estarmos preparados para isso. Não sairíamos da zona de conforto, apenas expandiríamos suas fronteiras.

 

Esse é um conceito que me agrada.


Até. 

terça-feira, fevereiro 25, 2025

Nas Ruas

Porto Alegre voltou ao normal.

 

Depois do período de férias escolares de verão, desde a semana passada, e em muito maior intensidade desde ontem, tudo voltou ao seu habitual na capital do Rio Grande do Sul. E voltamos a necessitar exercitar nossa tolerância e paciência.

 

Falo, evidentemente, do trânsito.

 

Além do expressivo aumento de carros circulando pela cidade, principalmente no início da manhã e final da tarde, parece que os imprudentes e os imperitos estão de volta às ruas da cidade. Sei que eles nunca nos abandonaram, mas - com menor circulação de carros - eles até passavam despercebidos. Não mais. 

 

Estacionamento em locais não permitidos, mudanças de faixa onde não poderiam, conversões irregulares, paradas em fila dupla, tudo voltou às ruas de maneira bem intensa. Bem em frente a nós, sem nenhum pudor. Potencial irritante máximo.

 

Uns selvagens.

 

Vivo outra fase, contudo. 

 

Há um tempo, por prudência, concluí que era melhor ficar quieto e não reclamar ostensivamente sobre essas irregularidades testemunhadas, afinal não era minha função, mesmo que atrapalhem a vida em sociedade, no caso a circulação pelas ruas. Vai que eu reclamasse de alguém armado e me desse mal? Melhor ficar quieto.

 

Avancei um pouco mais quando – mesmo tendo sempre sabido desse fato – passei a mentalizar que nada disso “era sobre mim”, ou seja, não era pessoal. Não é minha função (ia ser legal se fosse) repreender ninguém sobre seu comportamento no trânsito.

 

Não posso fazer nada, além de cuidar do meu nariz.


Até. 

segunda-feira, fevereiro 24, 2025

Memória

Como é o esquecimento?

 

O ano de dois mil e vinte e cinco representa algumas datas importantes na (minha) história. Claro que, se pensarmos um pouco, todos os anos são assim, da mesma forma que todos os anos são, de uma forma ou outra, desafiadores e difíceis, bons e ruins, dependendo de nosso olhar.

 

Algumas dessas datas marcantes desse (meu) ano marcam até quarenta e cinco anos de alguns eventos, dos quais (ainda) tenho algumas lembranças, mais ou menos nítidas. Daqueles que completam quarenta anos, lembro bem mais, e – obviamente – quanto menos tempo passou desde o acontecimento, melhor lembro.

 

Mas a pergunta que me faço nessa segunda-feira de sol e calor é: o quanto as memórias que tenho desses eventos há muito ocorridos são realmente memórias do que ocorreu e quanto são memórias criadas ao longo do tempo? O quanto já esqueci e o quanto criei (inventei?) para mim? Para me sentir melhor, por exemplo.

 

Para alguns dos fatos, como o acidente de 1990, tenho escritos meus da época, além da história que contei muitas vezes para as pessoas. Mantemos (mantenho) a lembrança viva ao contá-la, ao relembrá-la, agora como fato histórico, bem resolvido. Revivo os fatos ao lembrar, sem julgamento nenhum sobre os acontecimentos.

 

Tenho pensado em escrever novamente, sem consultar o que escrevi anteriormente, sobre alguns dos fatos do meu passado. Por curiosidade mesmo, saber como vejo hoje e, para aqueles que tenho escritos prévios, como os via na época. Para entender um pouco mais quem eu era e como me tornei quem sou.

 

Até.

 

domingo, fevereiro 23, 2025

A Sopa

Somos, ao longo da vida, diferentes personas.

 

Personagens que criamos e representamos em diferentes momentos da vida, feitos em boa medida para nos adaptarmos ao ambiente de convívio, para sermos aceitos em grupos, inclusive. Comigo, ao menos, foi assim.

 

Não é um caso de múltiplas personalidades, mesmo que eu tenha – durante um tempo, e de forma didática para entendimento próprio – atribuído nomes diferentes ou, melhor, variações do meu nome para cada uma dessas personasque transitavam nos diferentes ambientes por onde eu circulava. Não vou detalhar aqui como era isso, até acho que até que já escrevi sobre, mas não lembro se publiquei ou não, não importa.

 

Em algum momento de um passado já distante, contudo, eu criei, e não sei nem se esse é o termo mais adequado, provavelmente imaginei, um ‘Eu’, um ‘Marcelo’ ideal, algo do tipo quem eu gostaria, ou deveria, ser ou me tornar. Mais, como se eu tivesse sido essa persona e, por alguma razão, tivesse deixado de ser, tivesse perdido o jeito.

 

Tivesse me perdido.

 

E procurei por essa versão ‘mítica’ minha, que certamente eu havia criado em minha imaginação, por um bom tempo. Queria voltar a ser quem eu nunca havia sido, uma estranha sensação, similar a sentir saudades dos ‘carnavais de um tempo em que não vivi’. Procurava alguém que nunca havia existido. Procurava voltar a ser quem eu nunca havia sido.

 

O curioso, e fascinante, a meu ver, é que nessa procura por essa versão idealizada minha (o que não quer dizer uma versão perfeita, que fique claro) que evidentemente não existia, venho me aproximando (e esse é um processo que continua, a work in progress) disso, me aproximando dele.  

 

Me tornei, estou me tornando, quem eu deveria ser. 


Até. 

sábado, fevereiro 22, 2025

sexta-feira, fevereiro 21, 2025

Não quero viver de histórias

Escrevo enquanto voo entre Porto Alegre e Campinas (não sei que horas conseguirei publicar), para onde estou indo para um evento médico, em um atual raro momento em que saio da invisibilidade e apareço entre os pares, os colegas médicos. Evento patrocinado pela indústria farmacêutica, atualização científica e lançamento de medicamento. Uma surpresa o convite, porque depois de ter trabalhado como médico contratado de uma das grandes farmacêuticas, após encerrar meu vínculo e um período de quarentena informal, seguidos da pandemia, tinha saído do circuito, e vivia – após um período de estranhamento – a tranquilidade da invisibilidade.

 

Agora pode ser apenas um fato isolado, e está tudo bem. 

 

Queria falar de outra coisa.

 

Clichê maior meu, sempre disse (e digo) que a vida não é muito mais que histórias para contar. Que tudo o que vivemos não passa disso, de histórias que vamos contar e contar e contar novamente. Esses dias, enquanto atendia um paciente, por um instante abstraí da consulta e percebi que talvez eu esteja, com relação a alguns amigos, vivendo das histórias que vivemos. É legal, isso, de ter histórias para compartilhar, para relembrar, porque nos dá senso de ter pertencido.

 

Só que, como tudo na vida, tem um lado que não é legal.

 

Porque corremos o risco de viver do passado, apenas lembrando do que vivemos, e não mais viver, não mais criar e, como diz a música do Raul, ficar “sentado no trono de um apartamento, com a boca cheia de dentes, esperando a morte chegar”. Esse é, penso, o único medo que as pessoas deveriam ter. De morrer em vida. De desistir, entregar os tacos.

 

Parênteses.

 

Quero escrever há tempos sobre isso, mas nunca houve a oportunidade. Vou fazer agora, mesmo que talvez não fosse o melhor momento. É o seguinte: uma das afirmações mais importantes, mais graves que podemos fazer, e que encerra em si toda uma ética, todo um código de conduta não escrito e que é respeitado porque é da vida, vem do velho jogo de tacos, que jogávamos nas ruas de nossa infância.

 

“Licença para dois, entrega os tacos”.

 

Nada é mais importante e denso do que isso, e dispensa explicações ou adendos. Depois de um “Licença para dois, entrega os tacos”, tudo muda, a vida muda de rumo...

 

Fecha parênteses.

 

Dizia que não quero viver de histórias passadas. Quero, e preciso (precisamos), criar, viver novas histórias, que serão – sim – acrescidas de novas e contadas e contadas. E as pessoas que as vivem e as viverão são o que fazem valer à pena, fazem a vida valer à pena.

 

Entre meus objetivos estabelecidos para esse ano, e para os próximos, é isso, é criar as novas histórias que contaremos juntos com as pessoas que são importantes. Cafés, churrascos, viagens, encontros. Vou – me propus – abrir janelas de oportunidades, me mostrar disponível, fazer saber que estou aqui como sempre estive, e que vou tentar me manter perto mesmo que a geografia seja algum tipo de obstáculo. A minha parte, pretendo fazer.

 

Quem vier junto, ótimo.

 

Que não estiver disposto, tudo bem também.

 

Cada um sabe de si.

 

Até.

quinta-feira, fevereiro 20, 2025

Sobre Acampar

Sou (ou me tornei) guri de apartamento.

 

Gosto de algum grau mínimo de conforto, por isso tenho a tendência a não (mais) gostar de acampamentos, por exemplo. Digo aquele tipo de acampamento raiz, de barraca, mosquitos, usar o mato como banheiro, e que tem chuva. Já foi divertido, rende boas histórias, mas não é mais para mim.

 

É por estar ficando velho?

 

Não, até porque não estou, mesmo que diga que meu grande objetivo é me tornar um velho rabugento e resmungão. Isso será no futuro. Domenico de Masi já disse que ficamos velhos aproximadamente dois anos antes de morrer, e eu (imagino) estou bem longe disso.

 

Assim como tem destinos de viagem que não me agradam, mesmo que sejam lugares com muita história e que realmente sejam fascinantes, mas não tenho vontade de visitar. Como a Índia, ou o Egito (esse último confesso que vacilo nessa convicção), por exemplo. Tenho certeza de que são grandes (literal e figuradamente) lugares para se ir, mas não tenho a menor vontade de fazê-lo.

 

Lembrei disso hoje cedo em conversa com colegas logo na chegada no hospital, em que um deles dizia que iria acampar em Cambará do Sul durante o carnaval, aquela coisa de barraca e tudo, junto com os filhos. Brincávamos com ele falando das ‘dificuldades’ e tal, até que ele disse que “as crianças gostam”.

 

Por isso, disse eu, que elas não podem votar e nem dirigir.

 

Sabem muito pouco da vida.


Até. 

quarta-feira, fevereiro 19, 2025

O Vizinho

Moro no mesmo lugar há quase trinta anos, em um prédio construído nos anos oitenta. Apartamentos grandes, construção sólida. Bem localizado, e a meio caminho entre a casa da minha mãe e a dos meus sogros. Ao lado do colégio da Marina. Tipo perto de tudo. Queixa antiga minha, sem churrasqueira.

 

Dificuldade essa que já superei, ou aceitei.

 

E tenho, em sua maioria, vizinhos que moram ali desde que nos mudamos, a Jacque e eu. Nos conhecemos – nessa relação de vizinhos, não mais que isso – desde então. Alguns poucos são moradores mais recentes, como o meu vizinho baterista e que tem uma Kombi, que já nem estuda seu instrumento em momentos que estamos em casa. Ou que eu estou em casa.

 

Dentro daquela história de que o mundo é realmente pequeno, conheci a filha de um dos meus vizinhos – na época em que ela estudava odontologia e eu medicina na PUC – durante uma transição de estagiários em um estágio que fizemos em um projeto de verão em Palmares do Sul, litoral sul do RS, alguns anos antes de eu sequer conhecer a Jacque (que a conhecia por terem morado nesse mesmo lugar em que moramos agora). Fomos nos encontrar quando fui morar ali e ela ia visitar os pais. A filha mais velha dela fez patinação com a Marina, e o filho mais novo é da mesma série que a Marina, mas de turmas diferente na mesma escola.

 

Pois estava eu saindo de casa na última segunda-feira para ir para a School, onde também teria minha aula semanal de guitarra, entrei no elevador com o case da guitarra no ombro e, logo após, esse vizinho entrou também. Na entrada, me olhou e comentou: “Indo jogar?”. 

 

Pensando que ele estava brincando, disse que sim, no que ele perguntou se era em um lugar coberto, pois chovia. Disse que sim, e aí comecei a pensar que ele realmente estivesse pensando que eu iria jogar algo. Ao sair do elevador, ao nos despedirmos, ele reforçou o comentário, “Bom jogo!”.

 

Saí intrigado, confesso.

 

O que ele imaginou que eu fosse jogar, carregando um case de guitarra a tiracolo? 

 

Golfe, poderia ser golfe.


Vai saber...


Até. 

terça-feira, fevereiro 18, 2025

Aparências

Em algum momento da vida, é inevitável (foi para mim, ao menos) que façamos esforços para nos encaixar, para sermos aceitos e fazermos parte de um grupo, de uma turma. É natural ou, ao menos, eu vejo assim.

 

É uma questão de adaptação, talvez um esforço civilizatório, aquele de controlar alguns impulsos para viver em sociedade. Não podemos, não devemos – na verdade – dizer tudo aquilo que pensamos. Além de não ser educado, nos poupa de incômodos, de situações constrangedoras.

 

Nem sempre, quase nunca em realidade, vamos circular, ou conviver com grupos em que temos cem por cento de afinidade, e é natural. A diversidade de opiniões e visões de mundo é muito saudável. Crescemos na convivência com o diferente. Ao longo do tempo, sabemos, vamos criando conexões e relações que vão se moldando, elas as nós e nós a elas. São essas as de maior valor.

 

Como eu dizia, já fiz muito isso, de me adaptar a ambientes aos quais queria fazer parte, pela necessidade que sempre tive de me sentir parte de grupos, de comunidades. Pois sempre soube da importância (para mim, para mim) da vida em sociedade. 

 

E, movimento natural da vida, cada vez menos preciso disso, me adaptar ou me moldar para “me encaixar” em grupos ou locais de convivência. Sou sempre o mesmo, onde quer que eu esteja, gostem ou não. Se alguém não gosta de mim, de como sou, do meu jeito, paciência, isso diz muito mais dessa pessoa do que mim.

 

Não, não é um recado a ninguém e não aconteceu nada.

 

São apenas pensamentos perdidos de uma terça-feira de verão.


Até. 

segunda-feira, fevereiro 17, 2025

De Volta

 Retorno de férias.


Foram duas semanas fora do consultório (e do hospital) para nossas tradicionais férias de verão. Estivemos aqui em perto, como já dito, no litoral norte do RS, em Atlântida, e nos últimos dias em casa mesmo.

 

Entre dias de descanso e praia, atividades da School of Rock Benjamin POA. Completamos, no sábado que passou, cinco finais de semana consecutivos de shows na praia, no Ramblas, nas noites de sábado. Foi muito legal mesmo. Cansativo, mas bem divertido.

 

A volta ao trabalho é, claro, um retorno à normalidade da vida, à rotina (que é importante, assim como o são as gavetas). Os dias são – de certa maneira – empacotados, até onde possível previsíveis, o que dá segurança e a sensação de estabilidade.

 

Eu gosto disso.

 

Até.

domingo, fevereiro 16, 2025

A Sopa

Não sou budista.

 

Muito dos meus escritos giram, tive essa impressão agora, em torno de definições daquilo que não sou, como se eu fosse diagnóstico de exclusão. Exclua-se tudo o que não sou e sobrará apenas o que sou. Pensando bem, não é o que acontece com todos nós?

 

Parece que vamos, ao longo da vida, descobrindo o que não somos ou não podemos ser, excluindo essas partes, ou possibilidades, e nos restringindo a uma ou outra definição e/ou atividade. Vamos, dessa forma, limitando o nosso ser.

 

Já disse que tenho problemas com isso.

 

Não gosto dessa ideia, de que devemos, com o passar do tempo, fechar portas a oportunidades e possibilidades na vida. Esse é um preço que obrigatoriamente temos que pagar? Sempre, aliás, há um preço a ser pago por qualquer decisão que tomamos na vida, e mesmo não tomar nenhuma decisão tem seu preço, às vezes até alto demais. Vejo, olhando retrospectivamente, que paguei um preço mesmo por me questionar sobre tudo isso, mas esse é um assunto que já resolvi comigo, com o qual estou em paz.  

 

Dizia eu, então, que não sou budista.

 

Não trabalho bem com a ideia da impermanência, de que tudo é transitório, inconstante e tende a acabar, no sentido em que confessadamente demoro a aceitar algumas dessas situações, principalmente com pessoas. Sou apegado, confesso.

 

Pessoas que em algum momento fizeram parte da minha vida, e com as quais compartilho boas histórias, tenho boas lembranças, em um primeiro momento não deveriam – e não falo em geografia - se afastar, não deveríamos nos afastar. Pensamento infantil, eu sei, mas sou uma alma primitiva, infantil. Por outro lado, tenho claro, mesmo que eu demore um pouco a aceitar, e aí é meio que budista mesmo, que isso é inevitável e que as pessoas mudam, e que não são mais as mesmas que eram quando vivemos nossas histórias juntos.

 

E lembro Guimarães Rosa: “Mire e veja: o mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão”.

Até.

sábado, fevereiro 15, 2025

Sábado (e os últimos momentos de férias)

(Atlântida/RS)
 

Últimos momentos de férias.
Estaremos hoje no litoral, mas não na praia.

Hoje é o encerramento da temporada de shows da School of Rock Bejamin POA no Ramblas, em Atlântida.

Vai estar muito bom.
Não percam.

Bom sábado a todos.

Até.

sexta-feira, fevereiro 14, 2025

Eu Quero Ser Cancelado

Talvez esse não seja um assunto inédito por aqui.

 

Tem um vídeo no You Tube, de um show da School of Rock Benjamin POA, de outubro de 2023, em que o grupo do Performance, programa da escola para adolescentes até dezoito anos, com a Marina como vocalista, toca Johnny B. Goode, e que tem mais de vinte mil visualizações. Para um canal com cerca de duzentos e poucos assinantes, é um feito.

 

Não só isso.

 

Junto ao vídeo, há uma série de comentários, praticamente todos elogiosos. A exceção são um ou dois comentários feitos em russo, e que com a ajuda do Google Translator descobrimos que são negativos, de haters. A reação da Marina ao descobrir isso? Achou bem legal. Se tens haters, concluo eu, é porque tens relevância.

 

E aí desvio o assunto para uma característica do uso da Internet e das redes sociais, que é o anonimato. Certamente, quase a totalidade daqueles que fazem comentários negativos, muitas vezes destrutivos, jamais o faria pessoalmente. Destilam seu ódio e sua insatisfação como se estivessem sozinhos no mundo ou como se não houvesse consequências para aquilo que dizem. E o grave é não saberem que aquilo que está escrito tem um peso muito maior do que aquilo que é dito.

 

Aprendi há um bom tempo a ter MUITO cuidado com que eu escrevo quando em comunicação com alguém, seja por e-mail (como faziam os maias e os astecas) ou por aplicativos de mensagens. Aquilo que eu escrevo e envio para alguém não está mais sob meu controle. A pessoa ou as pessoas, que recebem a mensagem, podem entender algo diferente do que escrevi, interpretar errado, dar um sentido totalmente diferente daquilo que era originalmente a intenção. E isso não depende de quem e nem da intenção que tinha quem escreveu. A leitura rápida e corrida muitas e muitas vezes leva a intepretações equivocadas.

 

Da mesma forma que não entendo quem perde o seu precioso tempo comentando notícias, vídeos de opinião ou não, pessoas que “invadem” perfis de pessoas para criticarem a vida alheia. Muitas vezes apenas para agredir gratuitamente.

 

Ou que patrulham a vida alheia, e – com o argumento de serem politicamente corretos, e de respeitarem a todos – acabam sendo tiranos, querendo impor sua verdade e mesmo seu dialeto a todos, sob a ameaça de cancelamento...

 

No fundo, eu entendo, sim.

 

São pessoas que usam desses subterfúgios para escapar – ao menos por instantes – de suas vidas sem sentido, vazias, medíocres. É a atualização do mundo moderno para quem vai ao estádio de futebol não para assistir ao jogo, mas para apenas vociferar contra tudo e todos, até para jogadores que nem em campo estão (história real).

 

Tristes vidas, tristes vidas.


Até. 

quinta-feira, fevereiro 13, 2025

E o carnaval?

Metas de ano novo.

 

Não costumo chegar à virada de cada ano e estabelecer metas para o ano que vai iniciar. O que não quer dizer, evidentemente, que eu não projete, ou que eu não tenha objetivos, mas concluí há tempos que esse não é o melhor momento de fazer projeções.

 

Aliás, eu costumava – de tempos em tempos – e a mudança de ano não tinha nenhuma relação com isso, estabelecer planos mais longos, planejar como seria e o quê eu estaria fazendo ou teria conquistado ao longo dos cinco anos vindouros. Um plano plurianual, com objetivos de curto e longo prazos, estabelecendo o rumo que eu gostaria de dar para a minha vida.

 

Sempre fiz sozinho, porque esses objetivos eram pessoais, mesmo que eu já fosse casado e nunca perdi de vista que eles tinham que estar em consonância com minha vida, em um primeiro momento com a Jacque, e depois também com a Marina, claro. Focava, nesses planos, basicamente em cuidados com minha saúde física e mental e com minha vida profissional.

 

Por serem de longo prazo, nunca houve a possibilidade de “abandonar” essas metas e esses planos após um ou dois meses, como muitas vezes acontece com quem traças essas metas de ano novo. O foco era, então, bem mais na frente, na tentativa de consistência e disciplina (que nem sempre conseguia...).

 

Por isso, é interessante revisar esses planos, alguns deles escritos em folhas de papel, outros em alguma pasta em um drive do meu computador. Ver o que eu imaginava e/ou planejava em comparação com o quê fiz e aonde cheguei. Serve tanto para comprovar o inesperado da vida, os caminhos inesperados para onde ela pode nos levar, quanto para ter uma noção do quanto caminhamos e de como tem sido essa caminhada.

 

Não faço mais esses planos de longo prazo.

 

Ou não fazia.

 

Por esses dias finais de férias de verão, já em Porto Alegre e procurando resolver algumas questões do dia a dia, tenho andado com um bloco de notas e uma caneta, pois tenho posto no papel – literalmente - alguns pensamentos e planos que tenho.

 

E tudo deve acelerar quando o carnaval passar.

 

Até.

quarta-feira, fevereiro 12, 2025

Apagando a Memória?

Ainda sobre a praia.

 

Como já contado aqui inúmeras vezes, há pouco mais de dez anos foi vendida a nossa casa da praia em Imbé, litoral norte do RS. Admito que – mesmo sabendo que ir para lá já não era a mesma coisa que antes, porque faltavam as pessoas, a Turma do Muro – demorei um tempo para assimilar a perda. Digamos que fiz um luto prolongado.

 

Que passou, devo dizer.

 

O engraçado é que ainda – volta e meia – sonho com a casa, mas, atualmente, mesmo em sonho sei que foi vendida e não faz sentido continuar nela. Esses dias mesmo, sonhei que havia sido reformada e me perguntava, no sonho, por que reformar se a casa não era mais nossa? 

 

Após a venda, meio que virou uma tradição nossa, aqui em casa, quando passávamos pelo litoral, ao menos passar pela frente da casa, olhar como estava. E era sempre frustrante, porque ela tem, desde a primeira vez que passamos por lá após a venda – acho que uns três anos depois – a mesma aparência de desleixo, de estar mal cuidada. A grama alta, as plantas na frente não podadas, sempre um carro com aspecto de abandonado no pátio. 

 

O que talvez fosse bom, afinal se ela estivesse com o mesmo aspecto de quando éramos os proprietários, de quando meu pai cuidava de tudo com dedicação, provavelmente sentiríamos a perda por mais tempo. Do jeito que estava, já não era a casa em que passamos os verões de nossa juventude, vamos dizer.

 

Da mesma forma com tudo em torno da casa.

 

O Muro do Adriano não existe mais, a casa do Titico não é a mesma desde que a antiga casa pegou fogo, a casa da Stefania virou um sobrado com quartos para alugar. A rua se tornou progressivamente comercial, e na esquina, três terrenos de distância da que era nossa casa, há uma grande empresa de segurança. Aquele trecho da rua, onde passamos nossos verões, não existe mais da forma que era, evidentemente.

 

Mas faltava o tiro de misericórdia, meio que para definitivamente acabar com qualquer ligação que ainda pudéssemos ter com aquele lugar: mudaram o nome da rua. Crescemos naquele trecho da Av. Rio Grande entre as avenidas Santa Rosa e Garibaldi, quase na Garibaldi, perto do Castelinho. A Avenida Rio Grande que iniciava na Ponte do Rio Tramandaí e seguia paralela ao rio até a Barra, e daí em direção norte, agora não se chama mais Av. Rio Grande, descobrimos ontem. Mudaram o seu nome.

 

Agora é Av. Nilza Costa Godoy.

 

Estão, diria o meu eu paranoico, tentando apagar o nosso passado. Não conseguirão, no fim. Porque o que importa são as histórias, e as pessoas.

 

Até.

terça-feira, fevereiro 11, 2025

Leituras

Desde quase o final do ano passado, consegui tornar a leitura novamente um hábito em minha rotina. Já falei disso, ao longo dos anos havia deixado a rotina se colocar entre os livros e eu, fato esse que piorou quando as telas, as redes sociais surgiram. Havia me deixado sequestrar por elas. Minha culpa, minha máxima culpa.

 

Quebrei esse ciclo a partir de um esforço voluntário em reduzir minha exposição – na medida do possível – ao telefone celular e, consequentemente, às redes sociais. Essa, aliás, é para mim, uma preocupação cada vez maior. E falo como um dependente em recuperação. 

 

Uni, então, as duas situações, a necessidade que eu tinha de reduzir o tempo de telas (redes sociais) e voltar a ler. Livros físicos, de papel, comprados em livrarias, preferencialmente, apesar da facilidade (de que, sim, faço uso) da compra online pela Amazon, por exemplo. Outro fator motivador para a leitura foi o MusiClube de Leitura, que aconteceria na School of Rock Benjamin POA, mediado pela escritora Ana Carolina Machado e por mim, e que teve seu início adiado por enquanto. Como poderia eu ser um dos mediadores de um clube de leitura sem efetivamente ler? 

 

Não poderia.

 

Então, sob forte pressão auto exercida, voltei a ler, e se – conforme dizem – são necessários vinte e um dias para se adquirir um novo hábito, então – sim – voltei a ser um leitor, assim como há quase seis anos deixei de ser sedentário, pois esse é o período no qual tenho feito atividade física ininterruptamente.

 

Uma mudança de cada vez.

 

Queria, desde o início dessa crônica, falar de livros, confesso. Entre os livros que inicialmente fariam parte do primeiro ciclo de leituras do nosso clube, um foi excluído pela extensão: era muito longo para uma leitura mais ou menos rápida. Após as primeiras leituras de 2025 (Nexus, do Yuval Harari, entre eles), decidi começar a ler ‘Cidade em Chamas’, escrito por Garth Risk Hallberg, publicado em 2015.

 

Comecei a ler, sabendo que era longo, tipo setecentas páginas, na minha estimativa, de uma leitura cativante, um estilo de escrita que me agrada muito. Fala de Nova York dos anos setenta, arte, rock, punk, e é muito bom. Ao chegar na página trezentos e vinte, mais ou menos, e imaginar que me aproximava do meio do livro, percebi que não era bem assim. Fui conferir o número real de páginas.

 

Mil e quarenta páginas.

 

Li, até aqui, um terço do livro.

 

Está valendo à pena.

 

Por outro lado, e voltando a falar da adição às telas, acabei de ler, em meio à leitura de ‘Cidade em Chamas’, ‘Nação Dopamina’, da psiquiatra Anna Lembke, que tem como subtítulo ‘Porque o excesso de prazer está nos fazendo infelizes e o que podemos fazer para mudar’.

 

Vale a leitura, também.

 

Até.

segunda-feira, fevereiro 10, 2025

Ainda em Férias

Nem todas as férias são inteiramente de descanso.

 

Quando falamos de férias, o óbvio pensamento é de que são o momento de descanso, e as férias ideais são realmente assim, de relaxamento físico e mental. Principalmente mental, claro, aquele momento em que deixamos de lado as preocupações de todos os dias e nos damos o direito de simplesmente não pensar.

 

Nem sempre, porém, as férias são exatamente assim, pelas mais variadas circunstâncias de vida. Podemos tirar férias para resolver problemas que na rotina não conseguimos, como reformas em casa, tratamento de questões de saúde ou outros. Ou podemos descansar mentalmente, mas nem tanto fisicamente. Como em viagens.

 

Viagens de férias são momentos para descanso mental, mas não necessariamente de descanso físico. Como quando vamos conhecer lugares novos, ou revisitar antigos, e caminhamos e passeamos e dirigimos entre diferentes lugares, por exemplo. Podemos voltar mentalmente renovados, mas fisicamente cansados, mesmo que de um jeito bom, sei que me entendem. 

 

Tenho convicção, então, que - mais importante do que o descanso físico - é o descanso mental, é o relaxar, o ficar leve. Quando penso nisso, lembro de nossas férias de três anos atrás, quando fomos ao Uruguai de carro (Los Perdiditos em Uruguay, leia aqui) em que dirigi o tempo todo e passei os dias e noites com dor por uma hérnia de disco cervical que só fui descobrir depois. Mesmo com dor, foram uma das férias em que mais relaxei e descansei (e não era efeito das medicações...). Pela companhia, evidentemente.

 

Esse ano, de novo, as férias têm sido assim.

 

Os dias ininterruptos de sol, o mar azul de temperatura agradável, a proximidade de onde estamos até o mar, as companhias, o som que fizemos sábado passado no Ramblas, os shows que assistimos depois de tocar, entre amigos, do Rock na Sanfona e, para encerrar a noite, do Frank Jorge, o domingo de horas na beira da praia (não lembro de quando, desde a adolescência fiquei tanto tempo na praia) e pastéis e caipirinhas, o salsichão com pão à noite, o sorvete de sobremesa, as longas horas de sono, tudo isso faz dessas férias um ‘intensivo de descanso’. E ainda temos mais uma semana antes de retornar ao trabalho efetivamente.

 

Amanhã voltamos à Porto Alegre, e os últimos dias serão em casa, antes de retomar a rotina e acelerar para o ano recomeça agora depois dessa folga merecida, modestamente.

 

Até.

domingo, fevereiro 09, 2025

A Sopa

Há três anos, decidi voltar ao mundo da música.

 

Não que eu alguma vez estivesse estado antes, porque nunca estive, mas durante um tempo eu havia ao menos brincado de fazer e tocar música com amigos, além de ter feito pequenos períodos de aulas de pouca disciplina e persistência. Mas foi três anos atrás, aqui nessa mesma praia onde passo alguns dias de férias, que – ao assistir show da temporada de verão da School of Rock Benjamin POA, em que Marina cantava - que tive a epifania de que era aquilo que eu queria para minha vida.

 

Quando conversei, ao final do show, com o Thiago Vitola, proprietário da escola, e perguntei se a escola tinha programas para adultos, e ele disse que sim, e que estariam começando uma temporada Beatles logo depois, em março, e que o final da temporada seria com um show do Sgt Peppers Pub, em Porto Alegre, não tive dúvidas em começar a fazer aulas lá. Era o estímulo que eu precisava para voltar, como falei, à música.

 

Não imaginava, confesso, que meu envolvimento com a música seria intenso a ponto de me tornar sócio da School, e que me traria um mundo de novas relações de amizade, novo senso de comunidade e pertencimento.

 

E percebi que não é algo exclusivo meu.

 

É parte do jeito de ser School of Rock.

 

Sexta à noite, aqui mesmo na praia, ao dar carona para o Benoni após um pequeno ensaio acústico e depois uma pizza, ele, parceiro novo, que ontem fez o seu primeiro show com a School, sua primeira vez no palco, manifestou o mesmo entusiasmo que eu tive desde o início, desde que vi a Marina no palco no mesmo Ramblas em que tocamos ontem.

 

E que mantenho até hoje.


Até. 

sábado, fevereiro 08, 2025

Sábado (e estamos na praia e vai ter som)

 

School of Rock Benjamin POA


Quem estiver pelo litoral norte do RS...
Hoje vamos fazer um som no Ramblas Atlântida, a partir das 19h30.
Se puder aparecer, vai ser legal.

Bom sábado a todos!

Até.

sexta-feira, fevereiro 07, 2025

Vamos Fazer um Churrasco?

Há alguns anos, uma paciente que eu atendia, em meio à consulta e após um comentário meu, disse que eu tinha o timing para a piada, que eu poderia ser um clown. Exceto pelo fato de me chamar educadamente de palhaço, confesso que gostei.

 

Eu sou, sim, meio clown, palhaço se preferirem, no sentido de ‘o tipo de que faz rir’, umas de suas definições. Tenho esse hábito, o de (tentar) fazer humor em diferentes situações, como reuniões, em que esse impulso, o de fazer comentários “engraçadinhos” em meio a assuntos sérios, é quase incontrolável. Porque acho que essas intervenções tornam o ambiente mais leve, sem perder completamente o foco do que está sendo discutido, por exemplo.

 

Quando eu era professor, minhas aulas teóricas sempre iniciavam como se eu estivesse fazendo um daqueles monólogos de abertura de talk-shows, quase um número de stand up comedy, porque acreditava que era contando uma história que eu conquistaria a atenção dos alunos. Até acho que funcionava. Eu, ao menos, me divertia...

 

Além desse lado (que muitos podem discordar que seja adequado ou realmente) bem-humorado, sou declarada e orgulhosamente implicante, assim como meu pai.

 

Meu pai também tinha implicâncias, que eram bem conhecidas de todos que conviviam com ele, e algumas delas não para o lado do bom humor, devo dizer. E manias também, além de alguns bordões, frases clássicas dele, ditas repetidas vezes, e que ainda hoje me vejo utilizando. Como ‘estás trocando o dia pela noite, é hora de revisar teus conceitos...’, que dizia quando meu irmão ou eu dormíamos até muito tarde após ficar acordado até de madrugada. ‘É fácil comandar homens livres, basta mostrar-lhes o caminho do dever’ era outra delas.

 

Entre suas manias, ele não gostava que colocássemos toda a louça a ser lavada dentro da pia ao mesmo tempo, pois o peso excessivo poderia fazer a cuba cair. E, durante muitos anos, toda vez que terminávamos uma refeição na casa dos meus pais, na hora de recolher os pratos e levar para a cozinha, todas as vezes eu dizia para colocar tudo na pia e encher de água. E ele resmungava que não. E eu fazia de novo na próxima vez, e de novo, e sempre, até que ele não falava mais nada, apenas balançava a cabeça.

 

Até hoje ainda falo, mesmo que ele não esteja mais aqui há quase três anos. É quase uma forma de homenagem... E lembro do meu irmão.

 

O meu irmão, hoje em dia americano, já mora nos Estados Unidos há mais de vinte anos, e vem ao Brasil duas ou três vezes ao ano para nos visitar. Ao longo do tempo, e talvez já fosse assim antes, diz ele que perdeu o gosto por churrasco (heresia!). Curte comer carne, mais do jeito americano de prepará-la.

 

Então, TODA vez que ele está para vir, eu digo a ele que estamos preparando um grande churrasco para recebê-lo. Que resmunga dizendo que não. E eu volto, na próxima vez, a falar do churrasco. E de novo. E outra vez.

 

O churrasco virou a louça na pia cheia de água.

 

Sou chato, sim, com orgulho.

 

Até.

quinta-feira, fevereiro 06, 2025

Sobre a Harmonia

Estou em harmonia com o Universo.

 

Confesso que vivo uma fase boa em minha vida. Aos quase cinquenta e três anos, casado e pai, ainda filho e genro, não tenho do que me queixar da minha família. O meu trabalho como médico vai bem, o consultório tem um movimento bom, e convivo bem entre os pares. Tenho bons amigos que a profissão me trouxe, amigos de muito anos e amigos de origens diferentes.

 

O que poderia ser chamado em um primeiro momento de plano B, a música, na verdade é tão plano A atualmente quanto a medicina, e muitos projetos estão em andamento tanto com relação à medicina quanto em minhas atividades como empreendedor. Muita coisa boa deve vir por aí.

 

Do ponto de vista físico, abandonei o sedentarismo há mais de cinco anos e, mesmo com pequenos contratempos, como a cirurgia da coluna lombar e a fratura do braço em uma queda de bicicleta com posterior cirurgia, persisto ativo. O peso poderia estar menor, concordo, e estou trabalhando para melhorar isso também. E mais, foi realmente libertador o fato de raspar a cabeça e assumir o visual sem cabelo. Em resumo, estou satisfeito com quem e o quê me tornei ao longo do tempo. 

 

Posso dizer – como falei – que estou em harmonia com o mundo, e comigo mesmo. Estou “harmonizado”.

 

Estava eu, então, sentado em silêncio no velório do pai de um grande amigo meu, quando a mãe desse amigo – quem eu não encontrava há mais de vinte anos, e que eu havia abraçado e manifestado meus sentimentos ao chegar ao local – veio conversar comigo. Perguntou se eu era de determinada turma que ele fizera parte, e eu disse que não. Não me reconhecera depois de tanto tempo. Falei que tinha sido colega dele na Escola Técnica de Comércio da UFRGS, quando ela se deu conta de quem eu era. 

 

- Marcelo?!

 

- Sim, eu mesmo (e sorri).

 

- Mas estás diferente... Por acaso, fizeste harmonização?

 

Pensei em responder que sim, harmonizara minha alma comigo mesmo, com o Universo. Que me aceitara como eu era e que estava feliz. Mas não disse, claro. Falei que estava de barba, sem cabelo e com maior peso desde que nos encontráramos pela última vez.

 

Não era o momento para falarmos de mim...


Até.