Retrospectiva (3).
Eu nunca digo não a um convite para um churrasco.
Há um famoso estudo desenvolvido pela Universidade de Harvard, uma coorte de pessoas que foi acompanhada por cerca 75 anos (!) e que pretendia responder à pergunta “o que determina a qualidade de vida ao longo da vida?”. E a resposta foi simples e direta: o que melhor garante nossa saúde física e mental são as relações pessoais. Quem criou laços fortes com outros seres humanos viveu mais e melhor – para além de dinheiro, status ou emprego
Ainda antes de ter conhecimento do estudo acima (e tem um TED Talks sobre ele), eu já mais ou menos sabia, ou sentia, isso o que levaram setenta e cinco anos para comprovar: somos seres sociais, e isso é bem importante. E é por isso que sempre fui um “botador de pilha”, alguém que estava sempre pronto para reunir as pessoas, congregar, conviver. Porque, mesmo que inconscientemente, eu sabia que a vida entre amigos/afetos é a vida que vale ser vivida.
Ao longo dos anos, houve momentos de introspecção, de retração, de sensação de deslocamento e de não pertencimento, mas o espírito sempre de certa forma agregador foi o mesmo. Também por isso a empolgação com (e a necessidade de) fazer parte de grupos e confrarias, de reuniões sociais. É de onde vem a Sopa de Ervilhas do Marcelo, por exemplo. E é por isso, também, que o período da pandemia foi difícil: ela impediu as reuniões sociais, impediu os grupos. E fazer parte de grupos sempre foi importante para mim, apesar de – evidentemente - haver necessários momentos de introspecção e de estar sozinho.
Dois mil e vinte e três foi pródigo de momentos, digamos, sociais.
Relações foram fortalecidas, grupos formados estreitaram laços. Muitos churrascos ao longo do ano, em diferentes grupos de amigos. Semanas em que havia reuniões quase todas as noites. A ampliação de laços, de conexões (tópico muito significativo para mim) foi um dos destaques pessoais do ano. E o que torna, em resumo, 2023 um ano bem bom, posso dizer.
Profissionalmente, também foi de ampliação de horizontes, mas também de manutenção e aperfeiçoamento do conquistado, mesmo quando houve um momento de ter a sensação de ser mais empreendedor e músico do que médico, de que estaria deixando um pouco de lado a medicina, o que em nenhum momento foi verdade, logo me tranquilizei. Equilíbrio, sempre a palavra-chave.
Em resposta a um amigo que enviou uma mensagem quando viu minha retrospectiva fotográfica de 2023 e comentou que “teve bastante hospital nesta retrospectiva”, eu disse que sobrevivi, sobrevivemos, e fizemos muitos churrascos, e isso é o que conta... Ponto. Como Harvard concluiu, o que vale são as relações, as amizades, os afetos. Continuemos assim, então.
E 2024?
Vai ser ainda melhor.
Até.