domingo, abril 06, 2008

A Sopa 07/35

A Viagem (20)


O dia de deixarmos a Provence e nos dirigirmos em direção à Paris estava próximo, e tínhamos ainda um roteiro a cumprir se quiséssemos visitar os lugares que havíamos nos proposto. Por essa razão, esse seria um dia longo.

Quem viaja – a cada um tem a sua verdade – tem suas preferências quanto às incontáveis possibilidades de se fazer uma viagem. Há quem prefira visitar um lugar por vez por conta própria, outros preferem visitar vários países em poucos dias numa excursão, e muitas outras variações sobre o mesmo tema, de novo, viajar. Eu, por exemplo, gosto viajar por conta própria e, se na Europa, de carro, para ir conhecendo um pouco os lugares e tendo a possibilidade de refazer coisas, mudar caminhos. Como eu disse, gosto é que nem pescoço, cada um tem o seu. Mas claro que sempre brincamos com essa coisa de excursão, tipo “hoje é terça-feira, então devo estar na Bélgica”.

Logo que tomamos café, no hotel Kyriad em Avignon, discutimos o roteiro do dia, e houve um impasse: eu dizia ser impossível visitar mais do que duas cidades no mesmo dia, e os outros achando que era possível. No final das contas, se verá que eu estava errado. Começamos o nosso dia, então, após tomarmos café da manhã, indo em direção à Saint-Remy de Provence, distante apenas 20km de Avignon.

Saint-Remy de Provence é uma das jóias da Provence. Cidade natal de Nostradamus, foi aqui que Van Gogh permaneceu internado no Mosteiro de Saint Paul de Mausole, entre 1889 e 1890. Em sua estada (foi aqui que cortou sua orelha, em famoso incidente), pintou uma grande série de quadros retratando o seu quarto, o hospital, a cidade, flores, oliveiras, etc. O hospital ainda existe, e está localizado bem ao lado do Glanun, um conjunto de ruínas gálico-romanas que é um dos pontos a serem visitados na cidade.

Chegamos na cidade e conseguimos estacionar nosso “ônibus” em um estacionamento ao ar livre, bem central. Deixamos o carro e fomos caminhar pela cidade, passando pela praça do Hotel de Ville, circulando por ruas estreitas, encontrando uma fonte com o busto de Nostradamus. Tudo tranqüilo, até o Pedro se dar conta que tinha deixado a carteira dele – com todo o dinheiro – no quarto do hotel de Avignon.

Impasse.

Decidi que iríamos, ele e eu, buscar a carteira dele, enquanto os outros passeavam pela cidade. Voltamos até o carro e, ao entrarmos, ele encontrou sua carteira caída no banco traseiro. Alívio, não precisaríamos ir de volta à Avignon. Só que foi nesse momento que eu percebi que havia esquecido de todos os dólares que eu levava no bolso interno da minha jaqueta de couro, que ficara dentro do armário do hotel em Avignon. Como estava guardado, mais ou menos escondido, decidi que não iríamos atrás. Ficamos mais tempo em Saint-Remy. Fomos conhecer, então, a loja de Jöel Durand, chocolatier.

Localizada em uma rua arborizada muito próxima à praça onde deixamos o carro, tivemos a oportunidade de conhecê-la e ainda encontrar o Jöel Durand em pessoa, que nos mostrou (e deu amostras) alguns dos seus chocolates. Todos os experimentados muito bons. Tão bons que acabamos comprando chocolates variados. Em meio à empolgação, e no espírito da Provence, a Zeca escolheu um chocolate de lavanda entre as opções. Putz, horrível, parecia chocolate de Pinho Sol. Todos que experimentamos passamos o resto da viagem sem poder ouvir falar em lavanda...

Ainda em Saint-Remy após tomarmos um café e antes do chope de perto do meio dia, fizemos o roteiro de Van Gogh, um caminho por locais onde ele pintou alguns dos quadros sobre a cidade, e que nos leva até o Mosteiro de Saint Paul de Mausole, em frente a um campo de oliveiras e ao lado do Glanun que, por sinal, estava tapado para reformas. A caminhada de volta ao carro, no sol quente, justificou o chope antes de seguirmos para a segunda cidade do dia.

Les Baux de Provence.

Até.

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